sexta-feira, 31 de março de 2023

Lunário: Abril de 2023


Cálculos para a Hora de Lisboa e com software Planet Dance.


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segunda-feira, 20 de março de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Lua Nova em Carneiro

 Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Nova em Carneiro (Primeira)

Lisboa, 17h23min, 21/03/2023

 

Sol-Lua

Decanato: Marte

Termos: Júpiter

Monomoiria: Marte  

 


  A Lua Nova de Março, aquela que marca o início do ano astrológico, ocorre naturalmente no signo de Carneiro, menos de um dia após o equinócio, com Virgem a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na VIII, no Lugar da Morte (θάνατος), da qualidade da morte, no decanato de Marte, nos termos de Júpiter e na monomoiria de Marte. A sizígia dá-se assim acima do horizonte e cerca de uma hora e vinte minutos antes do pôr-do-sol. Convém referir-se que, em 2023, vão assinalar-se duas luas novas no signo de Carneiro: uma no primeiro grau e outra no último, sendo esta um eclipse. No actual novilúnio, o encontro dos luminares ocorre a caminho do Poente, estando a Lua desfavorecida por estar fora do seu segmento de luz (αἵρεσις), num signo masculino, o da exaltação do Sol.

  Os temas do início do ano astrológico e da primeira Lua Nova de Carneiro convergem numa unidade de sentido que se estende, primordialmente, até ao segundo novilúnio, mas que marcará o ano de 2023, sobretudo até ao ingresso de Júpiter em Touro. Existem dois conceitos que marcam conceptualmente o signo de Carneiro. O primeiro é o conceito de Unidade, aquele que indica e promove o início do caminho vernal até Peixes, ou seja, da unidade à totalidade. O segundo conceito é o de πρᾶξις, a acção, e que resulta naturalmente do facto de, no Thema Mundi, Carneiro se encontrar no lugar de Culminação, no Meio do Céu, impulsionando tudo aquilo que se faz.  

  A via de Carneiro a Peixes ou de Peixes ao renovado Carneiro introduz, deste modo, uma outra ponte de sentido, uma que é, com frequência, difícil de conciliar, ou seja, aquela que une ou reúne a acção e a contemplação. A acção nasce da unidade e a contemplação procura a totalidade. São dois modos de ser e estar que a humanidade tem dificuldade de conciliar. No entanto, de um ponto de vista astrológico, a semente de um reside no outro. Um das mais antigas técnicas astrológicas, as dodecatemoria, cuja origem remonta à astrologia babilónica, embora naturalmente a um período posterior à criação do Zodíaco (século V AEC), apresenta a razão segundo a qual todas as propostas zodiacais criam uma harmonia de sentido.

  Na modelo do micro-zodíaco, mas também de uma outra forma na distribuição da décima segunda parte (v. Fragmentos Astrológicos, 2020: 173-92), ao dividir-se os trinta graus de um signo em doze partes de dois graus e meio e ao atribuí-las a cada signo, começando pelo próprio signo, existe uma integração das diversas significações numa só unidade. Assim sendo, acção e contemplação coexistem em todos os signos, embora no início ou no fim só em Carneiro e Peixes, assinalando-se a estrutura conceptual cíclica. 

  Manílio, numa das suas descrições dos signos, diz-nos, no entanto, acerca de Carneiro, que os seus desejos vão conduzi-lo ao desastre (Astronomica IV, 124-39). A acção sem finalidade, sem a contemplação ou a vontade de totalidade, é esvaziada e conduz necessariamente à ruína. Xenofonte, nas Memoráveis, afirma que “Os homens possuem, por natureza, tendências para a amizade, porque precisam uns dos outros: sentem compaixão, ajudam-se trabalhando em conjunto e, conscientes dessa situação, mostram-se agradecidos uns aos outros. Mas possuem também tendências para a guerra porque, quando consideram que as mesmas coisas são belas e agradáveis, lutam por causa delas e, como divergem nas opiniões, opõem-se uns aos outros; a discórdia e a ira são também sentimentos bélicos, a obsessão pelo lucro é hostil e a inveja conduz ao ódio.” (6.21-22, trad. A. Elias Pinheiro. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009). A lição de Xenofonte, de um ponto de astrológico, revela aqui o quanto Carneiro precisa do sentido de Balança, mas também do de Peixes, ou seja, na posição diametral e no fim do ciclo, encontra-se a chave da sua própria acção.

  Com a sizígia no Lugar da Morte, a acção que dá qualidade à morte torna-se mais significativa, sobretudo se conjugarmos esse sentido com o do Dragão da Lua. O eixo nodal passará, neste ano astrológico, do actual eixo Escorpião-Touro para o de Balança-Carneiro, ou seja, do eixo do valor (Morte e Vida) para o eixo da identidade (Dualidade e Unidade). Se considerarmos que o Dragão da Lua representa a interiorização do destino (Cauda Draconis) e da necessidade (Caput Draconis), a acção firma agora o seu sentido no peso, na gravidade do Destino e de como ele e o mundo são um e o mesmo. Nos Pensamentos, Marco Aurélio diz-nos o seguinte: “Tudo se harmoniza comigo o que contigo se harmoniza, ó mundo; nada me chega demasiado cedo ou demasiado tarde daquilo que a horas a ti acontece. Tudo quanto produzem as tuas estações, ó natureza, se volve para mim em recolhança de frutos! Tudo vem de ti, em ti se confina, a ti retorna.” (IV, 23, trad. J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995). Desta forma, o mundo e a proposta de astrológica de unidade e totalidade constroem-se sob um princípio de concórdia, de simpatia universal.

  A via de luz que ocupa, neste novilúnio, o quadrante superior feminino estende-se de Úrano até Neptuno e, de certa forma, até Saturno, embora já pós-poente. É portanto uma senda que transporta a revolução da Mãe-Terra, da Grande Mãe, a partir do Lugar de Deus, até à totalidade do amor universal e da necessidade, no lugar onde a luz fenece e a morte solar se alonga. No entanto, se concentrarmos o sentido da luz apenas no signo da sizígia, podemos encontrar um caminho que começa em Júpiter, passa por Mercúrio e termina no encontro dos luminares. Júpiter e Mercúrio são, em sentido lato, Estrelas da Tarde, tendo portanto uma visibilidade pós-poente que os torna, neste caso, expressões femininas. No entanto, numa análise mais restrita, existe uma diferença entre os dois planetas, pois Mercúrio encontra-se sob os raios solares (15 graus). A força abrasiva do Sol enfraquece assim a sua expressão.

  Júpiter e Mercúrio, devida a esta posição helíaca, tornam-se dependentes da força activa da sizígia. Porém, a união da razão e da palavra e da justiça e do bem à acção da luz adquire aqui uma força reforçada. Por outro lado, por estar fora do seu segmento e consequentemente ser o grande maléfico, Marte ganha uma força destrutiva suplementar. A essa qualidade acrescenta-se também o facto de ser o astro mais alto e aquele que se encontra mais próximo da culminação.

  Estes elementos posicionais concedem a Marte em Gémeos, já no fim do seu caminho por este signo, uma malignidade que contamina a acção humana. Ora, desta forma, o sextil entre Marte e a sizígia, bem como a Júpiter e Mercúrio, transporta consigo o peso da liberdade, ou seja, quando se escolhe o litígio, o confronto, as expressões de ira ou inveja, sofre-se o retorno da desmedida. A acção traz sempre consigo a reacção. A Necessidade não permite que roda do destino pare.        

  A retribuição da acção promovida por Marte em Gémeos expressa-se pelos raios quadrangulares entre este e Saturno e Neptuno em Peixes. De um ponto de vista astro-político, este é representa, como uma tensão, a dificuldade de se promover o Estado Social, a sua função primordial de diminuir a desigualdade e as assimetrias sociais. A conjunção de Saturno e Neptuno pedirá, ou exigirá, a refundação do socialismo como ideologia, mas também como sistema político e modelo socioeconómico.

  Na verdade, quando Júpiter passar para Touro, unindo-se hexagonalmente a estes planetas, o ecosocialismo reforçará a sua expressão política. Se pensarmos que, quando Plutão ingressar em Aquário, fará uma quadratura a Úrano em Touro, agravando as consequências nefastas das alterações climáticas, percebemos então que as transformações político-ideológicas se tornam necessárias. A selvajaria do individualismo liberal e a incapacidade de mudança do conservadorismo, a par da intolerância da extrema-direita, não vão servir os tempos que se avizinham e as necessidades da humanidade. 

  É também assinalável, pela força da despedida, a quadratura de Plutão em Capricórnio à Lua, ao Sol, a Mercúrio e a Júpiter em Carneiro. O poder da morte colide com a luz da acção. Existe uma pulsão de transformação que não se efectiva. Não existe, no acto criativo que cada um pode promover, uma integração da via do abismo ao cume, daquela que, como diria Heraclito, faz com que o caminho a subir e a descer seja um e o mesmo. A revelação que ilumina esse trilho que se oculta na espuma dos dias encontra-se parcialmente em Vénus.

  Em Touro, a deusa do amor encontra-se no seu domicílio e curiosamente encontra-se com aquele que, segundo o mito patriarcal, lhe deu origem. Afrodite/Vénus terá nascido da castração de Úrano. No entanto, neste signo feminino, existe uma proeminência da deusa do amor sobre o deus do céu. Aqui Vénus firma a sua expressão de amor universal, mas também de dádiva da terra, de flor e fruto.

  A relação de Vénus e de Úrano em Touro, a partir do Lugar de Deus, com Saturno e Neptuno em Peixes (sextil), mas também com Plutão em Capricórnio (trígono), agregando em si a mensagem do Dragão da Lua, assinala a forma como o Sagrado Feminino marca os nossos tempos. O amor e a necessidade assumem-se como baluartes de uma nova era, um tempo em que a sabedoria se erguerá sobre as cinzas da realidade. Na Era do Espírito Santo, depois de séculos de exílio, o rosto feminino do divino revelar-se-á.

  No tempo entre o actual novilúnio e a segunda Lua Nova de Carneiro, não encontraremos nenhum planeta retrógrado, promovendo-se assim, uma vez mais, a ideia de actividade. Mercúrio, Vénus e Marte avançarão para os signos seguintes: Mercúrio de Carneiro para Touro; Vénus de Touro para Gémeos; e Marte de Gémeos para Caranguejo. Já Júpiter e Saturno permanecerão nos signos actuais, ou seja, Júpiter em Carneiro e Saturno em Peixes. Nos planetas colectivos, Úrano continuará o seu ingresso por Touro e Neptuno por Peixes, enquanto Plutão chegará a Aquário.

  A Lua Nova de Carneiro transporta consigo o sentido profundo de conjugar a unidade na acção e de tornar a identidade uma forma de actividade. No entanto, a acção precisa de propósito, de finalidade. Esse é o desafio que se avizinha.  

Sol em Carneiro: De 20 de Março a 20 de Abril de 2023


Sol em Carneiro: De dia 20 de Março a dia 20 de Abril.

O Sol ingressa Carneiro às 21h25min de hoje.

segunda-feira, 13 de março de 2023

Livros - Rodolfo Miguel de Figueiredo

 


Livros - Rodolfo Miguel de Figueiredo

Aventurei-me, em 2020, na edição e publicação dos meus próprios livros. Para quem trabalhou cerca de dez anos com livros, editoras e livrarias, poder fazê-lo independentemente, controlando todo o processo, é uma grande satisfação.

Desde então foram editados dez títulos: cinco de astrologia, três de poesia, um de contos e um romance.
- Fragmentos Astrológicos
- Reflexões Astrológicas 2021: Parte I
- Reflexões Astrológicas 2021: Parte II
- Reflexões Astrológicas 2022: Parte I
- Reflexões Astrológicas 2022: Parte II
- Sophia: fragmentos
- O Resto Permanece Humano: Livro I
- O Resto Permanece Humano: Livro II
- Esta Noite Sonhei com Dante e outras históricas
- A Casa da Torre Velha

Destes dez títulos foram disponibilizadas dez edições comuns (paperback), três edições especiais de capa dura (hardcover), dez edições para o Google Play e Google Books (quatro delas gratuitas), seis edições para o Amazon Kindle e seis edições para o Rakuten Kobo. Trinta e cinco edições no total.

Este é um projecto para continuar. Em Abril, será publicada a Obra Reunida da minha avó, Margarida Figueiredo, sendo minha a edição e organização. Neste volume, estão reunidos os poemas que publicou em vida, em três livros, e os inéditos que se conseguiu reunir. Depois, são esperadas muitas surpresas e novidades, em especial, no que concerne à astrologia, mas não só.

Por isso, estejam atentos, pois estes livros foram escritos e editados para os seus leitores.


Saiba mais sobre estes títulos no nosso site https://rodolfomfigueiredo.wixsite.com/livros

sexta-feira, 10 de março de 2023

Reflexões Astrológicas 2022: Parte II - Citação 2


Livro

Reflexões Astrológicas 2022: Parte II



Sinopse

Nas Reflexões Astrológicas, procura-se analisar anualmente alguns eventos astrológicos. O objectivo é examinar e explorar, de ano para ano, diferentes aspectos do sistema astrológico, de modo a apresentar uma compilação interpretativa o mais ampla possível. No ano de 2022, as Reflexões Astrológicas focam-se nos principais fenómenos astrológicos: as Luas Novas, os Eclipses e as Estações. Inclui-se também uma interpretação um pouco mais extensa dos eclipses que ocorrem em 2022.

Uma vez que os textos aqui reunidos foram publicados nos blogues do autor e nas redes sociais do autor, o livro electrónico é de distribuição livre e gratuita. As Reflexões Astrológicas para 2022 serão disponibilizadas em duas partes, correspondendo cada uma aos textos de um semestre. O livro impresso será comercializado a um preço reduzido, de modo a tornar estas reflexões acessíveis.

A astrologia, que nestas reflexões se quer expressar, nasce sobretudo de uma premissa de liberdade e independência, ou seja, o seu autor não se pretende fixar em correntes, não quer seguir mestres, e muito menos ser ele próprio um, nem pretende papaguear um discurso astrológico vazio, repetitivo, e que promove apenas a bajulação. Estas reflexões valem por si e procuram apenas servir a beleza do pensar e a vontade de dignificar a astrologia.


Edição: Janeiro de 2023
ISBN: 9798371360762
Páginas: 124

Livro: Edição Comum (Paperback)
Preço: 9,00€ (amazon.es)

Ebook Gratuito


Saiba mais no nosso sítio

quarta-feira, 8 de março de 2023

Lançamento: O Resto Permanece Humano: Livro II



Lançamento

O Resto Permanece Humano: Livro II

10º Livro e 3º Livro de Poesia



Sinopse


O Resto Permanece Humano é um projecto editorial que procura reunir e continuar a obra poética que começou dispersa no blogue com o mesmo nome, bem como nos outros sítios e redes sociais do autor, incluindo também muitos poemas inéditos. Os noventa e um poemas que estão reunidos neste segundo livro foram escritos maioritariamente entre 2019 e 2022, embora tenham sido incluídos alguns poemas mais antigos, e estão organizados, tal como no Livro I, de forma a permitir uma percepção dos vários vectores que sistematizam o pensamento do autor.

A obra cujo título segue os versos de Ovídio, “cetera sunt hominis, partem damnatur in unam / induiturque aures lente gradientis aselli” (Metamorfoses, XI, 178-9), pretende mostrar que, quando a acção humana e a espuma dos dias colocam o humano em remissão, esvaziando o sentido de humanidade, existe sempre algo que resta, algo que conserva esse humano que se perde.

A sabedoria continua a ser um caminho de redenção.



Edição Comum 
(Paperback)

Edição: Março de 2023
Páginas: 138
ISBN: 9798374692808
Preço: 12,00€ (UE)

Comprar no Amazon


Ebook

Preço: 4,00€ (UE)

segunda-feira, 6 de março de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Saturno em Peixes

  Reflexões Astrológicas


Lunações


Saturno em Peixes

Lisboa, 13h35min, 07/03/2023

 

Sol-Lua

Decanato: Saturno

Termos: Vénus

Monomoiria: Júpiter  

 


  O primeiro ingresso de Saturno em Peixes ocorre com Caranguejo a marcar a hora, para o tema de Lisboa e, deste modo, na IX, no Lugar de Deus, no Lugar do Deus Sol, no decanato de Saturno, nos termos de Vénus e na monomoiria de Júpiter. O ingresso dá-se assim acima do horizonte e cerca de seis horas após o nascer-do-sol. Saturno encontra-se, deste modo, favorecido por estar no seu próprio segmento (αἵρεσις) e no lugar do regente do segmento, o Sol. O estudo deste ingresso e do seu tema é essencial para a compreensão dos tempos que se avizinham. A chegada de Saturno a Peixes é o acontecimento astrológico mais importante de 2023, seguido pelo ingresso de Júpiter em Touro em Maio, criando-se, nesse momento, uma harmonia entre os planetas e os elementos Água e Terra. No tempo (Saturno) e no espaço (Júpiter), o Eterno Feminino tornar-se-á a dádiva da transformação.

  Primeiramente é necessário situar, no tempo cronológico, este ingresso de Saturno em Peixes que acontece em dois momentos. O primeiro ingresso ocorre de 7 de Março de 2023 a 25 de Maio de 2025 e o segundo, mais curto, de 1 de Setembro de 2025 a 14 de Fevereiro de 2026. Passará por três momentos em que estará retrógrado: o primeiro, de 17 de Junho a 4 de Novembro de 2023; o segundo, de 29 de Junho a 15 de Novembro de 2024; e o terceiro, de 13 de Julho a 28 de Novembro de 2025 e que inclui, como é perceptível pelos períodos anteriormente mencionados, o primeiro ingresso de Saturno em Carneiro e o retorno a Peixes. Neste dois períodos, convém também assinalar a passagem de Júpiter pelos signos de Carneiro a Caranguejo e o ingresso de Neptuno em Carneiro (primeiro de 30 de Fevereiro a 22 de Outubro de 2025 e depois a partir de 26 de Janeiro de 2026), isto para não falar do ingresso de Plutão em Aquário, a 23 de Março de 2023.

  O ingresso de Saturno, do planeta do Tempo e da Necessidade, em Peixes, no signo da totalidade, transporta consigo um sentido natural de conclusão, de término ou fim de ciclo. Segundo a ordem vernal, Peixes é o último signo e, assim sendo, a chegada de Saturno a este signo tem necessariamente a significação do fim, mas também a da repetição, da estruturação do mesmo, da criação de uma unidade de sentido, resultante da assimilação da totalidade em torno do propósito que a Necessidade estabelece. Ora essa ideia de propósito une tanto a regência de um deus do tempo como a de um deus agrícola. Esse é também o sentido do aforismo de Novalis que diz que “o fragmento é semente”, ou seja, a singularidade de um fragmento de tempo torna-se quer o potencial, quer a finalidade da proposta que ele próprio apresenta. A Necessidade é portanto uma totalidade que permeia toda e qualquer parte.

  Se a respeito de Peixes já discutimos o imperativo de refundar a sua significação (v. Reflexão Astrológica da Lua Nova de Peixes), então, no que a Saturno concerne, confirma-se o mesmo imperativo. A questão em torno da refundação do sentido não é exclusiva deste planeta, mas é neste caso mais evidente. A significação planetária, e também zodiacal, tal como a conhecemos, resulta, de um modo geral, de um modelo categórico da física aristotélica ou do eclectismo ptolemaico. Porém, existiam, na Antiguidade, outros modelos interpretativos, nomeadamente o de Platão e o do platonismo. Segundo Plotino, Saturno simbolizaria o Intelecto (Νοῦς) e Zeus, a Alma (Enéadas V, I, 4). Existia pois uma glorificação de Saturno por este não representar os poderes terrenos, mas sim o poder mais puro do pensamento.

  Klibansky, Panofsky e Saxl dizem-nos que “Saturno possuía a dupla propriedade de ser o antepassado de todos os outros deuses planetários e de ter o seu trono no céu superior. Essas duas qualidades, que devem ter estado originalmente conectadas, garantiram-lhe uma supremacia, sem qualquer contestação, no sistema neoplatónico, que se esforçou neste caso, como em outros, por reconciliar as visões platónicas com as aristotélicas. A hierarquia dos princípios metafísicos que remontava a Platão, segundo a qual o genitor tinha precedência sobre o gerado, estava ligada ao princípio aristotélico do pensamento "topológico", segundo o qual uma posição mais elevada no espaço significava maior valor metafísico.” (Saturn and Melancholy, 1979: 152-3. Nendeln/ Liechtenstein: Kraus Reprint). Esta proeminência de Saturno, a par da atribuição de Plotino, desperta uma outra questão, visto que normalmente o Intelecto é o Sol.

  Existiu uma tradição babilónica, sobretudo num período de cerca de 750 a 612 AEC, que designava Saturno como “o Sol”, Šamaš, em vez da nomenclatura astronómica mais comum (cf. van der Sluijs, M. A. & P. James, 2013, “Saturn as the Sun of Night in Ancient Near Eastern Tradition” in Aula Orientalis 31.2, 279-321). Esta designação torna Saturno o “Sol da Noite”, em oposição ao próprio Sol, o “Sol do Dia”, e pode ter a sua origem num dos elementos astrológicos radicalmente babilónico: as exaltações planetárias (as outras são o aspecto de trígono e as dodecatemoria). O lugar de exaltação do Sol, Carneiro, opõe-se ao da exaltação de Saturno, Balança. Esse eixo pode ser assim aquele que une o “Sol do Dia” e o “Sol da Noite” e a tradição deste sentido de Saturno persiste, mesmo que de forma discreta, na tradição greco-romana. Ptolomeu, por exemplo, diz que os habitantes do território entre a Mesopotâmia e a Índia chamavam à estrela de Vénus Ísis e à de Saturno Mitra Hélios (Apotelesmática II, 3).

  Por outro lado, e seguindo também uma interpretação que é quase oposta ao Saturno aristotélico, temos o Saturno feminino, algo que já abordei por diversas vezes (Fragmentos Astrológicos, 2020: 167-72; Reflexões Astrológicas 2021: Parte II, 2022: 30-1). Esta é a tradição cuja referência mais antiga pertence a Doroteu de Sídon (Carmen Astrologicum, I, 10, 18-19) e que pode ter ainda uma matriz de sentido na proeminência do númen feminino no reinado de Saturno. A astrologia precisa pois de uma metodologia interdisciplinar para melhor compreender os seus conceitos. O estudo rigoroso da mitologia pode, desta forma, contribuir para refundação desses mesmos conceitos.

  No tempo de Cronos/Saturno, a sua mãe Gaia e a sua esposa Reia eram duas deusas poderosas, que não se apresentavam com uma submissão ao paradigma androcêntrico, como a que encontramos nos deuses olímpicos. Ora esse factor está presente em Manílio quando coloca a Mãe dos Deuses (Reia/Cíbele), a par de Júpiter, como regente divino do signo de Leão (Astronomica II, 447). Se pensarmos que, do outro lado do eixo, está Saturno como regente astrológico de Aquário, encontramos então um elo de ligação com Saturno como o “Sol da Noite”.     

  Compreendemos, desta forma, que as significações não são lineares e que, ao longo dos tempos, transmitem uma prevalência interpretativa que não é, no entanto, exclusiva. Existem outros sentidos que podem e devem ser recuperados. De um ponto de vista mitológico ou astro-mitológico, encontramos ainda uma outra tradição que nos concede um elemento de passagem entre o próprio Saturno e o Saturno em Peixes. Para além do facto de Saturno ser o regente da Idade de Ouro, ele é também o rei da Ilhas dos Bem-Aventurados, ou Ilhas Abençoadas.

  Neste mito (e.g. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias 156 e ss.; Platão, Górgias 525a e ss.), após o seu destronamento e prisão no Tártaro, Cronos/Saturno terá sido reabilitado e terá encontrado um novo trono nas Ilhas dos Bem-Aventurados que, segundo alguns, incluiriam os nossos Açores ou toda a Macaronésia. Nestas ilhas, onde se encontram os Campos Elísios, viveriam aqueles que não têm de perturbar a terra com o vigor das mãos e que vivem uma existência sem lágrimas (Píndaro, Ode Olímpia 2.55 e ss.). Este mito indica, sem grande esforço interpretativo, Saturno em Peixes, a Necessidade sobre a Totalidade.

  O tema do ingresso de Saturno em Peixes, para a hora de Lisboa, tem uma particularidade deveras interessante, pois ao fixar a hora em Caranguejo reproduz a disposição de lugares do Thema Mundi. Ora, desta forma, Saturno vai cair no lugar de Peixes, a IX, o Lugar de Deus. Esta posição torna mais significativa uma certa diminuição da malignidade de Saturno, uma vez que em Peixes está no domicílio de Júpiter, aquele mitologicamente ocupou o seu lugar, e está também fora de seu segmento de luz e num signo feminino. A condição de Saturno pode assim, se a humanidade permitir, conceder à totalidade a Necessidade, ou seja, pode conferir a dádiva da aceitação do destino, a sua interiorização. Se conhecermos o propósito, a finalidade, o sentido do todo, o caminho adquire um outro valor e transforma toda a acção.  

  Este tema, considerando-se os eixos de ascensão e culminação, apresenta uma beleza singular e uma intensa expressão do feminino que, tendo em conta os sentidos alternativos para Saturno, alcança uma proposta significativa profunda. Primeiro temos o eixo pós-plenilúnio que une a Lua em Virgem a Saturno, Mercúrio, ao Sol e a Neptuno em Peixes, estendendo esta concentração até ao Lugar da Deusa, a III, onde a Lua se encontra.   

  De seguida, temos os dois trígonos: o da Água que une o ponto que marca a Hora em Caranguejo aos planetas em Peixes e à Cauda Draconis em Escorpião, em que o Destino se torna a vida e a fé, a sabedoria; e o de Terra que, por sua vez, une a Lua em Virgem a Úrano e à Cauda Draconis em Touro e a Plutão em Capricórnio, a caminho do poente, ou seja, um triângulo que faz da Deusa, do Eterno Feminino, o espírito que se erguerá sobre as cinzas do velho mundo e a aurora de uma Nova Era. Por fim, face a estes dois trígonos, temos os seis sextis que resultam destas ligações, destas harmonias.

  Existem, no entanto, dois elementos que divergem desta unidade entre a Água e a Terra. Um diverge, convergindo, pois afirma a acção do bem sobre esta proposta de sentido. Vénus e Júpiter em Carneiro permitem que o bem, a beleza e justiça se tornem actividade. Desde que a humanidade queira, a efectivação da dádiva é uma possibilidade. Os benéficos são os astros mais altos, raiando de esperança, de luz, mas colidindo com a morte sobre o Ocaso (Plutão em Capricórnio), sobre o seu poder. A destruição é o perigo de uma actividade movida pela desmedida. No entanto, uma vez mais, será Marte em Gémeos a expressar uma pulsão de divergência disruptiva, firmada pelos raios quadrangulares aos planetas em Peixes e à Lua em Virgem. A malignidade do pensamento dual que finge querer a mudança, quando o que faz é ferir e separar, continua a ser uma ameaça real. As teias de desinformação que alimentam o ódio, a xenofobia, a misoginia, o racismo, a intolerância são o abismo do humano. Porém, a acção do bem, dos actos que promovem a igualdade, a liberdade e a fraternidade continuam a ser o outro lado da barricada (sextil de Marte em Gémeos a Vénus e Júpiter em Carneiro).

  Saturno ingressa em Peixes no momento em que, neste signo, se encontram o Sol, Mercúrio e Neptuno. Esta concentração de luz, a partir do Lugar de Deus, apresenta-se como o fogo na câmara interna, no Santo dos Santos. Desse santuário profundo, a luz e a necessidade, a palavra e o amor universal podem alcançar a humanidade, a totalidade. Se considerarmos Saturno como o Intelecto, o que não diverge da ideia estóica de Destino ou a ideia platónica de Necessidade, podemos observar então a sua acção como parte deste princípio que permeia o mundo e que tece uma harmonia, uma simpatia, entre o microcosmos e o macrocosmos. Saturno em Peixes é, em suma, a Necessidade ou o Destino na totalidade.  

quarta-feira, 1 de março de 2023

Lua Fora de Curso: Março de 2023


Lua Fora de Curso


Março de 2023


A Lua, como qualquer Planeta, quando está Vazio ou Fora de Curso, preserva um princípio de continuidade cíclica, embora desconectada, mas perde o sentido de direcção. Existe uma ausência de finalidade, apesar de existir movimento.

Os períodos em que a Lua está Fora de Curso devem ser tidos em consideração para melhor se decidir o tempo de agir ou pensar, de falar ou calar. Em termos empresariais, este não é, por exemplo, o momento certo para fechar um acordo ou negócio, para lançar um produto ou para marcar uma reunião. 

A Lua Fora de Curso não é, porém, o único aspecto a ter em consideração, mas é um dado fundamental para a astrologia aplicada às empresas.

 

Cálculos para a Hora de Lisboa e com software Planet Dance.



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