Mostrar mensagens com a etiqueta Lunação. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Lunação. Mostrar todas as mensagens

sábado, 24 de setembro de 2022

Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Balança

 Reflexões Astrológicas


Lunações 



Lua Nova em Balança

Lisboa, 22h54min, 25/09/2022

 

Sol-Lua

Decanato: Lua

Termos: Saturno

Monomoiria: Lua 

 


   A Lua Nova de Setembro ocorre no signo de Balança, com Gémeos a marcar a hora para o tema de Lisboa, com a Marte co-presente no Leme da Vida (I), e assim na V, no Lugar do Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), no decanato da Lua, termos de Saturno e na monomoiria da Lua. A sizígia dá-se, desta forma, abaixo do horizonte e cerca de três horas e meia após o pôr-do-sol. O Sol encontra-se desfavorecido por estar fora do seu próprio segmento de luz (αἵρεσις) e no decanato da Lua, já a Lua colhe as bênçãos da noite, embora esteja no signo masculino. As qualidades lunares estão assim acentuadas neste novilúnio.

   Na Lua Nova de Virgem, abordámos a atribuição do princípio da Justiça a Virgem e da sua busca a Balança, ou seja, o primeiro é o templo da Deusa da Astreia e o segundo o modo de lá chegar. Existe, neste signo, um carácter de busca, de demanda, o que torna compreensível que seja designado como o lugar do outro. Existe, neste signo, o fundamento de uma alteridade radical que se efectivar, ou seja, este não é o lugar onde o eu e o outro se unem numa totalidade, sob a graça, por exemplo, da compaixão, este é sim o lugar onde a passagem para o outro se apresenta no caminho, sem que para isso seja atravessada. Esta é uma proposta, uma sugestão de harmonia e completude. Porém, sendo este o domicílio diurno de Vénus, um planeta nocturno, o princípio do desejo pode impedir a travessia. 

   Epitecto, nas Diatribes, revela-nos essa dificuldade de ser o eu no outro e o outro em nós, isto é, como ser diferente e semelhante ao mesmo tempo: “É-te preciso reflectir como não ser dissemelhante dos outros seres humanos, do mesmo modo que uma linha não deseja possuir nada de singular em relação às outras linhas. Mas eu desejo ser a linha púrpura, aquela pequena e brilhante, causa das demais se mostrarem graciosas e belas.” (I.2, 17-18, trad. Dinucci, 54-5. Coimbra, 2020: IUC). O filósofo estóico adverte que, apesar de se ser semelhante, pode-se ser aquilo que, em comunhão, leva o melhor aos outros, tornando-nos todos essa imagem de excelência. O semelhante pode atrair o semelhante, mas convém que a semelhança que une seja a luz e não a sombra, a virtude e não o vício.    

   Um novilúnio em Balança coloca, desta forma, a luz numa ponte de harmonia entre a unidade na diferença e a partilha do comum. Devemos, porém, colocar a pergunta do porquê de ser tão raro encontrar o valor da abnegação neste signo. A razão prende-se ao facto de que, quando se observa uma estrutura axial entre o eu e o outro, o efeito espelho torna-se mais expressivo, ou seja, o eu que quer chegar ao outro leva consigo as tendências narcísicas de uma impossibilidade de ser o eu no outro sem o próprio eu se tornar o si. Sem o processo de ensimesmamento, o eu não se consegue colocar no lugar do outro e essa é também a razão astrológica de Balança ser o primeiro signo da segunda parte do caminho zodiacal.

   Dante, nos primeiros versos da Divina Comédia, diz-nos isso mesmo: “No meio do caminho em nossa vida,/eu me encontrei por uma selva escura/ porque a direita via era perdida.” (Inferno, I, 1-3, trad. V. Graça Moura. Venda Nova, 2000: Bertrand Editora). Ora se associarmos os versos do Fiorentino ao caminho zodiacal, percebemos que, depois de Virgem, depois de Beatriz, o caminho sem o outro está perdido. Balança encontra-se nessa selva escura, porque, sem a amada, a via direita, até Peixes, até ao cume do céu, está perdida. Dante precisa, para recuperar o caminho perdido e avançar pelo Inferno e pelo Purgatório até ao Paraíso, do “amor que move o céu e as mais estrelas” (Paraíso, XXXIII, 145) e esse é o amor da totalidade que encontrará quando chegar a Peixes (exaltação de Vénus) e então renascerá, como um novo humano, de novo, em Carneiro.

   Neste novilúnio, por a sizígia se encontrar, para o tema de Lisboa, abaixo do horizonte, a luz ganha uma dimensão obscura e esta proposta de harmonia e concórdia torna-se mais difícil. No entanto, por se encontrar no lugar da Boa Fortuna (V), o Corno de Amalteia verte sobre a luz a dádiva da Fortuna. O destino opera na luz, na luz oculta sob o horizonte, esse potencial de graça.

   No entanto, por ser uma luz que não se vê, uma candeia escondida sob o manto do sábio, as obras do destino tendem a escapar à espuma dos dias. E, como já observámos na reflexão do Equinócio de Outono, o trígono de Ar que une a sizígia dos luminares em Balança a Saturno Retrógrado em Aquário e a Marte em Gémeos coloca, agora com a luz do Pai e da Mãe reunidas, o peso dos maléficos e a gravidade da destruição sobre o númen da realidade, sobre o seu potencial.

   Esta dinâmica estruturante do elemento Ar, embora disruptiva, concilia-se, de um modo que transforma pela destruição, com a oposição da sizígia a Júpiter em Carneiro e com a quadratura deste a Plutão em Capricórnio. A luz e a harmonia, o espaço e a justiça e a morte e a transformação reúnem, num sentido profundo, uma destruturação da realidade que conhecemos e que precisamos de mudar, fixando sobre ela uma nova representação.

   Lembremo-nos, porém, do braço da cruz que se encontra vazio, pois é nele que se firma a parte significativa do que falta estruturar. Caranguejo, o signo da origem, converge estas relações diametrais e angulares na Grande Mãe, no Divino Feminino. Neste caso, a sua restauração sobre a realidade espiritual nasce da angústia da ausência e da urgência do renascimento. A verdade levanta o seu véu com uma afinidade electiva da origem.   

   No submundo, naquilo que não se véu, estabelece-se, por outro lado, um caminho que vai da Cauda Draconis até ao Ponto Subterrâneo (IC) e nessa serpente ctónica estende-se a luz da sizígia em Balança e, como porta-estandartes da aurora esperada, Mercúrio e Vénus em Virgem. Estes são agora o vértice fundamental do outro trígono estruturante. No elemento Terra, unem-se Mercúrio e Vénus em Balança, Úrano e a Caput Draconis em Touro e Plutão em Capricórnio.

   Este é o triângulo que reforma as estruturas de valor, que revela o pior das obras humanas e que conduz, sob a égide do Destino, ao desapego e à importância do essencial, relembrando que nada está adquirido e que o direito a uma vida digna continua a ser algo pelo qual temos de lutar. A quadratura de Saturno em Aquário, o grande maléfico do tema, a Úrano em Touro e ao Dragão da Lua (eixo Escorpião-Touro) serve assim de aviso para o peso da Necessidade sobre as estruturas humanas de valor. Algo que é compensado pelo sextil de Saturno em Aquário a Carneiro em Júpiter. A retrogradação de ambos torna a liberdade reflexiva e potencia a possibilidade de servir a verdade e a necessidade, a justiça e o tempo. O sextil de Júpiter e Marte pode trazer também o impulso da justiça e a força da verdade.      

   De uma outra forma, a Palavra (Mercúrio) e o Amor (Vénus, o grande benéfico) assumem-se como baluartes da Deusa Astreia (Virgem) que é violentamente renegada em pensamentos e discursos (quadratura de Marte em Gémeos) e numa total ausência de solidariedade e compaixão (oposição de Neptuno em Peixes). A Justiça – ou a Sabedoria – continua a caminhar pelo mundo, mas não é vista, e quando é reconhecida, é rejeitada e vilipendiada, insultada e violentada.

   Neste novilúnio em Balança, esta é a Harmonia da Verdade que os egos, cheios do seu próprio reflexo e crentes naquilo que julgam conhecer, cismam em negar, como Pedro negando Jesus, sobretudo porque o medo habita os seus corações. Aqueles que rejeitam a Sabedoria temem que, ao reconhecê-la, se tornem eles próprios desconhecidos. É o medo de sair de si e tornar-se silêncio, de esvaziar-se e imergir num todo que está muito para além de uma reunião das partes.

   A passagem do eu para o outro, cruzando a impossibilidade e criando, na via do ensimesmamento, uma integração na totalidade, contribui, neste novilúnio, com o alimento da concórdia, da unidade do comum. Será necessário trazer para a luz, dando claridade ao pensamento, uma mensagem que pede por equilíbrio e paz, por uma humanidade que seja também o reconhecimento do outro. Esta a luz da Lua Nova em Balança. 

sábado, 18 de dezembro de 2021

Lua Cheia - Eixo Gémeos/Sagitário: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Cheia: Eixo Gémeos – Sagitário


Lisboa, 04h35min, 19/12/2021

 

Lua

Decanato: Sol

Termos: Saturno

Monomoiria: Vénus   

 

Sol

Decanato: Saturno

Termos: Marte

Monomoiria: Saturno

 

            A última Lua do Cheia de 2021 coloca a Lua no seu próprio Segmento de Luz (αἵρεσις), acima do horizonte, sendo ela a luz mais alta, embora fixada no Lugar da Morte (VIII), no signo de Gémeos e com a Caput Draconis, no decanato do Sol, nos termos de Saturno e na monomoiria de Vénus. Já o Sol encontra-se em Sagitário, fora do Segmento de Luz, abaixo do horizonte, no Lugar do Viver (II), no decanato de Saturno, termos de Marte e monomoiria de Saturno. Com o Sol, mas para além dos seus raios encontra-se Marte e a Cauda Draconis. Ora este encontro, sem a qualidade abrasiva de que Marte poderia beneficiar, intensifica a força do elemento de passagem e do espírito de viagem, de travessia do rio da realidade, que é própria do eixo Sagitário-Gémeos. Porém e dado o eixo de lugares em que os luminares se firmam, a intensidade não possui um valor próprio e, neste caso, ou se eleva ou se afunda. A transformação nesta qualidade axial tem portanto um potencial de transformação que não é em si mesmo valorativo.

            Os luminares, entre o modo de vida (II) e a qualidade da morte (VIII), concedem a luz que permite encontrar o sentido do real. A união do Sol e da Lua com o corpo do Dragão da Lua, aquele que a 18 de Janeiro de 2022 deixará o eixo Sagitário-Gémeos, faculta a possibilidade de se enraizar o limite e o limiar da mensagem proposta. Essa passagem da Sabedoria à Palavra deixará de ser a luz que guia para voltar a ser mistério. O Dragão da Lua coloca sobre a vida o peso da Necessidade, é um agente do Destino e da Providência, daí que Vétio Valente diga, por exemplo, que o ponto quadrangular à Caput tem uma força anairética (Antologia, III, 9), ou seja, a criação e a destruição ou a acção e a retribuição são expressões do Dragão da Lua. Ora, neste plenilúnio, sobretudo pela proximidade dos luminares ao corpo do Dragão, existe uma dificuldade de efectivação na sua proposta de sentido. O caminho da Sabedoria à Palavra é renegado, é visto por uns e percorrido por poucos, e agora quando a sua proclamação está a terminar, a via da Morte ao Viver já surge no horizonte. Desta forma, será preciso fixar o valor nessa senda e encontrar o sentido da morte para transformar o modo de vida, o que já surge com clareza pelo facto do eixo do horizonte se estender de Escorpião a Touro.    

            O ponto proposto anteriormente por Valente encontra-se no mesmo signo onde está Neptuno e, embora já distante, contamina esse lugar com o elemento destruidor, e também devido à observância quadrangular dos luminares e de Marte, ou seja, a visão de totalidade que é o Amor de Deus (Neptuno em Peixes) não alimenta nem a Sabedoria, nem a Palavra, não é acolhida como a luz que guia, a grande iluminadora. Porém, Neptuno está na V, no Lugar da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), mostrando como tanto a compaixão como a imaginação continuam a dar novos mundos ao mundo. E, no final do ano, quando Júpiter se juntar Neptuno, essa mensagem ganhará um novo fôlego, revelando-se, novamente, o poder da solidariedade.  

            Por outro lado, se Marte coloca a força e a tensão sobre os luminares e o Dragão da Lua, então Júpiter e Saturno estruturam a sua acção, concedendo-lhes tanto a matéria e a forma como a consciência íntima do espaço e do tempo, da justiça e da necessidade. O sextil de Júpiter e Saturno ao Sol, a Marte e à Cauda e o trígono à Lua e à Caput conduzem o humano e a humanidade à sua proposta de sentido, ou seja, a partir do Lugar sob Terra (IV) e junto ao Ponto Subterrâneo (IC), Júpiter e Saturno permitem a refundação das bases da realidade quer ao nível individual, quer na dimensão colectiva ou social. As lições do passado tornar-se-ão mais vivas, assinalando que se a história não se repete, repete-se o humano.  

           Contudo, por estarem fora do segmento dominante, a luz dos senhores do espaço e do tempo está diminuída, o que enfraquece a qualidade a benéfica de Júpiter e exacerba a qualidade maléfica de Saturno. Nestes tempos que vivemos, o bem e a justiça que a humanidade poderia criar e seguir desagregam-se e dispersam-se, esvaziando-se na espuma dos dias, e, de um outro modo, a retribuição, a consequência de uma ὕβρις, torna-se mais evidente e activa. Neste plenilúnio, a acção humana estará sobre um olhar atento e vigilante das Meras e a Roda da Necessidade há-de impor a sua gravidade, pois só assim poderá existir transformação.

        Um outro encontro que marca de forma indelével este plenilúnio é o de Mercúrio, Vénus e Plutão em Capricórnio, no Lugar da Deusa (III). No signo do poder e da culminação, a Palavra, o Amor e a Morte unem-se num único sentido, concentrando o potencial do futuro. Entre outras significações, esta é uma co-presença que pode dar origem a um novo movimento artístico, literário ou filosófico. Encontramos aqui as bases de um movimento assente num novo realismo que contraria as interpretações líquidas, dispersas e disformes que dominam o olhar actual sobre o mundo e sobre o humano. Capricórnio irá conceder o rigor que falta e a exigência que se rejeita, dar-lhe-á a precisão de uma finalidade.

        Face ao segmento de luz dominante, Vénus apresenta-se como o grande benéfico e, se pensarmos que Vénus está no Lugar da Deusa e a Lua é a luz mais alta, então concluímos, uma vez mais, que o Eterno Feminino marca o fim deste ano de 2021. Ora Vénus, com Mercúrio e Plutão, agrega-se numa simbiose de bênção e dádiva a Úrano em Touro (trígono) e a Neptuno em Peixes (sextil). A Revolução da Terra (Úrano em Touro) e o Amor de Deus (Neptuno em Peixes) fundem-se com o Poder da Palavra, do Amor e da Morte (Mercúrio, Vénus e Plutão em Capricórnio), concedendo ao mundo e ao humano um intenso potencial de transformação. Note-se que também aqui o feminino traz consigo a sua dádiva, pois estes aspectos têm a sua raiz em signos de Terra e de Água. Algo que é igualmente visível no trígono de Úrano a Plutão e nos sextis de Úrano a Neptuno e de Neptuno a Plutão. A Grande Mãe estende as suas mãos a quem luta pelo planeta e pela humanidade, desvelando o quanto ela se insurge e se revolta. Gaia é o ventre e o túmulo, a mãe, mas também o vulcão e o sismo.    

        Quando se fala de mudança, de transformação, ou até mesmo de revolução, existe sempre um movimento contrário, uma resistência que só é natural, porque a sombra continua a pesar sobre o humano. A sombra da personalidade e a penumbra que se estende sobre as relações sociais assenta numa teia de vaidade, de ilusão e de superficialidade. O lago de Narciso continua a colher o olhar e, numa Lua Cheia, onde os luminares se contemplam de frente, unindo-se e opondo-se, é fácil confundir a luz com o fogo-fátuo.

            Desta forma, a quadratura de Júpiter e Saturno a Úrano, unindo-se a partir do Lugar Sob a Terra (IV) com o Poente (VII), assinala que também as fundações da realidade encontram o seu fim, renovando-se e recriando-se, fazendo do velho o novo e do novo o velho. Os pilares do templo podem ruir para depois se erguerem num dolce stil novo, como diria Dante no Purgatório (XXIV, 57). Com esta quadratura, podemos ser os barqueiros das profundezas da realidade, sombrias e cristalizadas, ou os timoneiros da luz prometida e anunciada. Sob o brilho da Lua, de uma Lua Cheia, alta no céu, a Senhora da Luz, illuminata et iluminatrix, consagra a Nova Era, o Novo Humano.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Lua Nova em Touro Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas

Lunações


Lua Nova em Touro

Lisboa, 20h00min, 12/05/2021

Decanato: Saturno

Termos: Júpiter

Monomoiria: Vénus

 

   A Lua Nova de Maio, no signo de Touro, ocorre antes do pôr-do-sol, estando portanto ainda no Segmento de Luz Diurno (αἵρεσις), com a Lua fora de segmento, mas com o Sol enfraquecido pela sua queda. Neste caso, o novilúnio acontece no decanato de Saturno, nos termos de Júpiter e na monomoiria de Vénus. A sizígia ou o encontro dos luminares dá-se perto do horizonte. A luz da alma e do espírito marcam o céu com um fogo que se extingue. Mercúrio e Vénus são Estrelas da Tarde e trazem consigo o anúncio da luz vespertina do crepúsculo, os dons criativos e as dádivas do coração.

   Este não é o tempo da razão e, embora estejam em Gémeos, o raciocínio estará toldado pela ideia da morte, pelo peso do fim e da finalidade (VIII), mas também pelo valor da palavra sentida, dado que Mercúrio e Vénus ladeiam a Caput Draconis, o termo de um caminho que determina a via que é a sabedoria da palavra (Sagitário-Gémeos) e a palavra da sabedoria (Gémeos-Sagitário). Esse eixo trilha, neste novilúnio, uma estrada que vai do Modo de Vida, o Viver (II) até à Morte e à sua qualidade (VIII), fixando assim a tradição e o valor, o conhecimento da morte e o absoluto que pertence à terra. Existe aqui uma necessidade imperativa de desapego que, neste caso, não é de bens materiais, mas sim de conceitos e ideias. Tudo se perde, todas as vaidades sucumbem perante o rosto luminoso da Deusa Sophia, pois o que julgamos pensar (Mercúrio) e amar (Vénus) são apenas sombras projectadas na caverna.

   O novilúnio de Maio fixa em Touro e no Poente (δύσις) a urgência de se olhar e se apreender o tempo da Terra, os seus ciclos maiores. Esse é o tempo que os astrólogos antigos, sobretudo aqueles que eram próximos do estoicismo, colocam entre a destruição e a criação, entre a conflagração e o dilúvio, ou seja, ora quando todos os planetas se encontrarem e se alinharem em Caranguejo (conflagração), ora quando se encontrarem e alinharem em Capricórnio (dilúvio), determinando assim a lição profunda do Thema Mundi (veja-se, por exemplo, Beroso Frag. 19 Jacoby ou Nechepso e Petosíris, Frag. 25 Riess). A posição de Úrano com os luminares, este já sob o horizonte, em Touro e no Poente (VII) introduz também aqui a revolução do céu, a transformação do humano, não apenas por Necessidade ou Providência, mas porque a Terra, porque Gaia também o exige. Para que um Novo Mundo nasça, a Mãe-Terra terá de entrar em trabalho de parto. Essa é a ordem da natureza: o Eterno Retorno.

  Saturno e Júpiter corroboram esta mensagem, dado estarem junto do Ponto Subterrâneo (IC) no Lugar Sob a Terra (IV). O Tempo e o Espaço servem pilares, de indicadores de contracção e expansão da Base ou Fundação do Mundo (IV). A humanidade aquariana transforma-se e transmuta-se a partir das raízes da realidade, tanto a externa como a interna. As posições junto aos eixos cardeais ou aos pólos do tema (κέντρα) são, segundo as já referidas lições de Petosíris, indicadores não de tensão mas sim de efectivação e estrutura. Este potencial cardeal é estimulado, trazido a uma dinâmica interactiva, pelas relações (aspectos) que através de si estabelecem.

   Marte, por exemplo, é a luz mais alta do céu. A força umbilical - por vezes aterradora - da Grande Mãe (Marte em Caranguejo) une os seus raios, a partir do Lugar de Deus (IX), em sextil, aos luminares, à Alma e ao Espírito, e à revolução do humano (Úrano), mas também em trígono ao amor universal (Neptuno) que repousa no interior da Cornucópia da Abundância, da Boa Fortuna (V) e, de igual forma, ao Leme da Vida (Asc.). Por outro lado, une-se diametralmente à pulsão da morte e ao poder do renascido (Plutão em Capricórnio), nos termos de Marte, no Lugar da Deusa. Da Vénus de Willendorf ou de Sheela na Gig a Maria, a Magdalena, Ísis é tudo para todos as mulheres, homens e crianças e essa visão de totalidade surge, por vezes, como um desafio. O Novo Humano terá de ser como Lúcio do Asno de Ouro de Apuleio.

   A sizígia da luz, bem como Úrano, participa igualmente deste potencial relacional, pois une-se também em sextil a Neptuno e em trígono a Plutão, que também se unem entre si em sextil. A luz submerge no mar e no submundo para regressar, para reemergir renascido do seio de Gaia. Note-se a subtileza de como os signos femininos marcam neste novilúnio um compasso de harmonia. No entanto, essa melodia do Eterno Feminino terá de incluir um trítono que, neste caso, surge da tensão de uma visão dual, aquela que transforma o Amor Universal num simulacro, numa ilusão de boa-venturança, de salvação. Esta é a quadratura de Neptuno tanto a Mercúrio e Vénus como ao Dragão da Lua.

   Porém, de uma outra forma, seguindo a harmonia das esferas, os que habitam o Lugar da Morte afundam o seu olhar de futuro no abismo profundo do Lugar Sob a Terra (Mercúrio e Vénus), conjugando as bênçãos com os que nele fazem a sua casa (Saturno e Júpiter). Estas dádivas vão do trígono de Mercúrio e Vénus a Saturno e Júpiter às relações benéficas (trígono e sextil) dos primeiros ao eixo de culminação e dos segundos ao Dragão da Lua. Aqui o masculino (Sagitário/Gémeos e Aquário/Leão) não poderá ser todavia um Osíris itifálico, faraó reinante, mas sim algo entre Thot, o guardião da palavra, e Anúbis, o guardião da morte. Os senhores do Olimpo (Saturno e Júpiter) estão no ventre da Terra (IV), mostrando que o poder (Capricórnio) é também ceder o lugar. A senhora primordial do Olimpo reergue-se do mar primordial. Eurínome será de novo rainha.

  Em suma, encontramos neste novilúnio uma síntese do que anteriormente se anunciou, bem como uma sugestão do que, no final deste mês, se pode conjugar: Júpiter em Peixes; um Eclipse Lunar; e Saturno e Mercúrio Retrógrado

domingo, 11 de abril de 2021

Lua Nova em Carneiro: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas

Lunações


Lua Nova em Carneiro


03h31min, 12/04/2021
Decanato: Vénus
Termos: Marte
Monomoiria: Sol

 
   A Lua Nova que inaugura o ano astrológico apresenta-se com quase todos os astros abaixo da linha do horizonte, somente Plutão e a Cauda Draconis escapam a esta condição. O Dragão da Lua, que nos continua a falar da passagem da sabedoria à palavra, mergulha também ele no submundo. A sizígia ocorre no decanato de Vénus, estando a Deusa do Amor conjunta a ela, e nos termos de Marte, com quem se relaciona de forma hexagonal. Existe aqui uma união dos opostos, uma harmonia dos contrários. O feminino e o masculino encerram o mistério da Câmara Nupcial e, do lugar que não tem lugar e que está por toda a parte, o Indeterminado nasce com a forma do Logos, com a forma do Amor.

   A monomoiria do Sol consubstancia a natureza do lugar onde se dá a união dos luminares. Da IV, do Lugar Sob a Terra (ὑπόγειον), do Tártaro profundo e da herança dos nossos ancestrais, a luz marca a sua presença. Quando algo se encontra no mais profundo dos abismos, o único olhar possível é aquele que fita o alto cume, as alturas longínquas do céu. A luz determina assim a viagem e, partindo do Ventre da Terra, esse ponto fulgente avança e cresce, alumia e torna-se chama e fogo. A sizígia em Carneiro fixa a potência e a possibilidade como momento inaugural do acto criativo e da acção teleológica.

   Neste novilúnio, a posição dos luminares, a partir do Lugar Subterrâneo, distribui os seus raios por presença e por aspecto de um modo que é tendencialmente benéfico. A luz cria uma harmonia dos opostos que, como já se referiu a respeito de Vénus (IV) e Marte (VI), mas que concerne também a Mercúrio (IV) e a Júpiter (II), permite a renovação do humano e um renascimento da humanidade. Esta harmonia surge da possibilidade de gerar, através do amor em acto (Vénus/Marte) e da palavra que cria e expande (Mercúrio/Júpiter), uma verdadeira relação entre o Eu (Carneiro, IV) e o Outro (Balança, X). A potência criadora de aqui se fala é a mesma que estava descrita na Lua Cheia de Março, porém, aqui a origem da luz encontra-se somente no Eu, não se estendendo portanto no eixo.

   O novilúnio em Carneiro traz consigo um potencial de luz que, pela consciência de si, pode levar o Eu ao Outro e, numa estrutura social aquariana, sugerida por Júpiter e Saturno, criar um Nós. No entanto, a imaturidade do primeiro signo pode agudizar o narcisismo social em que vivemos, anulando a empatia e a compaixão. Os sextis de Marte e de Júpiter aos luminares têm um carácter de acção e expansão cujo valor está ainda por estabelecer, até porque Marte e Júpiter unem-se triangularmente, firmando-se assim essa condição de possibilidade. Sobre o destino, o humano constrói-se, pois a dádiva (sextil de Vénus e Júpiter) precisa sempre de uma disponibilidade receptiva.

   Se, por um lado, a luz se encontra no ponto mais profundo (IV), a morte nasce no horizonte, surgindo, da noite, no lugar da vida (I). Plutão encontra-se no Horóscopo a ascender. Este é um dos benefícios do sistema de casas de signo inteiro ou casa-signo, pois, caso contrário, recairia na XII, anulando-se assim este sentido de nascimento e ascensão. Ora o nascimento de Plutão, aquando do novilúnio, relaciona-se tanto com os aspectos que com ele estabelece como anuncia o período de retrogradação (27/04 – 06/10). Este último ocorrerá entre os graus 27 e 25, ou seja, sairá dos termos de Marte e entrará nos de Saturno, cruzando-se respectivamente pelas monomoirias de Mercúrio, de Vénus e do Sol. É um período quase igual ao do ano anterior e semelhante ao dos últimos anos, daí a importância de se observar estes graus.

  Sabemos que Plutão marcou a pandemia, mas também as erupções vulcânicas e os sismos. A acção de Plutão pode indicar um grito das profundezas da terra que afecta tanto o planeta e os seres que nele habitam como as estruturas que foram criadas, o que se torna evidente pelo facto de este estar em Capricórnio. Ao estar em conjunção ao Horóscopo, Plutão traz a união entre a vida e a morte, o conhecimento da morte e o absoluto que pertence à terra, o Et in Arcadia ego e o Momento mori de que já falamos. A morte torna-se o leme da vida e isso pode potenciar tanto um movimento social disruptivo como uma transformação espiritual e um renascimento iniciático e místico.

   Plutão forma com o Sol, a Lua e Vénus uma quadratura, ou seja, uma tensão que cria uma nova força que pode ser ora destruidora, ora criadora. As lições antigas de Nechepso e Petosíris dizem-nos que as quadraturas, sobretudo aquelas que ocorrem sobre os eixos cardinais, tendem a ser positivas. A ideia da morte tende a transformar a vida (sextil de Plutão e Neptuno), trazendo-lhe tanto o mistério como a ilusão. Resta-nos apenas decidir qual será a forma dessa transformação (sextil de Plutão e o Meio do Céu). Naturalmente, na análise dos eixos cardinais deve-se considerar, em especial neste caso, o sentido duplo da X e do eixo de culminação, visto que o Meio do Céu recai aqui na XI, o Bom Espírito, partilhando assim o significado que encerra com as duas casas.

    Saturno na II, com Júpiter, ergue uma ponte entre o valor e o viver. Os senhores do tempo e do espaço, da forma e da matéria, permitem que se renovem os modos de ser e estar. No entanto, por estarem em Aquário, vão negar o regresso ao normal, às formas anteriores e criarão tensões naqueles que não querem abdicar de hábitos visceralmente enraizados. A quadratura entre Saturno (II) e Úrano (V) firma esse conflito entre o viver e o criar, entre o valor e a fortuna. A densidade das formas taurinas impede um verdadeiro espírito de revolução. As estruturas de poder, e não apenas político, de Saturno em Capricórnio negam a novidade e forçam a ditadura do normal. Este perturba também o lugar das nossas vaidades, quebrando alguns dos espelhos embaciados onde julgávamos ver a realidade. Por outro lado, Saturno une-se a Mercúrio (sextil) e à Caput Draconis (trígono) colocando no tempo certo (καίρος) a palavra e a sabedoria.  

   Considerando-se a variação que, tal como é referida por Paulo de Alexandria (séc. IV EC) na sua Introdução (Cap. 30), pode ocorrer no lugar em que recai o Ponto de Culminação (MC), observa-se que, por estar no Bom Espírito (XI), o Meio do Céu acentua a sua condição de passagem, de intermediário, entre a práxis, aquilo que se faz, por meio de uma tensão ou conflito (quadraturas), com Júpiter (III), ou seja, a expansão da comunicação, da proliferação da palavra, não corresponde com as necessidades de acção, de harmonização das ideias fundamentais. A palavra torna-se ruído e não constrói a causalidade de uma actividade que transforme o mundo, pois é essa a proposta de Júpiter em Aquário. Por outro lado, Neptuno, o senhor da imaginação activa, mas também da ilusão, une-se triangularmente com o Meio do Céu e quadrangularmente com Marte. Existe na imagem que cria, no ideal, um potencial que se pode tornar tanto acção como corrupção.

   Em suma, este novilúnio coloca o seu peso, a sua gravidade, no valor da actividade e daquilo que a antecede, seja a luz que cria o mundo ou o sonho o move o humano.

sexta-feira, 12 de março de 2021

Lua Nova em Peixes: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas

Lunações


Lua Nova em Aquário


10h21min, 13/03/2021

Decanato: Marte

Termos: Marte

Monomoiria: Sol

 

   Esta é a primeira Lua Nova de 2021 que se fixa acima do horizonte. Uma mudança que começou a ser sentida, embora com menor intensidade, na Lua Cheia de Fevereiro. O Sol está no seu próprio segmento de luz (αἵρεσις), distribuindo, desde modo, a sua luz com Júpiter e Saturno, ambos no seu segmento. Existe, neste novilúnio, devido à posição que ocupa, um sentido profundo que o coloca entre a síntese de Peixes e a culminação partilhada de Aquário e Peixes. Esta é uma significação mediada pelo facto dos luminares (23º03’) se encontrarem já muito perto do lugar exacto da exaltação de Vénus (27º), para onde esta também se encaminha. Esse é o Amor que, como diria Dante, “move o Sol e as outras estrelas”.  


   O tema deste novilúnio apresenta dois elementos que evidenciam a escolha do sistema de divisão casas. O sistema de casa-signo ou de signo inteiro é o modelo mais antigo de divisão de casas, utilizado com alguma certeza a partir do século I AEC. Neste sistema, o signo em que recai o Horóscopo (Asc.) marca toda a primeira casa e, partir deste, a cada casa corresponde um signo. Por consequência, o Meio do Céu pode coincidir, ou não, com a Casa X. Este sistema possui uma simplicidade natural, firmada no valor do Horóscopo. No caso da Lua Nova de Março, o primeiro elemento concerne à posição de Marte. Noutro sistema de casas, Marte recairia na XII. No entanto, Marte é a “estrela” que está a ascender. Ptolomeu tentou conciliar o facto do eixo horizontal marcar a ascensão e o declínio das estrelas com o sistema anti-horário de casas ao iniciar a primeira casa cinco graus antes do Horóscopo. Ora esse critério tão discutido por historiadores e astrólogos acentua um dos benefícios do sistema casa-signo. O outro elemento é o facto do Meio do Céu cair na IX, a Casa de Deus como diriam os antigos. Esta posição contribui para a análise dos astros que se encerram entre Plutão em Capricórnio (26º19’) e a sizígia do Sol e a Lua em Peixes (23º03’), ou seja, em cerca de 60 graus encontramos todo um espaço de culminação.          


   A X e o Meio do Céu representam, no sistema antigo, a Práxis, aquilo que se faz, a efectivação da potencialidade. Ora a união dos luminares com Neptuno e Vénus na X consubstanciam a prática do Amor Universal e a necessidade de cultivar e expandir a compaixão e a empatia. A Vénus em Peixes tem sido associada à sereia, porém, a origem desta significação vai para além da figura mítica da tentadora de marinheiros. Pausânias, na sua Descrição da Grécia (VIII, 41, 1-6), diz-nos que Eurínome, a deusa-mãe dos pelasgos, aquela que governou o Olimpo com Ofíon, a grande serpente, antes de Cronos e Reia e Zeus e Hera, era adorada num santuário perto de onde os rios Neda e Límax confluem. Na Figália, na agreste Arcádia, o lugar exacto do santuário é desconhecido, mas sabe-se que, uma vez por ano, uma imagem de madeira, presa por correntes de ouro, de uma figura metade mulher, mulher peixe era exibida. Vénus em Peixes representa Eurínome, uma deusa da origem, a senhora que emergiu das águas primordiais e criou o mundo e os humanos.     


   Por outro lado, junto ao Meio do Céu, a cinco graus, à esquerda e à direita, estão Saturno e Júpiter. O tempo e o espaço unem-se ao eixo de culminação, na Casa de Deus, no signo de Aquário, para apresentar a proposta de um novo mundo, um mundo unido ao Amor que com eles também culmina. Por fim, na Casa da Morte, a VIII, a caminhar lentamente para o fim da sua viagem por Capricórnio, está Plutão. O Rei do Hades, senhor de pestes e vulcões, traz consigo, gravado no pórtico da vida, o Et in Arcadia Ego, a lembrança permanente de que a morte também vive na Arcádia. A finitude deve ser para a humanidade um sentido de finalidade. A proposta de todo este espaço de culminação anuncia assim, cantando ao som de Hermes e Pã, a chegada da Idade do Espírito do Santo, aquela que une o Amor de Deus ao Amor da Humanidade, e iluminando, a partir do cume do céu, está a Senhora do Mundo, a Mãe da Humanidade.


   Do Horóscopo em Gémeos, firmando uma mensagem que se tem acentuado desde o início do ano, nasce a viagem da palavra à sabedoria e da sabedoria à palavra. O corpo do Dragão da Lua, enrolado no eixo horizontal, potencia a necessidade dessa viagem circular. Porém, a presença de Marte faz da palavra, como da cantiga, uma arma que vence os opressores, aqueles que impedem a viagem, ou que se torna opressão. Devemos nos lembrar, porém, que a sabedoria difere do conhecimento por causa da sua visão de totalidade e a sabedoria não pode imperar no mundo se nele existir injustiça e desigualdade, daí que a Cauda do Dragão (termos de Vénus, decanato da Lua) e o Ocaso (Desc.) se unam, em sextil, à Casa de Deus e àqueles que nela habitam. A sabedoria só culmina se integrar toda a humanidade. Essa é a visão de totalidade da Mãe do Mundo. Por outro lado, Úrano na XII, na Casa do Mau Espírito, do lugar que se oculta, assombra a Mansão de Deus. Esta quadratura coloca em tensão aquilo que une e desune a humanidade no seu próprio tempo, mas também a sua apreensão do tempo passado e a projecção no tempo futuro. Para servir um humano em remissão, nega-se o tempo e a história, validando ditadores e totalitarismos e tornando criminosos em heróis.


   Os laços de aspecto que se constroem entre o Horóscopo e a X e o Horóscopo e a IX obrigam a relembrar um fragmento (F38) de Petosíris (150-50 AEC), aquele sacerdote que, depois de Hermes e junto de Nechepso, ajudou a criar a astrologia tal como a conhecemos. Este antigo astrólogo diz-nos que as quadraturas não são necessariamente más, podendo existir nelas uma grande força activa (μεγίστην ἐνέργειαν) que indica um carácter operativo e actual, ou seja, pode existir nelas um poder de efectivação que as torna benéficos. Ora isto existe em particular nas quadraturas que se fixam junto aos κέντρα (pontos cardeais ou angulares). Neste novilúnio, existe uma unidade que, mesmo com aspectos de suposta tensão, torna activa toda uma proposta de transformação do mundo e do humano. O Eterno Feminino eleva-se assim sobre o mar.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Lua Nova em Aquário: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas

Lunações


Lua Nova em Aquário

19h05min, 11/02/2021

Decanato: Lua

Termos: Marte

Monomoiria: Marte

 

            O encontro dos luminares dá-se depois do ocaso, estando portanto a luz sob o horizonte e na sexta a contar do Horóscopo. Ora, na Astrologia Antiga, a VI é comummente designada de Má Fortuna (κάκη τύχη) e forma com a XII um eixo que Manílio define do seguinte modo: “porta laboriis erit: scandendum est atque cadendum” (Astronomica II, 870: “a porta do trabalho serão: por uma se sobe e pela outra se desce”). Existe neste lugar uma tensão de incumprimento que é, em certa medida, a mais intensa de toda a estrutura de casas, pois não só não se une ao Horóscopo, como está sob o horizonte. A sua posição é, todavia, compensada pela união benéfica com o Ponto de Culminação (MC), mostrando que a dinâmica do esforço pode torná-la efectiva, desde que a sua passividade se transforme em trabalho, em actividade.

            O novilúnio de Fevereiro ocorre, deste modo, no lugar de Virgem, o mesmo signo que se encontra no Horóscopo e que na lunação anterior se encontrava na Culminação. Se Virgem é o signo do cuidar e Aquário é o signo do transformar, compreendemos pois como uma potencialidade de acção continua a marcar um caminho, sem contudo se efectivar. O facto da Lua Nova dar-se na VI mostra que esta via ainda está por cumprir. Paulo de Alexandria dizia que este era um ἀπόκλιμα φαῦλον, ou seja, um declínio débil, definindo-a igualmente como ποινέ, retribuição, castigo ou vingança (Introdução, cap. 24). Já Fírmico Materno define esta casa como infelix regio (região funesta) ou rebusque inimica futuris (inimiga das acções futuras), dizendo que é vitio fecunda nimis (demasiado fecunda em maldade). Por tudo isto designa a VI de locus piger, de lugar passivo (Mathesis, II, 19, 7).

            A razão pela qual se deve acentuar o valor da casa em que se dá este novilúnio prende-se sobretudo ao enorme potencial que ele encerra. No entanto, é a qualidade da casa que permite que se veja nesse potencial uma acção por efectivar. De igual modo, o facto dos planetas que se encontram em Aquário, junto dos luminares, estarem quase todos sob os raios do Sol confirma essa qualidade primordial, pois estar sob os raios implica sempre uma ocultação. Quando estamos muito perto da luz, não conseguimos ver o que a rodeia. Saturno é único que está para além dos raios, tornando assim a sua acção mais dinâmica. Essa será particularmente intensa na quadratura que faz com Úrano. Não podemos nós ver aqui todas as dificuldades em torno das vacinas? O processo será mais longo que o esperado? A sua eficácia perante as mutações do vírus pode torná-las sazonais? Os países mais pobres continuarão a não ter acesso? E a natureza humana, no seu desejo desmedido de sobrevivência, continuará a corromper todo o processo? Mais uma vez a sabedoria (IX) não está ao serviço da humanidade (VI). Isto é algo que podemos encontrar também na presença de Neptuno em Peixes na VII. A necessidade de empatia e compaixão continua a ser um imperativo e as várias formas de ilusão – os negacionismos – impedem que se preste uma verdadeira atenção ao outro. A negação tem sempre uma agenda de anulação e essa anulação passa por um desvalorizar do outro.   

            Por outro lado, aquilo que se esconde sob raios do Sol - e da Lua - encerra todo um potencial de transformação. A luz do Sol e da Lua, embora sob o manto do horizonte, une-se à dádiva do bem (Vénus e Júpiter). A luz e a dádiva têm entre si, como elemento de passagem, o silêncio, a palavra guardada (Mercúrio Retrógrado). E é a palavra, no ventre do silêncio, cingindo a luz e a dádiva, que se estende até corpo do Dragão da Lua, aquele que vai da sabedoria (Sagitário) ao conhecimento, à expressão dessa mesma palavra (Gémeos). Esse Dragão alonga-se da cabeça à cauda, ladeando o eixo da fundação (IV) ao cume (X), o que reforça o valor do caminho. A sabedoria da palavra torna-se, desta forma, a dádiva da luz. Algo que é confirmado pelo facto da conjunção Vénus-Júpiter se encontrar no decanato de Mercúrio, nas termos de Vénus e na monomoiria de Mercúrio. Existe uma mensagem que está por cumprir e essa mensagem pode ser encontrada tanto no silêncio como na palavra ignorada e rejeitada.

            Se temos, por um lado, uma concentração em Aquário que uns chamam de Stellium e outros, mais antigos, falam de co-presença, pois estar presente implica uma partilha de ser que é temporal e espacial, temos então, por outro lado, o trígono entre de Plutão em Capricórnio (V) e Marte em Touro (IX), mediado por Neptuno em Peixes (VII) e que forma, com cada um deles, um sextil. A partir da V, da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), a Morte adquire um valor de criação, pois o conhecimento de si transforma a morte em renascimento, e transmite-a para a uma vontade de crescer, para o desejo ardente de ser Deus (a IX, θέος), de resgatar o absoluto que pertence à terra. Esse caminho do valor da morte para o desejo indomável de estabilizar a paixão e vencer o desumano, tornando-se deus, é construído pela via do amor universal (Neptuno). No entanto, para trilhar esse caminho, para passar do amor universal e chegar ao divino, temos de ultrapassar a bênção, que é também um desafio, que se encontra na VI, naquela concentração astrológica que une luz, silêncio e dádiva. Esse é a proposta desta Lua Nova que se estenderá para além da lunação.  

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Lua Nova em Capricórnio: Reflexões Astrológicas

Reflexões Astrológicas

Lunações

Lua Nova em Capricórnio

05h00min, 13/01/2021

Decanato: Sol

Termos: Saturno

Monomoiria: Marte

 

  A conjunção Sol-Lua, estando o Horóscopo (Asc.) em Sagitário, cai na II, aquela que Paulo de Alexandria chamou de “Porta do Hades” e que a tradição antiga designou de Bíos, o modo de viver, distinto da vida biológica marcada pelo primeiro lugar. Ora nesta casa com o Sol e a Lua está também, nos mesmos termos e decanato, Plutão. O senhor do submundo e da morte surge no seu próprio pórtico, por detrás da luz. A morte oculta-se na sombra do nosso modo de viver, na penumbra de onde a luz incide. E não são estes os tempos que julgam o conhecimento da morte, que é também o conhecimento da vida, e a forma como vivemos? A pandemia ataca igualmente os meios de subsistência. Porém, acentuado pelo facto do novilúnio se encontrar no Decanato do Sol, o caminho é de saída do Hades, pois a hora de alba está próxima.


  Segundo os conceitos antigos de estar sob os raios do Sol e da fase helíaca, podemos observar que nenhum dos planetas é, neste momento, uma verdadeira Estrela da Manhã ou Estrela da Tarde, pois Vénus, Saturno, Júpiter e Mercúrio estão sob os raios do Sol. E Plutão que também está sob os raios foge do Coração do Sol por apenas doze minutos. Existe portanto na posição destes planetas um efeito fulgente e abrasivo. O Sol no signo do poder temporal exerce a sua autoridade, daí que as questões políticas estejam nestes dias particularmente exacerbadas e vulneráveis ao extremismo, à xenofobia e ao racismo. No entanto, existe uma distinção que deve ser feita. Vénus é o único que, embora não seja Estrela da Manhã, está numa posição oriental, adquirindo assim um carácter racional e metódico. A deusa do amor traz, deste modo, o pensamento ao desejo, à necessidade noética de colocar a inteligência naquilo que se quer e procura.


  Se pensarmos que o novilúnio se fixa no segmento nocturno, sob o horizonte, então concluímos que Vénus é o benéfico que está no seu próprio segmento e adquire a qualidade de ser o cume da seta de luz, aquela que tomara a madrugada. Já os restantes planetas, estando ocidentais, à esquerda do Sol, adquirem um carácter emotivo, instintivo e criativo. Nesta posição, Saturno, Júpiter e Mercúrio estão conjuntos, na III, no lugar da Deusa. Mais uma vez o Eterno Feminino surge como a promessa do futuro, como a face da transformação. Estão todavia ameaçados pela tensão (quadratura) que vem da VI, sob olhar explosivo de Marte e de Úrano. A palavra ameaça a saúde e a saúde domina a palavra. Todo o processo comunicativo será posto à prova.


  Neptuno, no seu próprio domicílio, fixa-se no Ponto Sob a Terra, na fundação do tema, que é também a da realidade. A compaixão, o serviço à humanidade, deverão vencer o medo e a exclusão. O eixo da Base à Culminação une Peixes e Virgem acentuando a necessidade e a importância vital do acto de cuidar, de estender a mão ao próximo. A verdadeira solidariedade, e não a caridade dominical e fotogénica, terão necessariamente de imperar. Sem a noção colectiva e agregadora de humanidade, e não meramente conceptual, a lição da Grande Conjunção fracassará.


  A Humanidade terá de vencer no espaço (Júpiter) e no tempo (Saturno), sem fronteiras e no presente, o inimigo que conduz à extinção do humano nas mulheres e homens. Esta esperança no futuro é conciliada - ou não - pelo trígono de Marte e Úrano na VI ao Ponto de Culminação (MC). A força e a transformação podem trazer à saúde da humanidade um renovado dinamismo e uma maior liberdade ou podem colidir numa explosão de fogo e electricidade. A ciência será tomada pela ignorância e a política pela desinformação. A posição de Marte e Úrano em Touro dará densidade ao melhor da vontade e da humanidade, dando forma à matéria bruta, ou tornará dura e cristalizada a obstinação humana, a necessidade primária de sobreviver ao outro e de não prescindir daquilo que julga ser seu.


  Por fim, deve-se considerar a união dos dois eixos: o do horizonte que une o Horóscopo ao Poente e o que une a Cauda e a Cabeça do Dragão da Lua. Essa ponte, essa passagem que tem tanto de seta como de rio indica a viagem da sabedoria ao conhecimento. Contudo, o corpo do Dragão envolve o horizonte, mostrando as dificuldades desse caminho de Sagitário a Gémeos, da sabedoria à realidade dual. A Deusa Sophia, guardada pelo centauro, traz à humanidade, ao conhecimento humano, o desapego da sabedoria e o silêncio do conhecer-se a si mesmo. Essa não é, porém, uma senda de sossego e paz, pois a sabedoria é tanto o abismo profundo como o topo da montanha e o caminhante terá de se anular, de se esvaziar, para percorrer essa urdidura de trilhos e encontros. A Lua Nova em Capricórnio trará à luz a consciência da sabedoria e do tempo ou a escuridão de se perder a humanidade.