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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Reflexões Astrológicas 2024: Eclipse Lunar Parcial (Lua Cheia Peixes-Virgem)

 Reflexões Astrológicas


Eclipses


Eclipse Lunar Parcial 

(Lua Cheia: Peixes-Virgem)

Lisboa, 03h44min, 18/09/2024

 

Lua

Decanato: Marte 

Termos: Marte

Monomoiria: Mercúrio     

 

Sol

Decanato: Mercúrio

Termos: Marte

Monomoiria: Marte   

 


   O Eclipse Lunar Parcial de dia 18 de Setembro ocorre com a Lua no signo de Peixes e o Sol no de Virgem, com Leão a marcar a hora e cerca de sete horas após o pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, estando esta acima do horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já o Sol está abaixo do horizonte, na II, no lugar do Viver (βιός). A Lua encontra-se no decanato e nos termos de Marte e na monomoiria de Mercúrio, enquanto o Sol encontra-se no decanato de Mercúrio, nos termos e na monomoiria de Marte. É desde já perceptível um certo imperativo das dignidades de Mercúrio e Marte. Ora o primeiro está conjunto ao Sol e o segundo está em trígono à Lua e em sextil ao Sol, ou seja, estes dois planetas co-participam do sentido da sombra que agora se estende, confirmando assim as estruturas ocultas ou suspensas de palavra e força que se firmam no limiar da realidade, encobertas por uma escuridão de passagem.

   Se, no eclipse lunar de 25 de Março, a proposta dracôntica era passar do eixo da identidade (Carneiro-Balança) ao eixo da integração (Virgem-Peixes), agora procura-se assimilar essa integração da totalidade tendo por sombra à identidade. O actual eclipse encontra-se a meio do caminho. O eixo dos luminares assume a mensagem da integração (Virgem-Peixes) e o corpo do Dragão da Lua conserva ainda o sentido da fase anterior, na qual a identidade surge como um enigma, como um ranger da realidade, tentando fixar o olhar e a revelação entre a luz e a escuridão.

   A sombra, sobretudo na análise astrológica e, em especial, na análise dos eclipses não tem apenas um valor psicológico, tal como aquele que encontramos, por exemplo, na psicologia analítica e nos textos de Jung. A sombra resume em si uma significação primordial e um sentido radical, pois conserva a representação do elemento de passagem entre a luz e a escuridão que ora avança, ora recua consoante o seu senhor. Não é por acaso que a doutrina astrológica do Segmento de Luz (αἵρεσις) é a primeira de todas as dignidades, e daí que a sua reabilitação, de um quase esquecimento que se estendeu do Renascimento até aos nossos dias, seja fundamental. Em termos miméticos, traduz no espírito humano a apreensão da luz e a conceptualização em torno dos luminares.  

   No tema do actual eclipse, a Lua está no seu próprio segmento e acima do horizonte, logo o valor da ocultação, da sombra que sobre ela recai, sai reforçado e torna-se determinante. A recepção da luz e da escuridão e da sombra como passagem foi uma das primeiras ideias, das grandes representações da humanidade e a astrologia preservou com mestria essa mimésis. Ora foi a partir destas ideias que todo o sistema astrológico se desenvolveu, tendo como matriz e leme o destino e a necessidade, ideias que estão guardadas pelo Dragão da Lua, pela sua cauda e pela sua cabeça. O pensamento relativo à luz e à providência serve de fundação a toda a filosofia da astrologia.  

   Cleantes de Assos diz que “O destino guia quem o segue, arrasta quem lhe resiste!(SVF 1.527b apud Sen. Ep. 107.10/ Pearson C91b: ducunt volentem fata, nolentem trahunt). A proposta de sentido que a astrologia oferece revela essa mesma distinção entre seguir e ser arrastado pelo destino. O determinismo é liberdade, o fatalismo é uma prisão. Na análise astrológica colectiva e mundana, os eclipses, tendo por base a significação radical que se enunciou, são um guia de grande valor e importância. Quer nas séries Saros, quer nos ciclos nodais podemos encontrar padrões astrológicos de sentido, elementos que servem o lugar da astrologia na história e na sua interpretação.

   O eixo Virgem-Peixes que procura a integração da parte no todo e do todo na parte, permitindo a visão do todo na consciência do valor da parte, ou seja, observando numa parte do destino a necessidade que rege o todo, está agora sob um manto de sombra. Por este ser um eclipse lunar e estando a Lua em Peixes, o sentido da totalidade encontra-se encoberto. Por outro lado, o eixo Carneiro-Balança encontra-se ainda sob um olhar electivo da Providência. A identidade tenta encontrar o seu lugar entre o destino e a necessidade. Se pensarmos que o próximo eclipse solar será ainda neste eixo (2 de Outubro de 2024), então este foco de sentido e representação torna-se mais evidente.    

   A união conceptual destes dois eixos apresenta a relação heraclitiana entre carácter e destino (fragm. 119). Ora Plutarco afirma o seguinte: “De facto, o carácter é um hábito consolidado ao longo do tempo; se alguém definir como hábito as qualidades do carácter, não deve pensar que se enganou. Darei ainda um exemplo sobre isto e depois termino este assunto. Com efeito, Licurgo, o legislador dos Lacedemónios, tomando dois cachorros dos mesmos pais, criou-os de forma diferente; a um fê-lo guloso e voraz, ao outro tornou-o capaz de seguir uma pista e caçar. Depois, um dia em que os Lacedemónios se reuniram, ele disse: «Lacedemónios, o que engrandece muito a importância da virtude são os hábitos, os princípios educativos, as lições e a conduta de vida; eu mostrar-vos-ei, de seguida, a evidência destas coisas». Então, aproximando-se dos dois cachorros, libertou-os, depois de ter colocado no meio deles um prato e uma lebre. Um dirigiu-se para a lebre, o outro precipitou-se para o prato. Os Lacedemónios, porém, não eram capazes de perceber o que isto queria dizer e o que o episódio dos cachorros significava. Licurgo, então, explicou: «Os dois nasceram dos mesmos pais, mas, por terem recebido uma educação diferente, um tornou-se guloso e o outro caçador». Sobre os costumes e os modelos de vida, estes exemplos são suficientes.” (4, 2f-3b, Plutarco: Obras Morais - Da Educação das Crianças, ed. J. Pinheiro, 37-8. Coimbra, 2008: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos). Em certo sentido, o carácter serve a identidade e como hábito ganha o valor de totalidade. No entanto, o carácter não muda os acontecimentos, muda o modo como os vivemos e, nesse sentido, é também a impressão celeste, aquando do nascimento, que explica algumas das diferenças no carácter, as quais se estabelecem para além do hábito e da linha do tempo.   

   Neste eclipse, toda esta significação será particularmente pertinente. Sob um outro olhar, mas que contempla o mesmo sentido, devemos observar a relação dos luminares no eixo Virgem-Peixes com o Eterno Feminino. Se seguirmos a sabedoria mitológica, percebemos que no signo de Virgem encontramos a deusa que parte e no de Peixes a deusa que chega. No mito de Astreia ou de Dikê, a deusa desiludida com humanidade deixa a sua morada para subir a montanha, de onde depois subirá ao Olimpo. Esta é a deusa do signo de Virgem. Já em Peixes assistimos à chegada de Afrodite à costa, trazida pelos Ikhthyokentauroi, os dois peixes-centauros filhos Cronos e Fílira. Ora, na ausência da deusa, face à sua partida, é Hermes Trismegisto que promove o caminho até ao Divino Feminino, até à sua chegada. De um ponto de vista astrológico, a exaltação de Mercúrio em Virgem e a exaltação de Vénus de Peixes e consequente queda em Virgem expressa este mesmo sentido. Com um eclipse sobre este eixo, a senda do Eterno Feminino está oculta, à espera na sombra do tempo da revelação, de um novo despertar.

   A influência temporal deste eclipse, um eclipse de transição, poder-se-á fixar, segundo uma leitura das declinações dos luminares, entre um mês e cerca de dois meses e meio, já a duração dos períodos penumbral e umbral colocam a sua influência entre um a quatro meses. No entanto, o facto de estarmos num momento de transição do eixo nodal deve também ser tido em consideração. As eleições norte-americanas estarão, por exemplo, sob a influência deste eclipse bem como do eclipse solar de 2 de Outubro. No que concerne à influência espacial, o manto de sombra estender-se-á das Américas até uma parte da Ásia, passando pela Europa e por grande parte de África. O seu centro será, todavia, na região brasileira de São Luís.

   Segundo as regências geográficas da astrologia antiga e de acordo com Vétio Valente (Antologia I, 2), Peixes rege o Eufrates e o Tigre, a Síria, o Mar Vermelho e o Mar Arábico, a Índia, a Média-Pérsia e as regiões circundantes, o rio Borístenes ou Boristene (Dniepre), a Trácia, a Ásia e a Sardenha. Manílio concede a Peixes o Eufrates, o Tigre e o Mar Vermelho, as terras da Pártia, a Báctria, a Etiópia, a Babilónia, Susa e Nínive (Astronomica IV, 800-6). Os principais conflitos mundiais de hoje estão inseridos nestas áreas. Contudo, embora a posição da Lua seja preponderante, devemos também analisar o Sol. Virgem, segundo Valente (Antologia I, 2), rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dória (Grécia), Sicília e Pérsia ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a sua influência (Astronomica IV, 763-8). De uma forma mais ténue, as regências de Carneiro e Balança devem ser consideradas. Porém, será a partir do eclipse solar de 2 de Outubro que esta influência se tornará mais activa.

   O eclipse lunar de 18 de Setembro pertence à série Saros 118, sendo o 52º eclipse de um total de 74. Apesar de este eclipse já pertencer à terceira fase da série, aquela que se segue aos eclipses totais e inclui eclipses parciais e penumbrais, a sua expressão astrológica é próxima da do eclipse matriz. Ora o primeiro eclipse desta série ocorreu a 2 de Março de 1105. A Lua e a Caput Draconis estavam em Virgem, o Sol, Vénus, Mercúrio e a Cauda Draconis em Peixes. Nesta data, Leão também marcava a hora (hora de Lisboa). Marte estava em Touro, Júpiter em Escorpião e Saturno em Sagitário. Nos transaturninos, Úrano estava em Touro, Neptuno em Leão e Plutão em Carneiro. A série Saros 118 terminará a 7 de Maio de 2403, com um eclipse no eixo Escorpião-Touro, ou seja, com a Lua em Escorpião e o Sol em Touro.

   Pode-se destacar alguns acontecimentos históricos que marcam o eclipse-matriz e o início da série 118. Continuou a reconquista cristã na Península Ibérica, com uma ofensiva contra os Almorávidas, sob o comando de Afonso VI de Leão e Castela. Durante este período, ou seja, nos meses próximos ao eclipse, várias cidades e fortalezas menores caíram nas mãos dos cristãos, embora as grandes vitórias só tenham acontecido no final do ano. O conflito entre Henrique IV e Henrique V do Sacro Império Romano-Germânico marcou o ano de 1105. O jovem Henrique V rebelou-se contra o seu pai, Henrique IV, e formou alianças com nobres que estavam descontentes com o imperador. Recebeu o apoio do Papa Pascoal II e de diversos príncipes do império, o que levou ao avanço de uma campanha militar contra o pai. A oposição entre Júpiter e Marte e a sua relação com os eixos dos luminares e do Dragão da Lua revelam esta tensão.

   Por outro lado, após o fim da Primeira Cruzada, o Reino de Jerusalém e os seus aliados europeus continuavam a consolidar o controlo sobre os territórios recém-conquistados, com algumas escaramuças entre os cruzados e as forças muçulmanas dos fatímidas do Egipto e do Emirado de Damasco. Em termos culturais e religiosos, é preciso ressalvar a expansão do movimento cisterciense e o declínio do Califado de Córdoba. Por fim, deve-se assinalar que este foi um período de fome, de más colheitas e de escassez de alimentos. A relação da Lua com os maléficos aponta nesse sentido. Todos estes acontecimentos servem o sentido de toda a série Saros, lembrando-nos da importância de cotejar o eclipse-matriz.

   O encontro quadrangular de raios tem no eclipse de dia 18 de Setembro um sentido particularmente importante. Se pensarmos na base das pirâmides de Gizé, podemos concluir que o ângulo recto, ou quase recto, possui um valor estruturante e que, no entanto, é também de tensão, pois suporto o peso, gravidade da estrutura. Neste eclipse, temos, por uma lado, a quadratura entre a Lua, Saturno e Neptuno em Peixes a Júpiter em Gémeos e, por sua vez, deste ao Sol e a Mercúrio em Virgem. Júpiter, senhor da justiça e do bem, serve aqui de fiel de uma balança de luz e sombra.

   Para que depois da sombra a luz prevaleça, o bem tem de se fortalecer no humano e tem de se tornar uma disciplina diária. Saturno em Peixes pede uma entrega total, exige o rigor da totalidade do bem. Ora a presença de Júpiter no signo de Gémeos, vem trazer, a quem quiser receber, a palavra do bem e o bem da palavra. Porém, existem fortes reservas. A quadratura deste planeta a Mercúrio em Virgem revela o quanto a palavra se pode tornar agressão seja pelo triunfo da ignorância, seja pela vontade de poder. Por outro lado, é a Grande Cruz nos signos cardinais que assume a estruturação do tempo presencial, a consciência íntima deste tempo de sombra.

   A Caput Draconis em Carneiro olha quadrangularmente para Marte em Caranguejo que, por seu lado, fixa do mesmo modo a Cauda Draconis e a Vénus em Balança e estes observam Plutão em Capricórnio. A união quadrangular e diametral destes raios, sob o manto umbral, vem exigir que se fixem as direcções, as sendas da humanidade. Para onde caminhamos? Qual o propósito do caminho? Estas são algumas das perguntas que ferem hoje o olhar. Se, de um lado, o destino e a necessidade, o Dragão da Lua, trazem consigo a guerra e a morte, levando a humanidade a deixar-se corromper por falsos valores, do outro, lembra-nos que ainda existe no mundo e na humanidade beleza e harmonia. O Grande Trígono de Terra entre o Sol e Mercúrio em Virgem, Plutão em Capricórnio e Úrano em Touro sugere que, sob o véu da providência, a criação tem o poder de transformar a realidade. Ora, seguindo a imagem anteriormente referida de uma pirâmide, esta é uma dos quatro faces triangulares que se erguem no céu. A criação sustentável a partir dos dons da terra, integrando-nos nos seus ciclos, pode permitir que se erga uma visão do futuro, uma esperança no amanhã.

   Este eclipse e o próximo encerram nos seus temas uma geometria de sentido, uma matemática da alma, algo que rememorara a tradição e a herança de elementos conceptuais pitagóricos e platónicos. Seguindo essa via, o encontro de raios hexagonais, maioritariamente entre os signos cardinais e mutáveis confere ao humano a liberdade de agir conforme o bem que anteriormente se referiu ou de acordo com a ignorância, a expressão do mal que alimenta a ilusão e o engano. Esta liberdade ganha-se não face ao destino, mas face ao carácter. Nós determinamos não o que acontece, mas sim quem somos. Queremos ser o humano que distingue as vítimas da guerra na Ucrânia das de Gaza, merecendo umas compaixão e outras indiferença? Queremos ser o humano que promove a desinformação e que acolhe a mentira como se fosse verdade? Queremos ser o humano que o permite o racismo, a xenofobia e a misoginia, dando à extrema-direita um palco já experimentado e com uma lição pesarosa na história contemporânea.

   Neste eclipse, o complemento desta liberdade hexagonal é a relação bastante significativa entre os benéficos e os maléficos. Os benéficos (Vénus e Júpiter) unem-se em trígono e os maléficos (Marte e Saturno) também, o que faz com que o benéfico e o maléfico do mesmo segmento de luz se unam em quadratura, Vénus e Marte por um lado e Júpiter e Saturno por outro. Esta relação, a par do facto do regente da Lua estar a olhar-lhe quadrangularmente (Júpiter), vem reafirmar, entre outras coisas, a influência muito particular que os eclipses lunares têm sobre os acontecimentos naturais, em especial, sobre aqueles que têm uma expressão extrema. A conjunção da Lua em Peixes a Neptuno e Saturno, em quadratura ao regente Júpiter que actua sobre o espaço, a matéria, favorece os desastres naturais, sobretudo os de natureza sísmica. As fortes tempestades com inundações estão também potenciadas. A despedida de Plutão do signo de Capricórnio pode ainda estimular a actividade vulcânica, como aliás já pôde ser observado com o Etna e na Islândia.

   O eclipse lunar de 18 de Setembro tem assim tanto um carácter de transição como estruturante, um que alimentará a identidade e a integração da totalidade, mas também a consciência do destino e da necessidade.  

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Lua Nova em Virgem

  Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Nova em Virgem

Lisboa, 02h39min, 15/09/2023

 

Sol-Lua

Decanato: Mercúrio

Termos: Marte

Monomoiria: Mercúrio      

 

  A Lua Nova de Setembro ocorre no signo de Virgem, estando Caranguejo a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na III, no lugar da Deusa, no decanato de Mercúrio, nos termos de Marte e na monomoiria de Mercúrio. A sizígia dá-se pois abaixo do horizonte e a cerca de quatro horas e meia do pôr-do-sol. Os luminares, estando a Lua no seu próprio segmento, embora submersa, encontram-se num caminho de ascensão, rumo ao lugar de origem. Esse efeito matriz é expresso pelo facto da distribuição tópica de lugares ou casas ser a mesma do Thema Mundi, ou seja, com Caranguejo a marcar a hora. A disposição torna-se particularmente significativa se tivermos em consideração que a luz da sizígia emana de um lugar que lhe natural.

  Segundo o Thema Mundi, o Eterno Feminino expressa, no eixo de Virgem-Peixes, o seu valor de númen primordial de transformação, mas de também de revolução. Este eixo, porque na ordem Vernal indica o meio e o fim e na ordem do Thema Mundi o lugar da Deusa e do Deus, vai apresentar o sentido profundo da parte e do todo. Esse é um mistério iniciático que permite a revelação ou a interiorização dos desígnios da Necessidade, da Fortuna. A compreensão da parte, ou seja, do lote ou do quinhão do destino, do pequeno fio que cinge o caminho na urdidura da Grande Tecedeira, é algo que podemos encontrar no signo de Virgem.

  Toda a parte passa, em Virgem, por um processo de distinção que só será estabilizado em Peixes, com a integração no todo. Ora é neste lugar que Mercúrio encontra o seu domicílio e exaltação, pedindo portanto esse esforço de análise ou compreensão. Da lição de Hermes Trismegisto, isto é, do lugar da Deusa, o de Virgem, podemos elevar-nos até ao lugar do Deus, onde os benéficos, Júpiter e Vénus, expressam a sua luz. Em Peixes, a visão do todo vai permitir o regresso da Deusa Mãe e a harmonia dos opostos. Esta é a sibila do tempo, cantando a madrugada futura. A luz de uma sizígia em Virgem, no lugar da Deusa, escreve esse potencial, guardando a candeia que se erguerá. No entanto, o esforço de compreensão da parte não é fácil. Cada lote emanado pelas Meras representa um desafio. Ele surge pois como um enigma, uma suspensão da realidade, do todo, de modo a tornar possível a sua distinção face aos demais.    

  Plutarco, no livro A Fortuna ou a Virtude de Alexandre Magno, fala-nos desta dificuldade, quando diz que Devemos dizer, então, que a Fortuna faz os homens pequenos, medrosos e mesquinhos? Mas não é justo ligar o vício à má sorte, nem a coragem e a sabedoria à boa sorte. Muito, ao invés, teve a Fortuna a ganhar no reinado de Alexandre, porque então ela foi prestigiosa, invencível, magnânima, moderada e humana; pois, mal que ele morreu, logo Leóstenes disse que as suas forças, nas suas errâncias até à exaustão, se assemelhavam ao Ciclope que, depois de ter ficado cego, estendia suas mãos para tudo sem nenhuma meta: do mesmo modo o grande império agitava-se no vazio e desabava por causa da anarquia.” (336E-F, ed. R. Marques Liparotti, 90. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017). A distinção do sentido de cada lote conduz-nos necessariamente a este esforço de compreensão, daí que, por exemplo, os lotes astrológicos tenham uma importância vital em todo o sistema helenístico. São a mimésis deste sentido primordial

  O filósofo platónico continua essa ideia, afirmando que Assim como os artistas inábeis, colocando grandes bases sob pequenas estátuas votivas, lhes expõem a insignificância, também a Fortuna, de cada vez que eleva um ânimo medíocre por actos de peso e notoriedade, o que faz é desnudá-lo e desonrá-lo mais explicitamente, por causa dos erros e da vacilação gerados pela sua leviandade. A grandeza consiste, portanto, não na posse, mas no uso dos bens, já que até as crianças herdam reinos e poderes paternos, como Carilau, que Licurgo levou de fraldas a um convívio público e proclamou, em sua vez, rei de Esparta.” (337 C-D, ed. R. Marques Liparotti, 92). Se, de acordo com os dons de Hermes, se compreender, separando e distinguindo, os fios que o destino teceu, então a Vénus Celestial, exaltada em Peixes, poderá surgir como revelação. Essa é, de certa forma, a mensagem do Livro XI de O Burro de Ouro de Apuleio, quando a deusa Ísis surge como a salvadora de Lúcio, metamorfoseado em burro e sujeito às vicissitudes da Fortuna. Compreendida a parte, o todo ilumina-se.

  A sizígia de Setembro insere-se, primeiramente, num caminho ascendente de luz que se estende do próprio encontro dos luminares até Mercúrio retrógrado, o único planeta nesta condição abaixo do horizonte. Este caminho indica, porém, uma certa dificuldade de passar a mensagem de Virgem, de compreender, distinguindo, cada lote do destino. Paralelamente, este caminho insere-se numa via mais extensa que vai de Marte em Balança, junto ao Ponto Subterrâneo até à Vénus em Leão. Nesta senda, a harmonia dos opostos vê reforçada o seu imperativo escatológico de via salvífica de união entre o Deus e a Deusa, entre o Sol e a Lua. A retrogradação de Mercúrio apresenta, deste modo, uma certa resistência em interiorizar-se a mensagem do Eterno Feminino. Esta não é, todavia, uma novidade. Nas últimas décadas, quando se assistiu a uma expressão dinâmica da mensagem de um Divino Feminino, independentemente da sua forma, existiu sempre um qualquer tipo de resistência, ora mais académico, ora menos. Marte, no seu exílio em Balança, evidencia essa permanência, essa acção disruptiva, que suspende ou enfraquece a força transformativa da Mãe Divina.

  Já com uma outra manifestação, agora acima do horizonte, todos os planetas estão retrógrados (Úrano, Júpiter, Neptuno, Saturno e Plutão) e, num caminho de escalada pela montanha do céu, qual Monte Ida, ou seja, do Ascendente à Culminação, Júpiter é o astro mais alto. A mensagem do grande benéfico é aquela que já abordámos na reflexão acerca da sua actual retrogradação. No entanto, no tema do novilúnio de Virgem, Júpiter retrógrado em Touro firma-se no lugar do Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων), corroborando aqui o sentido profundo da compreensão de um lote ou parte do destino, pois o termo δαίμων é tanto o espírito como o destino, como ainda a divindade. A terminologia astrológica antiga é fértil e revela a especificidade do sistema helenístico, justificando-se assim a sua continuidade e o seu estudo.  

  Esta extensão espacial de planetas retrógrados acima do horizonte encerra ainda uma significação suplementar. Estes alongam-se triangularmente pelo céu, desde Úrano e Júpiter em Touro até Plutão em Capricórnio, junto ao Poente. Existe aqui uma senda da vida à morte, consolidando-se assim o bem da vida e o poder da morte, o modo de vida e a finalidade. Este trígono forma com a sizígia e Mercúrio em Virgem um Grande Triângulo de Terra, um que pede, pela força da retrogradação, uma reformulação das estruturas de valor. Dada a proximidade astro-mitológica de Virgem, e não Balança, à deusa da Justiça (cf. Figueiredo, R. M. de, 2021, Fragmentos Astrológicos, 143-6), esta renovação axiológica exige que se faça dos bens uma virtude, ou seja, em si mesmos, os bens do mundo não valem nada, servem apenas de meio para a natureza humana se expressar e para a humanidade ter uma vida melhor. A necessidade conduz-nos, seja por lição ou retribuição, a essa mudança de paradigma. 

  A relação do Grande Triângulo de Terra com o elemento Água é igualmente significativa, pois temos, por um lado, a oposição de Saturno e Neptuno em Peixes à sizígia e a Mercúrio em Virgem e, por outro, os dois sextis dos primeiros tanto a Júpiter e a Úrano em Touro como a Plutão em Capricórnio. Esta é a seta do destino que refunda a força da Necessidade na possibilidade de se criar uma liberdade de ser. Estes aspectos, conjuntamente ao sentido profundo do eixo Virgem-Peixes, vão colocar diante da percepção humana a compreensão daquilo que se julga ser a dicotomia entre determinismo e livre-arbítrio. Segundo o espírito da astrologia helenística, influenciada pelo estoicismo, pelo platonismo e pelo pitagorismo, os fios da Meras tecem os acontecimentos, mas não o nosso modo de ser e estar. Nesse sentido, a astrologia antiga, ou a sua herança para uma prática contemporâneo, não pode dizer que indica tendências ou possibilidades. O destino não muda, o que muda é a percepção de nós mesmos e do mundo. É um tema complicado, mas Saturno em Peixes vem colocar a Necessidade num sentido renovado de totalidade. No entanto, para que isso aconteça, e essa é a mensagem da oposição, é necessário a compreensão de cada lote ou quinhão do destino, ou seja, seguindo a máximo de Santo Agostinho é preciso crer para compreender e compreender para crer.

  O Dragão da Lua vem fortalecer o sentido profundo da Necessidade. Sobre o eixo Carneiro-Balança, a identidade, criando um elemento significativo de passagem entre a dualidade (Balança) e a unidade (Carneiro), terá de sair renascida, não por via da ilusão da alteridade, mas porque o peso do destino firma a consciência num ensimesmamento esclarecido. Na Cauda Draconis em Balança, a sombra do destino testará o humano e, na Caput Draconis em Carneiro, a luz da providência renovará a sua acção. Esta é uma mensagem importante sobretudo se tivermos em conta que se aproxima a segunda época de eclipses de 2023 (Eclipse Solar a 14 de Outubro e Eclipse Lunar a 28 de Outubro). O peso da sombra do destino está agora mais denso pelo facto de Marte está co-presente à Cauda Draconis em Balança. A debilidade de Marte em Balança e a gravidade da cauda do Dragão da Lua vão trazer consigo a inevitabilidade dos acontecimentos e se considerarmos, por exemplo, a quadratura destes a Plutão em Capricórnio, o sismo de Marrocos e a erupção do Kilauea encontrarão um sentido astrológico.

  Já a Vénus em Leão continua, agora no seu movimento directo, o significado que já explorámos anteriormente, dando a nobreza da alma ao desejo e às ligações. A sua união ao Dragão da Lua, por trígono à Caput e sextil à Cauda, vai fazer com que, rumo a um bem maior, o destino consuma a vaidade. Na verdade, a quadratura entre os benéficos fortalece esse imperativo: a universalidade do bem como tensão criadora. Já o sextil de Vénus em Leão a Marte em Balança recupera aquilo que já dissemos acerca do caminho ascendente de luz onde se insere o actual novilúnio. A Lua Nova de Virgem pede, em suma, esse esforço de compreensão dos desígnios da Fortuna, inserindo na razão de um todo cada parte do destino.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Virgem

 Reflexões Astrológicas


Lunações 




Lua Nova em Virgem

Lisboa, 09h16min, 27/08/2022

 

Sol-Lua

Decanato: Sol

Termos: Mercúrio

Monomoiria: Marte 

 

             A Lua Nova de Setembro ocorre no signo de Virgem, com Balança a marcar a hora para o tema de Lisboa, e assim na XII, no Lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων), no decanato de Sol, termos de Mercúrio e na monomoiria de Marte. A sizígia dá-se, desta forma, acima do horizonte e cerca de duas horas após o nascer-do-sol. O Sol encontra-se favorecido por estar no seu próprio segmento de luz (αἵρεσις) e no seu decanato, embora num lugar cadente, já a Lua colhe as bênçãos de estar num signo feminino.

            Este é o novilúnio que marca o fim da primeira metade do ano astrológico e que coloca a Deusa como a égide reinante do tempo passado e do tempo futuro, do tempo em que se semeia e do tempo em que se colhe. É a Roda da Necessidade. A sizígia dos luminares em Virgem indica, deste modo, a luz da abundância, o fruto que alimentará no Inverno (Hemisfério Norte) ou a semente que amadurecerá no Verão (Hemisfério Sul). Esta a Deusa cuja cornucópia encontraremos em Capricórnio, traçando um caminho que une os signos de Terra, um caminho que une a Natureza, a Deusa e a Abundância.   

            Na Tábua de Esmeralda, diz-se que “Todas as coisas nasceram de uma. O seu pai é o Sol e a sua mãe é a Lua.” (traduzido a partir da versão de Jabir ibn Hayyan). Esse é o sentido profundo da sizígia dos luminares numa lua nova, ou seja, o Sol e a Lua representam os elementos criadores primordiais, a luz que cria o mundo, tornando o divino, por este meio, pai e mãe. E essa luz representa o que nasce na Câmara Nupcial e que se oculta nos seus mistérios. É a génese da realidade.

            Numa Lua Nova em Virgem, este valor radical assume, por um outro lado, um carácter de justa-medida, de proporção, mas também, por outro lado, de processo, de racionalidade do caminho. Manílio, na Astronomica, atribui a Virgem a deusa Ceres (II, 442: spicifera est Virgo Cereris). Ora Ceres, ou a Deméter grega, representam os frutos da terra, aqueles que só podem ser oferecidos se Perséfone regressar do submundo, do abraço de Hades.

            A associação a Deméter (Ceres) está intimamente relacionada com a atribuição de Astreia ou Dikê (Justiça) a esta constelação. Esta é uma atribuição que pode causar estranheza ao leitor ou ao astrólogo contemporâneo que desconheça a história antiga das constelações zodiacais (cf. Fragmentos Astrológicos, 2021: 143-6). Balança é o mais recente dos signos e que originalmente era designado de Garras/Piças de Escorpião (χηλαί), pertencendo pois ao Grande Escorpião (Balança + Escorpião), aquele envenenou Órion. Gémino, matemático e astrónomo do século I AEC, terá sido o primeiro a usar a designação ζυγός, que chegará a nós como a Balança. Podemos, no entanto, encontrar também esta mudança na astrologia babilónica, embora sempre em textos posteriores à criação do Zodíaco por volta do século V AEC. Ora este facto está na génese da atribuição do princípio da Justiça a Virgem e da sua busca a Balança, o que é facilmente perceptível tanto pelas regências domiciliares (Mercúrio indica o razão da justiça e Vénus o desejo de justiça) como pelas suas exaltações (Mercúrio indica o intelecto que permeia o mundo e Saturno o tempo da justiça e da necessidade).

            Astreia ou Dikê – e, na verdade, também Deméter – trazem consigo, na riqueza dos seus mitos, um certo elemento de negação, de ausência. Hesíodo, em Os Trabalhos e os Dias, conta-nos o seguinte: “E ela segue-os, chorando pela cidade e pelas moradas dos povos, / vestida da névoa, trazendo desventura aos homens que a baniram e a não distribuem com rectidão” (222-4 / trad. A. Elias Pinheiro & J. Ribeiro Ferreira. 2005: 100. Lisboa: INCM). Esta é a mesma negação que encontramos também em Sophia, a Sabedoria (cf. com a Lição IV do meu romance A Casa da Torre Velha. 2022: 203-8), e que pode ser lida, por exemplo, no texto gnóstico O Trovão: Intelecto Perfeito, quando afirma: “Eu sou a que foi odiada e amada em todas as partes. Sou aquela a que chamam Vida e chamaste Morte, a que chamam Lei e chamaste falta de Lei, a que haveis perseguido e haveis capturado, a que haveis dispersado e haveis reunido” (16.10-20, ed. Piñero, Torrents & Bazán, Biblioteca de Nag Hammadi I, 459. 2005: Ésquilo).

            Este interlúdio explica, para o tema de lisboa, mas também para todos os locais e pessoas, como o agrilhoamento da Justiça, da sua luz, agora no lugar do Mau Espírito, revela o mal-estar da humanidade. Balança a marcar a hora revela também esse desejo, essa pulsão, de justiça, de harmonia, mas também a sua dificuldade, a sua inacessibilidade. Os luminares ocultam-se nessa pós-ascensão de névoa cingida, conduzindo para as brumas a Deusa, o Divino Feminino. Esse é um caminho de rejeição que avançará até ao termo do círculo zodiacal em Peixes e que aí contemplará o seu retorno ou se dispersará.

            No novilúnio, a quadratura dos luminares a Marte, bem como a oposição a Neptuno, embora com menor intensidade, uma vez que Marte, face ao Segmento de Luz, é o grande maléfico, mostra a dificuldade desta mensagem ser compreendida. A Deusa Astreia continua a ser rejeitada e os seus dons são preteridos, pois a poeira inebriante das vaidades e da ignorância permanece como a grande companheira da humanidade. A quadratura natural entre Virgem e Gémeos (os domicílios nocturno e diurno de Mercúrio) é reforçada por este aspecto. O grande maléfico, durante a sua longa estadia em Gémeos (20/08/20022 a 25/03/2023), será particularmente nocivo para à ordem mundial, sobretudo para a paz, para a justiça e para a solidariedade. A actual quadratura deste aos luminares em Virgem e a Neptuno em Peixes alerta para este facto.

            Por outro lado, o trígono da sizígia a Plutão em Capricórnio e a Úrano e à Caput Draconis em Touro assume uma matriz estruturante e um governo da Necessidade na transformação do planeta e das criações humanas. Esse aspecto está intimamente relacionado com Marte e com a sua relação com Saturno, o outro maléfico. Não se pense que a passagem de uma quadratura para um trígono amenizará as tensões mundiais, pois entre os maléficos os aspectos são sempre disruptivos. Petosíris, já no século I-II AEC, alertava-nos para este facto. 

            No caso do trígono, o destino firmará de forma inevitável os seus ditames. Em Hiroshima e Nagasaki, Marte uniu-se a Úrano em Gémeos, onde as bombas atómicas foram efectivamente lançadas. Na Crise dos Mísseis em Cuba, Marte em Leão opôs-se a Saturno em Aquário, com o poder e o seu abuso a exercer a sua força. Este não é anúncio alarmista, mas o nuclear não saiu da agenda, e as tensões e a guerra, não só na Ucrânia, pois existe mais mundo, continuarão a exercer uma pressão imensa sobre a humanidade. 

            De uma outra forma, Marte em Gémeos une-se em sextil a Júpiter em Carneiro, que, por sua vez, se une também em sextil a Saturno em Aquário. O Senhor Espaço, do Bem e da Justiça, como fogo sempre vivo, está colocado entre os braços de Ar dos maléficos. A liberdade exige sempre uma escolha e essa é acima de tudo entre o bem e o mal, entre a sabedoria e a ignorância. O ar pode alimentar, se contido, nomeadamente pela terra e pela água, o fogo de Héstia ou sozinho pode tornar o fogo num incêndio e conflagrar o mundo.

            No novilúnio de Virgem, é necessário prestar sempre atenção àquele que nela encontra o seu domicílio e exaltação. Ora é a partir de Mercúrio em Balança que se estabelece um caminho ascendente que se estende de um Hermes Psicopompo (Estrela da Tarde, posição posterior ao Sol) até ao Ponto de Culminação (MC) em Caranguejo, tendo como timoneiro uma Venus Lucifera (Estrela da Manhã), uma Vénus em Leão e que também é, na verdade, um sextil entre Mercúrio e Vénus. Desta via eleita, extrai-se um sentido profundo que indica o modo como a razão reconhece a singularidade da vida e de como a harmonia é a razão que permeia o mundo. O divino feminino é aqui, nesta senda de sentido, a rainha do céu.

            O trígono de Mercúrio ora a Marte, ora a Saturno, coloca a razão e a palavra numa posição semelhante à de Júpiter, com o qual está em oposição. O pensamento e o discurso estão sobre uma enorme pressão que tanto pode produzir esforços negociais, como no caso da ONU e do seu secretário-geral, ou pode acentuar as posições nacionais, com frequência propagandistas e nacionalistas. A quadratura de Mercúrio a Plutão traduz também a forma como a palavra pode produzir a morte ou de como o irracional pode ser a fonte da transformação, mesmo que de forma destrutiva.

            Vénus em Leão representa um binómio que indica a nobreza como bela e a beleza como nobre. Este é o desejo régio de ser e criar, de fazer do espanto um entusiamo criador. Porém, é também a apoteose da vaidade. Neste novilúnio, o trígono de Vénus a Júpiter, o grande benéfico, irá expandir a dádiva do fogo, da acção que cria e da nobreza que eleva. Júpiter, porém, está junto ao Poente, anunciando uma certa ocultação da dádiva e, por outro lado, o sextil de Vénus a Marte, bem como a oposição a Saturno, revelam também uma tensão sobre essa mesma dádiva e sobre tudo aquilo eleva a alma e o espírito.

            A relação de Vénus e de Saturno será particularmente expressiva neste novilúnio, uma vez que se unem quadrangularmente tanto a Úrano como ao corpo do Dragão da Lua. Esta é uma associação ancestral, pois estes são os deuses pré-olímpicos, anteriores à ascensão de Júpiter e à hegemonia do masculino, de Júpiter e Atena. No entanto, existe nessa associação um carácter disruptivo, uma crise de valor e a mesma negação da Justiça primordial atribuída ao signo de Virgem. A humanidade, no seu abismo, cisma em não olhar para cima.     

            Em suma, a Lua Nova em Virgem leva a luz aos frutos da terra, tornando a natureza criadora, mas acentua também o intelecto que permeia o universo e o governo discreto da Justiça e da Harmonia.