Reflexões Astrológicas
Lunações
Lisboa, 20h00min,
12/05/2021
Decanato: Saturno
Termos: Júpiter
Monomoiria: Vénus
A Lua Nova de Maio, no signo de Touro, ocorre antes do pôr-do-sol, estando portanto ainda no Segmento de Luz Diurno (αἵρεσις), com a Lua fora de segmento, mas com o Sol enfraquecido pela sua queda. Neste caso, o novilúnio acontece no decanato de Saturno, nos termos de Júpiter e na monomoiria de Vénus. A sizígia ou o encontro dos luminares dá-se perto do horizonte. A luz da alma e do espírito marcam o céu com um fogo que se extingue. Mercúrio e Vénus são Estrelas da Tarde e trazem consigo o anúncio da luz vespertina do crepúsculo, os dons criativos e as dádivas do coração.
Este não é o tempo da razão e, embora estejam em Gémeos, o raciocínio estará toldado pela ideia da morte, pelo peso do fim e da finalidade (VIII), mas também pelo valor da palavra sentida, dado que Mercúrio e Vénus ladeiam a Caput Draconis, o termo de um caminho que determina a via que é a sabedoria da palavra (Sagitário-Gémeos) e a palavra da sabedoria (Gémeos-Sagitário). Esse eixo trilha, neste novilúnio, uma estrada que vai do Modo de Vida, o Viver (II) até à Morte e à sua qualidade (VIII), fixando assim a tradição e o valor, o conhecimento da morte e o absoluto que pertence à terra. Existe aqui uma necessidade imperativa de desapego que, neste caso, não é de bens materiais, mas sim de conceitos e ideias. Tudo se perde, todas as vaidades sucumbem perante o rosto luminoso da Deusa Sophia, pois o que julgamos pensar (Mercúrio) e amar (Vénus) são apenas sombras projectadas na caverna.
O novilúnio de Maio fixa em Touro e no Poente (δύσις) a urgência de se olhar e se apreender o tempo da Terra, os seus ciclos maiores. Esse é o tempo que os astrólogos antigos, sobretudo aqueles que eram próximos do estoicismo, colocam entre a destruição e a criação, entre a conflagração e o dilúvio, ou seja, ora quando todos os planetas se encontrarem e se alinharem em Caranguejo (conflagração), ora quando se encontrarem e alinharem em Capricórnio (dilúvio), determinando assim a lição profunda do Thema Mundi (veja-se, por exemplo, Beroso Frag. 19 Jacoby ou Nechepso e Petosíris, Frag. 25 Riess). A posição de Úrano com os luminares, este já sob o horizonte, em Touro e no Poente (VII) introduz também aqui a revolução do céu, a transformação do humano, não apenas por Necessidade ou Providência, mas porque a Terra, porque Gaia também o exige. Para que um Novo Mundo nasça, a Mãe-Terra terá de entrar em trabalho de parto. Essa é a ordem da natureza: o Eterno Retorno.
Saturno e Júpiter corroboram esta mensagem, dado estarem junto do Ponto Subterrâneo (IC) no Lugar Sob a Terra (IV). O Tempo e o Espaço servem pilares, de indicadores de contracção e expansão da Base ou Fundação do Mundo (IV). A humanidade aquariana transforma-se e transmuta-se a partir das raízes da realidade, tanto a externa como a interna. As posições junto aos eixos cardeais ou aos pólos do tema (κέντρα) são, segundo as já referidas lições de Petosíris, indicadores não de tensão mas sim de efectivação e estrutura. Este potencial cardeal é estimulado, trazido a uma dinâmica interactiva, pelas relações (aspectos) que através de si estabelecem.
Marte, por exemplo, é a luz mais alta do céu. A força umbilical - por vezes aterradora - da Grande Mãe (Marte em Caranguejo) une os seus raios, a partir do Lugar de Deus (IX), em sextil, aos luminares, à Alma e ao Espírito, e à revolução do humano (Úrano), mas também em trígono ao amor universal (Neptuno) que repousa no interior da Cornucópia da Abundância, da Boa Fortuna (V) e, de igual forma, ao Leme da Vida (Asc.). Por outro lado, une-se diametralmente à pulsão da morte e ao poder do renascido (Plutão em Capricórnio), nos termos de Marte, no Lugar da Deusa. Da Vénus de Willendorf ou de Sheela na Gig a Maria, a Magdalena, Ísis é tudo para todos as mulheres, homens e crianças e essa visão de totalidade surge, por vezes, como um desafio. O Novo Humano terá de ser como Lúcio do Asno de Ouro de Apuleio.
A sizígia da luz, bem como Úrano, participa igualmente deste potencial relacional, pois une-se também em sextil a Neptuno e em trígono a Plutão, que também se unem entre si em sextil. A luz submerge no mar e no submundo para regressar, para reemergir renascido do seio de Gaia. Note-se a subtileza de como os signos femininos marcam neste novilúnio um compasso de harmonia. No entanto, essa melodia do Eterno Feminino terá de incluir um trítono que, neste caso, surge da tensão de uma visão dual, aquela que transforma o Amor Universal num simulacro, numa ilusão de boa-venturança, de salvação. Esta é a quadratura de Neptuno tanto a Mercúrio e Vénus como ao Dragão da Lua.
Porém, de uma outra forma, seguindo a harmonia das esferas, os que habitam o Lugar da Morte afundam o seu olhar de futuro no abismo profundo do Lugar Sob a Terra (Mercúrio e Vénus), conjugando as bênçãos com os que nele fazem a sua casa (Saturno e Júpiter). Estas dádivas vão do trígono de Mercúrio e Vénus a Saturno e Júpiter às relações benéficas (trígono e sextil) dos primeiros ao eixo de culminação e dos segundos ao Dragão da Lua. Aqui o masculino (Sagitário/Gémeos e Aquário/Leão) não poderá ser todavia um Osíris itifálico, faraó reinante, mas sim algo entre Thot, o guardião da palavra, e Anúbis, o guardião da morte. Os senhores do Olimpo (Saturno e Júpiter) estão no ventre da Terra (IV), mostrando que o poder (Capricórnio) é também ceder o lugar. A senhora primordial do Olimpo reergue-se do mar primordial. Eurínome será de novo rainha.
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