sábado, 18 de dezembro de 2021

Lua Cheia - Eixo Gémeos/Sagitário: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Cheia: Eixo Gémeos – Sagitário


Lisboa, 04h35min, 19/12/2021

 

Lua

Decanato: Sol

Termos: Saturno

Monomoiria: Vénus   

 

Sol

Decanato: Saturno

Termos: Marte

Monomoiria: Saturno

 

            A última Lua do Cheia de 2021 coloca a Lua no seu próprio Segmento de Luz (αἵρεσις), acima do horizonte, sendo ela a luz mais alta, embora fixada no Lugar da Morte (VIII), no signo de Gémeos e com a Caput Draconis, no decanato do Sol, nos termos de Saturno e na monomoiria de Vénus. Já o Sol encontra-se em Sagitário, fora do Segmento de Luz, abaixo do horizonte, no Lugar do Viver (II), no decanato de Saturno, termos de Marte e monomoiria de Saturno. Com o Sol, mas para além dos seus raios encontra-se Marte e a Cauda Draconis. Ora este encontro, sem a qualidade abrasiva de que Marte poderia beneficiar, intensifica a força do elemento de passagem e do espírito de viagem, de travessia do rio da realidade, que é própria do eixo Sagitário-Gémeos. Porém e dado o eixo de lugares em que os luminares se firmam, a intensidade não possui um valor próprio e, neste caso, ou se eleva ou se afunda. A transformação nesta qualidade axial tem portanto um potencial de transformação que não é em si mesmo valorativo.

            Os luminares, entre o modo de vida (II) e a qualidade da morte (VIII), concedem a luz que permite encontrar o sentido do real. A união do Sol e da Lua com o corpo do Dragão da Lua, aquele que a 18 de Janeiro de 2022 deixará o eixo Sagitário-Gémeos, faculta a possibilidade de se enraizar o limite e o limiar da mensagem proposta. Essa passagem da Sabedoria à Palavra deixará de ser a luz que guia para voltar a ser mistério. O Dragão da Lua coloca sobre a vida o peso da Necessidade, é um agente do Destino e da Providência, daí que Vétio Valente diga, por exemplo, que o ponto quadrangular à Caput tem uma força anairética (Antologia, III, 9), ou seja, a criação e a destruição ou a acção e a retribuição são expressões do Dragão da Lua. Ora, neste plenilúnio, sobretudo pela proximidade dos luminares ao corpo do Dragão, existe uma dificuldade de efectivação na sua proposta de sentido. O caminho da Sabedoria à Palavra é renegado, é visto por uns e percorrido por poucos, e agora quando a sua proclamação está a terminar, a via da Morte ao Viver já surge no horizonte. Desta forma, será preciso fixar o valor nessa senda e encontrar o sentido da morte para transformar o modo de vida, o que já surge com clareza pelo facto do eixo do horizonte se estender de Escorpião a Touro.    

            O ponto proposto anteriormente por Valente encontra-se no mesmo signo onde está Neptuno e, embora já distante, contamina esse lugar com o elemento destruidor, e também devido à observância quadrangular dos luminares e de Marte, ou seja, a visão de totalidade que é o Amor de Deus (Neptuno em Peixes) não alimenta nem a Sabedoria, nem a Palavra, não é acolhida como a luz que guia, a grande iluminadora. Porém, Neptuno está na V, no Lugar da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), mostrando como tanto a compaixão como a imaginação continuam a dar novos mundos ao mundo. E, no final do ano, quando Júpiter se juntar Neptuno, essa mensagem ganhará um novo fôlego, revelando-se, novamente, o poder da solidariedade.  

            Por outro lado, se Marte coloca a força e a tensão sobre os luminares e o Dragão da Lua, então Júpiter e Saturno estruturam a sua acção, concedendo-lhes tanto a matéria e a forma como a consciência íntima do espaço e do tempo, da justiça e da necessidade. O sextil de Júpiter e Saturno ao Sol, a Marte e à Cauda e o trígono à Lua e à Caput conduzem o humano e a humanidade à sua proposta de sentido, ou seja, a partir do Lugar sob Terra (IV) e junto ao Ponto Subterrâneo (IC), Júpiter e Saturno permitem a refundação das bases da realidade quer ao nível individual, quer na dimensão colectiva ou social. As lições do passado tornar-se-ão mais vivas, assinalando que se a história não se repete, repete-se o humano.  

           Contudo, por estarem fora do segmento dominante, a luz dos senhores do espaço e do tempo está diminuída, o que enfraquece a qualidade a benéfica de Júpiter e exacerba a qualidade maléfica de Saturno. Nestes tempos que vivemos, o bem e a justiça que a humanidade poderia criar e seguir desagregam-se e dispersam-se, esvaziando-se na espuma dos dias, e, de um outro modo, a retribuição, a consequência de uma ὕβρις, torna-se mais evidente e activa. Neste plenilúnio, a acção humana estará sobre um olhar atento e vigilante das Meras e a Roda da Necessidade há-de impor a sua gravidade, pois só assim poderá existir transformação.

        Um outro encontro que marca de forma indelével este plenilúnio é o de Mercúrio, Vénus e Plutão em Capricórnio, no Lugar da Deusa (III). No signo do poder e da culminação, a Palavra, o Amor e a Morte unem-se num único sentido, concentrando o potencial do futuro. Entre outras significações, esta é uma co-presença que pode dar origem a um novo movimento artístico, literário ou filosófico. Encontramos aqui as bases de um movimento assente num novo realismo que contraria as interpretações líquidas, dispersas e disformes que dominam o olhar actual sobre o mundo e sobre o humano. Capricórnio irá conceder o rigor que falta e a exigência que se rejeita, dar-lhe-á a precisão de uma finalidade.

        Face ao segmento de luz dominante, Vénus apresenta-se como o grande benéfico e, se pensarmos que Vénus está no Lugar da Deusa e a Lua é a luz mais alta, então concluímos, uma vez mais, que o Eterno Feminino marca o fim deste ano de 2021. Ora Vénus, com Mercúrio e Plutão, agrega-se numa simbiose de bênção e dádiva a Úrano em Touro (trígono) e a Neptuno em Peixes (sextil). A Revolução da Terra (Úrano em Touro) e o Amor de Deus (Neptuno em Peixes) fundem-se com o Poder da Palavra, do Amor e da Morte (Mercúrio, Vénus e Plutão em Capricórnio), concedendo ao mundo e ao humano um intenso potencial de transformação. Note-se que também aqui o feminino traz consigo a sua dádiva, pois estes aspectos têm a sua raiz em signos de Terra e de Água. Algo que é igualmente visível no trígono de Úrano a Plutão e nos sextis de Úrano a Neptuno e de Neptuno a Plutão. A Grande Mãe estende as suas mãos a quem luta pelo planeta e pela humanidade, desvelando o quanto ela se insurge e se revolta. Gaia é o ventre e o túmulo, a mãe, mas também o vulcão e o sismo.    

        Quando se fala de mudança, de transformação, ou até mesmo de revolução, existe sempre um movimento contrário, uma resistência que só é natural, porque a sombra continua a pesar sobre o humano. A sombra da personalidade e a penumbra que se estende sobre as relações sociais assenta numa teia de vaidade, de ilusão e de superficialidade. O lago de Narciso continua a colher o olhar e, numa Lua Cheia, onde os luminares se contemplam de frente, unindo-se e opondo-se, é fácil confundir a luz com o fogo-fátuo.

            Desta forma, a quadratura de Júpiter e Saturno a Úrano, unindo-se a partir do Lugar Sob a Terra (IV) com o Poente (VII), assinala que também as fundações da realidade encontram o seu fim, renovando-se e recriando-se, fazendo do velho o novo e do novo o velho. Os pilares do templo podem ruir para depois se erguerem num dolce stil novo, como diria Dante no Purgatório (XXIV, 57). Com esta quadratura, podemos ser os barqueiros das profundezas da realidade, sombrias e cristalizadas, ou os timoneiros da luz prometida e anunciada. Sob o brilho da Lua, de uma Lua Cheia, alta no céu, a Senhora da Luz, illuminata et iluminatrix, consagra a Nova Era, o Novo Humano.

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