sexta-feira, 15 de setembro de 2023
domingo, 18 de junho de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Lua Nova em Gémeos
Reflexões Astrológicas
Lua Nova em Gémeos
Lisboa, 05h37min, 18/06/2023
Sol-Lua
Decanato: Sol
Termos: Saturno
Monomoiria: Sol
A
Lua Nova de Junho ocorre no signo de Gémeos, estando este a marcar a hora para
o tema de Lisboa e, deste modo, na I, o Leme (οἴαξ) do tema, no decanato de Sol, nos
termos de Saturno e na monomoiria de Sol.
A sizígia dá-se ainda abaixo do horizonte e a cerca de vinte e cinco minutos do
nascer-do-sol. No actual novilúnio, os luminares encontram-se sob o horizonte,
ainda ocultos, mas rumando, na barca da luz, o caminho de ascensão. A Lua
encontra-se pois desfavorecida por estar num signo masculino e, considerando-se
que apenas Mercúrio acompanha os luminares e numa fase helíaca também ela
masculina, a força do feminino assim encontra-se debilitada.
A
harmonia dos contrários depara-se, nesta qualidade essencial, com o primeiro
elemento disruptivo. Existe aqui um sentido inicial para o actual
desenraizamento da terra, do feminino. A dualidade de Gémeos, expressa
radicalmente no mito dos Dióscoros (cf.
Figueiredo, R. M. de, 2021, Fragmentos
Astrológicos, 137-8. Lisboa: Livros – Rodolfo Miguel de Figueiredo), indica
o movimento de passagem entre o humano e o divino, tal como o signo que lhe é
oposto, Sagitário, aponta para a passagem do animal ao humano. Na verdade, esta
é a senda sapiencial, da forma como se passa do conhecimento à sabedoria. Ora
essa é a proposta do eixo Gémeos-Sagitário.
O
impulso primordial que nos deve encaminhar para a sabedoria é o mesmo que nos
faz procurar o divino. No entanto, a questão deste eixo é que ele não anula a
dualidade. Esta permanece activa, promovendo a alternância de sentido entre os
elementos duais. Neste eixo, não existe a integração do múltiplo no uno ou na
totalidade como aquela que é proposta no eixo Virgem-Peixes. A relação entre os
dois eixos torna-se aqui particularmente significativa porque Saturno
retrógrado em Peixes é, neste novilúnio, aquele que alimenta a cisão da
harmonia.
No
mito dos Dióscoros, não existe uma união dos contrários. Pólux conserva a sua
natureza semidivina, já Castor morre por ser humano, e mesmo a ascensão ao céu
estrelado não representa uma conciliação ou encontro, pois o dom do céu é
concedido em dias alternados. A desmedida e a retribuição não distinguem, contudo,
a natureza humana ou semidivina. Os dois pares de gémeos, Pólux e Helena
(divino) e Castor e Clitemnestra (humano), sofrem o peso, a gravidade, da
Necessidade. A tensão da sizígia em Gémeos a Saturno em Peixes é, desta forma,
indicadora desta condição primordial.
Cícero
adverte o leitor para a discórdia existencial entre a força da Necessidade e a
Virtude, dizendo o seguinte: “Tu
não sabes, insensato, não sabes de que força dispõe a virtude; limitas-te a
usar o nome da virtude, mas ignoras o seu efectivo valor. Ninguém que dependa
exclusivamente de si e considere que todo o seu bem está na qualidade do seu
carácter poderá não ser o mais feliz dos homens. Quem, pelo contrário, põe
todas as suas esperanças, cálculos e projectos na dependência da fortuna, esse
nunca possuirá nada seguro, nada do que empreendeu estará certo de guardar como
seu até ao fim do dia. Se encontrares no teu caminho um homem destes ameaça-o
com a morte ou com o exílio, e vê-lo-ás ficar em pânico. Pela minha parte, nem
tentarei subtrair-me nem oferecerei qualquer resistência a nada do que me
aconteça nesta tão ingrata cidade.” (Paradoxa
Stoicorum, Paradoxo II, 17-18 in
Cícero, Textos Filosóficos I, 2ª ed.,
trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2018: Fundação Calouste Gulbenkian, 12).
Viver sob a égide da Fortuna, dos
ditames da Necessidade, conduz-nos naturalmente a uma forma de servidão. Neste
novilúnio, depois de Marte reinar no cume do céu, Saturno em Peixes é o astro
mais alto, colocando assim a Necessidade e a proposta de totalidade como
elementos profundos de sentido. Cícero lembra-nos que é a virtude que nos
liberta do destino. Para quem crê na metempsicose, só a excelência nos
libertará da roda de reencarnações, dos ditames da Necessidade. Esta não é,
porém, nem uma virtude catequista, empoeirada por pó e cinza, nem uma aura de
herói que assombra o humano com o divino. A
virtude estóica é um modo de vida.
Séneca, na continuidade desse
sentido, diz-nos que “Para formar juízos
de valor sobre as grandes questões há que ter uma grande alma, pois de outro
modo atribuiremos às coisas um defeito que é apenas nosso, tal como objectos
perfeitamente direitos nos parecem tortos e partidos ao meio quando os vemos
metidos dentro de água. O que interessa não é o que vemos, mas o modo como
vemos; e no geral o espírito humano mostra-se cego para a verdade!” (Ep.71.24-5; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A.
Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). Ora
a dualidade luminar da sizígia em Gémeos em colisão com a necessidade como
totalidade indica-nos essa mesma cegueira da verdade. No fundo, e hoje mais do
nunca, a ignorância e o excesso de si tolda-nos os juízos e impede-nos de ver a
verdade. A palavra pode ser também aqui um elemento disruptivo.
A relação entre liberdade e destino
é um pilar de sentido na filosofia astrológica, todavia, não deve ser entendida
como é comummente abordada, como se existisse um antagonismo radical nos
conceitos. A questão é que, da perspetiva que dominou uma parte considerável
do pensamento antigo, a liberdade está para além da roda da necessidade e não
no seu interior. A união de Saturno e Neptuno em Peixes no cume do tema da Lua
Nova representa essa dificuldade e, do outro lado do sentido, encontra-se a
dualidade de luz entre o humano e o divino como leme da vida e da acção. A
sizígia em Gémeos, pela regência domiciliar de Mercúrio, vai pedir uma
reestruturação da palavra e da razão, ou seja, é exigida uma renovada mediação.
O elemento de passagem é essencial neste signo dual. A integração da necessidade
na vida pede portanto que se encontre a harmonia nesta tensão radical.
Neste novilúnio, Plutão surge também
como elemento disruptivo, primeiro por seu o único astro do hemisfério
ocidental e depois devido à sua retrogradação e ao seu regresso a Capricórnio.
As estruturas afectadas por este trânsito vão voltar a sofrer as influências
plutonianas, nomeadamente os sistemas económicos e financeiros, mas também as
estruturas profundas da terra, como por exemplo as erupções vulcânicas das últimas
semanas, mas também as consequências das alterações climáticas, como os
incêndios no Canadá.
Nos meses em que Plutão estiver em
Capricórnio, podemos voltar a assistir a falências ou crises no sistema
bancário, bem como às consequências da inflação, da subida das taxas de juros e
da especulação imobiliária. No entanto, a relação benéfica de Plutão a Júpiter
e a Úrano em Touro (trígono) e a Saturno e Neptuno em Peixes (sextil), bem como
ao Dragão da Lua (trígono à Caput em Touro e sextil à Cauda em Escorpião),
conferem uma possibilidade de transformação colectiva. A renovação do valor do
viver, a ligação à Terra e a necessidade de empatia e solidariedade são a luz
no caminho.
O último grande elemento disruptivo
possui também ele uma qualidade dual, ou seja, possui tanto um valor benéfico
como um potencial maléfico. A posição de Vénus e Marte em Leão junto ao Ponto
Subterrâneo enraíza, no tema do novilúnio, esta harmonia dos contrários. De um
ponto de vista colectivo, a nobreza da alma e o narcisismo serão as duas faces
da mesma realidade e, neste sentido, esta dicotomia leonina será colocada entre
o desejo e a força, entre Vénus e Marte. Porém, esta pulsão ou paixão
primordial possui uma dimensão relativa e é esta que atribuirá ou condicionará
o seu valor. O sextil de Vénus e Marte em Leão à sizígia e a Mercúrio em Gémeos
poderá, através da palavra e da razão ou do elemento de passagem entre o humano
e o divino, criar as condições para a nobreza da alma, para um carácter
transformação. No entanto, a quadratura de Vénus e Marte a Júpiter e a Úrano em
Touro, na XII, no lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων), bem
como ao Dragão da Lua, condicionará fortemente o potencial do aspecto anterior.
Existe assim uma resistência à dádiva
e ao espírito transformador. Os modos de ser e estar estão de tal forma enraizados
que, mesmo que exista a consciência da necessidade de transformação, se tornarão
extensões da identidade e da afirmação social. Face à corrupção do planeta e da
Mãe-Terra, o que estaríamos dispostos a fazer? Deixaríamos, por exemplo, de
utilizar um veículo próprio? Consumiríamos menos e de forma mais responsável? Alteraríamos
o nosso estilo de vida? A grande questão é saber se possuímos uma
disponibilidade genuína de mudança.
A passagem anunciada do Dragão da Lua do eixo Touro-Escorpião para Carneiro-Balança, ou seja, do eixo do valor para o da identidade, aprofunda o sentido desta inquirição e o novilúnio de Gémeos vem anunciá-la, representando a necessidade de mediação e de construção de elementos de passagem, sejam eles pessoais ou colectivos. A harmonia dos contrários nasce de uma dualidade comprometida tanto com a identidade como com a necessidade de relação. Essa é uma proposta para o presente e para o futuro.
domingo, 11 de junho de 2023
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Marte em Gémeos: De 20 de Agosto de 2022 a 25 de Março de 2023
sábado, 23 de julho de 2022
domingo, 26 de junho de 2022
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segunda-feira, 13 de junho de 2022
Mercúrio em Gémeos: De 13 de Junho a 5 de Julho de 2022 (2º Ingresso)
segunda-feira, 30 de maio de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Gémeos
Reflexões Astrológicas
Lua Nova em Gémeos
Lisboa, 12h30min, 30/05/2022
Sol-Lua
Decanato: Júpiter
Termos: Júpiter
Monomoiria: Saturno
A
Lua Nova de Maio, depois dos eclipses solar e lunar no eixo Touro-Escorpião,
ocorre no signo de Gémeos, com Leão a marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, com os luminares acima do
horizonte, no Lugar do Bom Espírito, ἀγαθόν δαίμων (XI),
e a caminho da culminação, no decanato e termos de Júpiter e na monomoiria de Saturno. Mercúrio
Retrógrado, regente de Gémeos, marchando à frente do Sol, longe dos seus raios,
é uma Estrela da Manhã e o astro mais alto. Em Touro e recuando, ou dando a
ilusão que recua, Hermes serve o silêncio e guarda o mistério. O Trismegisto
torna-se o mestre da iniciação, do caminho interior, e sob a Mãe Terra constrói
o templo da palavra criadora, do que Logos que é um fogo sempre vivo.
O
masculino surge, neste tema do novilúnio, com uma expressão dominante e com uma
acção dinâmica. No entanto, a retrogradação de Mercúrio, que terminará um dia
antes de Saturno começar a sua, apela ao acto pensado e à palavra medida. A
justa medida actua, nesta lua nova, como elemento estruturante e estruturado de
passagem, ou seja, o sentido de viagem é consolidado pela harmonia entre aquilo
que se pensa, diz e faz. Essa é a lição de Mercúrio, o regente do novilúnio,
Retrógrado e em Touro. O movimento do silêncio à palavra serve aqui a
necessidade de concedermos a verdade às nossas ideais e ao nosso discurso. A
dúvida metódica continua a ser uma metodologia de rigor.
O
carácter de mediação polar, de integração do diâmetro na unidade do círculo, é
particularmente expressivo no novilúnio de Gémeos, especialmente pelo facto de
neste signo não existir uma verdadeira integração. O processo de integração de
uma dualidade expressa surge em Gémeos, alcança o princípio ou potencial de
harmonia em Balança e é concluído em Peixes, onde o Amor (união dos opostos) se
exalta. Estes últimos, contrariamente ao que se possa pensar, não nadam em
direcções opostos: Afrodite e Cupido, transformados em peixes, fogem juntos de
Tífon e os dois peixes que trazem Afrodite para a costa, nascida da espuma do
mar ou de um ovo, nadam no mesmo sentido. Em Gémeos, pelo contrário, existe
polaridade por ausência ou distinção, mas também por procura ou demanda.
A
tradição astro-mitológica, enunciada no meu livro, diz-nos o seguinte: “O mito que, porém,
melhor descreve o signo de Gémeos é dos Dióscoros (Castor e Pólux). Nasceram de
Zeus e Leda e são irmãos de Helena e Clitemnestra. Porém, Leda era casada com o
rei da Lacedemónia, Tíndaro. Na noite em que Zeus se uniu a Leda, sob a forma
de Cisne, ela uniu-se também ao marido. Destas uniões, nasceram dois pares de
gémeos ou dois ovos: de Zeus, Pólux e Helena e, de Tíndaro, Castor e
Clitemnestra.” (Fragmentos
Astrológicos 2021: 138). Este é o gérmen da polaridade
geminiana, ou seja, da passagem entre o humano e o divino, entre mortalidade e
imortalidade, porque após a morte de Castor (mortal), em combate, Pólux
(imortal) clama a Zeus (Júpiter): “(…) Ouvi a palavra, pai,/ Divide
em dois, o céu que a mim concedeste,/ De
toda a oferenda, a metade maior será.” (Ovídio,
Fastos V, 716-8: “(…)‘percipe verba,
pater: / quod mihi das uni caelum, partire duobus: /dimidium toto munere maius
erit’).
Zeus concede o pedido e Pólux e Castor brilham no céu em dias alternados.
Ora esta polaridade natural e
criadora que, no novilúnio se une à conjunção da luz solar e lunar, procura um
elemento de força e expansão no sextil a Marte e Júpiter em Carneiro. A partir
do Lugar de Deus (IX), estes retribuem com outra dicotomia. Segundo o Segmento
de Luz, Júpiter é o maior dos benéficos e Marte o maior dos maléficos, e
aguçados por estarem em Carneiro, lançando a oposição radical entre o Eu e o Mundo
(o Outro), outorgam activamente o Bem e a Justiça, mas também o Conflito e a
Destruição. Pela natureza do sextil, esta relação coloca reflexivamente a acção
no próprio e não no exterior, na Providência. Marco Aurélio diz-nos o seguinte:
“Como anda o teu guia interior? Isso é
que importa. O resto cai fora do teu livre arbítrio; é cinza dos mortos e fumo.”
(Pensamentos XII, 33: Πῶς ἑαυτῷ χρῆται τὸ ἡγεμονικόν; ἐν γὰρ τούτῳ τὸ πᾶν ἐστι. τὰ δὲ λοιπὰ ἢ προαιρετικά ἐστιν ἢ ἀπροαίρετα, νεκρὰ καὶ καπνός, trad.
J. Maia, Lisboa, Relógio D’Água, 1995).
A luz que brilha em nós, indicada
aqui pela união dos luminares, é τὸ
ἡγεμονικόν do estoicismo, esse “guia
interior” de que fala Marco Aurélio, a parte dominante da alma, a razão ou
intelecto. Do Bom Espírito, do demiurgo de passagem entre o humano e o divino,
o Sol e a Lua une-se ao Leme da Vida (I) em Leão (sextil), a nobreza do
espírito, e a Saturno em Aquário (trígono) no Poente (VII). Saturno representa tudo
o escapa ao livre arbítrio, tudo o que está sob a alçada do destino e da
necessidade. O sentido do Destino sobre a Humanidade, de Saturno em Aquário, observa,
concedendo a sua lição, a capacidade que se adquire de colocar o valor nesse “guia interior”, na partilha da Razão
(Sol e Lua em Gémeos).
Saturno, por seu lado, une-se em
sextil a Marte e Júpiter em Carneiro, revelando o potencial de a Necessidade se
tornar Justiça e Equilíbrio, o Bem em Acto, ou Castigo e Retribuição, a
Desmedida como Reacção. De um outro modo, Saturno, com esse olhar vindo do
Lugar de Deus, coloca o tempo sob o Poente, trazendo consigo a imagem da
mudança de um era, dos tempos que se põem e da hora que espera nascer. O tempo
do Espírito Santo, da Mãe Eterna espera a sua hora.
No entanto, a quadratura de Saturno em
Aquário a Vénus, Úrano e Mercúrio e também à Caput Draconis e ao Ponto de Culminação, todos em Touro, impõe,
como é próprio do fim de um tempo, o peso da destruturação de uma realidade e da
construção de novos valores. Não é portanto um tempo de júbilo, de um simples
hedonismo taurino, mas sim um tempo que exige gravidade naquilo que se pensa e
diz, naquilo que se deseja, naquilo que queremos mudar, mesmo entre o caos e o
ideal, em suma, naquilo a que atribuímos valor.
A mensagem do Dragão da Lua,
estendendo o seu corpo entre Escorpião e Touro, entre a Morte e o Viver, obriga
necessariamente a que se coloque a destruição do valor anterior como condição
para se criar um novo. Essa exegese da morte traduz-se num sentido de origem (Cauda Draconis na IV, no Lugar sob a
Terra), o que sugere aliás a próxima viagem da Serpente da Luz e da Sombra pelo
eixo Caranguejo-Capricórnio, mas traduz-se também no poder de finalidade da
própria morte, ou seja, Plutão em Capricórnio, onde o culminar da morte, da
transformação, firma o seu próprio poder.
O Senhor do Submundo olha triangularmente
para Vénus, Úrano e Mercúrio e para à Caput
Draconis e para a Culminação e quadrangularmente para Marte e Júpiter. A
visão da montanha confunde-se aqui com a visão do abismo e de um lado e do
outro, a dádiva tem o sabor da retribuição e a punição tem o aroma, o perfume,
de uma bênção. A bipolaridade da consciência que se eleva e se afunda ou se
transforma ou se destrói. Esta é esfinge no caminho. Os dois eixos através dos
quais o olhar da Morte se fixa separam também duas realidades inconciliáveis: o
poder e guerra, de um lado, e a vida e a Mãe-Terra, do outro. O militarismo
imergente não salvará o planeta da sua ruína, bem pelo contrário, arrastá-lo-á
mais rapidamente para a destruição. A conjugação de forças em Touro é também
esse sinal de alerta.
Tocado pelo grito da Mãe-Terra
(sextil a Vénus, Úrano e Mercúrio), Neptuno em Peixes, representando a
imaginação activa e uma energia tantas vezes incompreendida, traz-nos, a partir
do Lugar da Morte (VII), o Amor de Deus e a Compaixão como Totalidade, mas também
o véu de Maya, tecendo a ilusão necessária que serve o caminho, a morte e a
revelação. No entanto, a quadratura de Neptuno aos luminares aponta para a
dificuldade radical de conciliar a polaridade, de fazer nascer o Amor entre os
opostos. A ponte entre Gémeos e Peixes é, de um ponto de vista hermético, o
caminho iniciático da Palavra à Solidão, conduzindo pelo trilho agreste a voz da
multidão até ao silêncio divino.
O novilúnio de Maio tem, neste tempos
difíceis, de guerra, de propaganda, de ilusão e enganos, de falsos ideais, de juízo
fácil, um enorme potencial, pois possibilita a beleza da palavra que recua, da palavra
pensada, mas também da voz no deserto, do sermão aos peixes. A exigência do pensar,
mesmo quando tudo o que se vê é ignorância, carrega consigo o verbo da salvação.