Mostrar mensagens com a etiqueta Lua Cheia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Lua Cheia. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Eclipse Lunar Parcial (Lua Cheia Touro-Escorpião)

  Reflexões Astrológicas


Eclipses


Eclipse Lunar Parcial 

(Lua Cheia: Escorpião-Touro)

Lisboa, 21h14min, 28/10/2023

 

Lua

Decanato: Mercúrio

Termos: Vénus

Monomoiria: Marte   

 

Sol

Decanato: Marte

Termos: Marte

Monomoiria: Saturno

 

  O Eclipse Lunar Parcial de dia 28 de Outubro ocorre com a Lua no signo de Touro e o Sol no de Escorpião, com Gémeos a marcar a hora e menos de três horas após o pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, estando esta acima do horizonte, na XII, no lugar do Mau Espírito ou do Mau Destino (κάκον δαίμων), já o Sol está abaixo do horizonte, na VI, no lugar da Má Fortuna (κάκη τύχη). A Lua encontra-se no decanato de Mercúrio, nos termos de Vénus e monomoiria de Marte, enquanto o Sol encontra-se no decanato de Marte, nos termos de Marte e monomoiria de Saturno. Após o crepúsculo, caída a noite, o eclipse colocará a sua sombra sobre o horizonte e, a partir da Pós-Ascensão, trará consigo o peso do destino.

  Acerca do eixo de lugares (XII-VI) onde este plenilúnio obscurecido se estende, Manílio diz o seguinte: “a porta do trabalho serão: por uma se sobe e pela outra se desce” (Astronomica II, 870: porta laboriis erit: scandendum est atque cadendum). O conceito fundamental que se extrai deste verso é o de labor, de trabalho, que tem aqui o sentido de dificuldade, de esforço, de pena, mas também, inevitavelmente, de desafio. Lembremo-nos, por exemplo, dos trabalhos de Hércules. Ora Virgílio, na Eneida, refere os eclipses solares como labores solis, os trabalhos ou labores do sol (I, 742). Esta é uma ideia preciosa, pois diz-nos que a sombra coloca a luz, seja ela directa (Sol) ou reflectida (Lua), sobre esforço. Desta forma, se o eixo do eclipse lunar cair sobre o eixo da VI-XII este sentido sai reforçado, sobretudo se se conjuga com o sentido negativo ou obscurecido dos conceito de τύχη e δαίμων. A fortuna e o destino são colocados assim, não perante a dualidade dos acontecimentos, mas sob a potencialidade da acção humana e o modo como esta apreende os acontecimentos. Para ascender ou descender, como diz Manílio, a luz terá de passar por esse pórtico penoso onde o seu espectro se sujeita à dificuldade e ao esforço. Os eclipses, face ao estender da sombra a partir da própria luz, são necessariamente tempos de angústia e agrura.

  Nas Meditações, Marco Aurélio diz-nos seguinte: “Abandona-te de boa mente a Cloto; deixa-a tecer a tua vida com os acontecimentos que lhe aprouver.” (IV, 34, trad. J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995). No que aos acontecimentos concerne, a acção humana é determinada pela aceitação do fio das Meras, do destino, todavia, existe liberdade na forma como acolhemos, ou não, a luz e a sombra. O imperador romano continua, afirmando: “Considera de contínuo que o mundo é como um ser único, contendo uma substância única e uma única alma; e que tudo vai desaguar à mesma e única percepção que é a sua; ele tudo realiza por força do mesmo impulso; todas as coisas ao mesmo tempo concorrem para causar o que acontece e que trama cerrada e complicada é o que elas produzem” (IV, 40). Esta causalidade não só é natural como é provida de sentido, de finalidade, contudo, a sua interiorização exige esforço. Para tudo e para cada um, existe um trabalho que lhe é devido. As portas do trabalho são portanto os desafios desta causalidade.  

  As raízes desta ideia atravessam, na Antiguidade, o pensamento filosófico e a astrologia. Já Platão, no Timeu, afirmava que Com efeito, o deus, ao fazer girar em torno do eixo todos os círculos dos astros, como uma espiral, fazia parecer que o movimento era duplo e em sentidos opostos e que o que se afastava mais lentamente do que era mais rápido era o que estava mais perto. Para que houvesse uma medida evidente para a lentidão e para a rapidez com que se cumprissem as oito órbitas, o deus instalou uma luz na segunda órbita a contar da Terra, a que agora chamamos Sol, de modo a que o céu brilhasse ainda mais para todos e que os seres-vivos aos quais isso dissesse respeito participassem do número de modo a ficarem a conhecer a órbita do Mesmo e do Semelhante. Deste modo e por estas razões foram gerados a noite e o dia – o percurso circular uniforme e regular.” (39A-B, Timeu – Crítias, trad. R. Lopes. Coimbra, 2011: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos). Existe tanto uma diversidade nesta unidade como uma harmonia de opostos que conduz a essa unicidade. Ora é neste ponto que um eclipse e, em especial, um eclipse lunar se torna particularmente significativo.

  A harmonia dos opostos funda-se, numa perspectiva divina, na união da Mãe Divina ao Pai Divino, ou seja, por amor o mundo se criou e por separação assim permaneceu, daí que Tábua de Esmeralda diga que Todas as coisas provêem de uma, por mediação de uma única, assim todas as coisas nasceram desta única realidade por um único processo de adaptação. O seu pai é o Sol; a sua mãe é a Lua.(TH 30, in Hermetica II -The Excerpts of Stobaeus, Papyrus, and Ancient Testimonies in an English Translation with Notes and Introduction., ed. M. D. Litwa, 2018: 315.  Cambridge: Cambridge University Press. A tradução é da minha responsabilidade). Na astrologia, o Sol é o Pai Divino e a Lua a Mãe Divina, são Osíris/Serápis e Ísis. Os antigos astrólogos conservaram sempre esta matriz de sentido. Os eclipses são a sombra que estende junto ao casal. Essa sombra é Set que, embora seja um inimigo, não deixa de ser seu irmão.

  Existe uma afinidade natural entre a luz e a sombra. Ora, para a significação do actual eclipse lunar, esta harmonia dos opostos vai para além do Sol e da Lua, pois a regência domiciliar dos signos do eixo luminar e do Dragão da Lua alimentam esta dicotomia. De um lado, temos a Lua em Touro (Vénus) e a Caput Draconis em Carneiro (Marte) e, do outro, temos o Sol em Escorpião (Marte) e a Cauda Draconis em Balança (Vénus). Sob a égide da luz e da sombra, existe pois uma força cósmica de união e separação, criando e destruindo.

  A influência do eclipse lunar de dia 28 não é das temporalmente mais longas, mas é espacialmente expressiva. Segundo o método ptolemaico, podemos fixar a influência entre um mês e nove dias e quatro meses e catorze dias, isto se considerarmos primeiro a duração do manto umbral e depois a do manto penumbral. Já a técnica que concilia a duração da escuridão do eclipse com o tempo de ascensão dos signos coloca a influência entre um dia e meio e um mês e oito dias. É significativo que duas técnicas com pressupostos diferentes tenham, neste caso, um período de influência tão aproximado. Já a influência espacial coloca o centro do eclipse ao largo do Iémen, entre a costa mais próxima da fronteira com Omã e a ilha de Socotorá (Suqutrah), um paraíso natural pertencente ao Iémen. No entanto, o eclipse tem um manto extenso que cobre o continente africano, europeu e asiático. 

  Quanto às regências espaciais antigas, temos de observar primeiramente as do signo de Touro, pois é onde se encontra a Lua. Segundo Vétio Valente (Antologia I, 2), Touro vai reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. Para Manílio, Touro rege Cítia, a Ásia (por causa dos Montes Tauro) e a Arábia. (Astronomica, IV, 744-817).

  De seguida, por a Caput Draconis se encontrar num signo diferente, temos de considerar as regências de Carneiro. Vétio Valente (Antologia I, 2) diz-nos que as seguintes regiões pertencem a Carneiro: a Babilónia, Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), a Pérsia, a Palestina e as regiões circundantes, a Arménia, a Trácia, a Capadócia, Susã (cidade antiga, capital do Elão ou Susiana, hoje sudoeste do Irão), o Mar Vermelho e o Mar Negro, o Egipto e o Oceano Índico. Para Manílio, rege o Helesponto (Estreito de Dardanelos), Propontis (Mar de Mármara), a Síria, a Pérsia e o Egipto (Astronomica, IV, 744-817). Embora com menor influência, o lugar do Sol também é significativo e Valente diz-nos que Escorpião rege a Metagonitis ou Numídia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália, Cartago, Líbia, Amom (Jordânia), Sicília, Espanha e Roma. Já para Manílio Escorpião rege Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82).

  O eclipse lunar actual pertence à série Saros 146 que se iniciou a 11 de Julho de 1843 e que terminará a 29 de Agosto de 3123. É portanto uma série recente que se estende a partir do eixo Capricórnio-Caranguejo até ao eixo Peixes-Virgem. O seu eclipse inaugural, que serve de matriz genetlíaca de sentido, ocorreu com a Lua, a Caput Draconis e Saturno em Capricórnio, o Sol e a Cauda Draconis em Caranguejo, Mercúrio e Vénus em Gémeos, Marte em Sagitário, Júpiter e Neptuno em Aquário e Úrano e Plutão em Carneiro. A conjunção da Lua e Saturno e a quadratura destes a Úrano e Plutão em Carneiro, bem como a conjunção de Júpiter e Neptuno, levou por exemplo à erupção do Monte Etna a 25 de Novembro.

  No mesmo período, destaca-se também o terramoto na ilha Terceira, nos Açores. Por outro lado, a posição de Mercúrio e Vénus favoreceu, por exemplo, a publicação das obras de Charles Dickens, Edgar Allan Poe e Ada Lovelace. Kierkegaard publicou, pouco meses após o eclipse, a obra Temor e Tremor. Os eclipses, face à sua tensão uterina de luz e sombra, tendem a provocar elementos disruptivos. O pensamento e a arte são, por excelências, vectores de transformação, pois nascem do que transcende o comum.

  A relação do eclipse inicial da série Saros 146 com o actual eclipse é particularmente significativa, sobretudo se considerarmos a quadratura entre o eixo nodal do primeiro eclipse e a posição actual dos luminares. Entre os dois temas, a par da quadratura dragontina, os trígonos do Sol e da Lua tornam-se um intenso potencial de sentido. Existe nestes dois eixos zodiacais (Capricórnio-Caranguejo e Touro-Escorpião) uma qualidade, sob os desígnios eclipsais do destino e da necessidade, que é tanto dinâmica como estruturante, conciliando o tempo e o valor. Estendido entre a vida (Touro) e a morte (Escorpião), o valor encontra o seu sentido, mas hoje, coberto pelo manto umbral, o sentido daquilo que tem valor encontra-se difuso, obscurecido pelo peso do erro, da ilusão e do engano, por esta prole que a ignorância humana criou.

  Os tempos que vivemos com guerra, com inflação e especulação, com interesses e corrupção, com populismos e extremismos, ameaçando as democracias e os cidadãos, pervertem o valor da dignidade humana. A ideia de que existem humanos de primeira e de segunda e de que existem povos e terras eleitas são uma clara ameaça a nossa civilização e ao futuro da humanidade. A sombra sobre a Lua, Júpiter e Úrano em Touro pede-nos para repensar o planeta que habitamos e diz-nos que o direito à propriedade não pode pesar mais que o direito à dignidade. O planeta não pode ser um propriedade tem de ser um lar. É preciso repensar os valores do elemento Terra. O grande trígono de Terra, entre os planetas em Touro, já indicados, Plutão em Capricórnio e Vénus em Virgem, convida-nos a essa reflexão, não apenas como exercício espiritual, mas também base de uma nova práxis.     

  Por outro lado, o facto de Saturno em Peixes, conjunto a Neptuno, ser o astro mais alto adensa a gravidade do destino sobre o momento. A concórdia conceptual e espiritual entre as ideias de tempo e de totalidade fazem de Saturno em Peixes, segundo a matriz mitológica do deus romano da agricultura, o mestre do acto de semear, esperar e colher. Caído o manto da sombra, este é o tempo das colheitas, não das trazem os frutos da terra, mas sim das cumprem a consequência da desmedida. O trígono de Saturno e Neptuno em Peixes ao Sol, a Mercúrio e Marte em Escorpião, seguindo a lição de Petosíris de que nem todos os trígonos são bons, nem todas as quadraturas são más, consubstancia a gravidade didáctica do destino enquanto disrupção causal da Providência.

  A ὕβρις representa uma quebra na justa medida das coisas, naquilo que ocorre como é suposto que aconteça. A guerra representa um corte na ordem natural das coisas, pois conduz a uma destruição que não é própria da natureza cíclica de Gaia, mas sim da natureza humana, das suas franquezas. O terrorismo é uma outra face desta desmedida, levando o mal que nos consome ao outro. No entanto, o mito da violação de Alcipe, filha de Ares, por Halirrótico, filho de Posídon, mostra o outro lado de Escorpião, ou seja, a vingança como forma de resistência e reposição da justiça (Figueiredo, R.M. de, 2021, Fragmentos Astrológicos, 126). Este é o mito que está na origem do Areópago. Pela ofensa cometida, Ares mata Halirrótico. Posídon exige o julgamento e a respectiva condenação. No entanto, Ares é absolvido, pois o seu acto foi considerado legítimo. Os tempos que vivemos revelam esse fio ténue entre a vingança e a justiça, entre opressão e resistência.  

  Neste eclipse lunar, a tensão que ocorre no eixo Touro-Escorpião fundamenta o sentido profundo do actual manto umbral, fazendo deste choque entre a vida e a morte, entre criação e destruição, um elemento estruturante. Se considerarmos a relação de aspectos nos elementos Terra e Água (trígono), aqueles que fortalecem este fenómeno astrológico, observamos que, como um pentagrama imperfeito, existe um signo que não é habitado por nenhum planeta. Caranguejo, como signo da origem, torna-se agora um sinal de incompletude e isso é bastante significativo. Falta-nos hoje, por ocultação luminar, uma matriz feminina, lunar, de sentido. O mundo, a humanidade, devido às suas próprias escolhas, vive sem a Mãe Divina e, com o signo de Touro obscurecido, exaltando-se a Lua na sombra, a Terra não consegue ser Mãe.

  A grande maioria das posições e aspectos astrológicos presentes no tema do eclipse lunar já foram analisadas na reflexão do eclipse solar, todavia, é necessário destacar a posição dos maléficos e os seus movimentos futuros, pois, dentro do período de influência do eclipse lunar, Saturno iniciará, a 4 de Novembro o seu movimento directo e Marte ingressará em Sagitário a 24 do mesmo mês. A ligação entre os dois planetas passará do trígono à quadratura, agravando assim o seu carácter maléfico e a sua acção disruptiva. Os próximos meses vão indicar um desafio, um trabalho severo, para a humanidade. As nossas palavras e as nossas acções, mais do que nunca, vão determinar quem somos e para onde vamos. Estamos à beira do abismo.

  O eclipse lunar de dia 18 é o último neste ciclo nodal actual, no eixo de Touro-Escorpião. Passaremos definitivamente para o eixo Carneiro-Balança, deixando o sentido de valor para encontrar-se o sentido de identidade. No entanto, até à primeira época de eclipses de 2024, os eclipses no eixo Touro-Escorpião ainda estarão presentes, perdendo progressivamente a sua influência. O actual eclipse pela sua área geográfica de influência e pelas significações que o tema astrológico introduz vai, por força do destino e da necessidade, mas também pelo efeito da desmedida, trará desastres naturais e humanos. Sem amor e sem sabedoria, a humanidade perder-se-á.  

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Eclipse Lunar Penumbral (Lua Cheia: Touro-Escorpião)

 Reflexões Astrológicas


Eclipses


Eclipse Lunar Penumbral 

(Lua Cheia: Touro-Escorpião)

Lisboa, 18h23min, 05/05/2023

 

Lua

Decanato: Sol

Termos: Mercúrio

Monomoiria: Marte 

 

Sol

Decanato: Lua

Termos: Júpiter

Monomoiria: Vénus


 

  O Eclipse Lunar Penumbral de dia 5 de Maio ocorre com a Lua no signo de Escorpião e o Sol no de Touro, com Balança a marcar a hora e a cerca de duas do pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já a Lua está abaixo do horizonte, na II, no lugar do Viver (βιός). A Lua encontra-se no decanato do Sol, nos termos de Mercúrio e monomoiria de Marte, enquanto o Sol encontra-se no decanato da Lua, nos termos de Júpiter e monomoiria de Vénus. Se pensarmos que, da Lua até ao Ponto de Culminação, não existe nenhum astro, concluímos então que é o caminho luminar em que Sol se insere, e que é por si dominado, que se torna mais significativo, pois de uma forma mais abrangente é aquele que vai de Marte em Caranguejo a Júpiter em Carneiro ou, se preferirmos uma maior simbólica cadente, dado que Marte está junto à Culminação, será aquele que vai de Vénus em Gémeos a Júpiter em Carneiro. Este é o caminho dos benéficos, ou do bem, rumo ao Poente, onde o Sol se encontra obscurecido. Neste ocaso da realidade, a acção do bem vive na sombra.     

  Existe uma clara aproximação de sentido entre este eclipse e o anterior eclipse solar, visto que, por um lado, Balança marca a hora no actual eclipse e este é um dos signos que integra o eixo para o qual avançará o eixo nodal e marcará a próxima fase de eclipses, iniciada com o eclipse de dia 20 de Abril, e, por outro lado, a Lua recai nos dois eclipses na II, no Lugar do Viver (βιός), exacerbando a sua significação tópica. É igualmente assinalável o facto de em ambos os eclipses a Lua se encontrar sob o horizonte. A ocultação luminar, seja pela sua visibilidade ou, neste caso, também pela sombra do eclipse, adquire sempre um simbólica radical, um valor que transmite uma representação profunda da realidade. Ora a ocultação da Lua, da Deusa, do Espírito Santo ou do Divino Feminino, num lugar que determina o valor do viver, assume um carácter primordial de transformação, ou seja, diz-nos que, na sombra, sob o manto da nossa ignorância, se encontra aquilo que nos falta, a fonte da nossa angústia, da nossa incompletude. Não provimos aquilo verdadeiramente nos sustem.   

  A área geográfica do actual eclipse é maior que a do eclipse solar, embora semelhante. A zona principal incide sobre a Ásia e sobre a Oceânia, expandindo a influência do eclipse de dia 20 de Abril. A segunda zona alcança, já de forma parcial, África e a Europa. No caso de Portugal, este manto chega sensivelmente até ao Tejo, ou seja, cobre apenas metade do país. Se seguirmos, porém, a tradição antiga, a Lua em Escorpião fornece-nos um conjunto de informações adicionais. Valente diz-nos que Escorpião rege a Metagonitis ou Numídia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália, Cartago, Líbia, Amom (Jordânia), Sicília, Espanha e Roma. Já para Manílio Escorpião rege Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82).

  No entanto, devemos também considerar o Sol em Touro, embora com uma menor expressão geográfica. Segundo Vétio Valente (Antologia I, 2), vai reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. Para Manílio, Touro rege Cítia, a Ásia (por causa dos Montes Tauro) e a Arábia. (Astronomica, IV, 744-817). No caso dos eclipses lunares, a questão da influência geográfica é deveras importante, já que, no seu período de influência, encontramos frequentemente a existência de fenómenos naturais extremos, tais como sismos, erupções vulcânicas ou tempestades.

  Em termos temporais, a acção deste eclipse pode ser fixada entre perto dos dois meses até aos seis ou sete meses. O período de cerca de dois meses pode ser estabelecido a partir da ascensão recta, enquanto a linha temporal mais extensa é alcançada pela extensão temporal dos contactos umbrais. No entanto, podemos afirmar que a sua influência será mais intensa nos dois meses que se seguem ao eclipse. Existe, porém, um outro factor a ter em consideração acerca desta influência, pois, segundo a série Saros em que está inserido, este eclipse está intimamente ligado ao eclipse da mesma série que acontecerá a 16 de Maio de 2041, também no eixo Escorpião-Touro. Os sentidos propostos pelo actual eclipse criam uma ponte significativa entre os dois eclipses, estendendo assim a sua proposta de representação da realidade.

  A série Saros 141 é uma série relativamente recente que se iniciou a 27 de Agosto de 1608, com eclipse no eixo Peixes-Virgem, e que terminará a 11 de Outubro de 2888, com um eclipse no eixo Carneiro-Balança. O primeiro eclipse total só acontecerá em 2167 com um eclipse no eixo Aquário-Leão. Nesta série, dado o primeiro e o último eclipse, existe uma união de sentido entre o fim e o início, entre a significação dos dois eixos. Esta ideia matriz serve, face ao actual eclipse, a consolidação, a integração na consciência humana que a Natureza é um ser vivo, com alma, que nasce, morre e renasce. O eixo Escorpião-Touro está a oferecer-nos uma profunda lição acerca do valor da Terra, da Mãe-Terra. Marco Aurélio diz-nos o seguinte: “Contempla o curso dos astros como se levado foras nas suas revoluções, e considera de contínuo como os elementos se transformam uns nos outros. Tal contemplação purifica-nos das nódoas da terra.” (Pensamentos VII, 47, trad. J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995). Fomos nós que colocámos as “nódoas da terra” e somos nós que as temos de tirar. 

  O início da série Saros 141 é marcado por alguns acontecimentos em torno da fundação da colónia americana de Jamestown. A 13 de Agosto de 1608 é submetida para publicação a história dos primeiros dias da colónia de John Smith e, a 10 de Outubro, este é eleito presidente do conselho colonial. A história de John Smith e de Pocahontas é um exemplo de aceitação do outro, da diferença e de criar laços afectivos com alguém que a maioria tende a rejeitar. Face à crise dos refugiados, da pobreza e das desigualdades sociais, o simbolismo por detrás desta história torna-se imperativo. Podemos encontrar astrologicamente esse sentido no trígono que, hoje, une os astros nos três signos de água. A sua significação congrega a tensão e a possibilidade. Séneca afirma o seguinte: “Pensa bem como esse homem que chamas teu escravo nasceu da mesma semente que tu, goza do mesmo céu, respira, vive e morre como tu. Tanto direito tens tu a olhá-lo como homem livre como ele a olhar-te como escravo” (Ep.47.10; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). Ora este é também o espírito da Saturnália e de Saturno (e Neptuno) em Peixes.

  A refundação da justiça social e das estruturas políticas, económicas e sociais estará intimamente relacionada com o medo de feminino que se apresenta com Marte em Caranguejo. A respeito de Marte convém referir-se que é o astro mais alto, em conjunção ao Ponto de Culminação. Este factor, aliado à posição de Plutão retrógrado em Aquário, junto ao Ponto Subterrâneo, embora em posição pós-polar e noutro signo, vai colocar sob pressão os fenómenos naturais extremos. O trígono de Água apresenta, neste eclipse, um sentido profundo. O medo de feminino é um sinal dos tempos, mas a forma abusiva como utilizamos os recursos do planeta também o é, e sobre estes dois eixos de acção e reacção vive a morte, a retribuição e a necessidade. A sombra do eclipse, com a Lua em Escorpião, revela-nos que, face à gravidade da desmedida, será apenas sob a terra queimada, sob as cinzas da história, que o renascimento acontecerá. O tempo pede, novamente, que os escravos se ergam e se tornem senhores. Essa é, como já observámos, a lição de Saturno em Peixes e que agora se une à do eclipse lunar.      

  A quadratura de Plutão em Aquário aos luminares e ao Dragão da Lua, a partir do lugar da Boa Fortuna, confirma a sua mensagem fundamental de que a morte paira sobre o humano e de que a semente do amanhã repousa ainda sob a terra, oculta no ventre da Grande Mãe. Não existe criação sem destruição. Essa é a ideia que nos deve servir de guia e que contribuirá para nos redimensionarmos. Os complexos humanos de super-homem deverão cair, pois a actividade humana tem sido exacerbada por um narcisismo desenfreado que quer que esqueçamos a nossa finitude, a nossa incompletude. É esvaziando-nos que nos tornámos plenos. O trígono de Vénus em Gémeos, no lugar do Deus Sol, a Plutão em Aquário indica a palavra do Amor que vence a dualidade, a separação. Porém, é sempre mais fácil distinguir do que congregar. Se por vaidade dizemos que reunimos, estamos a apenas a criar mais separação. A quadratura de Vénus a Saturno e Neptuno aponta para essa dificuldade. A teia que une a necessidade e a compaixão, criando possibilidade e redenção, exige esforço. Temos de primeiro nos perder, para depois nos encontrarmos, renovados e renascidos.

  Na casa da Grande Mãe, da Mãe Natureza, que é o signo de Touro, o Sol, Mercúrio, Úrano e a Caput Draconis expressam uma mensagem que se firma no ocaso da realidade. Fundar um novo modo de vida quando tudo o que se vê é morte é o desafio dos nossos tempos. A qualidade da morte alia-se aqui à noção de poente. O caminho de Júpiter em Carneiro avança para o seu fim, o que, neste tema, assume literalmente esse término. A acção do bem tornar-se-á a bondade da terra. Júpiter em Touro chegará com a dádiva de Gaia. Porém, a actual quadratura entre Júpiter em Carneiro e Marte em Caranguejo revela esse mesma dificuldade de acolher os dons da terra e do feminino. Neste eclipse lunar, este choque entre o grande benéfico e o grande maléfico assume um carácter de definição e prenúncio. A par do trígono de Água e do eixo do eclipse, este é um símbolo do futuro que resume a mensagem da actual ocultação luminar.

  O eclipse lunar de dia 5 de Maio, como lhe é natural, mas aqui um pouco mais acentuado, vai trazer consigo um conjunto de sentidos subliminares, como se sibilados pela Senhora do Tempo e da Necessidade. Nem tudo é literal, directo ou evidente, existem pois sentidos que preenchem a trama de um tear. A união de Júpiter em Touro e Saturno em Peixes, bem como a longa travessia de Vénus em Leão, assinalam uma era do feminino e o actual eclipse é a sombra que antecede a luz. Em suma, é sobre a sombra que se guarda a luz e iluminado é aquele que guarda a centelha da sabedoria.        

sábado, 18 de dezembro de 2021

Lua Cheia - Eixo Gémeos/Sagitário: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Cheia: Eixo Gémeos – Sagitário


Lisboa, 04h35min, 19/12/2021

 

Lua

Decanato: Sol

Termos: Saturno

Monomoiria: Vénus   

 

Sol

Decanato: Saturno

Termos: Marte

Monomoiria: Saturno

 

            A última Lua do Cheia de 2021 coloca a Lua no seu próprio Segmento de Luz (αἵρεσις), acima do horizonte, sendo ela a luz mais alta, embora fixada no Lugar da Morte (VIII), no signo de Gémeos e com a Caput Draconis, no decanato do Sol, nos termos de Saturno e na monomoiria de Vénus. Já o Sol encontra-se em Sagitário, fora do Segmento de Luz, abaixo do horizonte, no Lugar do Viver (II), no decanato de Saturno, termos de Marte e monomoiria de Saturno. Com o Sol, mas para além dos seus raios encontra-se Marte e a Cauda Draconis. Ora este encontro, sem a qualidade abrasiva de que Marte poderia beneficiar, intensifica a força do elemento de passagem e do espírito de viagem, de travessia do rio da realidade, que é própria do eixo Sagitário-Gémeos. Porém e dado o eixo de lugares em que os luminares se firmam, a intensidade não possui um valor próprio e, neste caso, ou se eleva ou se afunda. A transformação nesta qualidade axial tem portanto um potencial de transformação que não é em si mesmo valorativo.

            Os luminares, entre o modo de vida (II) e a qualidade da morte (VIII), concedem a luz que permite encontrar o sentido do real. A união do Sol e da Lua com o corpo do Dragão da Lua, aquele que a 18 de Janeiro de 2022 deixará o eixo Sagitário-Gémeos, faculta a possibilidade de se enraizar o limite e o limiar da mensagem proposta. Essa passagem da Sabedoria à Palavra deixará de ser a luz que guia para voltar a ser mistério. O Dragão da Lua coloca sobre a vida o peso da Necessidade, é um agente do Destino e da Providência, daí que Vétio Valente diga, por exemplo, que o ponto quadrangular à Caput tem uma força anairética (Antologia, III, 9), ou seja, a criação e a destruição ou a acção e a retribuição são expressões do Dragão da Lua. Ora, neste plenilúnio, sobretudo pela proximidade dos luminares ao corpo do Dragão, existe uma dificuldade de efectivação na sua proposta de sentido. O caminho da Sabedoria à Palavra é renegado, é visto por uns e percorrido por poucos, e agora quando a sua proclamação está a terminar, a via da Morte ao Viver já surge no horizonte. Desta forma, será preciso fixar o valor nessa senda e encontrar o sentido da morte para transformar o modo de vida, o que já surge com clareza pelo facto do eixo do horizonte se estender de Escorpião a Touro.    

            O ponto proposto anteriormente por Valente encontra-se no mesmo signo onde está Neptuno e, embora já distante, contamina esse lugar com o elemento destruidor, e também devido à observância quadrangular dos luminares e de Marte, ou seja, a visão de totalidade que é o Amor de Deus (Neptuno em Peixes) não alimenta nem a Sabedoria, nem a Palavra, não é acolhida como a luz que guia, a grande iluminadora. Porém, Neptuno está na V, no Lugar da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), mostrando como tanto a compaixão como a imaginação continuam a dar novos mundos ao mundo. E, no final do ano, quando Júpiter se juntar Neptuno, essa mensagem ganhará um novo fôlego, revelando-se, novamente, o poder da solidariedade.  

            Por outro lado, se Marte coloca a força e a tensão sobre os luminares e o Dragão da Lua, então Júpiter e Saturno estruturam a sua acção, concedendo-lhes tanto a matéria e a forma como a consciência íntima do espaço e do tempo, da justiça e da necessidade. O sextil de Júpiter e Saturno ao Sol, a Marte e à Cauda e o trígono à Lua e à Caput conduzem o humano e a humanidade à sua proposta de sentido, ou seja, a partir do Lugar sob Terra (IV) e junto ao Ponto Subterrâneo (IC), Júpiter e Saturno permitem a refundação das bases da realidade quer ao nível individual, quer na dimensão colectiva ou social. As lições do passado tornar-se-ão mais vivas, assinalando que se a história não se repete, repete-se o humano.  

           Contudo, por estarem fora do segmento dominante, a luz dos senhores do espaço e do tempo está diminuída, o que enfraquece a qualidade a benéfica de Júpiter e exacerba a qualidade maléfica de Saturno. Nestes tempos que vivemos, o bem e a justiça que a humanidade poderia criar e seguir desagregam-se e dispersam-se, esvaziando-se na espuma dos dias, e, de um outro modo, a retribuição, a consequência de uma ὕβρις, torna-se mais evidente e activa. Neste plenilúnio, a acção humana estará sobre um olhar atento e vigilante das Meras e a Roda da Necessidade há-de impor a sua gravidade, pois só assim poderá existir transformação.

        Um outro encontro que marca de forma indelével este plenilúnio é o de Mercúrio, Vénus e Plutão em Capricórnio, no Lugar da Deusa (III). No signo do poder e da culminação, a Palavra, o Amor e a Morte unem-se num único sentido, concentrando o potencial do futuro. Entre outras significações, esta é uma co-presença que pode dar origem a um novo movimento artístico, literário ou filosófico. Encontramos aqui as bases de um movimento assente num novo realismo que contraria as interpretações líquidas, dispersas e disformes que dominam o olhar actual sobre o mundo e sobre o humano. Capricórnio irá conceder o rigor que falta e a exigência que se rejeita, dar-lhe-á a precisão de uma finalidade.

        Face ao segmento de luz dominante, Vénus apresenta-se como o grande benéfico e, se pensarmos que Vénus está no Lugar da Deusa e a Lua é a luz mais alta, então concluímos, uma vez mais, que o Eterno Feminino marca o fim deste ano de 2021. Ora Vénus, com Mercúrio e Plutão, agrega-se numa simbiose de bênção e dádiva a Úrano em Touro (trígono) e a Neptuno em Peixes (sextil). A Revolução da Terra (Úrano em Touro) e o Amor de Deus (Neptuno em Peixes) fundem-se com o Poder da Palavra, do Amor e da Morte (Mercúrio, Vénus e Plutão em Capricórnio), concedendo ao mundo e ao humano um intenso potencial de transformação. Note-se que também aqui o feminino traz consigo a sua dádiva, pois estes aspectos têm a sua raiz em signos de Terra e de Água. Algo que é igualmente visível no trígono de Úrano a Plutão e nos sextis de Úrano a Neptuno e de Neptuno a Plutão. A Grande Mãe estende as suas mãos a quem luta pelo planeta e pela humanidade, desvelando o quanto ela se insurge e se revolta. Gaia é o ventre e o túmulo, a mãe, mas também o vulcão e o sismo.    

        Quando se fala de mudança, de transformação, ou até mesmo de revolução, existe sempre um movimento contrário, uma resistência que só é natural, porque a sombra continua a pesar sobre o humano. A sombra da personalidade e a penumbra que se estende sobre as relações sociais assenta numa teia de vaidade, de ilusão e de superficialidade. O lago de Narciso continua a colher o olhar e, numa Lua Cheia, onde os luminares se contemplam de frente, unindo-se e opondo-se, é fácil confundir a luz com o fogo-fátuo.

            Desta forma, a quadratura de Júpiter e Saturno a Úrano, unindo-se a partir do Lugar Sob a Terra (IV) com o Poente (VII), assinala que também as fundações da realidade encontram o seu fim, renovando-se e recriando-se, fazendo do velho o novo e do novo o velho. Os pilares do templo podem ruir para depois se erguerem num dolce stil novo, como diria Dante no Purgatório (XXIV, 57). Com esta quadratura, podemos ser os barqueiros das profundezas da realidade, sombrias e cristalizadas, ou os timoneiros da luz prometida e anunciada. Sob o brilho da Lua, de uma Lua Cheia, alta no céu, a Senhora da Luz, illuminata et iluminatrix, consagra a Nova Era, o Novo Humano.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Eclipse Lunar Parcial (Lua Cheia: Eixo Touro – Escorpião): Reflexões Astrológicas

Reflexões Astrológicas

Eclipses



Eclipse Lunar Parcial

 (Lua Cheia: Eixo Touro – Escorpião)

Lisboa, 08h 57min 26s, 19/11/2021

 

Lua

Decanato: Saturno

Termos: Marte

Monomoiria: Júpiter

 

Sol

Decanato: Vénus

Termos: Saturno

Monomoiria: Sol

 

            O eclipse lunar parcial de 4 de Novembro é o último eclipse lunar de 2021, o último eclipse lunar parcial de eixo nodal Gémeos-Sagitário, tendo o eclipse de 25 de Maio sido o último eclipse lunar total. Por outro lado, o eclipse de dia 4 de Novembro é o primeiro de um conjunto de eclipses no eixo Touro-Escorpião. Este eclipse pertence à série Saros 126 e nesta é o primeiro eclipse parcial da segunda fase, ou seja, daquela que se segue aos eclipses totais. Na série Saros 126, os eclipses principais, aqueles que marcam o início ou o fim de uma fase, indicam uma posição lunar que ocorre essencialmente em signos de Ar, Terra e Fogo. Existe uma ausência significativa da Água nas posições lunares dos principais eclipses desta série, revelando como o potencial criativo, imaginativo e artístico é menor. O princípio de vida encontra-se comprometido, porque a Água é condição de vida, daí que a fome e a guerra marquem esta série Saros.

            O primeiro eclipse da série ocorreu a 18 de Julho de 1228 (CJ), com a Lua em Aquário. Ora o último eclipse da série dá-se a 19 de Agosto de 2472, novamente com a Lua em Aquário. O signo do humano e da humanidade surge com uma luz eclipsada, ou seja, não colhe a luz solar, o espírito do intelecto agente. E, com a Lua em Aquário, não consegue colher a excelência (ἀρετή) da individualidade leonina. Se considerarmos o exemplo do primeiro eclipse da série Saros 126, compreendemos que, nesse momento, o mundo e, em especial, a Ásia passava por grandes transformações. Genghis Khan morrera no ano anterior (18/08/1227) e, no período que se segue, o império mongol será dividido em quatro canatos. Por outro lado, dois dias antes do eclipse de 1228, São Francisco de Assis é canonizado pelo Papa Gregório IX. Ora no tema deste eclipse, Neptuno em Touro está em trígono a Vénus e Plutão em Virgem. O voto de pobreza e a ligação à natureza e aos animais marcam a vida de São Francisco, bem como este aspecto. Convém também salientar-se, a respeito deste eclipse, que, em 1228, Saturno encontrava-se em Aquário tal como hoje se encontra, o que, juntamente com a posição lunar que fixa o início e o fim da série Saros, concede um sentido profundo ao potencial humano do aguadeiro.

            O fim da primeira fase penumbral da série Saros 126 ocorre com o eclipse de 13 de Março de 1607. Este eclipse, tal como o primeiro da primeira fase parcial, a 24 de Março de 1625, serve para mostrar como existe um denominador geográfico, que se estende até hoje, na extensão da sombra, ou seja, na visibilidade do eclipse. Em 1607, é criada, na Virgínia, a colónia britânica de Jamestown e, em 1625, é fundada a Nova Amesterdão, também na América do Norte, pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. De outro modo, na península malaia, em 1607, Iskandar Muda torna-se sultão de Achém e lança uma ofensiva naval pelo território indonésio, hostilizando, por exemplo, Malaca, controlada pelos portugueses. Já em 1625, o sultão Anyakrakusuma, conhecido por Agung, conquista Surabaya, a sua maior rival na Java Oriental. Existe portanto nestes eclipses um espírito invasor e de domínio da terra. 

            A significação histórico-geográfica destes eclipses estende-se até ao primeiro eclipse total da série Saros, a 19 de Junho de 1769. Neste ano, os missionários espanhóis estabelecem vinte e uma missões na Califórnia e, em Bengala, inicia-se um período de fome que se estenderá até 1773 e matará um terço da população. Já os eclipses que na fase total merecem maior atenção, tanto em magnitude como extensão espacial, são os 1805, 1823, 1841 e 1859. Nestes devem ser assinalados os eventos ligados às guerras napoleónicas (a criação da Terceira Coligação e a Batalha de Austerlitz), às lutas liberais (rebelião do Conde de Amarante e a Vilafrancada), à independência do Brasil (tensão entre D. Pedro I do Brasil e a Assembleia Constituinte e a coroação de D. Pedro II como imperador do Brasil). Só o eclipse de 1859 é que revela uma tendência que não é tão político-militar, pois na véspera do eclipse é criada a Igreja Presbiteriana do Brasil e, nesse ano, é publicada a Origem das Espécies de Darwin e iniciada a construção do Canal do Suez. No entanto, a componente de tensão política e bélica é reforçada no último eclipse total da série, a 9 de Novembro de 2003. Nesse ano, o facto de maior relevo é a invasão do Iraque (19 de Março), iniciada na Cimeira das Lajes (16 de Março), e que culminará com a captura de Saddam Hussein a 13 de Dezembro.

            A Lua em Touro, segundo as lições de Vétio Valente (Antologia I, 2), vai reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. Já no que concerne ao Sol em Escorpião, Valente diz-nos que este rege Metagonitis ou Numídia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália, Cartago, Líbia, Amom (Jordânia), Sicília, Espanha e Roma. Finalmente, com um olhar a partir de Lisboa - elegido aqui como ὁμφαλός, umbigo do mundo -, Sagitário marca a hora e rege a Etrúria (Itália), Gália (França), Espanha, Arabia Felix (Iémen e Omã), Cilícia, Creta, Sicília, Itália, Chipre, o Mar Vermelho, Casperia, as nações junto ao Eufrates, Mesopotâmia, Cartago, Mar da Líbia, o Adriático, o Atlântico, os Tribálios (povo ilírio ou trácio), a Báctria (Afeganistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Paquistão e China), o Egipto e as regiões circundantes. Estas áreas, juntamente com o mapa da visibilidade do eclipse, mostram-nos as regiões onde o eclipse exercerá uma maior influência.

            O eixo do eclipse lunar coloca a Lua sob o horizonte, fora do Segmento de Luz (αἵρεσις) dominante, no Lugar da Má Fortuna (κάκη τύχη), a VI, no decanato de Saturno, termos de Marte e monomoiria de Júpiter. Já o Sol, renascido após a hora de alba, surge no seu próprio Segmento de Luz, no Lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων), a XII, no decanato de Vénus, termos de Saturno e monomoiria do Sol. Convém ainda, a respeito dos luminares, destacar o facto de a Lua estar em conjunção com a estrela Algol. Ora esta é a estrela que os antigos consideravam a mais maléfica. Ptolomeu, na Syntaxis ou Almagesto (VII, 5), diz-nos que, na constelação de Perseu, esta é a estrela mais brilhante da cabeça da Górgona. Curiosamente, a estrela Algol que passou a representar o lado demoníaco do feminino – infelizmente não com raiz original do termo δαίμων – surge aqui, não no grau, mas no signo de exaltação da Lua (Touro).  

            A Medusa, bem como Lilith, é a persona mitológica que rege esta estrela, trazendo necessariamente consigo – e sem ser ainda um fenómeno psíquico, embora acabe por o ser – o medo do feminino. Aqui não estamos diante da Grande-Mãe, encontramos sim o feminino selvagem, guerreiro, independente, sexual. Note-se que a Medusa, a única das três Górgonas que era mortal, reconhecida pela sua beleza e o seu cabelo, é castigada por Atena, por ter copulado com Poseídon no templo da deusa. Contudo, o que nem sempre se diz é que a união sexual não foi consensual. Medusa foi violada pelo deus. E insultada pela cópula, Atena, a deusa sem mãe, torna Medusa num ser horrifico, com um cabelo serpentino e um olhar petrificante. Desta forma, quando Perseu vence o monstro feminino, decapitando-o, saem dele o cavalo alado Pégaso e Crisaor, o gigante de espada de ouro, ambos filhos de Posídon e Medusa. Este mito, aliás como aquele que descreve a primeira mulher de Adão, aquela que rejeita a submissão sexual, impõe, por força do paradigma dominante, uma certa hostilidade para com o feminino. A astrologia não se pode pois fixar no arquétipo dominante, negando ou ignorando a realidade que se oculta. As significações têm de evoluir e aceitar que muitos dos conceitos estão excessivamente masculinizados.

            O medo do feminino, resultante aqui da conjunção da Lua em Touro eclipsada com a estrela Algol, mas também pela oposição de Mercúrio, Marte e naturalmente do Sol, todos no signo de Escorpião, firma um fenómeno que se expressa tanto no inconsciente pessoal como colectivo, e ainda nas relações pessoais, sociais, políticas e empresariais. A mulher e a Terra-Mãe continuarão a ser assim um alvo da brutalidade humana. A morte fixa assim o seu olhar sobre a vida. Num eclipse lunar, com Marte em Escorpião e a Lua em Touro, conjunta a Algol, o feminino selvagem, a feiticeira e a sedutora, bem como o lado mais violento da natureza, estarão potenciados e vão marcar um período de influência que vai dominar os próximos meses. Acerca do período da influência de um eclipse devemos relembrar a lição de Ptolomeu na sua Apotelesmática ou Tetrabiblos (II, 6), ou seja, até ao limite Abril ou Maio de próximo ano, variante consoante o lugar, este eclipse tornar-se-á presente e afectará assim lugares e gentes.

            Um outro aspecto que sobressai na análise do tema é o facto de não existir uma luz a culminar. Com a excepção do Sol, de Mercúrio e de Marte em Escorpião, na XII, todos os astros estão abaixo do horizonte, submersos na luz oculta. Ora esta situação faz de Marte a primeira luz a ascender. No entanto, pelo Segmento de Luz dominante ser o do Sol, Marte torna-se o maléfico fora de segmento, aquele cujo potencial maligno se encontra potenciado. Este, juntamente com o Sol e Mercúrio, une-se em quadratura a Júpiter e Saturno em Aquário, na III, no Lugar da Deusa. A discórdia ou tensão deste encontro leva a morte ao humano, corrompe a palavra e a comunicação. Mercúrio e Marte que são Estrelas da Manhã, tocados pelos raios do Sol, não conseguem colher o espírito ascendente do seu raiar na aurora, porque Júpiter e Saturno não lhes dão matéria e forma, espaço e tempo. O velho e o novo senhor do Olimpo criam uma tensão com o eixo do plenilúnio, com o eclipse lunar. No signo da humanidade, o humano não vê, nem com os olhos, nem com o espírito, a luz do Sol e da Lua.  

            É quando tudo parece escuro, indeterminando e incerto que temos de encontrar a dádiva, a bênção do céu e da terra. Júpiter, o benéfico potenciado pelo Segmento de Luz, embora esteja sobre tensão luminar, colhe a bênção de estar em conjunção com Sadalsuud, uma estrela fixa que, para a astrologia árabe, é um sinal de ventura e fortuna. Quando uma sombra se alonga, existe sempre no humano uma candeia que se ergue. O trígono de Júpiter à Caput Draconis e o sextil à Cauda une esse potencial de luz ao sentido profundo do Dragão da Lua, aquele que no eixo Gémeos-Sagitário leva, como se fosse uma mensagem, a Sabedoria à Palavra. Por outro lado, Vénus, fora do seu Segmento de Luz, constrói o seu poder no signo que lhe dá forma. A deusa do amor fixa-se em Capricórnio durante um longo período, até 6 de Março, passando por uma retrogradação de 19 de Dezembro até 29 de Janeiro de 2021. Vénus pedirá uma estruturação do desejo e um amor pela finalidade, algo que neste eclipse se une, primeiramente, à morte e à transformação, pela conjunção a Plutão, mas também à força do renascer (sextil a Marte em Escorpião) e à Revolução da Terra (trígono a Úrano em Touro). A dádiva de ver o outro leva-nos, por exemplo, para a fronteira da Bielorrússia com a Polónia e para uma percepção de mudança na consciência do que é a humanidade.

            A posição de Vénus em Capricórnio, no Lugar do Viver, onde se encontra o valor e o seu sentido, permite que se una em sextil ao Sol, a Mercúrio e Marte e em trígono à Lua, concedendo-lhe uma bênção, uma dádiva, que pede paciência na construção de um novo modo de vida que terá, por força da Necessidade, de destruir a matriz anterior. Ora, a partir do Lugar do Sob a Terra, onde se criam as fundações da realidade, Neptuno em Peixes faz brotar o Amor Universal como uma visão da totalidade, lançando os seus raios de empatia e compaixão sobre o Sol, Mercúrio e Marte (trígono) e a Lua (sextil) e levando à luz eclipsada e à luz ascendente o dom de ver o próximo, de levar a compaixão a quem sofre. A crise dos migrantes e dos refugiados desafia o valor da vida e do humano, daí que Vénus e Neptuno se unam em sextil, oferecendo o amor como finalidade. Esse terá, porém, de acolher o Poder da Morte e seu potencial de transformação (sextil de Plutão ao Sol, a Mercúrio e a Marte e trígono à Lua).

            Por fim, e depois do fracasso COP26 em Glasgow, é preciso destacar a posição de Úrano em Touro, que pede uma Revolução da Terra e uma desestruturação dos valores e dos modos de vida. Ora Úrano está em conjunção com a Lua eclipsada, em oposição ao Sol, a Mercúrio e Marte e em quadratura a Júpiter e Saturno. É portanto impossível não concluir aqui uma tensão profunda, uma raiz disruptiva. Úrano vai romper com tudo aquilo que se encontra cristalizado, mas pode também trazer consigo, devida à sua posição, uma resistência à mudança e uma persistência nos preconceitos e nos falsos valores. Sob o véu do patriotismo e do nacionalismo exercer-se-á violência. Sob a égide do conforto capitalista e consumista negar-se-á a mudança que o planeta precisa. E sob o falso poder dos medos e da vaidade, sob o medo do feminino, continuar-se-á a agredir, abusar e menosprezar a mulher. Se pensarmos no sentido imediato do eclipse lunar, na lua obscurecida, vemos o feminino oculto, a Sabedoria que anda entre nós, mas não é vista, que é denegrida e insultada. A ignorância, como expressão radical do mal, estende-se nesse manto escuro, na sombra que ameaça o humano e humanidade.