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terça-feira, 30 de setembro de 2025

Hairesis ou o Segmento de Luz: A Primeira Dignidade Astrológica


   
   No século I da Era do Comum, Trasilo, o astrólogo e amigo do Imperador Tibério, dizia o seguinte: "Determina também as setes zonas de acordo com a tradição de Petosíris e Nechepso, tal como a própria defende. E determina a natureza das errantes e quais as que são apropriadas para cada um dos signos; assim como que a Cronos e Zeus seguem o Sol, já Ares e Afrodite, a Lua, portanto afirma que uns são do segmento do Sol, os outros do da Lua, enquanto Hermes é comum" (Tábua ou Pínax in Catalogus Codicorum Astrologicum Graecorum, VIII/3: 99-101).

   Esta que é umas das mais antigas descrições deste modelo e que resume uma divisão simples, mas que, no entanto, era a primeira a se ter em consideração na análise de qualquer tema. Dia ou Noite? Esta é primeira de todas as questões. Se o tema for diurno, o Sol domina. Se o tema for nocturno, é a Lua que domina. Esta divisão é a base do modelo astrológico. Curiosamente, a Hairesis (αἵρεσις) que optei por traduzir por Segmento de Luz, o sect of light anglo-saxónico ou a seita como traduzem os nossos amigos brasileiros, seguindo a vertente religiosa-espiritual do termo e que foi chegar à nossa heresia, deixou de ser tida em consideração.

    Esta dignidade foi utilizada como base do sistema interpretativo consistentemente até Abu Mashar, ou seja, até à grande astrologia árabe. Na era moderna, caiu em desuso e desapareceu do sistema astrológico. Foi, porém, reabilitada com a releitura dos textos astrológicos gregos e latinos. Se olharmos com atenção, ou seja, com olhos de ver, torna-se incompreensível que a distinção dia e noite não seja considerada desta forma, pois a leitura mais imediata.

    A presença do Segmento de Luz no sistema astrológico torna-se assim consequente e necessária, pois não só tem raízes profundas na leitura astrológico como tem uma validade interpretativa facilmente comprovável. Para o astrólogo tradicional, mesmo que não helenístico, esta presença é natural. Resta saber se o astrólogo de uma linhagem contemporânea está disponível para essa reposição.   
    


Síntese do Modelo Astrológico do Segmento de Luz

 

O !, ) e * pertencem ao segmento diurno e são considerados masculinos. Pode-se considerar também ) masculino e * feminino (acerca de Saturno feminino leia-se o meu livro Fragmentos Atrológicos).    

 

O #, & and ( pertencem ao segmento nocturno e são considerados femininos. Pode-se considerar também & feminino e ( masculino.

 

Se $ nasce antes do ! (Estrela da Manhã), pertence ao segmento diurno e é considerado masculino.

 

Se $ nasce depois do ! (Estrela da Tarde), pertence ao segmento nocturno e é considerado feminino.


 

Um planeta do segmento diurno num tema diurno está no seu próprio segmento por natureza.

 

Um planeta do segmento diurno num tema nocturno está fora do seu próprio segmento por natureza.

 

Um planeta do segmento nocturno num tema nocturno está no seu próprio segmento por natureza.

 

Um planeta do segmento nocturno num tema diurno está fora do seu próprio segmento por natureza.

 


Força Benéfica de &.

& pertence ao segmento nocturno. Num tema nocturno, é um benéfico forte. Num tema diurno, é um benéfico fraco.

& no seu próprio segmento é mais benéfico. & fora de segmento é menos benéfico.

 

Força Benéfica de ).

) pertence ao segmento diurno. Num tema diurno, é um benéfico forte. Num tema nocturno, é um benéfico fraco.

) no seu próprio segmento é mais benéfico. ) fora de segmento é menos benéfico.

 

Força Maléfica de (.

( pertence ao segmento nocturno. Num tema nocturno, é um maléfico forte, ou seja, menos destruidor. Num tema diurno, é um maléfico fraco, ou seja, mais destruidor.

( no seu próprio segmento é menos maléfico. ( fora de segmento é mais maléfico.

 

Força Maléfica de *.

* pertence ao segmento diurno. Num tema diurno, é um maléfico forte, ou seja, menos destruidor. Num tema nocturno, é um maléfico fraco, ou seja, mais destruidor.

* no seu próprio segmento é menos maléfico. * fora de segmento é mais maléfico.

 

De dia ou de noite, o planeta em posição superior, ou seja, acima do horizonte (eixo Ascendente-Descendente) torna-se mais proeminente e mais activo. Contrariamente, os planetas abaixo do horizonte têm uma expressão mais contida e menos activa. No entanto, os lugares que ocupem podem exponenciar ou mitigar essa condição. 

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Os 7 Sistemas de Termos da Astrologia Antiga (4): Sistema por Triplicidade e Segmento


   Este sistema é descrito por Vétio Valente (III, 6) e, embora a tabela não conste no capítulo, a reconstrução a partir dos dados por ele enunciados permitiu a avaliação de um modelo que tenta ser o mais abrangente possível. Apesar de revelar algumas inconsistências, procura reunir diversas tradições, algumas das quais já enunciadas aquando dos outros sistemas. Esta formulação é a única que apresenta os termos por segmento, haíresis, (o Sistema Caldaico ou Hermético apresenta apenas para a terceira triplicidade um regente diurno e nocturno) e que inclui os dois luminares, permitindo assim a divisão em sete conjuntos de termos por signo.

   A apresentação deste modelo por Vétio Valente tem levantado algumas dúvidas aos comentadores da sua obra, pois o sistema não surge indicado em nenhum horóscopo. No entanto, é um modelo completo e coerente na sua própria dinâmica, concluindo-se, desse modo, que possa resultar de um esforço teórico do próprio Valente ou de outro astrólogo em quem se tenha baseado. A estrutura base deste sistema consiste na atribuição do regente da triplicidade ao primeiro conjunto de termos, tanto no segmento diurno como no nocturno. Ora é a partir dessa primeira atribuição que as outras se constituem. Porém, existe um processo anterior de atribuições, que, na verdade, está base de toda a estrutura.

   Vétio Valente apresenta este sistema como um contraponto de um outro. No início do capítulo afirma o seguinte: "Para mim não me parece certo o que alguns propõem a respeito dos termos (hória) das sete zonas (heptázônon) enquanto 8, 7, 6, 5 e 4 (e mais não existe harmonia nessa escolha), mas de outro modo seria se fosse de acordo com os domicílios (oíkos), as exaltações (hypsómata) e as triplicidades (trígônos)" (III, 6, 20-22, Ed. Pingree, 1986, tradução do grego). O primeiro modelo é aquele que Ptolomeu designa como Caldaico (I, 21, 12-19) e que Valente, pelo menos segundo Pingree (Yavanajātaka, II: 214), designa como Hermético ou pertencente a Hermeias (IV, 29). É face a esse sistema que Valente apresenta este outro como alternativa e para o sustentar indica as seguintes atribuições:
  • Sol - O seu domicílio é Leão, está exaltado em Carneiro e está na sua triplicidade em Sagitário, o que representa 3 termos por signo.
  • Lua - O seu domicílio é Caranguejo, está exaltado em Touro e está na sua triplicidade em Virgem e Capricórnio, o que representa 4 termos por signo.
  • Saturno - O seu domicílio é Capricórnio e Aquário, está exaltado em Balança e está na sua triplicidade em Gémeos, o que representa 4 termos por signo.
  • Júpiter - O seu domicílio é Sagitário e Peixes, está exaltado em Caranguejo e está na sua triplicidade em Carneiro e Leão, o que representa 5 termos por signo.
  • Marte - O seu domicílio é Carneiro e Escorpião, está exaltado em Capricórnio e está na sua triplicidade em Peixes e Caranguejo, o que representa 5 termos por signo.
  • Vénus - O seu domicílio é Touro e Balança, está exaltado em Peixes e está na sua triplicidade em Virgem e Capricórnio, o que representa 5 termos por signo.
  • Mercúrio - O seu domicílio é Gémeos, está exaltado em Virgem e está na sua triplicidade em Aquário e Balança, o que representa 4 termos por signo.
Nota: O texto, aquando da atribuição de triplicidade, refere apenas os signos que não estão nem no domicílio, nem em exaltação. Por outro lado, convém ressalvar que uso do plural termos conduz a uma associação com os graus.

   O número de cada conjunto de termos é assim estabelecido, bem como o regente de cada grupo. Na primeira triplicidade, o regente diurno é o Sol, devido à exaltação de Carneiro, e o regente nocturno é Júpiter, por ser o domicílio de Sagitário. O primeiro grupo de termos obedece a esta regra de regência: a maior dignidade estabelece o regente diurno e a que se segue, o nocturno. Se o primeiro grupo fixa a regência, o segundo é uma inversão do primeiro, à excepção da quarta triplicidade, pois regente o diurno e nocturno é o mesmo. Os grupos seguintes vão então construir uma sequência de triplicidades, por exemplo, os grupos de termos 3 e 4, da primeira triplicidade, reproduzem os grupos 1 e 2 da segunda triplicidade, e assim sucessivamente. Ora, desta forma, este é um sistema que se mostra coerente e dinâmico e, apesar de não existirem registos da sua utilização prática, não deixa de ser um modelo astrologicamente viável.