"No princípio, Eurínome, Deusa de Todas as Coisas, brotou nua do Caos, mas não vendo substância em redor onde firmar os pés, apartou do céu o mar, dançando solitária por sobre as suas ondas. Ao dançar para o sul, descobriu no vento, que se soltava para trás de si e a cada passo seu, qualquer coisa de novo e distinto com que iniciar um acto de criação. Movendo-se, ondulante, estreitou nos braços esse vento norte, deixou-o deslizar-lhe por entre as mãos, e subitamente viu diante dela Ofião, a grande serpente. Eurínome dançava para aquecer-se, com tão selvático e crescente frenesi que fez Ofião, lúbrico de natureza, enrolar-se naqueles membros divinos, e tomado de desejo unir-se a ela. (...)
Depois ela tomou a forma de pomba e foi incubar por sobre a superfície das águas, e cumprindo-se o tempo, pôs o Ovo Universal. Por ordem dela se enrolou Ofião sete vezes em torno desse ovo, o qual se rompeu e dividiu em dois. Dele brotaram, desordenadamente, todas as coisas que existem e que são a prole dela: o sol, a lua, os planetas, as estrelas, a terra e as suas montanhas, seus rios, suas árvores, e todos os seres vivos.
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A seguir, criou a deusa as sete potências planetárias, pondo à cabeça de cada uma dela um Titã e uma Titânide: Teia e Hiperião reinavam sobre o Sol; Febe e Atlas sobre a Lua; Dione e Crio sobre o planeta Marte; Métis e Ceos sobre Mercúrio; Témis e Eurimedonte sobre o planeta Júpiter; Tétis e Oceano sobre Vénus; Reia e Crono sobre Saturno. O primeiro homem, porém, foi Pelasgo, antepassado dos Pelasgos; nasceu do solo da Arcádia, e outros o seguiram, aos quais ensinou a construir cabanas, a nutrirem-se de glandes, e a coser túnicas de pele de porco, iguais às que usam as gentes pobres de Eubeia e da Fócida."
Robert Graves, Os Mitos Gregos, pp. 33-34. Tradução Fernanda Branco. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 3ª Edição, 2004.