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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Reflexões Astrológicas 2025: Conjunção Vénus – Júpiter em Caranguejo

 Reflexões Astrológicas

Trânsitos e Aspectos



Conjunção Vénus – Júpiter em Caranguejo

Lisboa,06h15min, 12/08/2025

 

Vénus - Júpiter

Decanato: Mercúrio

Termos: Mercúrio  

Monomoiria: Lua     

 

 

   A conjunção de Vénus e Júpiter em Caranguejo ocorre, no seu momento exacto, com Leão a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na XII, no Lugar do Mau Destino ou Mau Espírito (κακός δαίμων), no decanato e termos de Mercúrio e na monomoiria da Lua. O ingresso dá-se assim acima do horizonte e cerca de meia hora antes do nascer-do-sol. Vénus encontra-se no seu próprio segmento (αἵρεσις) e Júpiter fora, fazendo de Vénus o grande benéfico do tema. Podemos estabelecer também uma via ascendente que começa no Sol, numa posição pré-ascensão, e vai até o Úrano, o astro que mais se aproxima do Ponto de Culminação.

   A conjunção Vénus-Júpiter no signo de Caranguejo é a dádiva que vem do mar, é o canto de Ariel, mas a Ariel de Caranguejo tem cabelos de azeviche e olhos de obsidiana. Não é a sereia pisciana da exaltação de Vénus. Na Pequena Sereia, Ariel para andar na terra perde a voz, para andar por entre os homens deixa de ser quem é, sujeita-se às suas regras, às suas obrigações, e para isso deixa de ser a mulher que vem do mar, perde a integridade do próprio corpo, transformado a pedido, por imposição do mal. O canto de Ariel é encanto e não é nem um canto de ninguém, nem um canto para ninguém, é um canto que ilumina o mar profundo e que toca com encanto os seus abismos.

   Para quem tenha visto a versão de animação, mais antiga, da Pequena Sereia da Disney, lembrar-se-á que na gruta de Ariel encontra-se um quadro de Maria Madalena. A perda da voz ou a voz roubada é um clássico do feminino agrilhoado. Na actual conjunção, em pleno mar, Júpiter já se encontra em Caranguejo, o masculino que coexiste com o Divino Feminino, espera a deusa anunciada, espera o encontro com Vénus. Este elemento é particularmente importante. Sobretudo se pensarmos que Vénus está no seu próprio segmento e Júpiter na sua exaltação. A luz espalha-se no masculino e espalha-se por se encontrar no lugar do feminino, no lugar da Lua, com a Deusa do Amor. Se existe um exacerbamento da dádiva de Júpiter este nasce da presença do Divino Feminino.

   Existe uma beleza profunda no encontro dos benéficos, uma que torna qualquer tema especial, porém, nem sempre as suas dádivas são colhidas, nem as suas bênçãos reconhecidas. No lugar da Lua (Caranguejo), estes dons podem adquirir um valor de mistério primordial e, por no tema de Lisboa se encontrar na XII, ganha também um sentido de aprisionamento. O Mau Espírito ou Mau Destino envolve esta dádiva, tentando, dada a natureza do lugar, toldar os dons do bem. No entanto, a persistência do bem resulta daquilo que Séneca descreve do seguinte modo: O supremo bem não admite qualquer grau superior a si, desde que nele se contenha a virtude, e desde que a virtude não seja diminuída pela adversidade e permaneça intacta mesmo que o corpo sofra alguma amputação: e de facto a virtude mantém-se! É que eu concebo a virtude como animosa e sublime, e tanto mais ardente quanto mais obstáculos encontra.(Ep.71.18; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). Se o termo virtude desagradar o leitor contemporâneo, poder-se-á utilizar a tradução do termo grego ἀρετή, ou seja, a excelência.

   A ideia de supremo bem torna-se, de um ponto de vista astrológico, bastante expressiva na conjunção dos benéficos. A questão que se coloca é que ele se aplica à conjunção quando é considerado em si mesma, pois, de um ponto de vista relativo, a persistência do bem terá de ser sempre colocada em contexto. No entanto, as lições de Petosíris indicam que, mesmo num aspecto tenso com os maléficos, a acção profícua dos benéficos supera, ou tende a superar, a dos maléficos. Ora esta ideia da virtude ou da excelência como bem supremo assume, na expressão astrológica, uma ponte de sentido entre os benéficos, por um lado, e os luminares, por outro. É desta união da dádiva à luz que se pode alcançar o supremo bem. A excelência astrológica terá de nascer desta relação primordial. Contudo, a simples presença da conjunção dos benéficos torna-se um indicador, por um lado, da dádiva e, por outro, da persistência do bem. Na distribuição de raios a sua força, estará sempre reforçada.

   Nesta conjunção, as duas energias do bem fundem-se numa única expressão. Cada uma contribui com a sua própria natureza e de acordo com o lugar que ocupa. Neste caso, Caranguejo, o lugar da Lua, recebe os benéficos com os dons que lhe são próprios. O lado materno de Caranguejo é diferente do lado materno, por exemplo, de Touro que representa a Mãe Terra. Caranguejo é a Lua como mãe, é a Mãe Divina, a luz do feminino iluminando o céu em cada um das suas faces. Quando os planetas ocupam um lugar, os deuses estão ali, estão de passagem e fixam-se nessa morada. Afrodite e Zeus ou Vénus e Júpiter estão no lugar da Lua, da Mãe Divina. Ora isto remete-nos para Séneca quando diz que Os deuses não nos desprezam nem invejam, antes nos admitem à sua presença e nos estendem a mão para ajudar-nos a subir! Admiras-te que um homem possa ascender à presença dos deuses? A divindade é que vem até junto dos homens e mesmo, para lhes ficar mais próxima, penetra até ao interior dos homens, pois sem a presença divina não é possível existir a virtude! As sementes divinas existem dispersas no corpo humano: se forem tratadas por quem as saiba cultivar, elas crescerão à semelhança da sua origem, desenvolver-se-ão em plano idêntico ao da divindade de que provieram; mas se caírem nas mãos de um mau cultivador então este, tal como um terreno estéril e pantanoso, matá-las-á, produzindo ervas daninhas em vez de searas.(Ep.73.15-6; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).

   Se considerarmos um tema astrológico, onde os deuses se encontram é lá que se encontram as suas sementes. Um tema que receba a conjunção dos benéficos, seja ele natal ou mundano, será sempre um com uma dimensão especial de dádivas. Quem quer que conheça alguém nascido com esta conjunção, verá que se encontra ali alguém que tem algo para dar. As bênçãos do bem não se guardam para si. Vénus e Júpiter, unidos num tema, pedem uma distribuição do bem, ou seja, a luz recebida deve ser devolvida de acordo com os dons que receberam. O bem recebido não se esgota em si mesmo. Pelo contrário, cresce como semente e torna-se uma árvore robusta, uma que entregará ao mundo os frutos e as futuras sementes. Segue o caminho do bem e lá encontrarás as suas dádivas. Nesse caminho, encontrarás o tesouro.  

   Ora na actual conjunção Vénus-Júpiter firma-se e evidencia, de forma facilmente observável, uma predominância do númen feminino. O Divino Feminino é, neste momento, uma luz que se vê, que surge erguida sob o horizonte, anunciada, como proposta de transformação da humanidade. Pelo facto, da conjunção se fixar em Caranguejo, o lugar da Lua, esse já seria por si só um anúncio, mas os elementos não se reduzem a essa determinação. Vénus e Júpiter em Caranguejo unem-se triangularmente à Lua e à Caput Draconis em Peixes. Do lugar da exaltação de Vénus e do domicílio de Júpiter, a Lua e o Dragão da Lua vão contribuir e consubstanciar a expressão do Divino Feminino nesta efeméride. Porém, não nos devemos esquecer que para o tema de Lisboa os lugares não favorecem nem a conjunção, nem a união triangular, pois a conjunção cai na XII e a Lua e Caput Draconis encontra-se na VIII, no lugar da Morte.

   Existem também outros dois elementos de tensão que atacam este prenúncio escatológico do Divino Feminino. Os maléficos fixam quadrangularmente o seu olhar na conjunção dos benéficos. Marte em Balança e Saturno (e Neptuno) em Carneiro criam dois aspectos de tensão a Vénus e Júpiter em Caranguejo. O eixo da identidade (Carneiro-Balança) revela a dificuldade de receber a transformação que representa o númen do Divino Feminino. Existe uma resistência, uma oposição declarada ao elemento transformativa, ou seja, a humano teme a desintegração da identidade e a imersão na origem. É como se a humanidade revelasse colectivamente o medo do útero divino, o que não é difícil de apreender dada a misoginia em que estamos envolvidos. O númen feminino tem sido sempre alvo de oposição, de resistência. No entanto, relembrando Séneca e Petosíris, existe, por um lado, a prevalência do bem supremo e, por outro, a persistência dos benéficos, daí resulta a conclusão de que; apesar destes elementos restritivos, o Divino Feminino fará o seu caminho pelo menos até aqueles que o queiram receber.           

            Os elementos de tensão devem ser assim considerados de forma distinta e específica. Saturno e Neptuno em Carneiro revelam como a práxis de uma identidade, enraizada em estruturadas patriarcais cristalizadas e em elementos espirituais preconceituosos que ainda persistem, tende a rejeitar a integração do númen feminino. Saturno e Neptuno em Carneiro são uma oportunidade humana de transformação, por meio da acção, de estruturas caducas, porém, a natureza humana tende a resistência. Esta quadratura à conjunção dos benéficos apresenta-nos a base dessa fortaleza dogmática. Por outro lado, mas consequentemente, a quadratura de Marte em Balança à conjunção é bom exemplo da força debilitada, uma força (Marte) erguida a partir das deficientes estruturas relacionais do humano (Balança), como promotora de uma violência estrutural contra o feminino e contra a mulher. Os nossos tempos, a realidade sombria que vivemos, continua a ser absurdamente perigosa para uma mulher. A transformação a partir do Divino Feminino vem contrariar a continuidade desse padrão destrutivo.

            Aos raios quadrangulares, lançados a partir de Carneiro e Balança até à conjunção dos benéficos, podemos juntar também a quadratura entre a Lua e a Caput Draconis em Peixes e Úrano em Gémeos. Neste elemento de tensão, face à proposta considerada pela conjunção, vai encontrar-se uma dificuldade de conciliar as estruturais comunicacionais da sociedade contemporânea, baseadas numa expressão líquida e informe, e a profundidade espiritual de integração na totalidade imersiva de uma deusa sob a água e que dá à costa. A racionalidade dedutiva, por um lado, e a ausência de profundidade, por outro, apresenta-se como um sério obstáculo aquilo que é proposto pela conjunção e pela sua relação com a Lua e com o seu Dragão. Existe assim uma barreira de discurso ou de entendimento desse discurso à proposta de transformação desta co-presença dos benéficos.

            Paralelamente, sob um traço astrológico da aversão, Sol e Mercúrio em Leão apresenta uma outra mensagem que, na verdade, se relaciona com aquela que a conjunção quer transmitir. Quando o Sol em Leão alcança o melhor de si, ultrapassando as pulsões narcísicas que lhe são inatas, chega àquilo que se pode designar de nobreza da alma e com Mercúrio promove a nobreza do discurso. Existe, porém, uma raridade neste estágio leonino, uma que não chegará a todos por determinação geral, e que também não se limita ao Sol ou a Mercúrio, abrangendo também outros planetas ou pontos astrológicos. A proposta do melhor de Leão servirá, por exemplo, para atenuar a acção deletéria dos maléficos. A união em trígono a Saturno (e Neptuno) e em sextil a Marte, os dois em separação, faz do Sol e de Mercúrio os arautos de uma transformação através do carácter.

            A oposição do Sol e Mercúrio em Leão a Plutão vai adensar esta proposta transformativa. Plutão traz o Memento Mori à nobreza da alma. Alguém com uma alma nobre trará sempre si a sabedoria de que se vai morrer. A presença tangível da morte permite que se dê valor à vida. Os tolos que pensam que não vão morrer não dão valor a nada. O Memento Mori como semente plutoniana vai contrariar a acção dos maléficos, relativizando a sua influência e mostrando-nos que devemos colocar as nossas preocupações naquilo que controlamos e não em eventos externos. A morte como lição tem o poder de exercer um processo de reductio, ou seja, devemos estabelecer como lição essa redução ao essencial, àquilo que contribui para o estabelecimento de uma via transformativa.                  

            Em 2025, a conjunção entre Vénus e Júpiter em Caranguejo vai trazer aquele que pode ser entendido como o dom ou a dádiva que neste ano se anuncia. O Divino Feminino surge acima do horizonte, como estrela que guia, como luz no caminho. Se utilizarmos como unidade simbólica o tema de lisboa, vemos que o Sol ainda não nasceu e que Vénus e Júpiter ascendem acima do horizonte. Nesse amanhecer olissiponense, os benéficos são Estrelas da Manhã, guias de uma luz que rompe a escuridão. A permanência e persistência do bem é algo que deve estar sempre presente, lembrando-nos que onde está o tesouro, está a transformação. Na subida para o templo, é o amor que nos salvará e a deusa do amor indicar-nos-á o caminho.       


segunda-feira, 9 de junho de 2025

Reflexões Astrológicas 2025: Júpiter em Caranguejo

Reflexões Astrológicas

Ingressos



Júpiter em Caranguejo

Lisboa, 22h02min, 09/06/2025

 

Júpiter

Decanato: Vénus

Termos: Marte

Monomoiria: Lua    

 

 

   O ingresso de Júpiter em Caranguejo ocorre, tal como acontecera em Gémeos, com Capricórnio a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na VII, no Lugar do Poente (δύσις), no decanato de Vénus, nos termos de Marte e na monomoiria da Lua. O ingresso dá-se assim abaixo do horizonte e cerca de uma hora após o pôr-do-sol. Júpiter encontra-se, desta forma, fora do seu próprio segmento (αἵρεσις) e abaixo do horizonte. O tema de Lisboa confirma a regência da Lua face ao segmento de luz, pois este é também o astro mais alto do tema, aquele que se encontra mais próximo do Ponto de Culminação. Neste tema, só a Lua e Marte se encontram acima do horizonte. À semelhança do tema do ingresso de Júpiter em Gémeos, o benéfico brilha sem ser visto e não revela à luz da noite a mudança de signo. Este posicionamento confere à acção de Júpiter um carácter de potencialidade ou de acção oculta, discreta.

   Júpiter, ao estar cerca de um ano em cada signo, apresenta um ciclo completo de cerca de doze anos, o que faz dele um marcador do tempo e uma expressão do próprio Zodíaco e do número doze como unidade temporal. As doze horas abstractas do dia e da noite servem também esta ideia. Deste modo, as doze horas de luz solar, os doze signos e os doze anos do ciclo Júpiter unem e encerram este sentido. Na verdade, os benéficos possuem ambos, em maior grau que os maléficos, esta expressão íntima e simbólica do tempo. O bem é uma condição natural ou essencial, enquanto o mal é uma condição acidental, ou seja, não determina a natureza primeira. A ignorância, como maior dos males, é exemplo desta condição, surgindo por acidente externo ou interno, por desconhecimento da sabedoria como finalidade natural. O tempo dos benéficos é natural. No caso de Júpiter, a cada ano, recebemos a dádiva da sua viagem por um templo zodiacal. Em 2025, será Caranguejo. Júpiter ingressa neste signo a 9 de Junho. A 11 de Novembro iniciará a sua retrogradação e a 19 de Março de 2026 retomará ao movimento directo, deixando Caranguejo a 30 de Junho do mesmo ano quando ingressar em Leão.      

   O Thema Mundi, com Caranguejo (Lua) a marcar a hora, faz deste lugar e desse signo o ventre do mundo, a matriz da realidade. É a partir desse lugar que o Sol emerge (Leão, a II). Passa-se da Vida (I) ao Viver (II) por intermédio do Divino Feminino. O Thema Mundi conserva, deste modo, uma herança espiritual profunda. Ao colocar Caranguejo na I, os lugares de Júpiter passam a ser aqueles com os quais os luminares se unem triangularmente, ou seja, Sagitário na V e Peixes na IX. A Boa Fortuna (V) e o Lugar de Deus (IX) são os templos de Júpiter e aqueles que recebem as bênçãos lunares e solares a partir do Leme da Natividade (I) e do Lugar do Viver (II). O deus mais velho e barbudo foi, na verdade, uma criança, filho de sua Mãe. Com Júpiter em Touro, vemos a criança e o jovem Zeus em Creta e a sua relação com a Grande Mãe, com Reia, mas com Júpiter em Caranguejo assistimos ao deus que quer conhecer os mistérios do Divino Feminino e através dele chegar ao poder, passar à luz.

   Hesíodo, na Teogonia, descreve que, antes de casar com Hera, Zeus teve outras esposas (886 e ss.). A primeira foi Métis, a mais sábia entre deuses e mortais. Face a um oráculo que previa que o filho de ambos o destronaria, Zeus ludibria Métis e leva-a a transformar-se numa gota de água que depois engole. Ora Métis estava grávida e assim da cabeça de Zeus nasce já armada Atena, a deusa sem mãe. Depois desta união, Zeus vai ter como esposas sucessivas: Témis, Eurínome, Deméter, Mnemósine, Leto e, por fim, Hera. É através destas deusas e de outras uniões que Zeus reforça os seus poderes e é daí que se pode concluir que a ascensão de Zeus é matrilinear. O deus derruba o pai, mas é através da mãe, da Grande Deusa, nas suas várias formas, que assume o poder. Na mitologia egípcia, Hórus reina no Egipto por subir ao trono de seu pai, Osíris, e esse trono é Ísis, a sua mãe. O hieróglifo que representa a deusa é um trono. A astrologia mitológica pode, deste modo, conciliar a astrologia e a mitologia e confirmar, neste ponto, a representação astrológica que coloca Júpiter a exaltar-se no grau 15 de Caranguejo.  

   É preciso, no entanto, reforçar que a ascensão de Zeus/Júpiter marca também a hegemonia do patriarcalismo. Os mitógrafos vão transformar a proeminência do feminino na ascensão de Zeus/Júpiter num certo marialvismo mitológico que procura impor uma visão androcêntrica e patriarcal. Naturalmente, esta hegemonia conduziu a uma corrupção do Divino Feminino e a dessacralização da Grande Mãe. Se pensarmos no exemplo de Hera, isto é particularmente evidente. A corrupção de Hera fez com que se passasse de uma deusa-mãe, com um culto enraizado e mais antigo que o de Zeus, para uma esposa ciumenta e vingativa. Existem, todavia, dois elementos mitológicos de Hera que definem a sua proeminência: o hieros gamos, ou seja, o casamento sagrado e o nascimento divino.

   O casamento sagrado, não a celebração dos deuses, terá ocorrido em Creta segundo Diodoro Sículo (Biblioteca da História 5.72.4).Lembro-nos que Caranguejo é o signo feminino que se segue a Touro, podendo-se ver aqui uma continuidade astro-mitológica. Calímaco diz-nos que Zeus, referindo-se ao mistério nupcial, amou Hera apaixonadamente durante trezentos anos (Aetia fragm. 2.3). Para além da lubricidade do deus, podemos encontrar aqui a importância do hieros gamos como união harmoniosa do feminino e do masculino. É o derradeiro mistério da realidade. Na verdade, no hieros gamos, é o feminino que consagra o masculino. De uma outra forma, Aristófanes louva o aspecto de donzela de Hera, do primeiro aspecto da deusa tríplice (Aves 1720 e ss.). Hera é uma virgem-mãe, uma deusa que renova a virgindade num ritual que pode ser encontrado em Samos e na Argólida. Neste ponto, o cristianismo não inventou nada. Ora todos estes aspectos mitológicos e astro-mitológicos definem a passagem de Júpiter pelo signo de Caranguejo e a sua exaltação neste lugar.

   Marco Aurélio diz-nos, nos seus Pensamentos, que “Todas as coisas se encadeiam entre si e a sua conexão é sagrada” (VII, 9 trad. J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995). Temos de procurar os sentidos que se escondem e por entre os fragmentos da realidade encontrar uma unidade. A união da astrologia à mitologia encerra, à semelhança da união da astrologia à filosofia, um potencial imenso. A consonância entre a astrologia e a psicologia ou com outras áreas científicas já trilhou muitos caminhos, mas com a mitologia e com a filosofia ainda existe muito para fazer. Júpiter e Saturno trazem em si a gravidade moral dos conceitos planetários. Já observámos anteriormente, a correspondência de Júpiter e Saturno com o poder e o dever, ora a estes podemos acrescentar a justiça e a necessidade e a forma como estes dois conceitos se conjugam numa única unidade de sentido. O mito de Er, na República de Platão, é um excelente exemplo desta conjugação (614b-621d).

   O destino guarda aquilo que é nosso por justiça e necessidade e estas são atribuições de Júpiter e Saturno. Não existe um determinismo externo, existe uma responsabilidade e uma finalidade individual. A passagem de Júpiter por Caranguejo vai conciliar o conceito de justiça com o de origem, daí que Marco Aurélio diga que “Tudo o que te acontece estava-te destinado desde a origem como devendo inserir-se no conjunto e tecer a trama dos teus dias” (IV, 2). Existe uma justiça na origem que se confirma na continuidade da vida ao longo das sucessivas reencarnações. Porém, Júpiter vai dar à expressão da origem um valor de finalidade, um impulso de realização ou progresso. Ora Séneca afirma o seguinte: “Uma coisa ainda incompleta está necessariamente sujeita a oscilar, a progredir, a recuar ou mesmo a ruir. E ruirá certamente, se não houver vontade e esforço em andar para a freme! Se abrandamos um pouco que seja a aplicação e o esforço constante, andaremos certamente para trás. E ninguém conseguirá retomar o progresso no mesmo ponto em que o interrompeu! Só há uma solução, portanto: ser firme e avançar sem descanso. O caminho que resta percorrer é mais longo que o já percorrido, mas grande parte do progresso consiste na vontade de progredir.” (Ep.71.35-6; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).

   Júpiter em Caranguejo vai, desta forma, dar um impulso de progresso a uma realidade enraizada na origem. As linhas tecidas pelas Meras vêem reforçado o carácter teleológico dos desígnios que unem no destino justiça e necessidade. Sobressai assim na matriz da Providência a derradeira finalidade. Este aspecto vai pedir, em termos individuais, que a exigência das raízes seja também o valor do fruto. Temos de saber de onde vimos para saber para onde vamos. A tradição ganha também uma nova importância, não num sentido de um conservadorismo obsoleto, mas sim no sentido de história íntima, de permanência de valor, de herança colectiva. Caranguejo fixa esse lugar de memória e Júpiter confere-lhe o valor de bem.  É preciso, no entanto, incluir nestas considerações o ingresso recente de Saturno em Carneiro.

   Nesta posição, Júpiter e Saturno vão passar a olhar-se quadrangularmente, ou seja, o sentido desse olhar e das suas posições adquire um valor de tensão estruturante. É o peso, a gravidade, de um processo de construção da realidade. Quando Saturno regressar a Peixes e depois, quando Júpiter passar para Leão, esse olhar será triangular e, nesses momentos, o valor do destino sobre a realidade humana tornar-se-á mais expressivo. A concórdia entre Júpiter e Saturno confere sempre um valor de criação de realidade, de construção. O espaço e o tempo envolvem na sua harmonia. No entanto, no tema do ingresso, por estarem fora do seu segmento de luz, o poder benéfico de Júpiter está diminuído e o poder maléfico de Saturno está aumentado, daí que a acção do bem prefira um labor de bastidores, um trabalhar sem ser visto.

   Se, por um lado, a acção de Saturno em Carneiro pode brutalizar e embrutecer a realidade, e os exemplos estão por aí, por outro lado, Júpiter em Caranguejo em conjunção a Mercúrio vão permitir que a dádiva da origem, do âmago de quem verdadeiramente somos e de quem podemos vir a ser, continue o seu caminho. Mercúrio, como Estrela da Tarde, adquire um carácter feminino, reforçando assim o lado lunar do lugar que ocupa. Nesta posição, é a palavra que cuida, o discurso que protege e conforta e, por estar em co-presença a Júpiter, torna-se um bem e um promotor de justiça. Os tempos sombrios que vivemos defendem o oposto. Tudo se move pela palavra que fere e que divide. O verbo cuidar está ausente. Entre os humanos, o amor incondicional que em Caranguejo é uma expressão da Grande Mãe é quase inexistente. Neste ingresso, os luminares estão num eixo masculino, o que une Gémeos a Sagitário, e o Sol afunda-se na sua morte, na sua ocultação. É a Lua em Sagitário que espalha a sua luz. A sabedoria do centauro torna-o o seu guerreiro, aquele que lutara para a proteger. Porém, os guerreiros da sabedoria sabem que estão inferioridade numérica e que terão de escolher muito bem as suas batalhas. A união de Mercúrio e Júpiter em Caranguejo vai pedir que se defendam os Filhos da Mulher, os Filhos de Divino Feminino, pois são todos filhos da sua mãe celeste, da Lua.

   Quando vemos defender como humanos, e bem, os ucranianos e vemos colocados como outros os palestinianos, secundarizando o seu sofrimento e relativizando os actos agressores, está-se a fazer o oposto da mensagem proposta por este ingresso. Dividir os humanos é impedir a existência de uma humanidade. A união de Saturno e Neptuno em Carneiro, confundindo na acção forças que condensam e dispersam, fomenta através dos extremismos a desumanização, a anulação da identidade. A ideia de povo escolhido e terra eleita é perversa, pois anula a dignidade humana do outro, daquele que não pertence, que é diferente, que vive numa terra que alguns julgam ser sua. A quadratura entre Úrano em Touro e Plutão em Aquário vai também reforçar os perigos dos nacionalismos e da xenofobia. Neste caso, a difusão de mensagens de ódio, assente nesta visão disruptiva da pertença ou não de um outro que é como nós e de um outro que é radicalmente o outro, traz necessariamente a morte do humano.

   Como sempre, quando o mal avança, o bem cerra fileiras e resiste, provando que existem forças benévolas. A conjunção de Vénus a Úrano em Touro, unindo-se depois hexagonalmente a Júpiter e Mercúrio em Caranguejo, traz consigo uma bênção, uma que culmina no verbo nutrir. Este é o bem que cuida, que conforta e que protege. Porém, existe nesta união de raios um parceiro fragilizado. Úrano, a fazer o caminho de despedida do signo de Touro, encontra-se nos termos de Marte e no decanato de Saturno. A proposta de revolução da terra está-se a perder. Os discursos bélicos e as propostas de corrida a armamento, tornando um inimigo específico num medo universal, secundarizaram o discurso ecologista e a defesa do planeta. As alterações climáticas e as agressões à Terra deixaram de ser, se é que alguma vez o foram, uma prioridade. O avanço dos transaturninos para signos masculinos também não irá favorecer o discurso de defesa da Mãe-Terra.

   Júpiter em Caranguejo apresenta uma proposta própria de sentido. Ora, com uma forte tendência planetária masculina, esta passagem de Júpiter por Caranguejo será tendencialmente dissonante. É um oásis no deserto, uma floresta entre o betão. Já observámos que em relação a Saturno existirá um período em que relação será harmoniosa, quando este regressar a Peixes. No entanto, no que concerne aos transaturninos, a relação com Júpiter em Caranguejo será tendencialmente tensa ou, no mínimo, adversa. A única excepção é Úrano em Touro, com quem se une em sextil, mas só até 7 de Julho, quando ingressar em Gémeos e passar a uma condição de aversão, regressará, todavia, devido à retrogradação, a Touro a 8 de Novembro. Com Neptuno em Carneiro, existe uma união quadrangular de raios e com Plutão em Aquário, outra condição de aversão. Conclui-se, deste modo, que este carácter relacional do actual trânsito de Júpiter por Caranguejo terá uma certa unicidade electiva.   

   No ingresso de Júpiter em Caranguejo, devemos destacar ainda a relação deste com o corpo do Dragão da Lua. Júpiter em Caranguejo une-se triangularmente à Caput Draconis em Peixes, unindo-se consequentemente por sextil à Cauda Draconis em Virgem. Ora, sabendo-se que o Dragão é a ponte, a passagem da Providência ente o destino e a necessidade, esta conexão com Júpiter em Caranguejo torna-se particularmente significativa. Se a maioria das configurações se apresenta visceralmente masculina, esta vem reforçar, como já observarmos, a presença do Divino Feminino e do seu grande propósito na evolução da humanidade.

   O trígono entre Júpiter em Caranguejo e a Caput Draconis em Peixes traz-nos a possibilidade de integrar a necessidade, a sua visão de totalidade, no bem que surgiu na origem do mundo, na justiça divina como forma de educação. Contudo, os luminares olham quadrangularmente para o Dragão da Lua e, embora não no grau exacto do ângulo recto, estabelecem uma posição que, segundo os autores antigos, é considerada particularmente maléfica. A proposta de sentido que une Júpiter ao Dragão da Lua conserva uma luz rara, uma que terá dificuldade em iluminar o mundo. Existe uma rejeição humana dessa proposta e só alguns, infelizmente poucos, vão acolher essa expressão.

   Marte, caindo no horizonte, prepara-se para a despedida do signo de Leão, pois ingressará em Virgem a 17 de Junho. O maléfico deixará assim de olhar quadrangularmente para Saturno e diametralmente para Plutão. Estes dois aspectos têm sido particularmente nefastos. No entanto, ao ingressar em Virgem, vai trazer o mal à proposta do Divino Feminino e de Júpiter em Caranguejo. Porém, por Marte pertencer ao segmento da Lua e por passar a formar um sextil a Júpiter, o mal será colocado como opção de carácter e acção e, também por Marte passar a estar em co-presença com a Cauda Draconis, seguir-se-á a herança heraclitiana de que o carácter será o nosso destino, ou seja, nós não mudamos os acontecimentos, mas mudamos a nossa reacção aos acontecimentos e isso define o nosso carácter.

   Em suma, Júpiter em Caranguejo marcará um período em que a proposta de sentido que une a origem à finalidade, ao progresso, será mais expressiva. Contudo, a via do progresso será aquela nutre e cuida. Esse será o bem. Essa será a justiça. É um tempo da Grande Mãe, do Divino Feminino, e quem procurar, encontrará.  

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Reflexões Astrológicas 2024: Marte Retrógrado

  Reflexões Astrológicas


Retrogradações


Retrogradação de Marte

Lisboa, 23h33min, 06/12/2024

 

Marte

Decanato: Saturno

Termos: Vénus

Monomoiria: Marte     

 

   Marte inicia a sua retrogradação no signo de Leão, no grau 7 (6º10΄), estando Sagitário a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na XII, no lugar do Mau Destino ou Mau Espírito (κακός δαίμων), no decanato de Saturno, nos termos de Vénus e na monomoiria de Marte. A retrogradação começa assim de noite, acima do horizonte, com o Sol e a Lua sob a Terra. O movimento retrógrado de Marte estender-se-á até 24 de Fevereiro de 2025. Marte vai recuar até ao grau 18 (17º00΄) de Caranguejo, ou seja, no decanato e termos de Mercúrio e na monomoiria de Marte. Regressará depois a Leão a 18 de Abril, onde vai permanecer até 17 de Junho.

   Como já se analisou noutros momentos, neste ano na retrogradação de Saturno e, em 2023, nas de Vénus e Júpiter, o fenómeno astrológico de retrogradação é como uma semente. Uma vez que o movimento retrógrado é visualmente aparente, o termo fenómeno pode parecer estranho, todavia, é um fenómeno astrológico porque é percepcionado não pelo movimento natural, mas sim pelo movimento como sentido primordial, como experiência. Ora, neste caso, o movimento retrógrado retoma o valor de potência, de regresso a si ou de negação de acção, daí que, na Antiguidade, tenha uma significação nefasta. Doroteu dizia, por exemplo, que os planetas retrógrados causam dificuldade e infortúnio (Carmen Astrologicum, I, 6).

   Marco Aurélio afirma que “Todo o ser, de certo modo, é a semente daquilo que há-de sair dele. Tu naturalmente estás a pensar que sementes é só o que se deita à terra ou num ventre: mas isso é ter noções vulgaríssimas!(Pensamentos IV, 36, trad. J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995). Ora a retrogradação, pelo seu retorno da acção ao potencial, tem este valor de semente. No entanto, devemos também considerar, seguindo as lições da mitologia, que a semente pertence ao domínio de Hades/Plutão. A σπέρμα grega, devido ao seu lugar sob a terra, lembra-nos que, para ser vida, a semente tem de morrer. Esta condição atribui naturalmente certas qualidades agrícolas a Plutão. Nesta retrogradação, Plutão em Aquário opõe-se a Marte em Leão, os regentes de Escorpião, tradicional e moderno, fazem colidir os seus olhares. Este aspecto vem ressalvar essa qualidade de morte que é própria da semente. A astrologia, quando assolada por um espírito positivista de querer ser ciência, tende a rejeitar a sabedoria astrológica, esquecendo-se que esta é uma súmula de saber mitológico, filosófico e científico.  

   Na mitologia grega, para a arte da guerra, Ares concedia a força e Atena a estratégia, daí que seja comum, sobretudo na expressão artística, imagens de Atena a derrotar Ares. A inteligência domina a força. Esta derrota de Ares/Marte é também uma leitura da retrogradação do planeta vermelho, quando a força se vê diminuída. É uma vitória do pensamento sobre a paixão, da reflexão sobre a acção. Naturalmente é uma situação difícil para Marte. Para os gregos, o deus da guerra não era invencível. Na Guerra de Tróia, Diomedes ataca o deus e consegue feri-lo com uma lança, mostrando assim uma mestria em combate que só ficava atrás da de Aquiles. Já em Roma, a situação é um pouco diferente. Marte representa um tipo de virtude, associado à coragem, à masculinidade e à excelência. O seu sagrado animal de Marte é o lobo, associado, como é bem sabido, ao mito fundador da cidade.

   Seguindo também uma linha de sentido astro-mitológica, podemos associar também a retrogradação de Marte ao mito de Adónis. Neste mito, e contrariando a tradição clássica, são as divindades femininas que se enamoram de um humano, de um jovem nascido de uma relação incestuosa. Adónis era filho de Mirra e de seu pai Ciniras, o rei de Pafos do Chipre. Afrodite punira a jovem com um desejo impróprio e, ciente da sua desmedida, fugiu errante, acabando por clamar aos deuses o fim das suas penas. Estes acederam ao pedido da suplicante e transformaram-na numa árvore perfumada, a árvore da mirra. Dez meses lunares depois, a árvore foi cortada e, do seu interior, saiu uma criança. Afrodite, enternecida com a beleza do pequeno rapaz, entregou-o a Perséfone para o criar. Este cresceu e a deusa do submundo recusou-se a devolvê-lo. Zeus teve de mediar o conflito entre Afrodite e Perséfone, entre o amor e a morte. Decidiu que Adónis passaria quatro meses com Afrodite, outros quatro com Perséfone e os restantes seria ele a decidir com quem os passaria, o que nos remete para os ciclos da natureza.

   O amor de Afrodite pelo jovem era intenso e apaixonado. No bosque onde se encontravam, a deusa alertou Adónis do perigo de caçar os animais selvagens. Ora Nono de Panópolis, entre os séculos IV e V EC, contou-nos o seguinte: Ela [Afrodite tendo dado à luz uma filha a Adónis] virou seus olhos redondos e deleitados em todas as direções; apenas os javalis não observava ela nos seus prazeres, por ser uma profetisa sabia que, sob a forma de javali, Ares com presas irregulares e cuspindo veneno mortal, numa loucura de ciúme, estava destinado a tecer o destino de Adónis.” (Dionisíaca 42. 1, tradução do grego é da minha responsabilidade). Existem várias versões para o culpado da morte de Adónis, todavia, esta é nos interessa, pois coloca Ares (Marte) no mito. Ares é aqui a personificação do ciúme e da violência a partir desse ciúme, dessa suposta ofensa.

   Nestas significações astro-mitológicas, a força de Marte não se traduz nem na agressão bélica de Carneiro, nem na vingança calculada de Escorpião. Encontramos neste mito uma outra natureza. O ciúme, uma raiva interiorizada, muito semelhante à inveja, potencia um acto, uma violência que nasce desta dinâmica interior. O processo de retrogradação de Marte encontra o seu sentido no mito da morte de Adónis pelas presas de Ares, transformado num javali enraivecido. Consequentemente, esta retrogradação apresenta uma expressão da irracionalidade, dos vícios da desmedida, do eu que se ofende para além do seu limite.

   Séneca diz-nos que “Nem tudo quanto nos atinge nos fere; é a nossa vida de luxo que nos torna propensos à ira, a ponto de a mínima contrariedade gerar uma explosão de cólera. Criamos em nós próprios uma soberba de reis. E os reis, por seu lado, esquecendo-se do próprio poder e da fraqueza dos outros, enfurecem-se e lançam-se como feras, como se tivessem recebido alguma ofensa, quando a grandeza da própria fortuna os mantém ao abrigo total das ofensas. Eles bem sabem que é assim, só que buscam todas as oportunidades para fazer mal. Sentir-se lesados é para eles um meio de poderem lesar os outros.” (Ep.47.19-20; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). Devemos interrogarmo-nos que tipo de natureza tem aquele que ao “sentir-se lesado” assume nessa impressão uma permissão para lesar os outros? E não será essa impressão o resultado de uma falsa representação? A ofensa pode não estar assim naquele que nos ofende ou que julgamos que nos ofendeu, mas sim no foco que colocámos na sensação de nos sentirmos ofendidos.

   A “soberba de reis” é uma bela definição da retrogradação de Marte pelo signo de Leão, pois vai revelar uma interiorização distorcida do princípio da força. A ilusão do poder, seja pela inveja e pelo ciúme, seja pela falsidade e pela corrupção da vontade, vai exemplificar os estados individuais e colectivos deste fenómeno. Quando retornar a Caranguejo, por estar na sua queda, Marte vai trazer a realidade do falso herói e as vicissitudes das falsas noções de origem e do poder que se exerce sobre essa ilusão. As representações colectivas histórico-escatológicas em torno de povos eleitos e de terras prometidas conduzem necessariamente às piores atrocidades. Existe uma agressão quando a origem de uns é considerada melhor, com mais direitos, à de outros e esse tipo de agressão insere-se neste retrogradação e pode encontrar neste período uma renovada pulsão ideológica.   

   O facto do movimento retrógrado, no tema de Lisboa, iniciar-se na XII consubstancia este peso, esta gravidade. Se regressarmos à ideia da retrogradação como semente, temos também de considerar que nem tudo o que germina é sinal de sucesso, de abundância. Existem sementes que criam ervas daninhas que se enraízam e envolvem boas culturas, mas também bons espíritos. A semente nociva tende a brotar junto da boa semente. Desta forma, quando os antigos astrológicos alertavam para a acção deletéria do movimento retrógrado, contemplavam também esta realidade. Associada à “soberba de reis” de Séneca, esta posição enraíza comportamentos narcísicos e egocêntricos, centrados numa falsa divindade, κακός δαίμων, e assombrados pela visão distorcida que tem de si mesmo.

   A análise da actual retrogradação de Marte terá necessariamente de observar a oposição entre este e Plutão em Aquário. É fundamental para um entendimento astrológico esclarecido não nos deixarmos cair num certo deslumbramento incoerente da passagem de Plutão por este signo. Se os antigos conhecessem a existência de Plutão e pensassem no seu deus Hades/Plutão ou nos elementos mitológicos da constelação de Aquário, por certo não iriam ver as interpretações efabuladas que têm sido proferidas. Plutão em Aquário é um vulcão em erupção cuja nuvem piroclástica se estende pelo céu e se espalha pelo ar. Ora é esta realidade que se vai unir em oposição ao Marte retrógrado em Leão. Noutros tempos, poderíamos falar da capitulação de líderes face a situações extremas. Hoje, para a astrologia mundana, podemos falar de crises nas lideranças, em especial, nas lideranças democráticas face às lideranças extremistas. Não serão tempos fáceis para a humanidade.

   No início da retrogradação, o Sol está em trígono, onde dois signos de Fogo, Sagitário e Leão, tentam unir as forças, e segundo a sabedoria antiga Marte é o único que não se deixa queimar pelos raios solares. No entanto, o Sol em Sagitário encontra-se sob os raios quadrangulares de Saturno em Peixes, o grande maléfico do tema, e sob o olhar diametral de Júpiter retrógrado, o benéfico que por via do segmento de luz se encontra diminuído. Por outro lado, o luminar que rege o segmento dominante, a Lua, encontra-se em Aquário, com Plutão, adensando o sentido anteriormente explanado. Neste tema, a luz não colabora com a retrogradação.

   O trígono de Mercúrio retrógrado em Sagitário a Marte retrógrado em Leão merece uma análise distinta, pois este aspecto é uma síntese dos tempos, uma que transmite as dificuldades de comunicação, a violência da palavra e a manipulação do discursos. Por ser uma união triangular, esta relação traduz naturalmente o peso da necessidade, do destino, revelando que existem sentidos que colocam o carácter diante do destino. Nestes momentos, ou se segue ou se resiste, pois o desafio não é mudar os acontecimentos, mas mudar aquele que caminha sobre a sua linha. Por outro lado, quando a desmedida toma a palavra e a acção, o silêncio trilha a própria via. A paz interior face ao tumulto não se inquieta, permanece constante na certeza da sua harmonia. O facto de Mercúrio estar como o Sol em oposição a Júpiter e em quadratura a Saturno e Neptuno vai adensar esta mensagem. De uma outra forma, a quadratura de Marte retrógrado em Leão a Úrano retrógrado em Touro firma uma corrupção das estruturas de poder e de comunicação a partir do seu interior.

   No tema do início da retrogradação, a relação entre benéficos e maléficos é particularmente significativa. Por o segmento de luz ser o da Lua, Marte tem a sua força maléfica diminuída, embora o lugar que fez morada contrarie esta contracção. Desta forma, por força do segmento, Saturno torna-se o grande maléfico. No entanto, de acordo com os aspectos ptolemaicos, entre os maléficos não existe, de momento, qualquer relação. Quando Marte, por força do movimento retrógrado, regressar a Caranguejo, aí sim estes dois unir-se-ão triangularmente. Este será um momento em que lição de Petosíris (fragm.38 Riess) de que nem todas as quadraturas são más, nem todos os trígonos são bons trilhará o seu sentido. 

   Na relação com os benéficos, Marte não se une a Vénus, o benéfico do seu segmento de luz. Porém, quando a 7 de Dezembro Vénus ingressar em Aquário, opor-se-á a Marte retrógrado em Leão. Até 3 de Janeiro de 2025, as pulsões primordiais do desejo (Vénus) e da força (Marte) vão colidir, todavia, face a retrogradação, a força estará num estado inactivo e com uma natureza potencial. A 6 de Janeiro, Marte regressa a Caranguejo e une-se a Vénus que já se encontra em Peixes. Será um período em que o destino irá favorecer esta interacção entre o desejo e a força e, apesar da acção da força estar comprometida, poderá favorecer o carácter essencial dos lugares que ocupam e daqueles que com eles se relacionam. Para os temas nocturnos, a retrogradação de Marte pode até ser a semente de bênçãos futuras. 

   Vénus, ainda em Capricórnio, no tema do início da retrogradação, une-se em sextil a Saturno em Peixes. Já este último une-se quadrangularmente a Júpiter retrógrado em Gémeos que, por sua vez, se une em sextil a Marte retrógrado em Leão. Este é um bom exemplo de que como a realidade se faz de pesos e contrapesos. Naturalmente, a tensão entre o espaço (Júpiter) e tempo (Saturno) condiciona a liberdade de acção das matrizes primordiais do desejo (Vénus) e da força (Marte). Porém, o dom da vida que é, em certa medida, a dádiva da humanidade é o de encontrar caminho, mas este não surge aqui de uma qualquer acção que tenda a contrariar os acontecimentos e a causalidade natural, surge sim da acção sobre si mesmo, da possibilidade de transformar em nós a realidade interna. Essa é a verdadeira liberdade. Se olharmos ao redor e pensarmos que o planeta está no limite e as expressões da humanidade em ruptura, torna-se fácil concluir que a via do bem é a única que brilha do interior para exterior, podendo assim levar a luz ao mundo.

   Face a esta conjuntura astrológica, a actual retrogradação de Marte não vai suspender os desafios, vai pelo contrário enraizar as suas sementes, sobretudo porque, como se viu, ela se relaciona com outras forças que colocam em causa, em suspensão, a natureza daquilo que é criado. Do interior para exterior, a força de Marte traz consigo o gérmen de uma outra destruição, uma que pode corromper o carácter. Devemos portanto cuidar daquilo que criamos em nós, pois, para o bem e para o mal, permanecerá connosco. Em suma, este é um tempo de domar as pulsões e transformar a irracionalidade em sabedoria.  

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Lua Nova em Leão

 Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Nova em Leão

Lisboa, 10h38min, 16/08/2023

 

Sol-Lua

Decanato: Marte

Termos: Mercúrio

Monomoiria: Mercúrio      

 


  A Lua Nova de Agosto ocorre no signo de Leão, estando Balança a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na XI, no Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων), no decanato de Marte, nos termos e na monomoiria de Mercúrio. A sizígia dá-se assim acima do horizonte e cerca de quatro horas após o pôr-do-sol. Os luminares, estando o Sol no seu próprio segmento, encontram-se num caminho ascendente, onde a luz sobe e fita a culminação. Este é o novilúnio que expressa o sentido da individualidade, em que o eu reconhece a alma e a vê como luz. Se pensarmos no Thema Mundi, onde Leão e o Sol ocupam a II, a origem da vida passa a ser o valor da vida, logo um viver, um modo de vida. Ora esta é a transformação pela luz, a revelação do mistério.

  Na ordem vernal, Leão ocupa a V, a Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), aquele lugar que diametralmente observa o espaço onde agora se dá a sizígia, a XI, o Bom Espírito. Na V, a luz é a dádiva da abundância. Se recordarmos os Trabalhos de Hércules, o herói para vencer o Leão de Nemeia, para trazer o leão até si, tem tapar uma das duas entradas da caverna, da gruta, onde o animal vivia. A gruta é naturalmente um lugar, um símbolo, de Caranguejo, da Lua, da origem, já as duas entradas são os lugares onde o Sol nasce e se põe. Para vencer o leão, Hércules terá pois de trazer a luz até si, ou seja, para que a luz viva no humano, terá de se extinguir no animal. Esta é elevação que pede o signo de Leão.

  É um erro pensar-se a mimésis astrológica, zodiacal e planetária, apenas na finalidade do seu sentido. No tiro de arco e flecha, são maiores as possibilidades de falhar o alvo do que acertar. Os sentidos astrológicos espalham-se assim mais pelas suas possibilidades do que na sua finalidade. Desta análise ou conclusão, extrai-se, como consequência, o cuidado em avaliar-se, pessoal ou mundanamente, um sentido astrológico na sua finalidade. É preciso, como metodologia existencial, domar as possibilidades, do bem e do mal, para alcançar a finalidade. Em Leão, mais do que em qualquer outro signo, para se alcançar essa luz é preciso domar as vaidades e vencer as paixões.  

  Séneca, nas Cartas a Lucílio, descreve-nos este caminho da luz até nós, do reconhecimento da divindade que habita em nós, quando diz queOs deuses não nos desprezam nem invejam, antes nos admitem à sua presença e nos estendem a mão para ajudar-nos a subir! Admiras-te que um homem possa ascender à presença dos deuses? A divindade é que vem até junto dos homens e mesmo, para lhes ficar mais próxima, penetra até ao interior dos homens, pois sem a presença divina não é possível existir a virtude! As sementes divinas existem dispersas no corpo humano: se foram tratadas por quem as saiba cultivar, elas crescerão à semelhança da sua origem, desenvolver-se-ão em plano idêntico ao da divindade de que provieram; mas se caírem nas mãos de um mau cultivador então este, tal como um terreno estéril e pantanoso, matá-las-á, produzindo ervas daninhas em vez de searas.(Ep.73.15-16; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). O Bom Espírito, o δαίμων, é agora o lugar de passagem onde a sizígia acontece, onde a luz pede caminho e o divino se vislumbra.

  É, nesse mesmo sentido, que Marco Aurélio afirma o seguinte: O meu guia interior não se perturba a si mesmo; quero dizer, nenhuma paixão o altera. (…) O guia interior, por si, de nada necessita, a menos que a si mesmo dite uma necessidade; por isso nada o pode perturbar nem entravar, se ele mesmo se não apoquenta e embaraça.(Pensamentos VII, 16, trad. J. Maia, Lisboa, Relógio D’Água, 1995). Esse guia é τὸ ἡγεμονικόν, mas podia também ser o δαίμων, um conceito tão caro à astrologia helenística. O sentido profundo da luz é, primeiramente, o do reconhecimento de si e, de seguida, o da mediação divina. A luz é o elemento de passagem, de integração da divindade na individualidade. Este é o caminho que se inicia em Leão. Marco Aurélio dá-nos a chave para essa rejeição da vaidade e das paixões leoninas, para a anulação de tudo o que impede a vitória do herói sobre o leão que atormentava as gentes. O imperador romano diz-nos que Dentro de pouco te esquecerás de tudo; dentro de pouco todos te esquecerão.” (VII, 21).

  A ordem do tempo é a derradeira forma de conflagração das vaidades e das paixões. Nesse sentido, o Dragão da Lua consume a luz, eclipsando-o. Este aviso que, em qualquer tema astrológico, coloca o peso do tempo, do destino e da necessidade sobre a luz, sobre o seu potencial ou acção. Na disposição actual, sobre o eixo Carneiro-Balança, terá uma acção de anulação da identidade, dos seus excessos, da sua desmedida. Ora esta é particularmente expressiva no novilúnio de Leão, com o eixo nodal sobre o horizonte, estendendo-se de Balança a Carneiro, do orto ao poente. Note-se também que o regente de Balança é Vénus, o planeta que apanha retrogradamente a sizígia.

  A Cauda Draconis em Balança consome a procura de harmonia, de equilíbrio dos contrários, diminuindo o seu potencial, já a Caput Draconis em Carneiro pede o nascimento de um novo eu, uma renovação da identidade sob a égide da Necessidade. Este aspecto encontra também um sentido que concederá valor ao lugar que, durante a viagem do Dragão da Lua por este eixo, consumirá a luz. Nos signos de Caranguejo e Capricórnio, a 90 graus da Caput e da Cauda, e segundo a lição dos astrólogos antigos, será o lugar onde a luz se extingue, ora é para um desses lugares que os luminares se encaminham, subindo até ao Ponto de Culminação em Caranguejo. A rejeição da origem devora a luz, a mesma que dela surgiu.      

  No novilúnio, o caminho luminar, a via ascendente, estende-se assim desde Marte em Virgem, o maléfico fora do seu segmento e cujo mal está exacerbado, até à Vénus Retrógrada em Leão. Encontramos também aqui uma senda onde a luz luta, combate, contra a desarmonia dos opostos, a desagregação dos contrários. Porém, o Dragão da Lua concede ainda a bênção de um bom aspecto (trígono à Caput e sextil à Cauda), permitindo que o mal anterior seja colocado em contexto, interiorizado pela aceitação do destino. Com a retrogradação, o amor é potência, palavra sussurrada que deseja unir, mas ainda não une, e a força traz agora aspereza à palavra (conjunção de Marte e Mercúrio em Virgem), a voz torna-se cruel, fere e desune, assombrada pelo peso da Necessidade e a suspensão da empatia, Saturno Retrógrado em Peixes, conjunto a Neptuno, também ele retrógrado. 

  Embora os seus raios não incidam directamente sobre a sizígia, o olhar de frente dos maléficos continua a afectar os nossos dias. Até Marte avançar para Balança (27 de Agosto), onde verá os seus raios amenizados pelo exílio, existirá este choque, esta colisão desagregadora, entre as partes e o todo. De uma outra forma, a quadratura entre os luminares e a Vénus em Leão e Júpiter e Úrano em Touro, estando estes dois últimos no lugar da morte, da qualidade da morte, continua a ser um indicador do perigo real que o nosso planeta enfrenta. As alterações climáticas, agora potenciadas pelo calor e pelo fogo (Leão), são cada vez mais evidentes e as suas consequências irreversíveis. O sextil de Júpiter e Úrano em Touro a Saturno e Neptuno em Peixes traz consigo um outro lado: as cheias, o degelo, as inundações e a pressão sobre barragens que afectam outros pontos do mundo.

  Paralelamente, a posição de Júpiter e Úrano em Touro em trígono a Plutão em Capricórnio e a Mercúrio e Marte em Virgem coloca na urdidura do tear do destino tudo aquilo que o elemento terra produz. De um lado, temos a Mãe Terra e as suas dádivas, temos um modo de vida que alternativamente se cria, sustentável e com maior ligação à terra, mas, do outro lado, temos o capitalismo selvagem e o consumismo desenfreado. Ora as actuais posições planetárias pedem que exista um esforço, mas também um imperativo, de rever todas as estruturas materiais e sobretudo os conceitos de valor e de justiça social. A especulação imobiliária é, por exemplo, uma perversão do elemento terra, influenciada aqui pelo outro elemento estruturante, o ar. Quando a terra quer ser ar, ou vice-versa, cria-se um desequilíbrio, uma discórdia. É preciso encontrar em cada elemento o seu valor. A Harmonia é uma lição que nasce por vontade, que se cria em sabedoria, mas sempre a partir do amor e do tempo.

  O sextil de Saturno e Neptuno em Peixes a Plutão em Capricórnio, bem como a quadratura deste último ao Dragão da Lua, está a conduzir-nos, quer por nossa iniciativa, quer pela força dolorosa da necessidade, a um profundo processo de transformação. A humanidade está entre o abismo e a montanha. A morte saiu à rua e, por onde quer que ande, não é reconhecida. Quando o humano não reconhece a morte, esquecendo-se que também ele terá de morrer e de que a vida e a morte correm no mesmo rio, existe uma rejeição disruptiva do tempo e da necessidade e semeia-se a discórdia entre o humano e o divino, entre o humano e a Mãe Terra, entre os humanos, entre a natureza. É a consciência da nossa humanidade que permite a integração do humano, o reconhecimento da simpatia universal que une a alma humana à Alma do Mundo, o microcosmos ao macrocosmos.

  O novilúnio de Leão, face à actual conjuntura astrológica, mundial e humana, mas também à natureza do próprio signo, obriga-nos a repensar o sentido da luz e o seu valor entre a nobreza da alma e a soma de todas as vaidades. Entre a luz e a sombra, podemos ser quem verdadeiramente somos ou aquilo que, por erro, ilusão e ignorância ou por mera vontade, nos tornámos. A nobreza de Leão e do seu novilúnio passa necessariamente pelo reconhecimento da luz em nós.