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quarta-feira, 19 de março de 2025

Reflexões Astrológicas 2025: Ano Novo Astrológico

  Reflexões Astrológicas


Ingressos


2025 – Ano Astrológico

Lisboa, 09h02min, 20/03/2025

                 

Sol

Decanato: Marte    

Termos: Júpiter  

Monomoiria: Marte        

 

   O início do Ano Astrológico ocorre, por convenção vernal e por influência da tradição astrológica do hemisfério norte, com o ingresso do Sol no signo de Carneiro, logo no decanato de Marte, nos termos de Júpiter e na monomoiria de Marte. Note-se, neste ponto preliminar, que se fosse seguida a tradição do Thema Mundi, então o início do Ano Astrológico aconteceria com o ingresso do Sol em Caranguejo, o que estaria em harmonia com os primórdios da espiritualidade pagã e com a relação primordial do humano com a luz celeste. Os solstícios e as lunações são as celebrações mais antigas e mais enraizadas nessa relação. No entanto, a tradição vernal do hemisfério norte tornou-se dominante e essa é a que de forma mais agregadora aqui se segue.

   A Lua encontra-se, neste ingresso, fora do seu segmento, em Sagitário, no mesmo elemento do que em 2024, em Fogo, quando se encontrava em Leão, e no decanato de Mercúrio, nos termos de Júpiter, tal como em 2024, e na monomoiria de Saturno. A presença da Lua num signo masculino e no elemento Fogo não lhe é naturalmente favorável, pois constitui uma desarmonia que não conduz à expressão das suas qualidades primárias e inatas. Para a hora de Lisboa, Touro está a marcar a hora, colocando assim o Sol na XII, no Lugar do Mau Destino (κακν δαίμων), e a Lua no Lugar da Morte (θάνατος). A luz, embora sob olhar triangular, encontra-se assim em debilidade, pois a natureza dos lugares que ocupa enfraquece a sua expressão.

   À semelhança daquilo que se enunciou na reflexão astrológica do ano passado, a questão do regente do ano, tal como é simplisticamente colocada pela astrologia de massas, assenta ou em premissas erradas ou em metodologias incoerentes. Dever-se-á considerar, deste modo, como primeira premissa, a força planetária dominante aquando do início do ano astrológico. A análise das dignidades revela, excluindo-se primeiramente os transaturninos, um enfraquecimento de todas as forças planetárias. A Lua, pelas condições já referidas, vê então a sua natureza feminina e essencial comprometida. Os benéficos estão ambos nos signos do seu detrimento, Vénus em Carneiro e Júpiter em Gémeos. Depois tanto Vénus como Mercúrio encontram-se retrógrados e sob os raios do Sol. Sobram assim os maléficos. Marte está em Caranguejo, no signo da sua queda. Saturno, não estando favorecido, é o que se encontra numa posição menos desfavorável. Para o tema de Lisboa, Saturno encontra-se na XI, no Bom Destino (ἀγαθόν δαίμων), e numa via ascendente, só suplantada por Plutão que se encontra conjunto ao Ponto de Culminação. Desta forma, segundo a premissa das dignidades, Saturno tem sobre o ano astrológico de 2025 uma força mais dominante.

   Um outro critério de análise é o dos ingressos anuais. Ora os planetas de Mercúrio a Júpiter, inclusive, pela duração dos seus ciclos são compreensivelmente excluídos. Depois de Saturno a Plutão, com a excepção deste último que permanecerá em Aquário, vão todos ingressar no signo seguinte: Saturno e Neptuno em Carneiro e Úrano em Gémeos. Este critério, em conciliação com o anterior, intensifica a predominância de Saturno. Porém, pelo tempo que cada um permanecerá nesse signo, o ingresso de Neptuno em Carneiro e de Úrano em Gémeos são, do ponto de vista da astrologia mundana, de grande importância. A retrogradação levará, todavia, a que esta mudança seja para já um anúncio, pois ambos vão retornar, em 2025, ao signo de partida. Neste ponto, também Saturno retornará a Peixes.

   Em 2025, a influência de Saturno, quer em Peixes, quer em Carneiro, torna-se assim uma expressão do tempo, do destino e da necessidade, uma que se vai relacionar necessariamente com os novos ciclos de Úrano, Neptuno e Plutão, mas também com a mudança do eixo nodal de Carneiro-Balança para Peixes-Virgem e por conseguinte com os eclipses anuais. Por outro lado, o ingresso de Júpiter em Caranguejo permitirá que, durante o período em que Saturno estiver em Peixes, os dois se unam triangularmente. Esta é a uma bênção que diverge das quadraturas Júpiter em Gémeos e Saturno em Peixes e Júpiter em Caranguejo e Saturno em Carneiro. Existe também uma outra dádiva que é a união dos benéficos no signo de Caranguejo. Nesse momento, a Grande Mãe, a Deusa da qual tudo nasce e à qual tudo retorna, dar-nos-á a possibilidade de receber as suas bênçãos. Nesses dias, as potencialidades do signo de Caranguejo vão alcançar uma expressão maior.   

   Epicteto, nas suas Diatribes, diz-nos o seguinte: “Onde, então, está o progresso? Se algum de vós, ao afastar-se das coisas exteriores, voltou-se sobre a sua capacidade de escolha, aperfeiçoando-a e exercitando-a, de modo a torná-la harmoniosa à natureza, elevada, livre, desimpedida, desembaraçada, leal, digna; e aprendeu que não é possível ser leal e livre quem deseja ou evita as coisas que não estão sob seu encargo, mas é necessário modificar-se e vagar junto com elas, bem como sujeitar-se aos que podem provê-las ou impedir o acesso a elas.(I.4, 18-9, trad. Dinucci, 64-5. Coimbra, 2020: Imprensa da Universidade de Coimbra). A lição de Epicteto é importante neste ponto, pois fixa a liberdade no que depende de si. Essa é a dádiva. O destino coloca o seu peso, a sua gravidade, sobre o humano, trazendo fortuna ou infortúnio, logo não é nos acontecimentos, nas coisas exteriores, que reside a liberdade. A liberdade pertence ao carácter, pertence à alma, está nas mãos do humano que se volta para si mesmo e aí encontra o seu livre arbítrio. Colher a luz da dádiva e receber a Grande Deusa, o poder da origem, é uma escolha. Bebendo de Dante, no Inferno, somos sombras e sombras vemos, mas no Paraíso, diante da Rosa Mística, elevamo-nos no amor que move o céu e as estrelas. 

   A leitura do Segmento de Luz (αἵρεσις) favorece também a acção benévola de Saturno, pois estando no seu próprio segmento e acima do horizonte vê a força maléfica contida. No caso dos maléficos, poder-se-ia dizer que o Segmento confere um carácter de luz de maximus minimus e minimus maximus, ou seja, o maléfico que pelo segmento tem uma luz maior, tem uma acção malévola menor, e o que tem uma luz menor, tem uma acção malévola maior. Desta forma, no tema do novo ano astrológico, Saturno concede as bênçãos do tempo e da necessidade e Marte fere com tensão e discórdia. Este factor vai firmar a influência predominante de Saturno no ano de 2025. Lembremo-nos que, face à sua retrogradação, Marte oferece um caminho de repetição nos signos de Caranguejo e Leão.

   Um outro aspecto que também deve merecer a nossa atenção é o facto de, tanto no tema do ano astrológico de 2025 como no de 2026, Mercúrio se encontrar retrógrado. No tema de 2026, Mercúrio passará a directo cerca de 5 horas após o ingresso do Sol em Carneiro. Estas retrogradações de Mercúrio vão acentuar, por um lado, as dificuldades de comunicação e a corrupção do poder da palavra e, por outro, uma vez que em 2025 Mercúrio está em Carneiro e em 2026 em Peixes, vão relevar a necessidade de reintegrar os sentidos profundos e anteriores na construção de um novo pensamento e de um novo discurso, ou seja, a memória servirá o pensamento futuro. O desafio apresenta-se também por passar de uma mensagem que fere e que cria divergência para uma que agrega e que imprime um valor de totalidade. Algo que é tão difícil nos nossos tempos.

   Existe uma certa tendência astrológica contemporânea para fixar a maioria dos sentidos da astrologia mundana nos movimentos planetários de Úrano, Neptuno e Plutão, transformando-os depois numa realidade astrológica individual, quando, na verdade, Júpiter e Saturno são os maiores indicadores dessa significação e, neste caso, com uma melhor conciliação entre o individual e o colectivo. Séneca dizia que “Um homem que entende o dever como limite rigoroso ao poder, pode exercer o seu poder sem perigo para os demais.” (Ep.90.4; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).

   A união do Dever (Saturno) ao Poder (Júpiter) representa assim um desafio político e civilizacional de todo o ciclo astrológico. Quando Marte actua sobre o dever, transforma-o em raiva e em vingança e quando actua sobre o poder, transforma-o em ganância e em crueldade. Por isso, diz o estoicismo antigo que devemos dominar as paixões. A alma serena sabe cumprir o seu dever enquanto a alma prudente serve o poder sem se servir. Ora isto não se implica apenas aos líderes. Num tema, exercemos domínio e controlo sobre as potencialidades de Mercúrio, Vénus e Marte e entregamo-nos às de Júpiter e Saturno.

   Em 2025, vai-se firmar a passagem do eixo nodal de Carneiro-Balança para Peixes-Virgem, ou seja, de um eixo de identidade para um de integração. Dos quatro eclipses anuais, três ocorrem neste segundo eixo e um acontece ainda no anterior. Primeiramente, devemos lembrar-nos que o Dragão da Lua transmite um sentido que se estende da compreensão do destino, da gravidade daquilo que não pode ser mudado (Cauda Draconis), até à revelação da necessidade, de que existe um propósito, uma finalidade, em tudo o que acontece (Caput Draconis). Os eclipses lunares de 14 de Março e de 7 de Setembro, com o primeiro com a Lua em Virgem e o segundo em Peixes, trazem consigo o peso da sombra, da escuridão, da ocultação da luz, sobre o sentido da integração da parte no todo e do todo na parte. Já o eclipse solar de 21 de Setembro, com o Sol e a Lua em Virgem, vai acentuar o obscurecimento do valor da parte, ou seja, a parte não encontra o seu lugar na visão do todo, no sentido da totalidade. Pelo peso da sombra, as coisas separadas perdem-se, desintegram-se.

   Para além da mudança do eixo nodal, as mudanças de signo de Júpiter e Saturno trazem uma marca distintiva ao novo astrológico. A 25 de Maio, Saturno ingressa em Carneiro, onde permanecerá até 1 de Setembro, e a 9 de Junho, Júpiter ingressa em Caranguejo. Saturno em Carneiro absorve a agressividade e a impetuosidade do seu novo lugar. Este é certamente o Cronos da Titanomaquia, da guerra entre a velha e a nova ordem. Os Titãs são deuses elementais que nascem de Gaia (matéria) e de Úrano (forma), enquanto os deuses do Olimpo tornam-se progressivamente deuses ideais ou arquetípicos. Esta é uma luta de sentido, de poder ou fundamento espiritual. Já Júpiter em Caranguejo indica o regresso do princípio masculino à sua origem, ao Divino Feminino. Encontramos aqui relação de Zeus com Reia, sua mãe, e com Gaia, sua avó. É o jovem Zeus que vemos, por exemplo, em Creta a iniciar-se nos mistérios do feminino.

   Quanto aos transaturninos devemos destacar, em primeiro lugar, o facto de que com os novos ingressos vão estar os três em signos masculinos, o que, juntamente com o ingresso de Saturno em Carneiro, vai definir um novo elemento distintivo. A sua acção será mais expressiva, revelando, em termos colectivos, um potencial maior tanto em termos criativos como em termos destrutivos. Quando se encontram em signos femininos, a sua acção é mais subtil, porventura até mais refinada. São portanto de esperar transformações geracionais mais radicais e, em certa medida, mais violentas. Por exemplo, a conjunção de Saturno e Neptuno em Carneiro tornar-se-á uma força motriz para novos nacionalismos e para novas expressões ideológicas e governativas do autoritarismo e do totalitarismo. A ilusão do poder e da guerra fere a acção humana.

   Neptuno entra no signo de Carneiro a 30 de Março, regressando a Peixes a 22 de Outubro. Já Úrano ingressa em Gémeos a 7 de Julho e regressa a Touro a 8 de Novembro. Os movimentos planetários directos e retrógrados, em 2025, vão ser particularmente significados, encerrando um sentido passagem entre o progresso e a consolidação, sem que por isso exista um quadro valorativo inato. Nuns casos, essa passagem fundamenta a destruição e a discórdia, noutros, a transformação e a inovação. Ora Úrano estará retrógrado de 6 de Setembro a 4 de Fevereiro de 2026, Neptuno de 4 de Julho a 10 de Dezembro e Plutão de 4 de Maio a 14 de Outubro. Já Júpiter estará retrógrado de 11 de Novembro a 11 de Março de 2026 e Saturno de 13 de Julho a 28 de Novembro. O poder da potência, a serenidade do sábio, poderá ser mais forte que o poder da acção, a perícia do guerreiro.

   Paralelamente, o ingresso de Úrano em Gémeos vai fomentar sobretudo um novo paradigma comunicacional e tecnológico. Vai passar-se do paradigma da sustentabilidade, das alterações climáticas e da economia verde para o da inteligência artificial e da destruturação dos media tradicionais, contaminados pelo facilitismo da desinformação e pela permeabilidade aos interesses político-económicos e incapazes de acompanhar a velocidade da informação. Por outro lado, o imediatismo dessa mesma informação, animado pelas dicotomias geminianas, levará necessariamente à perda de rigor e à corrupção da verdade.

   No que aos transaturninos concerne, existirá a marca de um intenso período de transformações. A marca da guerra e dos conflitos está sobre o horizonte. Os dois sextis que unirão Plutão em Aquário a Neptuno (e Saturno) em Carneiro e este a Úrano em Gémeos vão ser um elemento distintivo dos tempos que se avizinham. São como a ponta de uma seta que fere a acção humana e as suas escolhas, ou seja, é como se já existisse uma tendência natural na possibilidade. Em certo sentido, apesar da primordialidade do bem, existe uma propensão visceral para o mal.

   Quanto à geometria de aspectos no tema do ano novo astrológico deve-se olhar primeiramente para os aspectos ao Sol. Já referimos o olhar triangular do Sol e da Lua e a presença de Mercúrio e Vénus sob os seus raios. A quadratura do Sol em Carneiro a Marte em Caranguejo tem um sentido que se espelha na quadratura da Lua em Sagitário a Saturno (e Neptuno) em Peixes. Os maléficos que se olham triangularmente fixam o seu olhar, como com o gume de uma espada, nos luminares. A luz recebe a acção transformadora da destruição e da discórdia. Nem sempre o bem é o motor da transformação.

   A acção dos maléficos produz, por vezes, a base, o substrato radical, de uma revolução, de uma transformação profunda. A humanidade nunca mudou com gestos de assentimento e conformação. Ora a quadratura da Lua ao Dragão da Lua, embora não no funesto grau do ângulo recto, vai produzir algo semelhante, mas neste caso por acção da Providência, da força conjunta do destino e da necessidade. Os antigos astrólogos alertavam para o perigo deste posicionamento, considerando-a pior que a conjunção à Cauda Draconis. Júpiter em Gémeos também se une quadrangularmente ao Dragão da Lua, fazendo com que o destino restrinja a sua dádiva e colocando assim a Lua em Sagitário em oposição.

   Os tempos sombrios tendem a ser, ao longo da nossa história, o prelúdio de grandes transformações. No entanto, para que se alcance o progresso civilizacional, é necessário passar por períodos de tensão e obscurantismo. A noção de propósito e finalidade, do sentido da Providência, mesmo que através da destruição, é corroborado pela conjunção de Saturno em Peixes à Caput Draconis e pelo trígono de Marte em Caranguejo a esta co-presença. Por outro lado, como nem tudo nasce de tensões, a acção do bem também faz o seu caminho, o sextil do Sol (e de Mercúrio e Vénus) em Carneiro a Júpiter em Gémeos e o trígono da Lua em Sagitário a Vénus em Carneiro surgem como dádiva e caminho.

   Existe hoje uma certa astrologia que teme a designação de benéficos e maléficos, uns porque a consideram, erradamente, maniqueísta, outros que, num espírito new age simplista, pensam que é tudo arco-íris e unicórnios, que só existem tendências, que tudo pode ser mudado, que tudo tem um lado bom. Infelizmente, a realidade não é assim. Só se pode compreender o valor da dádiva, de uma bênção, se se interiorizar o valor da sua ausência e do caminho de agruras para a alcançar. E sim o mal existe. A ignorância é, por exemplo, o maior dos males.

   Vénus em Carneiro e Júpiter em Gémeos trazem-nos as bênçãos do amor em acto e da bondade da palavra. Nos nossos tempos, nestes tempos sombrios, estas são duas dádivas com um potencial imenso, todavia, como qualquer tesouro, exigem primeiro disponibilidade e depois demanda, o que nem sempre é fácil. Curiosamente, existe um outro tesouro, o Sol, Mercúrio, Vénus e a Lua unem-se hexagonalmente a Plutão em Aquário que, por sua vez, se une triangularmente a Júpiter. Esta é a bênção que permite encontrar os vestígios da luz e do bem por entre os destroços, nas ruínas da realidade, porque sim Plutão é morte e destruição, não é o festival hippie que nos querem vender. Encontrar uma semente fértil na terra queimada é uma bênção de Plutão. Hades e Perséfone guardam no interior da Terra a dádiva da semente que germina. Neste novo ano astrológico, esta será assim uma dádiva no caminho.

   O Ano Astrológico de 2025 é, em suma, um tempo de desafios, de tensão e discórdia. Em termos pessoais, podemos encontrar marcadores benévolos de transformação, mas, em termos mundanos ou globais, este será um ano de limiar em que os conflitos, a guerra, a ignorância definem o peso do destino e o modo como a necessidade força a humanidade a mudar, a tornar-se mais consciente do espírito e dos valores que revelam o humano. Somos humanos, mas escolhemos ser humanidade.  

terça-feira, 19 de março de 2024

Reflexões Astrológicas 2024: Ano Novo Astrológico

  Reflexões Astrológicas


Ingressos


2024 – Ano Astrológico

Lisboa, 03h07min, 20/03/2024

 

Sol

Decanato: Marte    

Termos: Júpiter  

Monomoiria: Marte        

 

   O início do Ano Astrológico ocorre, como sabemos, com o ingresso do Sol no signo de Carneiro, logo no decanato de Marte, nos termos de Júpiter e na monomoiria de Marte. Já a Lua encontra-se, neste ano, no seu próprio segmento, em Leão, no mesmo elemento do Sol, em Fogo, e no decanato de Saturno, também nos termos de Júpiter e na sua monomoiria. A posição da Lua é aqui particularmente significativa, pois, daqui a um ano, aquando do início do Ano Astrológico de 2025, estará em Sagitário, completando-se, deste modo, o triângulo de Fogo. A Lua em Fogo está em desarmonia, masculinizada por um elemento dinâmico que a torna irascível e visceralmente instintiva. Para a hora de Lisboa, Capricórnio está a marcar a hora, colocando assim o Sol na IV, no Lugar sob a Terra (ὑπόγειον). O poder da finalidade ergue-se pois como o leme do ano, um que culmina na morte (Ponto de Culminação em Escorpião).           

   O Sol, encerrado no Lugar sob a Terra (ὑπόγειον), conserva em si um valor de gérmen, de potência de luz. A acção da luz (Sol em Carneiro) está guardada entre as mãos, como dádiva do futuro. Epicteto diz-nos o seguinte: “Fixa, a partir de agora, um carácter e um padrão para ti próprio, que guardarás quando estiveres sozinho, ou quando te encontrares com outros.(Encheiridion 33.1, trad. A. Dinucci & A. Julien, p.56. Coimbra, 2014: Imprensa da Universidade de Coimbra). A frase de Epicteto surge como indicador daquele que pode ser o regente ou os regentes do ano. Numa análise astrológica mundana, fixar um único regente para todo o planeta é metodologicamente errado e qualquer astrólogo rigoroso evitará esse diagnóstico. No entanto, a análise dos planetas com maior força ou poder (δύναμις) torna-se ela mesma imperativa.

   Para o tema de Lisboa, logo para Portugal, Saturno, por ser o regente do signo que marca a hora, será um planeta com força ou poder reforçado no ano de 2024, já a Lua em Leão é o único astro acima do horizonte, o que lhe confere o poder da luz visível, embora esta esteja num lugar inactivo e sob um olhar diametral tenso (Marte e Plutão). Face ao tema simbólico de Portugal e a uma tradição astrológica que faz de Peixes o seu signo regente, Saturno, a transitar por esse mesmo signo, torna-se assim um regente significativo. Já de uma perspectiva geograficamente indeterminada, Vénus é o planeta que tem mais força, pois aquando do ingresso vernal encontra-se no seu signo de exaltação (Peixes) e nos seus próprios termos. Mercúrio e Júpiter gozam também desta última dignidade, todavia a força de Vénus é maior. Esta encontra-se para além dos raios solares, numa posição dianteira, como Estrela da Manhã. A fase helíaca vai aumentar o seu poder.  

   Se regressarmos à frase de Epicteto, podemos compreender melhor a questão do regente ou dos regentes do ano astrológico de 2024. De um lado, temos Vénus em Peixes, o planeta mais dignificado, mas, no mesmo signo, temos também Saturno, que exerce pressão determinante sobre o período em causa. Os planetas em Peixes surgem, neste ano, como a potência de valor para a acção do Sol em Carneiro. Nesse sentido, é fundamental fixar, como diz Epicteto, um carácter, um padrão que sirva o próprio e a sua relação com os outros, ou seja, que firme a partir do interior a acção exterior, tanto individual como colectiva. Vénus e Saturno não são um par improvável, dado que o Amor e o Tempo caminham a mesma via. Só semeando se poderá depois ceifar. Porém, esta influência exercer-se-á sobretudo na primeira estação do ano, Primavera no hemisfério norte e Outono no hemisfério sul.

   De um outro modo, se, por um lado, temos em 2024 a permanência de Saturno no mesmo signo, em Peixes, por outro lado, temos Júpiter e o seu ingresso em Gémeos. O senhor da justiça e do bem, regendo o espaço, será também um regente do futuro. Ao ingressar em 2024 num signo de Ar, marca o tempo de influência que se iniciou com a grande conjunção em Aquário, em 2020, e se estenderá até 2060 com o encontro de Júpiter e Saturno em Gémeos, passando pela conjunção de 2040 em Balança. Em 2024, o ingresso de Júpiter em Gémeos torna-se particularmente significativo, pois possui elementos radicais desse ciclo mundano. No entanto, ao ingressar em Gémeos, Júpiter passará a olhar quadrangularmente para Saturno em Peixes, intensificando-se o carácter estruturante dessa relação.    

   A questão do regente do ano não pode limitar-se a uma redução numerológica, nem a uma sequência planetária, seguindo uma qualquer ordem, como, por exemplo, a ordem caldaica. Na verdade, como se percebe pela explanação anterior, não é possível reduzir a questão a um único planeta, pois os critérios de análise e determinação são plurais. Desta forma, podemos concluir que Vénus, Saturno e Júpiter vão ter uma força reforçada. No entanto, também Marte tem uma influência especial, uma vez que é o regente de Carneiro onde se encontra a Caput Draconis, determinando o actual ciclo nodal de eclipses. Marte terá assim uma relação óbvia com o Dragão da Lua e com sentido profundo do destino e da necessidade. Existe também um outro critério que eleva a influência de Marte em 2024. A conjunção dos maléficos que ocorre, mais ou menos, de dois em dois anos, firma-se agora no signo de Peixes, ou seja, Marte e Saturno vão exercer uma influência conjunta entre 22 de Março a 30 de Abril.

   Convém, no entanto, frisar-se um aspecto que determina com frequência muitas das interpretações. A explanação do mal tende a tornar-se mais atractiva. Existe um fascínio por aquilo que destrói, todavia, tende-se a ignorar que a destruição é apenas uma fase do ciclo e que a destruição é antecedida e sucedida pela criação. Este encantamento do mal conduz-nos, deste modo, a um certo esquecimento da dádiva do bem. Séneca, no De Constantia Sapientis, afirma o seguinte: “Finalmente, deve ser mais forte o que danifica em relação ao que é danificado; mas a maldade não é mais vigorosa do que a virtude; o sábio, portanto, não pode ser danificado. A injúria contra os bons só é tentada pelos maus; os bons, entre si, vivem em paz, os maus são tão perniciosos aos bons quanto entre si. Mas se não possível danificar a não ser o mais fraco, e o mau, por outro lado, é mais fraco que o bom, e os bons só devem recear injúria de quem não é bom, a injúria não atinge o homem sábio. Com efeito, já não é mais preciso ficar-te relembrando de que ninguém é bom, excepto o sábio.” (7.2, Séneca, Sobre a Providência Divina e Sobre a Firmeza do Homem Sábio, ed. R. da Cunha Lima, p. 90. São Paulo, 2000: Nova Alexandria).

   No tema do Ano Novo Astrológico, esta prevalência da sabedoria e do bem pode ser observada na relação entre os benéficos. Ora Vénus encontra-se num signo regido por Júpiter e é também o regente da triplicidade diurna de Júpiter e este encontra-se num signo regido por Vénus, sendo também o regente do decanato em que esta se fixa. Existe uma interdependência no valor da dádiva do bem, dando forma à afirmação de Séneca e mostrando como a sabedoria e o bem não se deixam afectar pela acção do mal. A retrogradação dos maléficos, de Saturno de 29 de Julho a 15 de Novembro e de Marte de 6 de Dezembro a 24 de Fevereiro de 2025, servem essa suspensão da acção do mal através da interiorização do potencial do bem. Essa ponte da potencialidade à acção, do pensamento ao acto, relembra-nos que a sabedoria é imperativa e que não se deixa ferir, pois ela é em si mesma o bem supremo, ou seja, a ignorância estende-se, mas não faz caminho.

   De igual forma, a retrogradação de Júpiter, de 9 de Outubro a 4 de Fevereiro de 2025, já com este em Gémeos, traz-nos também essa ponte, mas com algumas diferenças. Neste período, existirá um movimento que nos lembrará, colhendo os dons do signo de Gémeos, que a palavra e o conhecimento são vias de transformação, ou seja, neste caso, precisa de existir um reconhecimento positivo da dádiva da sabedoria. Já no que concerne aos transaturninos é preciso referir também as retrogradações e dizer-se que, pela sua própria natureza, não têm o mesmo tipo de influência. Ora Úrano estará retrógrado de 1 de Setembro a 4 de Fevereiro de 2025, Neptuno de 2 de Julho a 12 de Outubro e Plutão de 5 de Maio a 12 de Outubro. Destes planetas, quer no período de retrogradação, quer no seu movimento directo, só Plutão mudará de signo. De 3 de Setembro a 19 de Novembro, regressará pela última vez a Capricórnio. Esta é, na nossa era, a última oportunidade de assimilação da sua mensagem.

   No entanto, devemos relembrar que estes planetas avançam muito pouco num ano. Úrano trilhará em diante cerca de quatro graus e meio, Neptuno pouco mais de dois graus e Plutão quase dois graus. Assim, é com cautela que se deve interpretar a sua influência anual e sobretudo a influência pessoal. Será portanto aconselhável circunscrever a orbe de análise. Existe um extravasar de sentidos acerca da influência destes planetas que é, por vezes, descabida. Quando Plutão ingressou em Aquário, estando neste signo cerca de vinte anos, ouviu-se e leu-se disparates como por exemplo: “entrou na minha casa IV, um dos pais pode morrer”, “entrou na casa VI, indica doença grave” ou “entrou na casa VII, vai existir um divórcio”. Em vinte anos, é natural que qualquer uma dessas coisas possa acontecer, sem que que o responsável directo seja Plutão. O estudo astrológico é sempre holístico, ou seja, é uma visão do todo.  

   Na análise mundana de um ano astrológico, o tema do ingresso vernal e a evolução dos movimentos planetários até ao ingresso seguinte é o primeiro indicador. A este deve, porém, seguir-se o estudo dos eclipses, sobretudo por duas razões: a primeira assenta no facto de os eclipses serem expressões radicais da luz e da sombra, logo dos luminares, e a segunda por a sua influência se estender durante meses ou anos. Em 2024, existirão quatro eclipses: dois eclipses lunares, a 25 de Março e a 18 de Setembro, e dois eclipses solares, a 8 de Abril e a 2 de Outubro. Todos estes eclipses ocorrem no eixo Carneiro-Balança, logo no eixo de sentido entre a unidade e a dualidade. No entanto, antes do ano terminar, o Dragão da Lua passará para o eixo Peixes-Virgem, ou seja, para a ponte de sentido entre a parte e o todo, entre o conhecimento do lote e a sabedoria da totalidade. Passar-se-á então de eixo de identidade para um de integração.

   No tema do actual ingresso vernal, a interpretação das relações planetárias pode agora começar pelos transpessoais, pois existe com a mudança de signo de Plutão uma alteração no paradigma. Com Úrano em Touro, Neptuno em Peixes e Plutão em Capricórnio, existe uma harmonia entre estes planetas (sextil e trígono), mas, com Plutão em Aquário, este passará a estar em quadratura com Úrano e desligado, sem aspecto ptolemaico, face a Neptuno. Esta mudança representará não um qualquer deslumbramento aquariano, mas sim um agravamento de muitas das tensões que já se encontram latentes. Se não nos esquecermos que Aquário é primeiramente regido por Saturno e se observarmos no tema vernal como Marte e Plutão estão conjuntos neste signo, podemos concluir que existe uma corrupção nas estruturas de poder e na forma como estas se relacionam com as populações. A ligação de Marte e Plutão em Aquário ao Dragão da Lua (trígono à Cauda e sextil à Caput) coloca a destruição actual na urdidura da providência. A desagregação dos valores democráticos e o avanço da extrema-direita e do populismo são disso exemplo e a chegada, em 2025, de Saturno e Neptuno a Carneiro adensará os perigos que estão à espreita.

   Mercúrio que, em Carneiro, teria posição particularmente, por estar para além dos raios solares, mas como Estrela da Tarde e conjunto à Caput Draconis, poderá adquirir um valor de sentido ambíguo, apontando, por um lado, para o ímpeto da palavra criativa e, por outro, para a palavra que confunde, que deturpa e que promove a mentira como verdade. O destino e a necessidade pesam sobre palavra e conduzem o humano ao seu enigma primordial: para escolher a sabedoria é preciso seguir a via da verdade e esta implica sempre uma qualquer forma de angústia e de revelação. O sextil do Sol, de Mercúrio e da Caput Draconis em Carneiro a Marte e Plutão em Aquário e o trígono à Lua em Leão firmam um elo entre liberdade e destruição. No tema de Lisboa, o Ponto de Culminação encontra-se em Escorpião, logo numa posição que é quadrangular face aos seus regentes (Marte e Plutão em Escorpião). Existe um fenómeno de desagregação do humano como senda de possibilidade da criação de uma nova humanidade ou como via para uma nova extinção. O abismo abeira-se.

   Por o tema de Lisboa dignificar o segmento de luz nocturno, Vénus torna-se o grande benéfico e, por estar exaltada e nos seus próprios termos, ganha uma força reforçada. Desta forma, Afrodite expande o amor no domicílio de Júpiter, onde também se encontra Saturno e Neptuno, o seu regente moderno de Peixes. Este será um lugar de dádiva, a partir do qual se poderá expandir o seu sentido radical. O sextil a Júpiter e Úrano em Touro recuperam naturalmente o tema da Grande Mãe, da Mãe Terra e do Divino Feminino. No entanto, este é um númen que continua oculta entre o crepúsculo e a aurora. A quadratura da Lua em Leão a Júpiter e a Úrano em Touro e destes a Marte e a Plutão em Aquário impedem a dignidade espiritual do Divino Feminino e o reconhecimento da nobreza de espírito da sua dignificação. A nova ecologia precisa espiritualidade do feminino e a sociedade também.  

   O ano astrológico de 2024 aponta para um sentido que exalta a criação de pontes, de elementos de passagem. Vénus e Saturno, o desejo de criar e a necessidade de destruição, vão colocar o humano sob a égide radical desse factor de transformação. Existe pois uma necessidade de revalorização da dádiva do bem (Vénus e Júpiter), mostrando-nos que também entre as ruínas existem tesouros. É a luz da candeia, guardada sob o manto do sábio. O planeta que habitamos e a humanidade estão ao viver aquele momento entre eras, entre um ciclo que se fecha e um que ainda não se abriu. Em 2024, a experiência do limiar tornar-se-á, desta forma, um sentido profundo.