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sábado, 20 de setembro de 2025

Reflexões Astrológicas 2025: Eclipse Solar Parcial (Lua Nova em Virgem)

Reflexões Astrológicas

Eclipses 




Eclipse Solar Parcial 

(Lua Nova em Virgem)

Lisboa, 20h 43min, 21/09/2025

 

Sol-Lua

Decanato: Mercúrio  

Termos: Saturno   

Monomoiria: Lua    

                                           

 

   O Eclipse Solar Parcial de 21 de Setembro ocorre no signo de Virgem, com Carneiro a marcar a hora (hora de Lisboa), no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, com os luminares abaixo do horizonte, na VI, no lugar do Má Fortuna (κάκη τύχη), e cerca de uma hora após o pôr-do-sol, no decanato de Mercúrio, nos termos de Saturno e na monomoiria da Lua, no grau anarético deste signo. Manílio define o lugar onde se dá o eclipse do seguinte modo: “porta laboriis erit: scandendum est atque cadendum” (Astronomica II, 870: “a porta do trabalho serão: por uma se sobe e pela outra se desce”). A tensão do incumprimento é a mais intensa do todo o δωδεκατόπος (doze lugares), pois não se une ao Horóscopo e está sob o horizonte. No entanto, a união triangular ao lugar da Práxis, a X, permite que se efective, mas só através do esforço, do labor. A sombra terá de ser trabalhada.

   Paulo de Alexandria define o sexto lugar como ἀπόκλιμα φαῦλον (declínio débil) e designa-o de ποινέ, ou seja, retribuição, castigo ou vingança (Introdução, cap. 24). Fírmico Materno, por seu lado, considera-o uma infelix regio (região funesta) ou diz que é rebusque inimica futuris (inimiga das acções futuras), fazendo dela vitio fecunda nimis (demasiado fecunda em maldade). A VI é assim definida como um locus piger, um lugar passivo (Mathesis, II, 19, 7). Esta qualificação do sexto lugar é importante, pois, segundo a ordem vernal, é neste lugar que recai o signo de Virgem, já segundo a ordem do Thema Mundi este signo ocupa o terceiro lugar, designado tradicionalmente por Deusa, ou por lugar da Deusa da Lua. Consequentemente a união destes dois sentidos torna-se fundamental para compreensão da natureza do actual eclipse.

   A análise astro-mitológica do signo de Virgem estabelece uma ponte de sentido entre estas duas qualificações. O signo de Virgem, segundo a tradição, representa Astreia, filha de Astraeus e Eos (Aurora) ou de Zeus e Témis, ou Dikê (Némesis, na sua forma de retribuição). Na astrologia moderna ou contemporânea, tendemos a colocar o conceito de justiça mais associado ao signo de Balança que ao de Virgem. No entanto, das constelações zodiacais, o signo de Balança foi o último a ser definido, pois pertenceria inicialmente ao Grande Escorpião, do qual representaria as suas pinças. Da sua divisão nasceria o signo de Balança, as pinças tornaram-se escalas, e o signo Escorpião que ficaria com o resto do corpo do Grande Escorpião. Esta origem é importante, pois mostra como o signo de Balança, o único representado por um objecto, representa apenas o instrumento que repousa nas mãos da deusa, no signo de Virgem. Está portanto mais associado à aplicação da justiça.

   A deusa da Justiça é, segundo o mito das idades do mundo, a última a permanecer na terra. Todos os outros deuses subiram ao Olimpo. No entanto, à medida que a perfídia humana cresce, a Deusa começa a ser ignorada. Hesíodo, em Os Trabalhos e os Dias, conta-nos o seguinte: “E ela segue-os, chorando pela cidade e pelas moradas dos povos, / vestida da névoa, trazendo desventura aos homens que a baniram e a não distribuem com rectidão” (222-4, trad. A. Elias Pinheiro & J. Ribeiro Ferreira, 100. Lisboa, 2005: INCM). Progressivamente a deusa abandona a humanidade. Esta ideia de ausência do Divino Feminino é assim associada ao signo de Virgem. Numa perspectiva mais determinada pelos ciclos da natureza e pela agricultura, a deusa Deméter, após o rapto de Cora (Perséfone), sua filha, deixa o mundo e refugia-se numa gruta na Arcádia, deixando a natureza perecer e levando todos à miséria. Ora o somatório destes elementos demonstra a associação do signo Virgem aos lugares indicados, ou seja, à III enquanto Deusa e à VI enquanto Má Fortuna, a miséria da ausência do feminino.

   Como o actual eclipse ocorre no signo de Virgem, a sombra dracôntica assume também, sob o véu do obscurecimento, esta ausência do feminino enquanto degradação do humano e corrupção da natureza. Na sua forma de retribuição, a sua face mais severa, Dikê revela-se como Némesis. Foi a acção humana que levou a deusa a tomar esta forma que é tradicionalmente associada a Saturno. Segundo o mito das idades, Saturno rege a idade de ouro quando a justiça ainda existia entre os humanos. Hoje, aquando do eclipse solar de dia 21, Saturno olha de frente (oposição) para o encontro umbral dos luminares. A partir de Peixes, trazendo consigo o peso do destino (Cauda Draconis), Saturno fita esta ausência, esta negação da harmonia.

   Este abandono ou esta ausência não é, porém, definitiva, passada a sombra, renascido o humano, a deusa voltará. Vergílio, nas Bucólicas, diz o seguinte: “A última idade do canto cumeio chegou já;/ a grande ordem dos séculos nasce de novo./ Já regressa a Virgem, regressam os reinos saturninos; /já do céu alto uma nova progénie é enviada.” (IV, 4.7: itima Cumaei uenit iam cļńs aetas;/magnus ah integro saeclorum nascitur ordo./ iam redit et Virgo, redeunt Satumia regna, /iam noua progenies caelo demittitur alto. Trad. Frederico Lourenço, 109-10. Lisboa, 2021: Quetzal Editores). No entanto, o retorno da deusa, considerando o que motivou o seu afastamento, nascerá de duas razões: ou porque a perfídia recuou entre os humanos; ou porque a deusa quer ajudar o humano nesse recuo. As duas razões não se excluem e obrigam ambas à transformação do humano, ao seu regresso à excelência original. Esta ideia insere-se naturalmente na conceptualização do eixo de integração que une Virgem a Peixes, ou seja, a parte ao todo. Diante da sombra que oculta a luz, a parte não vê, não alcança o todo. O humano não vê a deusa, não se integra na sua totalidade.

   Séneca apresenta um percurso para aquilo que deverá ser, segundo o espírito de Virgem, a sanidade da alma: “Dir-te-ei agora o que significa uma alma sã: é cada um contentar-se consigo mesmo, ter confiança em si próprio, saber que todos os votos feitos pelos homens, todos os benefícios que trocam entre si não têm a mínima importância para a obtenção da felicidade. Uma coisa passível de acréscimo não é uma coisa perfeita; o homem que quer vir a possuir uma permanente alegria, tem de fruir apenas do que efectivamente lhe pertence. Ora rodos os bens a que o comum dos mortais aspira são, de uma forma ou outra, transitórios, pois de coisa alguma a fortuna nos permite a posse para sempre. Mesmo esses bens transitórios, contudo, podem ser-nos agradáveis se estiverem sujeitos ao controlo e à influência da razão; apenas a razão pode tornar recomendáveis esses bens, cujo usufruto se revela nocivo a quem os ambiciona por si mesmos.” (Ep.72.7; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). Este itinerário da alma é, na verdade, uma negação do que conduziu ao afastamento da deusa, é uma rejeição da Má Fortuna, tornando-se assim o sentido do actual eclipse.

   A influência temporal deste eclipse deve ser analisada com alguma ponderação, pois, como veremos mais adiante, este eclipse pertence a uma série Saros recente, iniciada em 1917, logo a sua assinatura mundana de sentido ainda se está estruturar. Por um lado, por ser um eclipse parcial com uma tipologia rara, a sua duração, bem como a ascensão recta, é maior, logo a influência também será. No entanto, por a sua significação ainda se estar a estabelecer, a influência temporal poderá ser maior, mas o efeito tenderá a ser mais ténue ou até difuso. A duração fixaria assim a influência em cerca de quatro anos e meio e a ascensão recta em mais de uma década, já a declinação dos luminares colocaria em destaque uma influência maior entre os quatro e os cinco meses.     

   A influência geográfica do eclipse de dia 21 tem o seu centro no mar, entre o sul da Austrália e a Antárctida, perto também da Nova Zelândia, sendo visível nas ilhas Fiji, Tuvalu, Tonga, Samoa, Samoa Americana, Ilhas Cook, Tahiti e Polinésia Francesa. A área geográfica como podemos ver é restrita. Já segundo as regências geográficas antigas, Vétio Valente (Antologia I, 2) diz-nos que Virgem rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dória (Grécia), Sicília e Pérsia ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a sua influência (Astronomica IV, 763-8).

   O eclipse solar parcial de 21 de Setembro pertence à série Saros 154, sendo o 7º eclipse de um total de 71. O próximo vai iniciar uma fase de eclipses anulares. O primeiro eclipse total só ocorrerá em 2404. O eclipse inicial é a matriz de sentido para toda a série. O primeiro eclipse desta série ocorreu a 19 de Julho de 1917. O Sol e a Lua estavam em Caranguejo e o Dragão da Lua estendia-se no eixo Caranguejo-Capricórnio. Mercúrio e Vénus estavam em Leão, Marte e Júpiter em Gémeos e Saturno em Leão. Nos transaturninos, Úrano estava em Aquário, Neptuno em Leão e Plutão em Caranguejo. Nesta data e na hora de Lisboa, Gémeos marcava a hora e Aquário culminava. A série Saros 154 terminará a 25 de Agosto de 3179, com um eclipse no signo de Virgem, tal como o actual.

   No ano 1917, antes do eclipse, deu-se, a 5 de Fevereiro, a Revolução Mexicana que com a nova constituição, vai ser a primeira a instituir os direitos sociais, dois anos antes da Constituição de Weimar, nela estavam inscritos direitos como o direito à greve, o voto feminino, liberdade de expressão, a separação entre estado e igreja, entre outros. Este é o ano das aparições de Fátima, tendo sido a primeira a 13 de Maio e as 13 de Outubro já depois do eclipse. Na Rússia, dá-se a Revolução de Outubro que leva Lenine e o Partido Bolchevique ao poder. O mês de Dezembro será um mês de grande instabilidade. Em Espanha, assistir-se-á a três mudanças no presidente do governo. Não nos podemos esquecer que estávamos na Primeira Guerra Mundial e, neste mês, os Estados Unidos da América entram na guerra. É também de assinalar a 6 de Dezembro o choque entre dois cargueiros em Halifax, no Canadá, que vai dar origem a uma grande explosão que, por sua vez, provocará um tsunami. Em Mondane (França), o descarrilamento de um comboio com mil soldados provocará a morte de oitocentos deles.   

   Uma informação que é também relevante é que o actual eclipse dá-se com o Sol no último grau de Virgem, o grau anarético. Ora isto serve primeiramente para desfazer um erro que infelizmente é muito comum. É grau anarético e não anorético, ou seja, é o grau destruidor e não o grau com falta de apetite. O primeiro provém de anareta (ἀναιρέτης) e o segundo é o adjectivo de anorexia, do prefixo negativo ana que indica aqui falta ou ausência e o substantivo orexis (ὄρεξις), fome ou apetite ou desejo. Pela internet este erro é muito comum. A destruição neste caso ocorre por força do limite e imposição do limiar do lugar onde aquele signo se perde e o seguinte já se avista. Um eclipse solar neste lugar vai adensar o peso sobre o sentido da sombra. Curiosamente, a sizígia umbral encontra-se a trinta de graus de Marte que também se encontra num grau anarético, mas neste caso o de Balança. Em ambos os casos, devemos considerar que esta destruição é limite de algo.

   Face ao tema do eclipse lunar de dia 7, deve-se destacar as duas grandes diferenças nas posições planetárias: Mercúrio deixa o seu signo de domicílio e exaltação, Virgem, para ingressar em Balança e Vénus deixa o signo de Leão para entrar no signo de Virgem. Vénus em Virgem assume-se como Estrela da Manhã e encontra-se numa posição já para além dos raios abrasivos do Sol. Mercúrio, embora no signo seguinte ao do Sol, encontra-se sob os raios e numa posição helíaca posterior, adquirindo desta forma uma expressão feminina e um carácter mais emotivo, sentimental e intuitivo.

   Apesar de Marte estar a deixar o signo de Balança, onde se encontrar em detrimento, para entrar em Escorpião, o seu domicílio, vai ainda oferecer, durante cerca de um dia, os seus raios maléficos ao recém-chegado Mercúrio. Já a Vénus em Virgem, no domicílio e exaltação de Mercúrio, não espalha todas as suas qualidades, algo que só acontecerá quando entrar em Balança, o seu domicílio masculino e diurno. Vénus em Virgem assume na Deusa Tríplice a sua face de Donzela, da jovem que ainda não se iniciou no mistério da maternidade. No entanto, apesar de estar fora do alcance dos raios solares, Vénus está numa posição conjunta e a fazer aplicação à sizígia umbral, logo participa deste sentido profundo de ocultação e obscurecimento.

   Do ponto de vista astro-mitológico, seria o momento em que Cora (Perséfone) seria raptada por Hades, conduzindo assim ao lamento de Deméter. O sextil da sizígia umbral, de Vénus e da Cauda Draconis em Virgem a Júpiter em Caranguejo vai trazer a dádiva da origem, o bem que se encontra no começo da viagem, a esta relação, ou seja, a procura do estado anterior de abundância de modo a recuperar, a restaurar esse bem. O retorno à natureza e aos seus bens é hoje um exemplo dessa relação.

   A oposição Saturno em Peixes ao lugar do eclipse, o trígono dele a Júpiter em Caranguejo, lembrando a lição de Petosíris de que nem todos os trígonos são bons, nem todas as quadraturas são más, e a quadratura de Saturno e do lugar umbral a Úrano em Gémeos é a marca dos tempos sombrios em que vivemos. O humano está escolher o seu lugar na história. Estamos à assistir a um genocídio em tempo real, com toda a informação, com imagens, sim porque há imagens de Gaza, da destruição, da fome, do infanticídio, do massacre de gentes à procura de comida, de um povo, e a maioria permanece num estado de absoluta dormência, como se nada fosse, com uma cumplicidade absurda para com os algozes de Israel. O conceito de humanidade assenta numa premissa primordial: um humano é um humano, isto é, os seres humanos têm todos o mesmo valor. Desta premissa decorre, segundo o espírito que agrega o conceito de humanidade, a solidariedade, ou seja, quem sofre, quem precisa deve ser a força da acção humana para reparar, para mitigar esse sofrimento, essa necessidade. Enquanto permitirmos as ideias de que um humano vale mais do outro e de que existem terras prometidas, a humanidade cairá no seu próprio abismo. E aqueles que não fazem nada, que nem uma opinião expressam, permitem essas atrocidades.

   A posição fragilizada de Úrano em Gémeos, onde a palavra devia ser revolução permanente, bem como a quadratura de Mercúrio em Balança a Júpiter em Caranguejo, onde o espírito nacionalista da extrema-direita corrompe a justiça e harmonia entre as gentes, entre os povos, vão mostrar como a inteligência e a palavra se afundam na sombra da ignorância. A quadratura de Mercúrio em Balança a Júpiter em Caranguejo e a oposição a Neptuno em Carneiro são uma marca da transmissão das novas ideologias populistas, nacionalista, xenófobas e misóginas que existem na extrema-direita, nos novos totalitarismos.

   Já os trígonos de Mercúrio (e de Marte, embora já por pouco tempo) em Balança a Úrano em Gémeos e a Plutão em Aquário trazem, sob os desígnios da providência e da necessidade, toda uma proposta de transformação da palavra, do discurso e do conhecimento. Porém, devido à retrogradação de Úrano e de Plutão, este é o gérmen de uma criação que pode florescer nuns e desaparecer noutros ou nunca sequer existir, ficando como mera potencialidade não efectivada. Este grande trígono não deixa de ser o vendaval do Anjo da História que coloca o humano e o seu carácter sob avaliação.                            

   A semelhança do que se referiu no eclipse lunar, o trígono entre Júpiter exaltado em Caranguejo e Saturno em Peixes que traz consigo a dádiva da Água. Curiosamente, nos tempos líquidos que vivemos essa é uma dádiva frequentemente desvalorizada. As sociedades actuais e a natureza humana expressam hoje muito mais os espectros do criar (Terra), do pensar (Ar) e do agir (Fogo) que os do sentir (Água). Os sentimentos e a intuição, o amor e a fé como via de sabedoria, perdem-se no frenesim dos dias e na superficialidade das relações. A retrogradação de Saturno e o seu derradeiro estágio no signo de Peixes é uma proposta de sentido profundo onde a dádiva da Água será veículo de transformação.

   A Vénus em Virgem, unindo-se hexagonalmente a Júpiter em Caranguejo, quadrangularmente a Úrano em Gémeos e opondo-se a Saturno em Peixes, relembra-nos o verso de Séneca que “não há caminho fácil da terra até às estrelas (Hercules Furens 437: non est ad astra mollis e terris via). Vénus, neste lugar, traz consigo a lição de Pigmalião e os perigos do ideal de perfeição sem humanidade, porque se apenas divino é perfeito, mas sem humanamente divino contrasta com o ideal os espectros de luz e sombra que caracterizam a humanidade. Nós devemos aprender a ser humanos. A perfeição no amor está no gesto e no cuidado, não no ideal. Colhemos a dádiva do bem onde ele existe.

   O sextil entre os benéficos mostra como a acção humana, fruto do seu carácter, nos coloca entre o reconhecimento da origem, do que lá existia e a perfeição que é a realização do amor, não como finalidade, mas como viagem. Já quadratura entre Vénus em Virgem e Úrano em Gémeos vem destruturar a rigidez das estruturas comunicacionais e transformar os ideais de beleza e perfeição. Este encontro entre os signos regidos por Mercúrio será um marco de revolução nas próximas semanas. A oposição Vénus-Saturno, no eixo Virgem-Peixes, firma a ponte, o elemento de passagem, entre o amor e o tempo, entre o amor e o destino, ou seja, a roda gira mesmo para os amantes e por a roda girar existe amor.

   O eclipse solar de dia 21 apresenta, como vimos, uma proposta de sentido que se estenderá pelos próximos tempos, marcando com transformação, em especial, os signos da cruz mutável, sobretudo aquando de presença planetárias temporalmente mais extensas. Nos próximos eclipses da série Saros 154, a significação do actual eclipse será recuperada, pois existem elementos de sentido que ainda se estão a formar e que se irão relacionar com outras efemérides. Desta forma, entre a luz e a sombra, o lugar onde colocámos as sementes da nossa humanidade será determinante e marcará o nosso futuro.     

sábado, 6 de setembro de 2025

Reflexões Astrológicas 2025: Eclipse Lunar Total (Lua Cheia Peixes-Virgem)

 Reflexões Astrológicas

Eclipses 




Eclipse Lunar Total

(Lua Cheia: Virgem-Peixes)   

Lisboa, 19h12min, 07/09/2025

 

Lua

Decanato: Júpiter 

Termos: Júpiter

Monomoiria: Lua       

 

Sol

Decanato: Vénus

Termos: Vénus

Monomoiria: Marte   

 

  O Eclipse Lunar Total de dia 7 de Setembro ocorre com a Lua no signo de Peixes e com o Sol no de Virgem, com Aquário a marcar a hora e a cerca de uma hora e meia do pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já a Lua está abaixo do horizonte, na II, no lugar do Viver (δύσις). A Lua encontra-se pois no decanato e nos termos de Júpiter e na sua monomoiria, enquanto o Sol encontra-se no decanato e nos termos de Vénus e na monomoiria de Marte.

  No caso das dignidades, afirma-se o facto de os luminares serem regidos, tanto no decanato como nos termos, pelo benéfico que rege o segmento de luz contrário, ou seja, Vénus para o Sol e Júpiter para a Lua. Daqui que se depreende um certo reforço benéfico da qualidade dos lugares onde se encontra o eixo umbral. No entanto, convém salientar-se que, devido a troca de regências, essa valoração do bem só ocorre se o feminino integrar o masculino e o masculino, o feminino. Esta inversão de regentes serve pois um sentido profundo.

  Os eixos umbral e nodal encontram-se no eixo de sentido da integração, existindo assim uma união significativa entre a sombra do eclipse e a integração do todo (Peixes) na parte (Virgem), uma vez que a Lua se encontra em Peixes. No δωδεκατόπος (doze lugares), a Lua encontra-se no lugar do Viver, βίος (II). Paulo de Alexandria designa este lugar de Porta do Hades, ιδου πύλη (Introdução, cap. 24), devido à sua posição junto ao Ascendente e abaixo do horizonte. Encontramos o valor do modo de vida e da morte neste eixo (II-VIII), pois como diria Trasilo, a II é um “indicador de esperanças”, ἐλπίδων σημαντικήν (CCAG VIII/3: 101.20), já a VIII é nas palavras de Paulo de Alexandria indicadora da “realização da morte”, θανάτου τελευτήν (Introdução, cap. 24). Consequentemente, os sentidos cruzados de todos estes eixos ganham uma unidade significativa.

  É necessário também considerar-se a ponte de sentido no eixo Peixes-Virgem que se estabelece entre o actual eclipse lunar e o eclipse solar de dia 21 de Setembro. Em certa medida, neste ano de 2025, o sentido já havia sido iniciado pelo eclipse lunar de 14 de Março, todavia, é neste período de 7 a 21 de Setembro que a proposta significativa da sombra sobre o eixo de integração se torna mais intensa. Com a sombra a cair sobre a totalidade ou sobre a integração do sentido de totalidade (Lua em Peixes no eclipse lunar), quando o manto umbral cobrir os luminares, a parte poderá sentir uma maior dificuldade de integração tanto da sua própria natureza e condição como do seu lugar no todo. Desta forma, e à semelhança do que se afirmara aquando do eclipse lunar de 14 de Março, o obscurecimento dracôntico recai sobre o sentido da parte e o valor da totalidade. No entanto, no actual eclipse, é o valor da totalidade que se encontra sob uma maior tensão umbral.   

  A integração da totalidade obriga a uma consciência do todo, daquilo que engloba a alma humana na Alma do Mundo. Ora para que isso aconteça o indivíduo deverá primeiramente reconhecer a liberdade da sua própria alma face a tudo aquilo que não lhe diz respeito. Epicteto diz-nos o seguinte: “Ao vires alguém preferido em honras, ou muito poderoso, ou mais estimado, presta atenção para que jamais creias – arrebatado pela representação – que ele seja feliz. Pois se a essência do bem está nas coisas que são encargos nossos, não haverá espaço nem para a inveja, nem para o ciúme. Tu mesmo não irás querer ser nem general, nem prítane ou cônsul, mas homem livre. E o único caminho para isso é desprezar o que não é encargo nosso.(Encheiridion 19b, trad. A. Dinucci & A. Julien, 2014: 46-7. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra). A sombra na totalidade pisciana é um alerta para a dificuldade de ver esta liberdade e de encontrar a felicidade apenas naquilo que é encargo nosso. Sê feliz porque amas e grato porque és amado. Existe aqui uma diferença substancial entre o amor que damos que depende de nós, e que por isso resulta em felicidade, do amor recebido que depende do outro, e logo deverá gerar gratidão.

  A integração da parte no todo e do todo na parte está, como podemos observar nesta máxima de Epicteto, intimamente relacionada com a liberdade que é fixarmos a nossa existência apenas naquilo nos compete, mas com um outro aspecto enunciado por Séneca. O filósofo diz-nos o seguinte: “Frequentemente dá-se o caso de um exército temer o inimigo sem motivo e de o itinerário que lhe parecera mais perigoso ser afinal o mais seguro. A ignorância, essa, está sempre em sobressalto; os perigos assaltam-na quer de cima quer de baixo; à direita e à esquerda há razões de pânico; os perigos quer a atacam pelas costas quer se lhe levantam na frente; qualquer situação a enche de medo, a encontra impreparada, a tal ponto que o próprio socorro a apavora! O sábio, porém, sempre alerta, sempre pronto a responder a qualquer assalto, não recuará um passo mesmo que sobre ele caiam a pobreza, a desgraça, a ignomínia ou a dor; impertérrito, o sábio afrontará estes males, passará pelo meio deles.” (Ep.59.8; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).

  O comportamento do sábio, oposto ao daquele que se move por ignorância, é essencialmente uma integração da parte no todo e uma consciência da totalidade. Ao observarmos a acção do sábio, vemos que este cruza uma visão holística com o olhar da montanha, daí que não se deixe perturbar. A premeditação do mal serve o sábio que, contemplando o mal possível, se preparara para todas as suas vicissitudes. Ora, num eclipse como o actual, as duas propostas, a de Epicteto e de Séneca, estão ameaçadas. A sombra invade o carácter humano e impede esta integração. A parte segue a parte em vez de entrar no mar da totalidade.

  O derradeiro ingresso de Saturno em Peixes que só daqui a quase três décadas voltará a este signo veio adensar o peso da necessidade sobre o manto umbral. As estruturas conservadoras, por um lado, e a dificuldade de integração dos valores piscianos, por outro lado, confirmam o peso de um mundo em decadência. Assistimos no conforto dos lares dos países mais desenvolvidos a um genocídio, no qual a fome se tornou arma de guerra, levado a cabo por um estado intocável. A alegada dívida histórica está a ser cobrada com a vida de inocentes, sobretudo crianças, e nós permitimos. É a total anulação do humanismo e dos valores essenciais e primitivos do cristianismo. O actual eclipse que, para o tema de Lisboa, faz justamente a Lua cair no lugar do Viver (II), do valor da vida, e devia servir de alerta, neste caso aos portugueses, para a cumplicidade desumana da sua inacção.           

  A influência geográfica do eclipse de dia 7 tem o seu centro no Oceano Índico, ao largo do Sri Lanka e à entrada da Baía de Bengala. O manto umbral e penumbral alastrar-se-á pela Ásia, pela África, pela Europa e pela Austrália. Segundo as regências geográficas antigas, Vétio Valente (Antologia I, 2) diz-nos que Peixes exerce influência sobre o Eufrates e o Tigre, a Síria, o Mar Vermelho e o Mar Arábico, a Índia, a Média-Pérsia e as regiões circundantes, o rio Borístenes ou Boristene (Dniepre), a Trácia, a Ásia e a Sardenha. Manílio, por seu lado, concede a Peixes o Eufrates, o Tigre e o Mar Vermelho, as terras da Pártia, a Báctria, a Etiópia, a Babilónia, Susa e Nínive (Astronomica IV, 800-6). Já Virgem rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dória (Grécia), Sicília e Pérsia ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a sua influência (Astronomica IV, 763-8).

  A influência temporal será, devido à duração do período total, de cerca de um mês e meio. No entanto, dada à duração do período umbral, poderá estender-se até cerca de três meses e meio e de uma forma já ténue, sustentada no período penumbral, poderia ir até ao limite de cinco meses e meio, o que estaria em concordância com o cálculo baseado nas declinações dos luminares. Devemos numa análise da influência temporal voltar a reforçar que, no período até ao eclipse solar de dia 21 de Setembro, o sentido profundo deste eclipse terá uma maior intensidade que progressivamente irá diminuindo.

  É necessário frisar, uma vez mais, a ligação que existe entre os eclipses lunares e as dinâmicas do planeta Terra, nomeadamente o que designamos por desastres naturais. Dada a natureza deste eclipse, podemos observar, por exemplo, como o tufão Kajiki no Vietname foi um prenúncio da sua sombra. Os sismos e tempestades com origem no mar estão potenciadas, podendo originar tsunamis e tufões. A lua em Peixes, com a regência moderna de Neptuno, agora em Carneiro com uma força mais destrutiva, e com o Júpiter, regente antigo ou tradicional, em Caranguejo, outro signo de água e com o qual forma um trígono, potencia estes fenómenos. A co-presença da Lua e Saturno também firma uma vibração mais tensa. Lembremo-nos que Cronos/Saturno foi preso no lugar mais profundo do submundo, após ter sido derrotado por Zeus/Júpiter. No Tártaro, lutava contra as correntes que os sustinham, ou seja, fazia vibrar as profundezas da Terra.   

  O eclipse lunar total de 7 de Setembro pertence à série Saros 128, sendo o 41º eclipse de um total de 71. É o 11º eclipse dos 15 eclipses totais da série, o que transmite um certo desenvolvimento da sua proposta significativa. O eclipse inicial, como sabemos, serve de matriz de sentido para toda a série. Ora o primeiro eclipse desta série ocorreu a 18 de Junho de 1304 (Calendário Juliano). A Lua estava em Capricórnio e o Sol em Caranguejo e o Dragão da Lua estendia-se no eixo Sagitário-Gémeos. Mercúrio e Marte estavam em Gémeos, Vénus em Touro, Júpiter em Leão e Saturno em Balança. Nos transaturninos, Úrano estava em Balança, Neptuno em Escorpião e Plutão em Aquário. Nesta data e na hora de Lisboa, Virgem marcava a hora e Touro culminava. A série Saros 128 terminará a 2 de Agosto de 2566, com um eclipse no eixo Leão-Aquário, ou seja, com a Lua em Carneiro e o Sol em Balança.

  A análise comparada dos dois temas, face ao seu ciclo planetário, faria logo sobressair o facto de Plutão se encontrar em Aquário no eclipse-matriz tal como hoje se encontra. Naturalmente, isto adensa esta ligação entre o signo da humanidade e o planeta da morte. Em tempos sombrios como os que vivemos, resgatar a semente da morte, o memento mori, da consciência do humano recupera esse sentido primário e matricial que encontramos em toda a série Saros. Por outro lado, temos Neptuno em Escorpião e agora em Carneiro, os dois domicílios de Marte recebem o planeta da imaginação. A força de Marte tende, por um lado, a intensificar a imaginação criativa, se for recebida como dom, ou, por outro lado, pode com uma força bélica e disruptiva trazer uma ilusão massificada. Os populismos e os avanços da extrema-direita traduzem essa realidade. A ideologia vai-se tornar progressivamente violência.

  Úrano e Saturno em Balança, estando este último na sua exaltação, favorecem a criação e estruturação de modelos de pensamento. Algo que será transmitido pelos raios triangulares ao actual Úrano em Gémeos. A comunicação pede um sentido renovado que tanto pode dar origem a novas formas de conhecimento como de desinformação. Do ponto vista histórico, aquando do eclipse-matriz, é de se assinalar o início do conclave papal, após a morte de Bento XI a 7 de Julho de 1304, que só terminará no ano seguinte, a 5 de Junho de 1305, com eleição de Clemente V e que marcará o início de período conhecido como o Papado ou o Cativeiro de Avinhão (1309-1377). É também de assinalar a primeira guerra pela independência da Escócia.

  O eclipse-matriz revela para um eclipse lunar uma forte influência política e militar. De facto, se pensarmos bem o início do século XIV, marca um período de intensas mudanças tanto políticas como filosóficas e espirituais. A conjunção de Mercúrio, Marte e a Cauda Draconis vai assinalar o carácter disruptivo de muitas dessas transformações. As heresias ou heterodoxias cristãs ou o crescimento do poder do Santo Ofício da Inquisição são dois elementos de destaque, bem como as profundas alterações políticas. O sextil Júpiter em Leão a Saturno e Úrano em Balança é também revelador dessas transições. Um eclipse lunar com a Lua exilada em Capricórnio traz consigo uma forte dinâmica saturnina que lhe confere uma influência semelhante à de um eclipse solar e, sendo um eclipse-matriz, essa significação vai estender-se a toda a série.

  Convém, no entanto, salientar-se que, por neste eclipse a Lua estar em Peixes, vamos encontrar um certo sentido de destruturação desse sentido-matriz. A imersão no todo que o Peixes tende a apresentar com candura vai agora tomar outras formas. A sombra vai apresentar rudemente a despersonalização como inevitável e a ilusão da realidade tornará tudo mais confuso. Lembremo-nos que a sombra vai incidir sobre o signo de Virgem que a guardará até ao eclipse solar. Com Sol e Mercúrio exaltado em Virgem, e com a quadratura a Úrano em Gémeos, tudo o que é representado pela razão, pelo pensamento, pela palavra, pela organização das estruturas comunicacionais está sob pressão. A sombra dracôntica quer levar tudo o que está estabelecido até ao grande oceano e mostrar que aquilo que a mente humana produz não chega a ser um grau de areia na totalidade que é a Alma do Mundo e o seu Intelecto.    

  Se de Peixes vem uma totalidade assombrada, Júpiter em Caranguejo com o trígono à Lua, a Saturno e à Caput Draconis e o sextil ao Sol, a Mercúrio e à Cauda Draconis vem contribuir com a expansão do sentido da origem. Na verdade, a totalidade e a origem são duas expressões ou conceitos para a mesma realidade inefável que não cabe em nenhum conceito. Esta é, porém, a via para conhecimento de si. O Eu perde-se na totalidade do oceano da origem e surge renovado como o Si. A dificuldade para o humano é o medo de entrar no oceano e perder-se. Está tão agarrado ao que julga ser importante que não vê que ao perder-se encontra-se. Terá pois de olhar para o fundo do mar e encarar as sombras que se movem na escuridão.    

  Marte em Balança, exilado, ameaça as estruturas relacionais, contudo, o sextil a Vénus em Leão e a quadratura a Júpiter em Caranguejo trazem alguma moderação ou progressividade a disrupção interpessoal. O trígono entre Vénus em Leão e Neptuno em Carneiro contribui também com certa elevação do fogo do amor, se for vivido dessa forma. Vénus em Leão pode elevar o amor na beleza de alma nobre ou pode afundá-la num narcisismo patológico. Algo que pode ser potenciado, para o bem e para o mal, pela oposição a Plutão em Aquário. Os trígonos de Úrano em Gémeos e Plutão em Aquário a Marte em Balança trazem, sob a égide do destino, uma força transformadora à forma que como lemos e pensamos a realidade. Essa força não é, porém, voluntária, pois traz consigo os ditames da providência e necessidade.   

  Se considerarmos a sistema antigo de leitura de aspectos, ou seja, pelos conceitos de aplicação e separação, temos de destacar três deles pela força da aplicação. Primeiramente, o trígono entre Júpiter exaltado em Caranguejo e Saturno em Peixes que traz consigo a dádiva da Água. Depois, a quadratura de Saturno em Peixes a Úrano em Gémeos e o trígono entre Úrano e Plutão em Aquário são, na verdade, duas faces da mesma moeda. O primeiro traz, com alguma tensão, a criação de novas estruturas e a necessidade de romper com certas formas de estar e pensar, já o segundo que se estenderá ao longo de vários anos marcará esse ponte de sentido entre revolução e transformação, entre progresso e morte. Se pensarmos que nestes dois aspectos Úrano está presente, este é o vendaval do Anjo da História.

  O eclipse lunar total de 7 de Setembro encerra assim um sentido intermédio entre o eclipse de lunar de 14 de Março e o eclipse solar de 21 de Setembro. Em 2025, a sombra alongar-se-á no eixo Virgem-Peixes, no eixo de integração da parte no todo, e com um foco particular no signo de Virgem. Não devemos portanto perder esta oportunidade enquanto humanidade de colher as suas lições. Se esquecermos a solidariedade, o melhor do humano, viveremos sempre na escuridão.       

sexta-feira, 28 de março de 2025

Reflexões Astrológicas 2025: Eclipse Solar Parcial (Lua Nova em Carneiro)

Reflexões Astrológicas

Eclipses 



Eclipse Solar Parcial 

(Lua Nova em Carneiro)

Lisboa, 10h47min, 29/03/2025

 

Sol-Lua

Decanato: Marte  

Termos: Vénus   

Monomoiria: Sol    

                                           

 

   O Eclipse Solar Parcial de 8 de Abril ocorre no signo de Carneiro, com Caranguejo a marcar a hora (hora de Lisboa), no primeiro grau e apenas a quatro minutos, no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, com os luminares acima do horizonte, na X, no lugar daquilo que se faz, da Práxis (πράξις), embora a culminação caia na IX (casa-signo ou signo inteiro), e cerca de quatro horas e vinte minutos após a hora de alba, no decanato de Marte, termos de Vénus e na monomoiria do Sol. Os eclipses solares anteriores ocorreram junto ao Poente, já o actual encontra-se a caminho da culminação. Este elemento de análise consagra o sentido deste eclipse como marco de transição, pois é o último do ciclo no signo de Carneiro. O eixo nodal vai fixar-se no eixo Virgem-Peixes. O próximo eclipse solar de 2025 será no signo de Virgem, ou seja, define-se uma via de sentido que corresponde a metade do ciclo zodiacal.

   Nesta senda nodal de Carneiro a Virgem, lembrámo-nos dos versos inaugurais da Divina Comédia de Dante: “Nel mezzo del cammin di nostra vita/ mi ritrovai per una selva oscura,/ ché la diritta via era smarrita.” (No meio do caminho em nossa vida/eu me encontrei por uma selva escura/ porque a direita via era perdida. Inferno I, 1-3, trad. Vasco Graça Moura. Venda Nova, 2000: Bertrand Editora). No entanto, Carneiro não chega a Virgem pela “direita via”, o caminho nodal é uma via de retorno e terá de passar por Peixes sem o integrar o seu sentido. Caminha até à parte sem tomar como sua a totalidade, a finalidade do caminho. A identidade do eixo Carneiro-Balança segue uma via de sombra onde terá de enfrentar os seus fantasmas e aqui também no sentido etimológico do termo, ou seja, terá de se destruir e recriar a partir das suas próprias imagens. A “selva escura” é o lugar onde o humano e a humanidade podem ver o maior dos seus medos. Nesse lugar, vêem-se a si mesmos. A visão do espelho é assustadora. É como Dorian Gray a deixar o pano que cobre o objecto misterioso que esconde o seu verdadeiro eu. O olhar para si mesmo, seja para o humano, individualmente, ou para a humanidade, é aterrador e é assim que deve ser, pois a iniciação nasce desse medo, nessa “selva escura”.

   Como já constatámos anteriormente, Jasão, o herói de Ares (Marte, domicílio) precisa do favor de Apolo (Sol, exaltação) para que a finalidade da viagem seja alcançada, ou seja, precisa da luz para encontrar o fim, para chegar ao velo ou tosão de ouro (Κρίος Χρυσόμαλλος), a pele do aríete ou carneiro imortal (Carneiro), filho de Posídon (Neptuno, regente moderno de Peixes). A ligação nodal entre os dois eixos (Carneiro-Balança e Virgem-Peixes) leva-nos, pela via do destino e da necessidade, pelo corpo do Dragão da Lua, numa viagem que terá de estabelecer uma ligação de sentido, um elemento de passagem, entre a identidade e a integração. Curiosamente, os dois eclipses solares de 2025 fixam-se do lado desses eixos onde os elementos estão separados. São a unidade (Carneiro) sem a dualidade (Balança). São a parte (Virgem) sem o todo (Peixes). Essa ausência é a sombra sobre o sentido, é a ocultação da finalidade.

   Num eclipse solar, é a luz que sofre o avanço da escuridão, pois o seu manto de sombra cobre o alcance dos raios. Ora isso acontece, todavia, por decreto da Providência. É o destino a operar e a necessidade a determinar. A este respeito, Séneca diz-nos o seguinte: “Que a nossa alma, por tanto, se habitue a entender e a suportar o seu destino, a saber que nada é interdito à fortuna, que esta tanto se abate sobre os impérios como sobre os imperadores, que tanto poder tem sobre as cidades como sobre os homens. E não devemos indignar-nos contra as desgraças: nós entramos num mundo que se rege precisamente por esta lei. Se a lei te agrada, obedece-lhe; se não, sai deste mundo pelo processo que quiseres! Indigna-te, sim, com alguma iniquidade que o destino te tenha feito somente a ti; mas as leis que regem o mundo constrangem tanto os grandes como os humildes, e por isso deverás reconciliar-te com o destino: ele dará solução a tudo! Não deves avaliar os homens pelos túmulos, pelos monumentos fúnebres que, uns maiores outros menores, se erguem ao longo das estradas: reduzidos a cinzas, todos os homens são iguais. Desiguais no nascimento, todos somos iguais na morte.” (Ep.91.15-16; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).

   A lei de Adrasteia, senhora do inevitável, impera sobre o mundo e um eclipse solar tende a recair mais sobre impérios e imperadores do que sobre o comum. A estes, só a lei das Meras (Moiras) afecta o seu destino, ou seja, só o grau do eclipse tende a afectar o tema natal, pois moira (μοίρα) é em grego tanto o destino como o grau. A Lua é a vida e o Sol a consciência da vida, daí que um eclipse lunar anuncie mais a vida planetária e um eclipse solar a sua consciência, ou seja, a organização política e social. Os eclipses solares vão pesar mundanamente sobre a humanidade. O peso do destino, a sombra, recai sobre o que se faz colectivamente. Este sentido é particularmente expressivo no tema do eclipse.

   Se pensarmos que, no tema, a posição dos signos sobre os lugares ou casas reproduz o Thema Mundi, ou seja, com Caranguejo a marcar a hora, observamos que essa conciliação entre πράξις, entre aquilo que se faz, e o encontro umbral dos luminares no signo de Carneiro se torna uma unidade de sentido. Ora esta unidade vai acentuar uma pressão da sombra sobre a luz, ou seja, na expressão ou na acção dos líderes mundiais sobre as comunidades. O facto de Marte estar no signo que marca a hora, Caranguejo, e Saturno estar junto ao Ponto de Culminação, em Peixes, contribui para o carácter deletério dessa acção. Ao vermos hoje a acção política assustadoramente centrada nos líderes, temos de trazer à memória outros tempos, tempos em que os cultos da personalidade eram cultivados e impostos. O sentido de comunidade tende então a perder-se

   A ascensão recta dos luminares fixa uma influência temporal mais intensa até pouco mais de seis meses, o que nos leva a estabelecer um tempo electivo até ao eclipse solar de 21 de Setembro. No entanto, a magnitude do eclipse pode estender o seu efeito até perto de um ano, já as declinações dos luminares, em especial, a do Sol, determina uma extensão dos efeitos até cerca dos três anos e meio. Aquilo que acontecer até Setembro produzirá um efeito que se fará sentir até ao final de 2028. Em termos espaciais, o centro do eclipse firma-se no Pólo Norte, no extremo norte do Québec, numa área muito próxima da Gronelândia. Se pensarmos nas deambulações megalómanas de um certo líder quanto ao domínio territorial desta zona do planeta, o centro deste eclipse ganha um sentido mais consentâneo. O manto umbral e penumbral estender-se-á, porém, pelo Oceano Atlântico até às áreas ocidentais e mais a norte da Europa e de África, alcançando a Rússia.

   Nas regências geográficas antigas, o Sol e a Lua em Carneiro regem, segundo Manílio, o Helesponto (Estreito de Dardanelos), Propontis (Mar de Mármara), a Síria, a Pérsia e o Egipto (Astronomica, IV, 744-817). Já Vétio Valente (Antologia I, 2) diz-nos que o signo exerce influência sobre as seguintes regiões: a Babilónia, Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), a Pérsia, a Palestina e as regiões circundantes, a Arménia, a Trácia, a Capadócia, Susã (cidade antiga, capital do Elão ou Susiana, hoje sudoeste do Irão), o Mar Vermelho e o Mar Negro, o Egipto e o Oceano Índico. Heféstion resume as regências dizendo que, para Ptolomeu, rege a Britânia, a Galácia, a Germânia, a Palestina, Edom e a Judeia e, para Hiparco e para os antigos egípcios, rege a Babilónia, a Trácia; a Arménia, o vale da Pérsia, a Capadócia, a Mesopotâmia, a Síria, o Mar Vermelho (Apotelesmática I, 1).

   O actual eclipse pertence à série Saros 149. É 21º eclipse de um total de setenta. Deve-se assinalar que este é o último eclipse parcial antes da fase de eclipses totais que se inicia com outro eclipse no signo de Carneiro (9 de Abril de 2043). A série Saros 149 teve o seu início a 21 de Agosto de 1664, com um eclipse no signo Leão, e terminará a 28 de Setembro de 2926, com um eclipse no signo de Balança. No eclipse-matriz, o Sol, a Lua, Mercúrio, Vénus e a Caput Draconis estavam em Leão, no mesmo elemento do eclipse actual. Marte estava em Balança e Saturno em Sagitário. Júpiter e Neptuno encontravam-se em Capricórnio. Em Aquário, estava Úrano e a Cauda Draconis e, em Gémeos, Plutão. Balança marcava a hora e Caranguejo culminava (hora de Lisboa).

   No ano de 1664, aquando do eclipse-matriz, temos de assinalar a vitória dos portugueses sobre os espanhóis, na Batalha de Castelo Rodrigo (7 de Julho), um feito essencial na Guerra da Restauração. A 1 de Agosto, também antes do eclipse, dá-se a Batalha de São Gotardo onde o exército habsburgo derrota o exército otomano. Por outro lado, a 27 de Agosto é fundada a companhia francesa das índias orientais. A 8 de Setembro, Nova Amsterdão rende-se a uma esquadra naval britânica, liderada por Richard Nicolls. A cidade capturada será então renomeada, em homenagem ao Duque de York, o futuro rei Jaime II, passando a chamar-se Nova Iorque. O enquadramento histórico do eclipse-matriz serve sobretudo para acentuar a intensa expressão político-militar desta série. Ora este carácter bélico vai evidenciar o seu lado mais negativo pelo facto da posição original dos maléficos estar em aspecto quadrangular à posição actual (Marte em Balança e agora em Caranguejo e Saturno em Sagitário e agora em Peixes). Se tivermos dúvidas da repetição da história, podemos afirmar com certeza a repetição do humano.

   O eclipse solar de 29 de Março é o terceiro de três eventos astrológicos que mereceram uma reflexão, tendo sido o primeiro o eclipse lunar de 14 de Março e o novo ano astrológico com o ingresso do Sol em Carneiro a 20 de Março. Se observarmos os três temas, podemos concluir que as retrogradações de Mercúrio e Vénus são as principais diferenças. No caso de Vénus, existe inclusive um reingresso no signo anterior, em Peixes.  

   A retrogradação de Mercúrio obriga a um pensar ou repensar da palavra que nos poderia levar até Epicteto quando este diz o seguinte: “Sinais de quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém, não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo – como quem é ou o que sabe. Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende.(Encheiridion 48.b1, trad. A. Dinucci & A. Julien, 2014: 64. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra). Mercúrio em Carneiro dá uma certa impulsividade à palavra. Ora a retrogradação neste signo conduz ao domínio dessa pulsão o que combina perfeitamente com a lição de Epicteto.

   A retrogradação de Vénus até ao signo da sua exaltação, embora não de volta ao grau exacto, mas colocando-a conjunta a Neptuno, o seu regente moderno, vai firmar primeiramente a reformulação daquilo que se deseja, estabelecendo uma necessidade de foco que se estenda para além da identidade e, de uma forma mais profunda, que restabeleça a gravidade do amor. A dádiva de Vénus, neste olhar de novo, é um tesouro de vida, pois que permite que se olhe uma outra vez para o lugar onde o amor caiu, onde a sua gravidade se fundou. É uma bênção que não deve ser ignorada. Por outro lado, a senda de uma Vénus que sai de Carneiro para voltar a Peixes e para, por sua vez, regressar renovada a Carneiro tem um sentido profundo. O amor sai dos perigos da identidade, da frágil ponte entre unidade e dualidade, para regressar a imersão do todo, à integração da totalidade. Ora nessa viagem o amor pode perder-se e afundar-se ou pode dar à costa, brilhante, com um sentido de finalidade, de propósito. Neste tempo, podem estabelecer-se intensas afinidades electivas e conexões para lá da vida e da morte.

   No tema do eclipse solar de 29 de Março, Vénus vai voltar a reunir-se com Neptuno, com Saturno e com a Caput Draconis. Os sentidos do passado são recuperados, todavia, não é um regresso ao mesmo, é uma renovação. No rio do tempo, as águas que passam não são iguais. A união de Vénus e Neptuno vai dar ao princípio do amor a imaginação criativa, o que potencia a sua acção natural e criativa. Quando se une a Saturno, o que em Peixes não tende a ser muito negativo, Vénus vai conciliar a gravidade do tempo com a ardência do desejo. A Caput Draconis conjuga com estes a possibilidade de elevação face à força da necessidade. Esta é uma bênção quase oculta em pleno eclipse solar. Numa viagem pela sombra, é possível trazer do todo a unicidade de si.    

   No eclipse lunar era Plutão em Aquário o astro mais alto agora é Saturno em Peixes. Da lição da morte passamos para lição do tempo. Na verdade, não existe verdadeira aprendizagem sem a integração destas duas lições. Se a vida não pedisse estas duas lições, as pulsões dos planetas pessoais dominariam e iriam corromper a natureza a um ponto de não retorno. A morte e o tempo fazem com que se dê valor às coisas, às pequenas coisas, às coisas importantes. Nós, humanos, somos a soma dessas pequenas, unidas em algo único, na felicidade. Na sua origem etimológica, a felicidade consiste é ter em si uma bom estado demiúrgico, ou seja, ter um bom elemento de passagem. Ora essa viagem só possível com a consciência íntima da morte e do tempo e, por outro lado, pela elevação que só o amor e a sabedoria concedem.

            Neste eclipse solar, esta senda é uma subida de Marte em Caranguejo até Saturno em Peixes e é nessa viagem que o manto umbral se estende, escondendo os luminares. A quadratura destes, e de Mercúrio retrógrado, a Marte revelam o medo da origem e a violência de regressar ao passado. Ora, sabendo nós de uma maior influência geopolítica nos eclipses solares, este sentido torna-se mais vivo e mais actual. Estamos a viver, quer queiramos, quer não, tempos sombrios. Na verdade, a humanidade que almejava por progresso vê-se hoje à beira do princípio. Os sinais estão lá. As Meras falam nos astros e indicam os lugares de todas as encruzilhadas, sim porque, sob a égide de Hécate, numa das vias reside, como sempre, a esperança. Esta é a razão pela qual no fim do caminho zodiacal, naquele de Carneiro a Peixes, se encontram os dois benéficos: Júpiter no seu domicílio, Vénus na sua exaltação. Com o manto de sombra em Carneiro, esse fim do caminho não é vislumbrado. Vivemos tempos em que a verdadeira esperança tende a perder-se.

   A beleza da vida diz-nos sempre que a luz da esperança gosta de se ocultar nas ruínas, pois é sob a cinza e a poeira que se escondem as pequenas luzes que salvam o mundo. Os sextis de Júpiter em Gémeos e de Plutão em Aquário aos luminares em Carneiro permitem ver elementos potenciais de transformação. Estes são aspectos que trazem consigo a potencialidade da busca, da procura, de ver entre os fragmentos da realidade a luz que ilumina e transforma. Esta é uma bênção da vontade, do ímpeto salvífico. Já a quadratura entre Vénus em Peixes e Júpiter em Gémeos traz consigo a estruturação do bem. Curiosamente, esta são duas constelações representadas de forma mitológica pelo amor: em Peixes, Afrodite e Cupido; em Gémeos, Castor e Pólux. O trígono entre Marte em Caranguejo e Vénus em Peixes que antecede, na já enunciada via de culminação, o mesmo aspecto mas com Saturno vai servir de apelo ao caminho do meio, à via da moderação. Actualmente, a prudência, a temperança é tão esquecida quanto necessária. A arte e a nobreza de colocar racionalidade nas pulsões são por vezes o que resta à humanidade e, em especial, aos seus líderes. Se não existirem, o abismo torna-se mais próximo.

   O eclipse solar de 29 de Março, o último do actual ciclo nodal no signo de Carneiro, apresenta-nos os riscos de colocarmos as nossas angústias e os nossos anseios em certas lideranças. O manto de sombra cai hoje de forma muito notória nos perigos de semear as autocracias no seio das democracias modernas. Existe também, apesar de certos esforços ilusórios de paz, um perigo iminente de continuação e alastramento de certos conflitos mundiais. Quando é mais fácil dar dinheiro para o armamento e a guerra do que para a pobreza e a desigualdade, revelamos uma humanidade doente. No entanto, antes e depois da sombra, temos de continuar sempre a procurar a luz.