Reflexões Astrológicas
Lunações
Lua Nova em Aquário
19h05min, 11/02/2021
Decanato: Lua
Termos: Marte
Monomoiria: Marte
O encontro dos luminares dá-se depois do ocaso, estando portanto
a luz sob o horizonte e na sexta a contar do Horóscopo. Ora, na Astrologia Antiga,
a VI é comummente designada de Má Fortuna (κάκη τύχη) e forma com a XII um
eixo que Manílio define do seguinte modo: “porta
laboriis erit: scandendum est atque cadendum” (Astronomica II, 870: “a porta
do trabalho serão: por uma se sobe e
pela outra se desce”). Existe neste lugar uma tensão de incumprimento que
é, em certa medida, a mais intensa de toda a estrutura de casas, pois não só
não se une ao Horóscopo, como está sob o horizonte. A sua posição é, todavia,
compensada pela união benéfica com o Ponto de Culminação (MC), mostrando que a
dinâmica do esforço pode torná-la efectiva, desde que a sua passividade se
transforme em trabalho, em actividade.
O novilúnio de Fevereiro ocorre, deste modo, no lugar de
Virgem, o mesmo signo que se encontra no Horóscopo e que na lunação anterior se
encontrava na Culminação. Se Virgem é o signo do cuidar e Aquário é o signo do
transformar, compreendemos pois como uma potencialidade de acção continua a
marcar um caminho, sem contudo se efectivar. O facto da Lua Nova dar-se na VI
mostra que esta via ainda está por cumprir. Paulo de Alexandria dizia que este
era um ἀπόκλιμα φαῦλον, ou seja, um declínio débil,
definindo-a igualmente como ποινέ, retribuição, castigo
ou vingança (Introdução, cap. 24). Já
Fírmico Materno define esta casa como infelix
regio (região funesta) ou rebusque inimica futuris (inimiga das acções futuras), dizendo que
é vitio fecunda nimis (demasiado fecunda em maldade). Por tudo
isto designa a VI de locus piger, de
lugar passivo (Mathesis, II, 19, 7).
A razão pela qual se deve acentuar o valor da casa em que
se dá este novilúnio prende-se sobretudo ao enorme potencial que ele encerra.
No entanto, é a qualidade da casa que permite que se veja nesse potencial uma
acção por efectivar. De igual modo, o facto dos planetas que se encontram em
Aquário, junto dos luminares, estarem quase todos sob os raios do Sol confirma
essa qualidade primordial, pois estar sob os raios implica sempre uma
ocultação. Quando estamos muito perto da luz, não conseguimos ver o que a
rodeia. Saturno é único que está para além dos raios, tornando assim a sua
acção mais dinâmica. Essa será particularmente intensa na quadratura que faz
com Úrano. Não podemos nós ver aqui todas as dificuldades em torno das vacinas?
O processo será mais longo que o esperado? A sua eficácia perante as mutações
do vírus pode torná-las sazonais? Os países mais pobres continuarão a não ter
acesso? E a natureza humana, no seu desejo desmedido de sobrevivência, continuará
a corromper todo o processo? Mais uma vez a sabedoria (IX) não está ao serviço da
humanidade (VI). Isto é algo que podemos encontrar também na presença de
Neptuno em Peixes na VII. A necessidade de empatia e compaixão continua a ser
um imperativo e as várias formas de ilusão – os negacionismos – impedem que se
preste uma verdadeira atenção ao outro. A negação tem sempre uma agenda de
anulação e essa anulação passa por um desvalorizar do outro.
Por outro lado, aquilo que se esconde sob raios do Sol -
e da Lua - encerra todo um potencial de transformação. A luz do Sol e da Lua,
embora sob o manto do horizonte, une-se à dádiva do bem (Vénus e Júpiter). A
luz e a dádiva têm entre si, como elemento de passagem, o silêncio, a palavra
guardada (Mercúrio Retrógrado). E é a palavra, no ventre do silêncio, cingindo
a luz e a dádiva, que se estende até corpo do Dragão da Lua, aquele que vai da
sabedoria (Sagitário) ao conhecimento, à expressão dessa mesma palavra
(Gémeos). Esse Dragão alonga-se da cabeça à cauda, ladeando o eixo da fundação (IV)
ao cume (X), o que reforça o valor do caminho. A sabedoria da palavra torna-se,
desta forma, a dádiva da luz. Algo que é confirmado pelo facto da conjunção
Vénus-Júpiter se encontrar no decanato de Mercúrio, nas termos de Vénus e na monomoiria de Mercúrio. Existe uma
mensagem que está por cumprir e essa mensagem pode ser encontrada tanto no
silêncio como na palavra ignorada e rejeitada.
Se temos, por um lado, uma concentração em Aquário que uns chamam de Stellium e outros, mais antigos, falam de co-presença, pois estar presente implica uma partilha de ser que é temporal e espacial, temos então, por outro lado, o trígono entre de Plutão em Capricórnio (V) e Marte em Touro (IX), mediado por Neptuno em Peixes (VII) e que forma, com cada um deles, um sextil. A partir da V, da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), a Morte adquire um valor de criação, pois o conhecimento de si transforma a morte em renascimento, e transmite-a para a uma vontade de crescer, para o desejo ardente de ser Deus (a IX, θέος), de resgatar o absoluto que pertence à terra. Esse caminho do valor da morte para o desejo indomável de estabilizar a paixão e vencer o desumano, tornando-se deus, é construído pela via do amor universal (Neptuno). No entanto, para trilhar esse caminho, para passar do amor universal e chegar ao divino, temos de ultrapassar a bênção, que é também um desafio, que se encontra na VI, naquela concentração astrológica que une luz, silêncio e dádiva. Esse é a proposta desta Lua Nova que se estenderá para além da lunação.
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