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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Reflexões Astrológicas 2024: Eclipse Lunar Parcial (Lua Cheia Peixes-Virgem)

 Reflexões Astrológicas


Eclipses


Eclipse Lunar Parcial 

(Lua Cheia: Peixes-Virgem)

Lisboa, 03h44min, 18/09/2024

 

Lua

Decanato: Marte 

Termos: Marte

Monomoiria: Mercúrio     

 

Sol

Decanato: Mercúrio

Termos: Marte

Monomoiria: Marte   

 


   O Eclipse Lunar Parcial de dia 18 de Setembro ocorre com a Lua no signo de Peixes e o Sol no de Virgem, com Leão a marcar a hora e cerca de sete horas após o pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, estando esta acima do horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já o Sol está abaixo do horizonte, na II, no lugar do Viver (βιός). A Lua encontra-se no decanato e nos termos de Marte e na monomoiria de Mercúrio, enquanto o Sol encontra-se no decanato de Mercúrio, nos termos e na monomoiria de Marte. É desde já perceptível um certo imperativo das dignidades de Mercúrio e Marte. Ora o primeiro está conjunto ao Sol e o segundo está em trígono à Lua e em sextil ao Sol, ou seja, estes dois planetas co-participam do sentido da sombra que agora se estende, confirmando assim as estruturas ocultas ou suspensas de palavra e força que se firmam no limiar da realidade, encobertas por uma escuridão de passagem.

   Se, no eclipse lunar de 25 de Março, a proposta dracôntica era passar do eixo da identidade (Carneiro-Balança) ao eixo da integração (Virgem-Peixes), agora procura-se assimilar essa integração da totalidade tendo por sombra à identidade. O actual eclipse encontra-se a meio do caminho. O eixo dos luminares assume a mensagem da integração (Virgem-Peixes) e o corpo do Dragão da Lua conserva ainda o sentido da fase anterior, na qual a identidade surge como um enigma, como um ranger da realidade, tentando fixar o olhar e a revelação entre a luz e a escuridão.

   A sombra, sobretudo na análise astrológica e, em especial, na análise dos eclipses não tem apenas um valor psicológico, tal como aquele que encontramos, por exemplo, na psicologia analítica e nos textos de Jung. A sombra resume em si uma significação primordial e um sentido radical, pois conserva a representação do elemento de passagem entre a luz e a escuridão que ora avança, ora recua consoante o seu senhor. Não é por acaso que a doutrina astrológica do Segmento de Luz (αἵρεσις) é a primeira de todas as dignidades, e daí que a sua reabilitação, de um quase esquecimento que se estendeu do Renascimento até aos nossos dias, seja fundamental. Em termos miméticos, traduz no espírito humano a apreensão da luz e a conceptualização em torno dos luminares.  

   No tema do actual eclipse, a Lua está no seu próprio segmento e acima do horizonte, logo o valor da ocultação, da sombra que sobre ela recai, sai reforçado e torna-se determinante. A recepção da luz e da escuridão e da sombra como passagem foi uma das primeiras ideias, das grandes representações da humanidade e a astrologia preservou com mestria essa mimésis. Ora foi a partir destas ideias que todo o sistema astrológico se desenvolveu, tendo como matriz e leme o destino e a necessidade, ideias que estão guardadas pelo Dragão da Lua, pela sua cauda e pela sua cabeça. O pensamento relativo à luz e à providência serve de fundação a toda a filosofia da astrologia.  

   Cleantes de Assos diz que “O destino guia quem o segue, arrasta quem lhe resiste!(SVF 1.527b apud Sen. Ep. 107.10/ Pearson C91b: ducunt volentem fata, nolentem trahunt). A proposta de sentido que a astrologia oferece revela essa mesma distinção entre seguir e ser arrastado pelo destino. O determinismo é liberdade, o fatalismo é uma prisão. Na análise astrológica colectiva e mundana, os eclipses, tendo por base a significação radical que se enunciou, são um guia de grande valor e importância. Quer nas séries Saros, quer nos ciclos nodais podemos encontrar padrões astrológicos de sentido, elementos que servem o lugar da astrologia na história e na sua interpretação.

   O eixo Virgem-Peixes que procura a integração da parte no todo e do todo na parte, permitindo a visão do todo na consciência do valor da parte, ou seja, observando numa parte do destino a necessidade que rege o todo, está agora sob um manto de sombra. Por este ser um eclipse lunar e estando a Lua em Peixes, o sentido da totalidade encontra-se encoberto. Por outro lado, o eixo Carneiro-Balança encontra-se ainda sob um olhar electivo da Providência. A identidade tenta encontrar o seu lugar entre o destino e a necessidade. Se pensarmos que o próximo eclipse solar será ainda neste eixo (2 de Outubro de 2024), então este foco de sentido e representação torna-se mais evidente.    

   A união conceptual destes dois eixos apresenta a relação heraclitiana entre carácter e destino (fragm. 119). Ora Plutarco afirma o seguinte: “De facto, o carácter é um hábito consolidado ao longo do tempo; se alguém definir como hábito as qualidades do carácter, não deve pensar que se enganou. Darei ainda um exemplo sobre isto e depois termino este assunto. Com efeito, Licurgo, o legislador dos Lacedemónios, tomando dois cachorros dos mesmos pais, criou-os de forma diferente; a um fê-lo guloso e voraz, ao outro tornou-o capaz de seguir uma pista e caçar. Depois, um dia em que os Lacedemónios se reuniram, ele disse: «Lacedemónios, o que engrandece muito a importância da virtude são os hábitos, os princípios educativos, as lições e a conduta de vida; eu mostrar-vos-ei, de seguida, a evidência destas coisas». Então, aproximando-se dos dois cachorros, libertou-os, depois de ter colocado no meio deles um prato e uma lebre. Um dirigiu-se para a lebre, o outro precipitou-se para o prato. Os Lacedemónios, porém, não eram capazes de perceber o que isto queria dizer e o que o episódio dos cachorros significava. Licurgo, então, explicou: «Os dois nasceram dos mesmos pais, mas, por terem recebido uma educação diferente, um tornou-se guloso e o outro caçador». Sobre os costumes e os modelos de vida, estes exemplos são suficientes.” (4, 2f-3b, Plutarco: Obras Morais - Da Educação das Crianças, ed. J. Pinheiro, 37-8. Coimbra, 2008: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos). Em certo sentido, o carácter serve a identidade e como hábito ganha o valor de totalidade. No entanto, o carácter não muda os acontecimentos, muda o modo como os vivemos e, nesse sentido, é também a impressão celeste, aquando do nascimento, que explica algumas das diferenças no carácter, as quais se estabelecem para além do hábito e da linha do tempo.   

   Neste eclipse, toda esta significação será particularmente pertinente. Sob um outro olhar, mas que contempla o mesmo sentido, devemos observar a relação dos luminares no eixo Virgem-Peixes com o Eterno Feminino. Se seguirmos a sabedoria mitológica, percebemos que no signo de Virgem encontramos a deusa que parte e no de Peixes a deusa que chega. No mito de Astreia ou de Dikê, a deusa desiludida com humanidade deixa a sua morada para subir a montanha, de onde depois subirá ao Olimpo. Esta é a deusa do signo de Virgem. Já em Peixes assistimos à chegada de Afrodite à costa, trazida pelos Ikhthyokentauroi, os dois peixes-centauros filhos Cronos e Fílira. Ora, na ausência da deusa, face à sua partida, é Hermes Trismegisto que promove o caminho até ao Divino Feminino, até à sua chegada. De um ponto de vista astrológico, a exaltação de Mercúrio em Virgem e a exaltação de Vénus de Peixes e consequente queda em Virgem expressa este mesmo sentido. Com um eclipse sobre este eixo, a senda do Eterno Feminino está oculta, à espera na sombra do tempo da revelação, de um novo despertar.

   A influência temporal deste eclipse, um eclipse de transição, poder-se-á fixar, segundo uma leitura das declinações dos luminares, entre um mês e cerca de dois meses e meio, já a duração dos períodos penumbral e umbral colocam a sua influência entre um a quatro meses. No entanto, o facto de estarmos num momento de transição do eixo nodal deve também ser tido em consideração. As eleições norte-americanas estarão, por exemplo, sob a influência deste eclipse bem como do eclipse solar de 2 de Outubro. No que concerne à influência espacial, o manto de sombra estender-se-á das Américas até uma parte da Ásia, passando pela Europa e por grande parte de África. O seu centro será, todavia, na região brasileira de São Luís.

   Segundo as regências geográficas da astrologia antiga e de acordo com Vétio Valente (Antologia I, 2), Peixes rege o Eufrates e o Tigre, a Síria, o Mar Vermelho e o Mar Arábico, a Índia, a Média-Pérsia e as regiões circundantes, o rio Borístenes ou Boristene (Dniepre), a Trácia, a Ásia e a Sardenha. Manílio concede a Peixes o Eufrates, o Tigre e o Mar Vermelho, as terras da Pártia, a Báctria, a Etiópia, a Babilónia, Susa e Nínive (Astronomica IV, 800-6). Os principais conflitos mundiais de hoje estão inseridos nestas áreas. Contudo, embora a posição da Lua seja preponderante, devemos também analisar o Sol. Virgem, segundo Valente (Antologia I, 2), rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dória (Grécia), Sicília e Pérsia ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a sua influência (Astronomica IV, 763-8). De uma forma mais ténue, as regências de Carneiro e Balança devem ser consideradas. Porém, será a partir do eclipse solar de 2 de Outubro que esta influência se tornará mais activa.

   O eclipse lunar de 18 de Setembro pertence à série Saros 118, sendo o 52º eclipse de um total de 74. Apesar de este eclipse já pertencer à terceira fase da série, aquela que se segue aos eclipses totais e inclui eclipses parciais e penumbrais, a sua expressão astrológica é próxima da do eclipse matriz. Ora o primeiro eclipse desta série ocorreu a 2 de Março de 1105. A Lua e a Caput Draconis estavam em Virgem, o Sol, Vénus, Mercúrio e a Cauda Draconis em Peixes. Nesta data, Leão também marcava a hora (hora de Lisboa). Marte estava em Touro, Júpiter em Escorpião e Saturno em Sagitário. Nos transaturninos, Úrano estava em Touro, Neptuno em Leão e Plutão em Carneiro. A série Saros 118 terminará a 7 de Maio de 2403, com um eclipse no eixo Escorpião-Touro, ou seja, com a Lua em Escorpião e o Sol em Touro.

   Pode-se destacar alguns acontecimentos históricos que marcam o eclipse-matriz e o início da série 118. Continuou a reconquista cristã na Península Ibérica, com uma ofensiva contra os Almorávidas, sob o comando de Afonso VI de Leão e Castela. Durante este período, ou seja, nos meses próximos ao eclipse, várias cidades e fortalezas menores caíram nas mãos dos cristãos, embora as grandes vitórias só tenham acontecido no final do ano. O conflito entre Henrique IV e Henrique V do Sacro Império Romano-Germânico marcou o ano de 1105. O jovem Henrique V rebelou-se contra o seu pai, Henrique IV, e formou alianças com nobres que estavam descontentes com o imperador. Recebeu o apoio do Papa Pascoal II e de diversos príncipes do império, o que levou ao avanço de uma campanha militar contra o pai. A oposição entre Júpiter e Marte e a sua relação com os eixos dos luminares e do Dragão da Lua revelam esta tensão.

   Por outro lado, após o fim da Primeira Cruzada, o Reino de Jerusalém e os seus aliados europeus continuavam a consolidar o controlo sobre os territórios recém-conquistados, com algumas escaramuças entre os cruzados e as forças muçulmanas dos fatímidas do Egipto e do Emirado de Damasco. Em termos culturais e religiosos, é preciso ressalvar a expansão do movimento cisterciense e o declínio do Califado de Córdoba. Por fim, deve-se assinalar que este foi um período de fome, de más colheitas e de escassez de alimentos. A relação da Lua com os maléficos aponta nesse sentido. Todos estes acontecimentos servem o sentido de toda a série Saros, lembrando-nos da importância de cotejar o eclipse-matriz.

   O encontro quadrangular de raios tem no eclipse de dia 18 de Setembro um sentido particularmente importante. Se pensarmos na base das pirâmides de Gizé, podemos concluir que o ângulo recto, ou quase recto, possui um valor estruturante e que, no entanto, é também de tensão, pois suporto o peso, gravidade da estrutura. Neste eclipse, temos, por uma lado, a quadratura entre a Lua, Saturno e Neptuno em Peixes a Júpiter em Gémeos e, por sua vez, deste ao Sol e a Mercúrio em Virgem. Júpiter, senhor da justiça e do bem, serve aqui de fiel de uma balança de luz e sombra.

   Para que depois da sombra a luz prevaleça, o bem tem de se fortalecer no humano e tem de se tornar uma disciplina diária. Saturno em Peixes pede uma entrega total, exige o rigor da totalidade do bem. Ora a presença de Júpiter no signo de Gémeos, vem trazer, a quem quiser receber, a palavra do bem e o bem da palavra. Porém, existem fortes reservas. A quadratura deste planeta a Mercúrio em Virgem revela o quanto a palavra se pode tornar agressão seja pelo triunfo da ignorância, seja pela vontade de poder. Por outro lado, é a Grande Cruz nos signos cardinais que assume a estruturação do tempo presencial, a consciência íntima deste tempo de sombra.

   A Caput Draconis em Carneiro olha quadrangularmente para Marte em Caranguejo que, por seu lado, fixa do mesmo modo a Cauda Draconis e a Vénus em Balança e estes observam Plutão em Capricórnio. A união quadrangular e diametral destes raios, sob o manto umbral, vem exigir que se fixem as direcções, as sendas da humanidade. Para onde caminhamos? Qual o propósito do caminho? Estas são algumas das perguntas que ferem hoje o olhar. Se, de um lado, o destino e a necessidade, o Dragão da Lua, trazem consigo a guerra e a morte, levando a humanidade a deixar-se corromper por falsos valores, do outro, lembra-nos que ainda existe no mundo e na humanidade beleza e harmonia. O Grande Trígono de Terra entre o Sol e Mercúrio em Virgem, Plutão em Capricórnio e Úrano em Touro sugere que, sob o véu da providência, a criação tem o poder de transformar a realidade. Ora, seguindo a imagem anteriormente referida de uma pirâmide, esta é uma dos quatro faces triangulares que se erguem no céu. A criação sustentável a partir dos dons da terra, integrando-nos nos seus ciclos, pode permitir que se erga uma visão do futuro, uma esperança no amanhã.

   Este eclipse e o próximo encerram nos seus temas uma geometria de sentido, uma matemática da alma, algo que rememorara a tradição e a herança de elementos conceptuais pitagóricos e platónicos. Seguindo essa via, o encontro de raios hexagonais, maioritariamente entre os signos cardinais e mutáveis confere ao humano a liberdade de agir conforme o bem que anteriormente se referiu ou de acordo com a ignorância, a expressão do mal que alimenta a ilusão e o engano. Esta liberdade ganha-se não face ao destino, mas face ao carácter. Nós determinamos não o que acontece, mas sim quem somos. Queremos ser o humano que distingue as vítimas da guerra na Ucrânia das de Gaza, merecendo umas compaixão e outras indiferença? Queremos ser o humano que promove a desinformação e que acolhe a mentira como se fosse verdade? Queremos ser o humano que o permite o racismo, a xenofobia e a misoginia, dando à extrema-direita um palco já experimentado e com uma lição pesarosa na história contemporânea.

   Neste eclipse, o complemento desta liberdade hexagonal é a relação bastante significativa entre os benéficos e os maléficos. Os benéficos (Vénus e Júpiter) unem-se em trígono e os maléficos (Marte e Saturno) também, o que faz com que o benéfico e o maléfico do mesmo segmento de luz se unam em quadratura, Vénus e Marte por um lado e Júpiter e Saturno por outro. Esta relação, a par do facto do regente da Lua estar a olhar-lhe quadrangularmente (Júpiter), vem reafirmar, entre outras coisas, a influência muito particular que os eclipses lunares têm sobre os acontecimentos naturais, em especial, sobre aqueles que têm uma expressão extrema. A conjunção da Lua em Peixes a Neptuno e Saturno, em quadratura ao regente Júpiter que actua sobre o espaço, a matéria, favorece os desastres naturais, sobretudo os de natureza sísmica. As fortes tempestades com inundações estão também potenciadas. A despedida de Plutão do signo de Capricórnio pode ainda estimular a actividade vulcânica, como aliás já pôde ser observado com o Etna e na Islândia.

   O eclipse lunar de 18 de Setembro tem assim tanto um carácter de transição como estruturante, um que alimentará a identidade e a integração da totalidade, mas também a consciência do destino e da necessidade.  

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Reflexões Astrológicas 2024: Saturno Retrógrado

 Reflexões Astrológicas


Retrogradações


Retrogradação de Saturno

Lisboa, 20h06min, 29/06/2024

 

Saturno

Decanato: Júpiter

Termos: Marte

Monomoiria: Lua     

 

  Saturno inicia a sua retrogradação no signo de Peixes, no grau 20 (19º25΄), estando Sagitário a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na IV, no lugar sob a terra (ὑπόγειον), no decanato de Júpiter, nos termos de Marte e na monomoiria da Lua. A retrogradação começa assim de dia, abaixo do horizonte, com o Sol a rumar para o Poente e a Lua junto ao Ponto Subterrâneo. Em 2024, o movimento retrógrado de Saturno estender-se-á até 15 de Novembro, onde estará no grau 13 (12º41΄), nos termos de Júpiter e na monomoiria da Lua. Se observarmos estas dignidades, compreendermos, por um lado, a consistência de uma natureza lunar na monomoiria e, por outro, o reafirmar do domicílio jupiteriano de Peixes, pois o movimento retrógrado ocorre no seu decanato e regressa aos seus termos. Saturno semeará os dons do feminino e colherá as acções do bem.

  Saturno faz o seu movimento pelo signo de Peixes de 7 de Março de 2023 a 25 de Maio de 2025. Esteve retrógrado de 17 de Junho de 2023 a 4 Novembro de 2023 e estará agora até 15 de Novembro. Em 2025, quando já estiver em Carneiro, estará retrógrado a partir de 13 de Julho e até 28 de Novembro. Ora, neste período, voltará ao signo de Peixes, onde estará de 1 de Setembro de 2025 a 14 de Fevereiro de 2026. O planeta do tempo e da necessidade, entre a potência e a actividade (movimento retrógrado e directo), oscilará entre a totalidade (Peixes) e a unidade (Carneiro). Existe assim um movimento da divisão do uno à estabilização do todo, todavia, esta efectivação do movimento será balanceada entre a expansão e a contracção. O movimento retrógrado apela necessariamente a um ensimesmamento da sua natureza particular.

  O estoicismo utiliza o termo οκείωσις, dando-lhe o sentido filosófico de apropriação de si, da prática de actos apropriados (καθήκοντα), isto é, de actos de acordo com a natureza. Ora este termo, com um sentido primordial de se fazer aquilo que lhe próprio, ou seja, de agir de acordo com o seu potencial, tem uma relação significativa com o conceito astrológico de retrogradação. Ao dar a ilusão que recua, o planeta regressa a si mesmo, volta à origem. Se pensarmos que οκείωσις se relaciona etimologicamente com o termo οκος, compreendermos que existe um carácter conceptual de regresso a casa. De um ponto de vista astrológico, a retrogradação, conciliada com a οκείωσις estóica, confere a um determinado movimento ou posição planetária um valor de afinidade, mas também de reconciliação. Existe então uma propensão natural para tornar familiar e íntima a experiência do passado e recolher os proveitos da revisitação. Contudo, essa é uma viagem difícil, daí o carácter potencialmente nefasto da retrogradação.

  Saturno retrógrado, enquanto planeta do tempo e da necessidade, assume quiçá a proposta significativa mais adequada a essa propensão. Séneca, no De ira, diz-nos que Existe em cada um de nós uma mente de monarca, esperando que seja concedida liberdade à acção, mas sem que ela se vire contra nós.” (2.31.3: Regis quisque intra se animum habet, ut licentiam sibi dari velit, in se nolit. Kaster, R. A., 2023, How to Do the Right Thing: An Ancient Guide to Treating People Fairly, 94-5. Princeton/ Oxford: Princeton University Press). Ora esta mente de monarca espera que a sua acção seja livre, no entanto, sem uma consciência de si, sem se alcançar uma afinidade ensimesmada, ou seja, sem uma reconciliação, a mente não consegue evitar que essa mesma liberdade se vire contra ela. A incapacidade de se aceitar a necessidade, os ditames da providência, julgando que a liberdade de acção, o livre-arbítrio, evita o movimento da roda do destino, revela a importância da retrogradação de Saturno. A possibilidade de reconciliação com o destino, com os mistérios do tempo, é uma dádiva de Saturno retrógrado.

  A forma como o poder da acção vive no tempo e como está sujeito à necessidade revela este movimento de Saturno. A mente de monarca teme o limite da liberdade, pois teme a perda do poder. Ora a mitologia de Cronos (Saturno) apresenta a forma ténue e efémera de como se alcança e se perde o poder. Apolónio de Rodes conta-nos, na Argonáutica, que Orfeu: “Cantava como Ofíon e a Oceânide Eurínome/ foram os primeiros a dominar o nevado Olimpo;/ como, pela força dos braços, cederam o seu privilégio/ a Crono e a Reia, ao caírem nas vagas do Oceano; estes/ foram então os senhores dos Titãs, deuses bem-aventurados,/ enquanto Zeus, ainda rapaz e com um coração de criança,/habitava na caverna de Dicte.” (I, 503-9. Apolónio de Rodes: Argonáutica, Livros I e II, ed. A.A.Alves de Sousa, 80-1. Coimbra, 2021: Imprensa da Universidade de Coimbra).O Olimpo foi governado por três pares divinos: Eurínome e Ofíon, Reia e Cronos e Hera e Zeus. No meio do caminho do poder, Saturno ganhou face ao primeiro e perdeu para o terceiro.

  De uma outra perspectiva mitológica, tecida pelo desejo de uma linhagem patriarcal e uma forte e indiscutível significação psicológica, Cronos (Saturno) usurpa o poder do pai, Úrano, e vê o seu poder usurpado pelo próprio filho, Zeus (Júpiter). Úrano, o deus do céu, temendo perder o poder, obriga a sua prole a regressar ao ventre da mãe, de Gaia. A Terra, sofrendo das dores de ter de albergar todos os seus filhos, cria uma enorme foice de aço e incita os seus filhos a usá-la contra o pai tirano, mas, por temor, todos recusam, com a excepção de Cronos. O titã aproveita os ímpetos lúbricos de Úrano e, quando este deixa cair a noite celeste sobre a terra, castra-o com a foice. Dos testículos caídos no mar, nascerá Afrodite (Vénus), daí que a relação astrológica de Saturno e Vénus não seja das mais tensas.

  Calímaco (Aetia frag. 43) conta-nos que a cidade de Zankle, na Sicília, hoje Messina, foi construída em torno de uma caverna, onde no seu interior, repousava a foice que Cronos usou para castrar o pai, Úrano, pois em grego ζάγκλον indica o objecto cortante utilizado. Neste mito, Úrano não é o planeta “fofinho” da astrologia new age, é um deus cruel, autoritário e misógino, que perde a masculinidade por abusar dela. Já Cronos (Saturno) surge como aliado do Eterno Feminino, seja com a mãe Gaia, seja com a esposa Reia, uma Grande Mãe, ou com a primogénita Héstia. Lembremo-nos que o primeiro filho do casal é Héstia, uma deusa, a deusa do lar, do fogo sagrado. Zeus (Júpiter) é o último a nascer. Existem aqui estruturas matrilineares determinantes e indicadoras de poderes matriarcais mais antigos.

  Neste mito, encontramos muitos dos elementos que justificam a atribuição do género feminino a Saturno, aquela que encontramos em Doroteu (Carmen Astrologicum, I, 10, 18-19. Cf. Figueiredo, R. M. de, 2024, Fragmentos Astrológicos, 2ª ed. revista e aumentada, 165-77. Lisboa: Livros – Rodolfo Miguel de Figueiredo) e que, na verdade, conferem uma certa significação ao Saturno Retrógrado. Quando Cronos, repetindo a desmedida do pai, teme ser destronado por um dos seus filhos, ele engole-os, guardando-os dentro de si como Gaia fizera. Esta é indiscutivelmente uma qualidade feminina. Reia salva o bebé Zeus (Júpiter), trocando-o por uma pedra, e esconde-o em Creta. O deus crescerá e acabará por derrotar o pai. O sextil actual do Saturno Retrógrado em Peixes a Úrano em Touro e a quadratura de Saturno a Júpiter em Gémeos revelam o sentido desta relação de poder entre Úrano, Cronos (Saturno) e Zeus (Júpiter), bem como o potencial da retrogradação de Saturno. 

  A estação de retorno pelo signo de Peixes encerra em si uma dimensão escatológica que possui também ela uma significação astro-mitológica. O planeta austero, senhor dos grilhões da fortuna, possui também um carácter salvífico. Hesíodo, nos Trabalhos e Dias, afirma o seguinte: “Agora, se queres, contar-te-ei outra,/ com pormenor e saber; e tu recolhe em teu espírito/ que têm origem comum os deuses e os homens mortais./ De ouro era a primeira geração de homens mortais/ criada pelos imortais que habitam as moradas Olímpicas./ Eram do tempo de Cronos, quando ele reinava no céu:/ como deuses viviam, com o coração liberto de cuidados,/longe e apartados de penas e misérias. Sem a presença da triste/ velhice, sempre igualmente fortes de pés e braços,/ alegravam-se em festins, a recato de todos os males./ Morriam como se vencidos pelo sono. Todos os bens/ espontaneamente, muitos e copiosos; e eles, contentes/ e tranquilos, partilhavam os trabalhos com alegrias infinitas,/ [ricos em rebanhos, queridos aos deuses bem-aventurados.]/ Mas depois que a terra cobriu os homens desta raça,/ eles são, por vontade do grande Zeus, divindades/ benignas, subterrâneas, guardiãs para os homens mortais,/ [o que vigiam a justiça e as acções malvadas,/ vestidos de bruma, percorrendo toda a terra,]/ distribuidores de riqueza. Tal é a honra real que obtiveram.” (106-26. Hesíodo: Teogonia & Trabalhos e Dias, ed. A. Elias Pinheiro & J. Ribeiro Ferreira, 97-8. Lisboa, 2014: INCM). O regresso à Idade de Ouro implica uma transformação do humano em espírito puro ou divindade benigna e, com alguma severidade, recuperar esse bem perdido.

  Após a prisão no Tártaro, Cronos é reabilitado pelo filho e torna-se o soberano das Ilhas dos Bem-Aventurados (Cf. Platão, Gorgias 525a e ss, Leis 713a, Píndaro, Ode Olímpia 2.55 e ss.), as quais poderiam incluir os Açores. No Elísio, existe uma recuperação e também uma reconciliação com a Idade de Ouro. Não se pense porém que, com as descrições mitológicas apresentadas, o Saturno astrológico perde o seu carácter. A retrogradação traz sim um outro peso, uma outra gravidade. O tempo e a necessidade revelam o que está para além do humano, das limitações, da desmedida que ele próprio criou. Na roda da necessidade, não existe pecado original, cada um responde pelas suas acções e é através delas que determina o seu destino. Ora o trígono entre Saturno e Neptuno em Peixes e o Sol, Mercúrio e Vénus em Caranguejo transporta a visão do tempo como totalidade até à sua origem, até à fundação da realidade. O desafio desta retrogradação de Saturno é procurar para além do esquecimento, sem a água do Letes, a raiz do destino.  

  A malignidade de Saturno impõe-se pela fixação tripartida da linha, do limiar e do limite. O destino tece a linha no tempo e coloca-a no espaço, ou seja, estabelece a relação entre Saturno e Júpiter, entre o tempo e o espaço. A necessidade funda assim, face aos ditames da providência, o limiar e o limite da dádiva do bem. A actual quadratura entre Saturno retrógrado em Peixes e Júpiter em Gémeos, construída em signos mutáveis, firma a transitoriedade de uma estruturação complexa e, por vezes, dolorosa entre o silêncio e a palavra. Eco perde-se e Narciso também. Este é o grande aspecto astrológico de 2024 e aquele fixa os alicerces, as colunas dóricas, da nossa realidade actual, do templo que vemos e que temos medo de entrar. A mente de monarca deixou de estar temorosa face à liberdade que se esfuma no horizonte, diante da imagem que projectou, ela acredita que possui uma liberdade incondicional. Precisamos pois de regressar àquilo que nos é próprio.

  O sextil entre Saturno e Neptuno em Peixes e Marte e Úrano em Touro confere, sob a fina égide de uma certa liberdade de acção o perigo do afastamento radical do númen feminino, trazendo consigo o medo do feminino. A Lua em Carneiro, no lugar onde se exalta o Sol, junto da Caput Draconis, e com a Cauda junto ao Ponto de Culminação, estando tanto a Lua como o Dragão da Lua em quadratura ao Sol, revela a dificuldade de afirmação do feminino, da luta pela presença e pelos seus direitos. Pesam as amarras e o preconceito. Quando a discórdia impera e não existe harmonia nos opostos, a retribuição, que é uma lei de Saturno, exercerá a sua acção, reequilibrando a desmedida. De um outro modo, o trígono de Ar entre Júpiter em Gémeos, Plutão retrógrado em Aquário e a Cauda Draconis em Balança coloca sobre o destino a restruturação do pensamento e do discurso. Quando a humanidade se afasta do bem, da verdade e da justiça, a destruição e a morte vão trilhar o seu caminho, pois a senda da verdade é o fio da roda da necessidade. O irracional não nos dá hoje o sonho e a imaginação, consagra a ilusão e defende a ignorância.

  A quadratura da Lua em Carneiro ao Sol, Mercúrio e Vénus em Caranguejo, a par do sextil da Lua a Júpiter em Gémeos e a Plutão em Aquário, apresenta a incapacidade de interiorizar a proposta do Saturno retrógrado, da escatologia saturnina. A identidade centrada na imagem que tem de si mesma, mesmo trazendo o potencial de esclarecimento e transformação, é incapaz de aceitar esse movimento radical de origem, de reconciliação com o destino. A quadratura entre Marte e Úrano em Touro e Plutão em Aquário confere também um clima de conflito e tensão aos nossos dias. Os tempos sombrios que vivemos, em que a extrema-direita galga os limites da democracia, trazendo consigo o retrocesso em direitos e valores e uma destruturação dos pilares do estado social e dos princípios da solidariedade e da tolerância, surge daqui com perigo inegável. A lição do tempo é um ensinamento de Saturno, bem como o destino como retribuição, e a humanidade está assim no limiar do seu próprio fado.

  A retrogradação de Saturno é, em suma, um tempo para revisitarmos a lição do destino. Temos, durante este período, uma oportunidade de nos reconciliarmos com tudo aquilo que antes de bebermos do Lete aceitámos. A Necessidade não agiu sozinha. Nós somos uma parte activa do lote que nos foi entregue e essa é a liberdade que contraria a mente de monarca e distorce a relação do humano com o seu destino. Saturno retrógrado dá assim gravidade ao tempo.    

segunda-feira, 6 de março de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Saturno em Peixes

  Reflexões Astrológicas


Lunações


Saturno em Peixes

Lisboa, 13h35min, 07/03/2023

 

Sol-Lua

Decanato: Saturno

Termos: Vénus

Monomoiria: Júpiter  

 


  O primeiro ingresso de Saturno em Peixes ocorre com Caranguejo a marcar a hora, para o tema de Lisboa e, deste modo, na IX, no Lugar de Deus, no Lugar do Deus Sol, no decanato de Saturno, nos termos de Vénus e na monomoiria de Júpiter. O ingresso dá-se assim acima do horizonte e cerca de seis horas após o nascer-do-sol. Saturno encontra-se, deste modo, favorecido por estar no seu próprio segmento (αἵρεσις) e no lugar do regente do segmento, o Sol. O estudo deste ingresso e do seu tema é essencial para a compreensão dos tempos que se avizinham. A chegada de Saturno a Peixes é o acontecimento astrológico mais importante de 2023, seguido pelo ingresso de Júpiter em Touro em Maio, criando-se, nesse momento, uma harmonia entre os planetas e os elementos Água e Terra. No tempo (Saturno) e no espaço (Júpiter), o Eterno Feminino tornar-se-á a dádiva da transformação.

  Primeiramente é necessário situar, no tempo cronológico, este ingresso de Saturno em Peixes que acontece em dois momentos. O primeiro ingresso ocorre de 7 de Março de 2023 a 25 de Maio de 2025 e o segundo, mais curto, de 1 de Setembro de 2025 a 14 de Fevereiro de 2026. Passará por três momentos em que estará retrógrado: o primeiro, de 17 de Junho a 4 de Novembro de 2023; o segundo, de 29 de Junho a 15 de Novembro de 2024; e o terceiro, de 13 de Julho a 28 de Novembro de 2025 e que inclui, como é perceptível pelos períodos anteriormente mencionados, o primeiro ingresso de Saturno em Carneiro e o retorno a Peixes. Neste dois períodos, convém também assinalar a passagem de Júpiter pelos signos de Carneiro a Caranguejo e o ingresso de Neptuno em Carneiro (primeiro de 30 de Fevereiro a 22 de Outubro de 2025 e depois a partir de 26 de Janeiro de 2026), isto para não falar do ingresso de Plutão em Aquário, a 23 de Março de 2023.

  O ingresso de Saturno, do planeta do Tempo e da Necessidade, em Peixes, no signo da totalidade, transporta consigo um sentido natural de conclusão, de término ou fim de ciclo. Segundo a ordem vernal, Peixes é o último signo e, assim sendo, a chegada de Saturno a este signo tem necessariamente a significação do fim, mas também a da repetição, da estruturação do mesmo, da criação de uma unidade de sentido, resultante da assimilação da totalidade em torno do propósito que a Necessidade estabelece. Ora essa ideia de propósito une tanto a regência de um deus do tempo como a de um deus agrícola. Esse é também o sentido do aforismo de Novalis que diz que “o fragmento é semente”, ou seja, a singularidade de um fragmento de tempo torna-se quer o potencial, quer a finalidade da proposta que ele próprio apresenta. A Necessidade é portanto uma totalidade que permeia toda e qualquer parte.

  Se a respeito de Peixes já discutimos o imperativo de refundar a sua significação (v. Reflexão Astrológica da Lua Nova de Peixes), então, no que a Saturno concerne, confirma-se o mesmo imperativo. A questão em torno da refundação do sentido não é exclusiva deste planeta, mas é neste caso mais evidente. A significação planetária, e também zodiacal, tal como a conhecemos, resulta, de um modo geral, de um modelo categórico da física aristotélica ou do eclectismo ptolemaico. Porém, existiam, na Antiguidade, outros modelos interpretativos, nomeadamente o de Platão e o do platonismo. Segundo Plotino, Saturno simbolizaria o Intelecto (Νοῦς) e Zeus, a Alma (Enéadas V, I, 4). Existia pois uma glorificação de Saturno por este não representar os poderes terrenos, mas sim o poder mais puro do pensamento.

  Klibansky, Panofsky e Saxl dizem-nos que “Saturno possuía a dupla propriedade de ser o antepassado de todos os outros deuses planetários e de ter o seu trono no céu superior. Essas duas qualidades, que devem ter estado originalmente conectadas, garantiram-lhe uma supremacia, sem qualquer contestação, no sistema neoplatónico, que se esforçou neste caso, como em outros, por reconciliar as visões platónicas com as aristotélicas. A hierarquia dos princípios metafísicos que remontava a Platão, segundo a qual o genitor tinha precedência sobre o gerado, estava ligada ao princípio aristotélico do pensamento "topológico", segundo o qual uma posição mais elevada no espaço significava maior valor metafísico.” (Saturn and Melancholy, 1979: 152-3. Nendeln/ Liechtenstein: Kraus Reprint). Esta proeminência de Saturno, a par da atribuição de Plotino, desperta uma outra questão, visto que normalmente o Intelecto é o Sol.

  Existiu uma tradição babilónica, sobretudo num período de cerca de 750 a 612 AEC, que designava Saturno como “o Sol”, Šamaš, em vez da nomenclatura astronómica mais comum (cf. van der Sluijs, M. A. & P. James, 2013, “Saturn as the Sun of Night in Ancient Near Eastern Tradition” in Aula Orientalis 31.2, 279-321). Esta designação torna Saturno o “Sol da Noite”, em oposição ao próprio Sol, o “Sol do Dia”, e pode ter a sua origem num dos elementos astrológicos radicalmente babilónico: as exaltações planetárias (as outras são o aspecto de trígono e as dodecatemoria). O lugar de exaltação do Sol, Carneiro, opõe-se ao da exaltação de Saturno, Balança. Esse eixo pode ser assim aquele que une o “Sol do Dia” e o “Sol da Noite” e a tradição deste sentido de Saturno persiste, mesmo que de forma discreta, na tradição greco-romana. Ptolomeu, por exemplo, diz que os habitantes do território entre a Mesopotâmia e a Índia chamavam à estrela de Vénus Ísis e à de Saturno Mitra Hélios (Apotelesmática II, 3).

  Por outro lado, e seguindo também uma interpretação que é quase oposta ao Saturno aristotélico, temos o Saturno feminino, algo que já abordei por diversas vezes (Fragmentos Astrológicos, 2020: 167-72; Reflexões Astrológicas 2021: Parte II, 2022: 30-1). Esta é a tradição cuja referência mais antiga pertence a Doroteu de Sídon (Carmen Astrologicum, I, 10, 18-19) e que pode ter ainda uma matriz de sentido na proeminência do númen feminino no reinado de Saturno. A astrologia precisa pois de uma metodologia interdisciplinar para melhor compreender os seus conceitos. O estudo rigoroso da mitologia pode, desta forma, contribuir para refundação desses mesmos conceitos.

  No tempo de Cronos/Saturno, a sua mãe Gaia e a sua esposa Reia eram duas deusas poderosas, que não se apresentavam com uma submissão ao paradigma androcêntrico, como a que encontramos nos deuses olímpicos. Ora esse factor está presente em Manílio quando coloca a Mãe dos Deuses (Reia/Cíbele), a par de Júpiter, como regente divino do signo de Leão (Astronomica II, 447). Se pensarmos que, do outro lado do eixo, está Saturno como regente astrológico de Aquário, encontramos então um elo de ligação com Saturno como o “Sol da Noite”.     

  Compreendemos, desta forma, que as significações não são lineares e que, ao longo dos tempos, transmitem uma prevalência interpretativa que não é, no entanto, exclusiva. Existem outros sentidos que podem e devem ser recuperados. De um ponto de vista mitológico ou astro-mitológico, encontramos ainda uma outra tradição que nos concede um elemento de passagem entre o próprio Saturno e o Saturno em Peixes. Para além do facto de Saturno ser o regente da Idade de Ouro, ele é também o rei da Ilhas dos Bem-Aventurados, ou Ilhas Abençoadas.

  Neste mito (e.g. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias 156 e ss.; Platão, Górgias 525a e ss.), após o seu destronamento e prisão no Tártaro, Cronos/Saturno terá sido reabilitado e terá encontrado um novo trono nas Ilhas dos Bem-Aventurados que, segundo alguns, incluiriam os nossos Açores ou toda a Macaronésia. Nestas ilhas, onde se encontram os Campos Elísios, viveriam aqueles que não têm de perturbar a terra com o vigor das mãos e que vivem uma existência sem lágrimas (Píndaro, Ode Olímpia 2.55 e ss.). Este mito indica, sem grande esforço interpretativo, Saturno em Peixes, a Necessidade sobre a Totalidade.

  O tema do ingresso de Saturno em Peixes, para a hora de Lisboa, tem uma particularidade deveras interessante, pois ao fixar a hora em Caranguejo reproduz a disposição de lugares do Thema Mundi. Ora, desta forma, Saturno vai cair no lugar de Peixes, a IX, o Lugar de Deus. Esta posição torna mais significativa uma certa diminuição da malignidade de Saturno, uma vez que em Peixes está no domicílio de Júpiter, aquele mitologicamente ocupou o seu lugar, e está também fora de seu segmento de luz e num signo feminino. A condição de Saturno pode assim, se a humanidade permitir, conceder à totalidade a Necessidade, ou seja, pode conferir a dádiva da aceitação do destino, a sua interiorização. Se conhecermos o propósito, a finalidade, o sentido do todo, o caminho adquire um outro valor e transforma toda a acção.  

  Este tema, considerando-se os eixos de ascensão e culminação, apresenta uma beleza singular e uma intensa expressão do feminino que, tendo em conta os sentidos alternativos para Saturno, alcança uma proposta significativa profunda. Primeiro temos o eixo pós-plenilúnio que une a Lua em Virgem a Saturno, Mercúrio, ao Sol e a Neptuno em Peixes, estendendo esta concentração até ao Lugar da Deusa, a III, onde a Lua se encontra.   

  De seguida, temos os dois trígonos: o da Água que une o ponto que marca a Hora em Caranguejo aos planetas em Peixes e à Cauda Draconis em Escorpião, em que o Destino se torna a vida e a fé, a sabedoria; e o de Terra que, por sua vez, une a Lua em Virgem a Úrano e à Cauda Draconis em Touro e a Plutão em Capricórnio, a caminho do poente, ou seja, um triângulo que faz da Deusa, do Eterno Feminino, o espírito que se erguerá sobre as cinzas do velho mundo e a aurora de uma Nova Era. Por fim, face a estes dois trígonos, temos os seis sextis que resultam destas ligações, destas harmonias.

  Existem, no entanto, dois elementos que divergem desta unidade entre a Água e a Terra. Um diverge, convergindo, pois afirma a acção do bem sobre esta proposta de sentido. Vénus e Júpiter em Carneiro permitem que o bem, a beleza e justiça se tornem actividade. Desde que a humanidade queira, a efectivação da dádiva é uma possibilidade. Os benéficos são os astros mais altos, raiando de esperança, de luz, mas colidindo com a morte sobre o Ocaso (Plutão em Capricórnio), sobre o seu poder. A destruição é o perigo de uma actividade movida pela desmedida. No entanto, uma vez mais, será Marte em Gémeos a expressar uma pulsão de divergência disruptiva, firmada pelos raios quadrangulares aos planetas em Peixes e à Lua em Virgem. A malignidade do pensamento dual que finge querer a mudança, quando o que faz é ferir e separar, continua a ser uma ameaça real. As teias de desinformação que alimentam o ódio, a xenofobia, a misoginia, o racismo, a intolerância são o abismo do humano. Porém, a acção do bem, dos actos que promovem a igualdade, a liberdade e a fraternidade continuam a ser o outro lado da barricada (sextil de Marte em Gémeos a Vénus e Júpiter em Carneiro).

  Saturno ingressa em Peixes no momento em que, neste signo, se encontram o Sol, Mercúrio e Neptuno. Esta concentração de luz, a partir do Lugar de Deus, apresenta-se como o fogo na câmara interna, no Santo dos Santos. Desse santuário profundo, a luz e a necessidade, a palavra e o amor universal podem alcançar a humanidade, a totalidade. Se considerarmos Saturno como o Intelecto, o que não diverge da ideia estóica de Destino ou a ideia platónica de Necessidade, podemos observar então a sua acção como parte deste princípio que permeia o mundo e que tece uma harmonia, uma simpatia, entre o microcosmos e o macrocosmos. Saturno em Peixes é, em suma, a Necessidade ou o Destino na totalidade.  

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Lua Nova em Peixes

  Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Nova em Peixes

Lisboa, 07h06min, 20/02/2023

 

Sol-Lua

Decanato: Saturno

Termos: Vénus

Monomoiria: Marte   

 

  A Lua Nova de Fevereiro, a última do actual ano astrológico, ocorre no signo de Peixes, com Aquário a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na II, no Lugar do Viver (βίος), no decanato de Saturno, nos termos de Vénus e na monomoiria de Marte. A sizígia dá-se assim abaixo do horizonte e cerca de vinte minutos antes do nascer-do-sol. A Lua encontra-se favorecida por estar no seu próprio segmento e num signo feminino, embora abaixo do horizonte, já o Sol encontra-se desfavorecido por estar fora do seu próprio segmento de luz (αἵρεσις) e abaixo do horizonte. Desta forma, a luz, à semelhança do anterior novilúnio, continua a apresentar uma qualidade submersa, oculta, embora, nesse reino sob a terra, na lua nova anterior descesse e no actual suba.

  Se seguirmos a ordem vernal, Peixes é o último signo, daí que o conceito de totalidade seja aquele que melhor o define. Esta definição está também de acordo com a ordem do Thema Mundi que, com Caranguejo a marcar a hora, o coloca na IX, no Lugar de Deus, do deus Sol. Se pensarmos que, segundo o Thema Mundi, a III e a IX têm uma natureza de templo do feminino e do masculino, do Sol e da Lua, do divino, então torna-se compreensível como esta ideia de totalidade se integra, fundando o seu sentido, no signo de Peixes. Por outro lado, no que às dignidades concerne, Peixes é o único signo em que o domicílio e a exaltação estão entregues aos benéficos (domicílio de Júpiter e exaltação de Vénus). A dádiva do bem adquire assim a mesma ideia de totalidade. Júpiter estabiliza o bem para que Vénus o eleve no amor divino.

  Uma das grandes falácias da astrologia contemporânea é uma colagem quase absurda dos signos às casas (ou lugares, na terminologia antiga). Na Antiguidade, que é o período que me é caro, essa tentativa de simplificação não existe. Os círculos astrológicos de sentido são estruturas dinâmicas, daí que Peixes não seja a XII, tal como Carneiro não é a I e assim sucessivamente. Esta tentativa de unidade significativa resulta, a meu ver, do facto da astrológica moderna tentar simplificar os conceitos face à astrologia tradicional, considerada por muitos astrólogos como densa e com muitos conceitos e variantes. Com esta unidade de sentido, surgem, porém, interpretações bizarras e que alimentaram muitos livros e cursos, como por exemplo “Sol em Carneiro ou na I quer dizer isto ou aquilo” ou a “Lua em Touro ou na II quer dizer isto ou aquilo” e assim por diante. Estas interpretações contrariam, por completo, o sistema tópico de lugares ou casas, criado pela astrologia antiga de matriz hermética, em Alexandria, por volta do século I AEC.

  Ora este abuso interpretativo condicionou também o sentido atribuído aos transaturninos e, por consequência, aos signos por eles regidos, o que conduziu, directa ou indirectamente, a outra bizarria, à análise pessoal de um planeta colectivo. O uso destes três planetas na interpretação mundana ou naquela que relacione o indivíduo à sua realidade social e geracional é aceitável e compreensível, mas torná-los simplisticamente planetas pessoais é um erro grosseiro. Plutão, por exemplo, numa vida humana, não avançará muito além dos seis ou sete signos, o que limita o seu sentido pessoal.

  No entanto, não digo que se rejeite a sua utilização, porque é uma escolha, digo sim que os conceitos devem ser coerentes. Esta simplificação não serve a astrologia, serve a mercantilização de cursos que tornam o ensino de um saber milenar uma extensão de um instituto de formação profissional, onde a astrologia, em Portugal, não sequer é reconhecida como área de estudo. O esforço que exige estudar a história, as referências e as variáveis de sentido é substituído por uma cartilha de diapositivos repleta de lugares-comuns. O ensino da astrologia, pela sua própria natureza, tem de ser um caminho para a sabedoria, daí que a astrologia do hoje e do amanhã precise desesperadamente das humanidades e das suas metodologias. A história da astrologia tem recuperado, de forma séria e académica, a dignidade da astrologia e refundado um caminho para uma nova prática.

  Este preâmbulo serve para reafirmar que o sentido dos signos não pode, de um modo fixo e descontextualizado, estar vinculado às casas. Desta forma, um novilúnio em Peixes, como o actual, vai-nos trazer, exacerbando, essa harmonia de sentido entre o domicílio de Júpiter e a exaltação Vénus, e não os sentidos atribuídos à décima segunda casa. Na verdade, é a exaltação de Vénus, que acontece nesta Lua Nova, embora não no grau exacto (27º), que melhor descreve o signo Peixes. De um ponto de vista mitológico, a constelação de Peixes representa primordialmente os Ikhthyokentauroi, os dois peixes que trouxeram Afrodite para a costa (cf. Rodolfo Miguel de Figueiredo, 2021, Fragmentos Astrológicos: 155-6). Este mito recupera a Afrodite cipriota, uma Grande Deusa, e não a deusa olímpica, limitada e reduzida a uma versão erótica e lúbrica. Afrodite é uma deusa das origens, uma expressão do eterno feminino. A exaltação de Vénus, no fim do Zodíaco, celebra um tempo novo, a era do Espírito Santo, do Sagrado Feminino. A pomba da deusa ergue-se no fim do tempo.

  O novilúnio de Fevereiro traz, deste modo, essa ponte entre a humanidade e a totalidade, entre Aquário e Peixes. No entanto, a totalidade proposta surge sob a forma de contemplação, de integração na luz. Manílio, na Astronomica:, diz-nos: “sacrificado é o humano, para que deus nele possa existir” (Astronomica IV, 407, Goold 1985: 94: impendendus homo est, deus esse ut possit in ipso). A humanidade só alcançará essa proposta de totalidade se encontrar uma forma de sacrifício, de despojamento e liberdade. Aquele que recebe, que se entrega, cria, só assim o ciclo se renovará, renascendo do fim a origem. É o desapego da totalidade, da imersão na luz, que permite um novo ciclo, ou seja, a acção promovida por Carneiro nasce desta totalidade contemplativa.

  Na Hermetica de Estobeu, encontramos um sentido para a dissolução do humano na totalidade. O texto afirma o seguinte: A decadência segue todo o nascimento, para que se possa nascer de novo. Isto porque aquilo que nasce surge daquilo que é decadente. O que nasce deve decair, para que o nascimento das entidades não pare. Para o nascimento dos seres, a decadência é o primeiro artesão.” (SH 2A16). E, logo a seguir, conserva uma verdadeira pérola de sabedoria quando diz: “O humano é a aparência da humanidade” (SH 2A1, Litwa, M. D., Hermetica II -The Excerpts of Stobaeus, Papyrus, and Ancient Testimonies in an English Translation with Notes and Introduction. Cambridge, 2018: Cambridge University Press, 34). A aceitação da decadência é uma visão da totalidade e o modo como o humano se sacrifica nessa totalidade define a própria humanidade.

  Com o novilúnio a fixar-se na II, isto para o tema de Lisboa, o valor do viver refunda-se na luz da totalidade. Trasilo diz que o segundo lugar é um “indicador de esperanças”, ἐλπίδων σημαντικήν (CCAG VIII/3: 101.20). A promessa do fim surge pois como uma esperança de renascimento. Existe uma refundação do tempo cíclico, de eterno retorno, na unidade do instante, na simplicidade do agora. A união entre os luminares e Vénus e Neptuno potencia a união da luz ao princípio do amor, do amor universal, aquele que permeia o mundo e une, no divino, todas as criaturas. A luz da solidariedade imite raios de esperança. A humanidade só se perderá se se afastar desses raios, pois a empatia, o amor ao próximo tem a capacidade extraordinária de transformar o humano.  

  Essa concentração do valor do amor na mensagem da sizígia (luminares, Vénus e Neptuno) espalha-se benevolamente para a Úrano em Touro e Plutão em Capricórnio, que dão a estrutura da vontade a essa mensagem, mas também ao Dragão da Lua que reúne, neste sentido, o valor axial da vida e da morte. O grande obstáculo continua a ser a Marte em Gémeos que se une quadrangularmente à sizígia. No tema, Marte é o planeta mais ocidental e que escapa à identidade, ao leme do sentido proposto. O planeta do deus da guerra é um aqui um outro, não um que se possa conhecer, mas um estranho. Marte, face ao sentido da sizígia, fende a realidade, cria separação e discórdia. No entanto, por se unir em trígono a Mercúrio e a Saturno em Aquário e em sextil a Júpiter em Carneiro, existem elos de possibilidade, ou seja, entre a desarmonia e a dissonância podem ser criados elementos de concórdia, sobretudo se não se perder o leme de sentido desta sizígia, a luz que emana da totalidade, trazendo solidariedade ao mundo.

  De um outro ponto de vista, o caminho da luz é, no interior do signo de Peixes, uma via ascendente que se inicia em Vénus, uma Estrela da Tarde, passa por Neptuno até alcançar, na dianteira, os luminares. Este caminho, como já o referimos, contém em si a esperança da luz, da sua transformação. Se considerarmos, todavia, um caminho mais extenso, então esta via ascendente, embora submersa, pode se iniciar tanto em Úrano em Touro como em Júpiter em Carneiro e expandir-se até Saturno em Aquário, fazendo deste o timoneiro desta barca luminar. Ora Saturno conserva aqui um sentido profundo, pois até ao próximo novilúnio Saturno transitará de Aquário para Peixes.  

  Com o senhor da Necessidade na dianteira, a sua mensagem reafirma-se, até porque se encontra em conjunção a Mercúrio e em sextil a Júpiter. A razão e a acção do destino, a força dos ditames da Providência, colhem, com a foice da realidade, o sentido de totalidade. É como diz Epicteto: “Pois isto é teu: interpretar belamente o papel que te é dado – mas escolhê-lo, cabe a outro” (Encheiridion 17, trad. A. Dinucci & A. Julien, 2014: 46. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra). Somos actores no teatro do real e é o destino ou a necessidade o verdadeiro autor do texto interpretado. Contudo, o poder da palavra pode trazer consigo a luz ou a sombra, o bem ou mal (sextil de Mercúrio e Júpiter). A qualidade da nossa representação depende pois apenas de nós.  

  Convém também referir-se que Plutão é o astro mais alto, revelando como o Senhor do Hades reina sobre a realidade, impondo o poder da morte e a efemeridade da vida. A quadratura entre Júpiter em Carneiro e Plutão em Capricórnio coloca em tensão a acção do bem sobre o poder da morte. Algo que está sintonia com a quadratura de Saturno em Aquário ao Dragão da Lua no eixo Touro-Escorpião, ou seja, o destino da humanidade a colidir com o valor da vida e da morte. O devastador sismo na Turquia e na Síria, que estava infelizmente previsto no eclipse lunar de 8 de Novembro, coloca na clepsidra do humano a escolha do bem e será sobre a humanidade que se criará a solidariedade e a compaixão, pois é essa a proposta de sentido do novilúnio de Peixes

  Entre a Lua Nova em Peixes e a Lua Nova em Carneiro, Mercúrio avançará de Aquário para Carneiro, Vénus de Peixes para Touro, Júpiter manter-se-á em Carneiro e Saturno chegará a Peixes. Já os transaturninos vão permanecer também nos seus signos: Úrano em Touro, Neptuno em Peixes e Plutão em Capricórnio. No período que medeia as duas luas novas, não existirá nenhuma retrogradação planetária, o que promove a acção dos planetas e os seus efeitos.

  Em suma, a actual Lua Nova exorta a totalidade e clama por uma luz que reúne, no amor universal, a dádiva do Eterno Feminino.