quarta-feira, 23 de junho de 2021

Lua Cheia - Eixo Capricórnio/Caranguejo: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológica


Lua Cheia


Lua Cheia: Eixo Capricórnio – Caranguejo

Lisboa, 19h40min, 24/06/2021

 

Lua

Decanato: Júpiter

Termos: Mercúrio

Monomoiria: Sol

 

Sol

Decanato: Vénus

Termos: Marte

Monomoiria: Marte  

 

            Depois de dois eclipses que colocaram sobre o mundo e o humano a aprendizagem do valor da luz e da sombra, da palavra e do silêncio, esta Lua Cheia vem acentuar, tal como é próprio da sua natureza, uma outra dicotomia: a relação entre a Graça da Origem (Caranguejo) e a Glória do Fim (Capricórnio). Ora este sentido axial, que não é uma verdadeira oposição, mas sim um olhar diametralmente de frente, está colocado sobre um outro, aquele que une a II e a VIII, o Modo de Vida e a Qualidade da Morte. O eixo do plenilúnio coloca, desta forma, a Lua sob o horizonte (II) e o Sol acima (VIII), a caminhar para o seu crepúsculo. Neste posicionamento que fixa em cada margem do rio da realidade a vida e a morte, a tradição e a ruína, os luminares não estão sós. Existe uma co-presença em cada um destes lugares. Com a Lua, está Plutão e Vénus está com o Sol. A Morte (Plutão) encontra a Alma (Lua) no seu próprio modo de vida (II), obrigando a tradição (II) a fazer renascer o poder do feminino (Lua em Capricórnio), e o Amor (Vénus) encontra a qualidade da morte (VIII) na luz da origem (Sol em Caranguejo), trazendo um sentido às ruínas.

            O significado que a luz encontra nesta Lua Cheia une-se necessariamente ao de dois outros eixos que junto a si se fixam. A linha do horizonte, que fixa o Horóscopo (Asc.) em Sagitário e o Poente (VI) em Gémeos, é cingida pelo Dragão da Lua que ocupa a mesma posição zodiacal. Esse é o caminho que projecta a Sabedoria (Sagitário) na Palavra (Gémeos), que permite e concede um sentido profundo ao conhecimento. A ciência evolui, a medicina também, a esperança média de vida aumenta, mas para onde caminhámos? A sabedoria torna-se assim uma dádiva de sentido e um meio para a transformação da palavra. É o poder do feminino (Lua em Capricórnio) que fixa o valor de um modo de vida (II) e a sabedoria torna-se o rosto dessa consagração.

            Os luminares, conjuntamente a Vénus e Plutão, lançam, neste plenilúnio, os seus raios para Júpiter, Úrano e Neptuno, com os quais estabelecem uma união harmoniosa (trígonos e sextis). Destas bênçãos, podemos colher a necessidade de se fundar, a partir das profundezas da realidade, um mundo de verdade e justiça (Júpiter em Peixes na IV, o Lugar Sob a Terra), de se revolucionar o valor do serviço à Terra e ao próximo, sobretudo quando as adversidades se adensam e a pandemia destrói o normal (Úrano em Touro na VI, a Má Fortuna), e, por fim, de se fazer da compaixão, do Amor de Deus a base primordial da nossa acção (Neptuno em Peixes, na IV). Essa harmonia luminosa é a promessa de transformação que a humanidade pode trazer a si ou não.

            Deve-se, no entanto, ter em consideração nesta Lua Cheia – tanto no período que a antecede como no que a sucede -, a apreensão da retrogradação planetária. Firma-se aqui o sentido de apreensão, pois este é um fenómeno aparente que não depende do objecto, do seu movimento real, mas sim da subjectividade do observador, da sua posição relativa. Esta apreensão não resulta, porém, de uma fixação valorativa, isto é, por ser aparente o seu valor não é melhor nem pior. O movimento de retrogradação, qualquer que seja o planeta, dá ao observador, seja ele individual ou colectivo, a sensação de recuo e o sentimento de retorno à origem, todavia, essa apreensão ganha um sentido mais profundo pelo carácter do astro envolvido. No passado dia 22, com a passagem de Mercúrio ao seu movimento directo, o silêncio da retrogradação volta a ser palavra, discurso activo. Já na retrogradação de Júpiter (dia 20) existe, em vez de uma expansão, um acercar-se, um cingir espacial da Verdade e da Justiça, daquilo que se constrói, ou seja, por estar retrógrado, Júpiter não perde a dádiva, o que muda é o sentido espacial. Júpiter junta-se a Saturno e Plutão e, no dia 25, juntar-se-á Neptuno. Saturno, nesta dinâmica retrógrada, passa a ser um tempo de retorno e de repetição. Plutão e Neptuno, pela distância que têm da Terra, perdem parcialmente o seu carácter colectivo e passam a ter uma acção interna mais expressiva, mas forçam também mundanamente as lições do passado e da história.

            Nesta Lua Cheia, as posições de Mercúrio e Marte são especialmente relevantes, dado que ladeiam o signo zodiacal onde o Sol se encontra. Mercúrio marca o seu lugar no Poente (VII), contudo, a sua posição fixa-se ainda acima do horizonte. Por estar à frente do Sol e para além dos seus raios, a mais de quinze graus, Mercúrio é uma Estrela da Manhã e o Mensageiro dos Deuses, o arauto do Logos. Essa posição é acentuada por estar em Gémeos, no seu domicílio diurno, antes do pôr-do-sol. Mercúrio une também os seus raios com Marte em Leão (IX, sextil), com Júpiter e Neptuno em Peixes (IV, quadratura) e com Saturno em Aquário (III, trígono). Neste caso, e seguindo as lições da Astrologia Antiga, encontramos uma maior tensão no sextil com Marte e no trígono com Saturno do que na quadratura com Júpiter e Neptuno, dado que a luz benéfica de Júpiter tende a minimizar os efeitos quadrangulares, demonstrando aqui a necessidade de procurar a Verdade e o Amor do Deus, bem como a ancestralidade da comunhão com o divino. A união com Marte e Saturno vai também nesse sentido, sobretudo pelo facto de Marte estar na Casa de Deus (IX) e Saturno na Casa da Deusa (III), embora nestes aspectos a dinâmica traduz a dificuldade de transmissão de uma mensagem, de pela palavra chegar ao outro. A individualidade não chega ao colectivo e a vaidade não se torna criação.

            Marte, na Casa de Deus (IX), expele, qual vulcão primordial em erupção, os seus raios, dando força à fé e violência à crença. Por estar em Leão, o Senhor da Guerra vai dar ânimo à individualidade da criação, ao potencial criativo, mas vai igualmente dar certeza à vaidade e engrandecer a ignorância. Ora, na Casa de Deus, Marte vai lançar e unir este olhar (oposição) com Saturno na Casa da Deusa (III). A misoginia e chauvinismo podem marcar, ainda mais, a religião e a espiritualidade, pois um guru com uma mulher bonita ao lado não é uma expressão do Eterno Feminino, nem o paternalismo de homens e mulheres em transformar o retorno da Grande Mãe num elencar superficial e repleto de lugares-comuns de informações históricas acerca do feminino. O olhar de Saturno, desde a Casa da Deusa e do Signo do Humano (Aquário), fere a lição do tempo e da história, anunciando o Eterno Retorno (retrogradação de Saturno), a Idade do Espírito Santo, da Pomba do Feminino.

            A união dos maléficos encontra a sua síntese, o seu meio-termo, na quadratura que ambos estabelecem com Úrano em Touro (VI, a Má Fortuna). Esta é uma posição que fere e rasga a realidade por nós percepcionada. A Força (Marte), o Tempo (Saturno) e a Revolução (Úrano) desferem golpes disruptivos. No entanto, onde existe tensão e destruição, existe também a glória e a graça da dádiva divina. Júpiter em Peixes lança os seus raios benévolos para Úrano em Touro e Plutão em Capricórnio (sextis). É preciso colher a efemeridade da morte e encontrar o valor nas ruínas, aceitando o vendaval do Anjo da História. O Amor de Deus não muda, permanece na sua fortificação, na câmara secreta do coração, o lugar da luz divina.

            Neste plenilúnio, será preciso encontrar o caminho, equilibrando-se na corda que se alonga sobre a realidade, e fundar esse caminho entre a Glória do Fim (Capricórnio) e Graça da Origem (Caranguejo), pois quem olha, entusiasmado, para o fim fita necessariamente a origem. Em todas as luas cheias, é preciso saber receber os dons da harmonia dos contrários.             


terça-feira, 15 de junho de 2021

O Micro-Zodíaco e a Interculturalidade da Tradição Astrológica Antiga: Exemplo Textual


Monroe, M. Willis, 2016, "The Micro-Zodiac in Babylon and Uruk: Seleucid Zodiacal Astrology" in The Circulation of Astronomical knowledge in the Ancient World121.

Looking at the various fragments of the micro-zodiac both from Uruk and Babylon one can begin to see how such a descriptive text was compiled and used. An analysis of texts over time and space allows for the creation of a model of textual transmission specific to the extant texts but applicable to a wider tradition. Martin Worthington in his book on Akkadian textual criticism has noted that the study of variants in texts can inform us of the “geography of textual transmission in antiquity.” While Worthington is primarily concerned with “reconstructing the original wording of a composition” (what he terms textual or lower criticism), many of his methods still apply when working with larger aspects of text, revealing historical and geographical traces of transmission. Collecting these divergent patterns or traditions reveal patterns in the way texts were worked with and recopied in new contexts. In the case of the micro-zodiac the evidence is sparse at best, but two distinct geographical locations allow for some recognition of textual traditions. In this case, the difference between texts from Babylon and those from Uruk. At the same time the different formats of the micro-zodiac including a tabular layout, as well as other unique formats give hints at the production and conception of the text in its scholarly context. The unknown question with all of this late material in Mesopotamia is to what degree Hellenistic theoretical thought influenced the work of Babylonian scholars. Certainly many of the ideas that the scribes working with the micro-zodiac used quickly found currency in Greek astrology: the zodiac, triplicities, and hypsomata among other concepts. In regards to the new texts written during this period and their associated novel concepts and formats, Koch attributes some of this creativity to the development of mathematical astronomy during this period. Certainly, more accurate predicative methods allowed for the creation of horoscopes and other texts.

 

Monroe, M. Willis, 2016, "The Micro-Zodiac in Babylon and Uruk: Seleucid Zodiacal Astrology" in The Circulation of Astronomical knowledge in the Ancient World, ed. J. M. Steele, . Leiden/ Boston: Brill.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Eclipse Solar Anular - Lua Nova em Gémeos: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológica

Eclipse Solar


Eclipse Solar Anular

Lua Nova em Gémeos

Lisboa, 11h52min37s, 10/06/2021

 

Sol-Lua

Decanato: Marte

Termos: Marte

Monomoiria: Sol

 

            O Eclipse Solar Anular do dia 10 de Junho é o último eclipse do actual Eixo Nodal Gémeos-Sagitário que ocorre em Gémeos. Note-se que, neste segmento zodiacal do ciclo draconígena de cerca 19 anos, dos seis eclipses só dois se fixaram em Gémeos, existindo aqui uma predominância da Sabedoria (Sagitário) sobre a Palavra (Gémeos) na significação axial. Porém, este eclipse pelas suas características encerra um sentido profundo. Os eclipses solares anulares ou anelares, uma vez que a Lua está a uma distância maior da Terra e o seu tamanho aparente não é suficiente para cobrir a totalidade da projecção solar, apresentam-se como um anel de luz em torno da sombra lunar. Existe portanto, neste halo fulgente, uma representação luminosa que cinge a escuridão uterina original. É como diz Virgílio per amica silentia lunae, é como estar no meio do amistoso silêncio da Lua (Eneida II, 255). Em Gémeos, este anel de fogo indica o silêncio que é a mãe da palavra, a deusa Sige dos gnósticos, ou seja, a sabedoria antecede a palavra. Neste eclipse, a relação entre a luz e a sombra vem reforçar a ideia de que a viagem para a luz é também um regresso à escuridão, ou seja, a luz tem de integrar a sombra.

            O eclipse do dia 10 pertence à série Saros 147. Ora, utilizando o mesmo princípio de espacialidade electiva e tornando o lugar onde nasce o olhar o umbigo do mundo (ὁμφαλός), observar-se-á esta série a partir de Lisboa. O primeiro eclipse da série Saros foi a 12 de Outubro de 1624. Este eclipse solar parcial deu-se em Balança com o Ascendente em Escorpião, estando a sizígia em conjunção a Marte, Neptuno e Vénus e o Ascendente em conjunção a Mercúrio. Uns dias antes, a 3 de Outubro, ao largo da ilha de San Pietro (Sardenha), quinze galés do reino de Nápoles, do Grão-Ducado da Toscana e dos Estados Papais enfrentaram um esquadrão de navios argelianos de corsários da Barbária. Os europeus saíram vitoriosos e capturaram o comandante otomano. No mesmo ano, uns meses antes (13/08/1624), o Cardeal Richelieu tornou-se Primeiro-Ministro e consolidou, nos meses seguintes, um poder que se estenderá até 1642, e também em 1624, próximo do eclipse, a Companhia Holandesa das Índias Orientais invadiu a colónia portuguesa da Baía. O eclipse em Balança fixa-se na XII revelando que, no poder e na história, a tendência não é criar equilíbrios ou harmonia, mas sim gerir desequilíbrios, lutando pelo prato dominante.  

            A série Saros 147 é marcada pelo elemento Ar, visto que se inicia em Balança, com um eclipse parcial, e tem o seu primeiro eclipse anular em Gémeos. Este é o eclipse anterior ao de 10 de Junho e que ocorreu a 31 de Maio de 2003. Com a sizígia em Gémeos conjunta a Saturno, na III, e com Úrano em Peixes na XII, o Ascendente marca a hora em Carneiro. O regente da sizígia, Mercúrio, encontra-se na II em Touro e o regente do Ascendente, Marte, na XI em Aquário. Ora no dia 31 de Maio de 2003, Eric Rudolf, do Army of God, responsável pelo atentado bombista que matou uma pessoa e feriu onze no fim dos Jogos Olímpicos de Atlanta, foi capturado na Carolina do Norte. No dia 1 de Junho, Aung San Suu Suu Kyi (Sol natal em Gémeos), que vencera as eleições de 1988 em Myanmar, foi levada sob custódia pelos militares e, no dia 3, Morgan Tsvangirai, líder do movimento de oposição no Zimbabué, é detido por forças policiais.

            Existe na dicotomia geminiana, sobretudo sob a influência do binómio luz-sombra de um eclipse solar, uma relação com o poder político que pode provocar um acentuar e demarcar de posições antagónicas. Esse conflito, que nasce de um discurso, de um interpretação da realidade, não é por essência valorativo, veja-se o caso de Aung San Suu Suu Kyi que, por um lado, vence o Nobel da Paz e, por outro, participa ou promove o genocídio dos roingas. Agora, nos dias próximos ao eclipse do dia 10, vemos, por exemplo, o caso da Bielorrússia e da prisão do jornalista Roman Protasevich. 

            Ptolomeu diz-nos que Gémeos rege a Hircânia (Irão e Turquemenistão), a Arménia (antiga), a Mantineia (Arcádia, Grécia), a Cirenaica (Líbia), a Mamarica (região na fronteira entre a Líbia e o Egipto) e o Egipto. Já para Vétio Valente rege a Índia, a Céltica, a Cilícia (Turquia), a Galácia (Turquia), a Trácia (Grécia, Bulgária e Turquia), o Beócia (Grécia), o Egipto, a Líbia, Roma, a Arábia e a Síria. Manílio afirma que a Índia, a Trácia e o Euxino (Turquia, Mar Negro) estão sob a influência de Gémeos. Quando o eclipse inicia a sua fase central (10h55min), o Ascendente encontra-se nos últimos graus do segundo decanato de Leão, mas, no momento da sizígia, indicado pelo tema que se apresenta, o Ascendente já se encontra em Virgem. Ora Virgem, segundo Valente, rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dórida (Grécia), Sicília e Pérsis ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a influência.

            A fixação do Ascendente em Virgem, para além de uma maior coerência nas regências astrológicas geográficas, permite que se apreenda o elemento de passagem do eclipse anterior, o eclipse lunar total de 26 de Maio, cujo Ascendente se fixava em Leão, e o actual que se encontra Virgem, pois se no anterior o elemento fogo sobressaía (Leão e Sagitário), no de dia 10, para além da elemento Ar da série Saros, é Mercúrio Retrógrado que exerce o seu domínio. O pensamento e a palavra obrigam à interiorização da realidade e do eu em si mesmo.       

            Os antigos egípcios fizerem de Aker a divindade que rege o horizonte e que é representada por dois leões de costas voltadas - o “ontem” (Duaj) e o “amanhã” (Sefer), o oriente e o ocidente - e entre os quais está colocado o disco solar. Ora o tema deste eclipse, com a sizígia na X, embora o MC recaia na IX (sistema de casa-signo ou signo inteiro), o que também encerra o seu sentido profundo (a Revolução da Terra, Úrano em Touro, lança os seus raios a partir da Casa de Deus, IX), lembra a divindade egípcia. Com Mercúrio Retrógrado junto ao Sol e à Lua na X, o seu significado, tanto como regente do Eclipse como do Horóscopo, sai reforçado. A Palavra voltada para Si como agente criador, como Logos da criação, exalta o seu significado, anunciando o próximo Eixo Nodal do ciclo do Dragão da Lua, pois Touro indica o valor (o viver ou o modo de vida, II) e Escorpião a morte (a sua acção e qualidade, VIII). No entanto, a Palavra faz ainda persistir a sua mensagem: a viagem que eleva a Sabedoria (Cauda Draconis em Sagitário) até à Palavra (Caput Draconis em Gémeos).

            Essa é uma via que exige uma maior consciência do poder do tempo e como ele impõe ao humano os seus ciclos (Saturno em Aquário). A partir da VI, o senhor do semear e colher, do observar, esperar e agir, unirá os seus raios benéficos com o Sol, a Lua, Mercúrio e a Caput Draconis (trígono) e com a Cauda Draconis (sextil). A luz e a sombra, a palavra e a sabedoria unem-se à consciência do tempo, à compreensão de que existe um tempo maior que transcende a efémera realidade da finitude humana. Somos a poeira de um grão areia na clepsidra do tempo universal. Naturalmente, e por Saturno estar na VI, essa consciência afectará a compreensão da pandemia, dos ciclos de vida e de que tudo é transitório.

   Por outro lado, o Sol, a Lua e Mercúrio Retrógrado em Gémeos (X) colidem rectilineamente (quadratura) com Júpiter e Neptuno em Peixes (VII). A Palavra como Revelação, sob o véu da luz e da sombra, oculta-se e, tal como a sabedoria, caminha entre nós e não é vista, o que impede a sua expansão (Júpiter) e comunhão (Neptuno). O discurso não vê o outro, não o inclui no processo comunicativo, e a palavra fecha-se em si própria, nas suas idiossincrasias, na ignorância das suas certezas. A comunicação sem o outro é a génese da intolerância. Porém, por Júpiter - e Neptuno - estar numa posição particularmente benéfica, esta não é uma tensão disruptiva, pelo contrário, surge como aviso, como marco no caminho e, não sendo exclusiva, alguns vão mostrar que a empatia e compaixão podem gerar um discurso de tolerância que une em vez de separar.

            A dádiva da excepção é observável pelas bênçãos que resultam da união venturosa dos benéficos (Vénus em Caranguejo, na XI, em trígono a Júpiter em Peixes, na VII). Esta união, se seguirmos a lição do Thema Mundi, une o sentido de origem à comunhão com o divino, pois nessa representação Caranguejo ocupa o Horóscopo (Asc.) e Peixes o Lugar de Deus (IX). Ora com a presença de Vénus em Caranguejo e de Júpiter em Peixes essa ligação natural é intensificada pelos conceitos de Amor e Expansão. Os raios dos benéficos estendem ainda as suas dádivas para além da sua união, visto que Vénus (XI) se une em trígono a Neptuno (VII) – o Amor e a Compaixão revelam que só a empatia nos salvará – e em sextil a Úrano (IX) – o Amor alimenta a Revolução da Terra –, já Júpiter (VII) une-se em sextil a Plutão em Capricórnio (V) e a Úrano em Touro (IX) – existe uma Comunhão do Poder da Morte e uma Expansão da Revolução da Terra. A dádiva surge como luz no caminho, indicando qual será a via da bem-aventurança.

            Na análise deste eclipse, deve-se dar também uma especial atenção ao posicionamento de Vénus e Marte em Caranguejo. Se acerca de Marte já antes se fez notar que indica o herói que desce ao ventre da terra, ao lugar de Perséfone (oposição a Plutão em Capricórnio), com Vénus, sobretudo por estar em Caranguejo e por ser Estrela da Manhã (posição anterior ao Sol e para além dos seus raios) encontramos a deusa protectora, a senhora da guerra. Com a união de Vénus e Marte em Caranguejo, o herói é agora guardião do feminino, da deusa armada. Este é o mito de Palas, a filha de Tritão que combateu na Gigantomaquia e que, quando lutava com Atena e estava prestes a desferir-lhe um golpe, foi morta pela deusa, porque Zeus interveio e protegeu a filha com a Égide, uma protecção invencível feita com a pele da cabra Aix (cf. com a mitologia de Capricórnio). Atena, por lamentar a morte injusta de Palas, criou o Paládio, uma estátua de madeira em sua homenagem (v. Ps.Apolodoro, Biblioteca, 3.12.3).

            Ora existe aqui a ideia de que a vontade ou a força (Marte) do amor (Vénus) pode acerca-se da morte (Plutão) e juntos caminharem. É como o soneto de Antero de Quental “Mors-Amor”. Se um é o cavalo, o outro é o cavaleiro. O facto da sizígia se encontrar no decanato e nos termos de Marte intensifica essa mensagem. A ligação de Marte em Caranguejo com Júpiter e Neptuno em Peixes (trígono) e com Úrano em Touro (sextil) faz do Deus da Guerra um dos principais elementos de análise neste eclipse. Existe assim uma forte vontade de transformação ambiental, social e espiritual e resultará em acções concretas sejam elas partidárias e legislativas ou sindicais e populares (Úrano em sextil a Neptuno e em trígono a Plutão; Neptuno em sextil a Plutão). Poderão até existir manifestações mais expressivas que resultarão em cargas policiais (Saturno em quadratura a Úrano). Marte e Plutão, unidos em eixo, levará a um extremar de posições e note-se que basta que um lado vá para além da democracia, ou permaneça no limiar, para se extremarem as posições. Os democratas terão de cerrar as fileiras e defender a democracia, pois, uma vez perdida, é difícil de recuperar.

            O eclipse solar anular do dia 10 de Junho, sob o véu da luz e da sombra, do anel de fogo, dar-nos-á a capacidade de integrar no nosso caminho a escuridão e o silêncio. Existe um poder imenso na possibilidade da palavra, no não-dito que é o gérmen da criação. A sombra e a ocultação devem lembrar-nos que a sabedoria caminha entre nós, mas não é vista, é insultada e agredida e nós aceitamos. A luz é a revelação e o Eterno Feminino é a luz no caminho.   

terça-feira, 1 de junho de 2021

Kepler, a Astrologia e a Natureza dos Aspectos: Exemplo Textual

 
Boner, P. J., 2013, Kepler's Cosmological Synthesis: Astrology, Mechanism and the Soul159-60.


Kepler described the aspects and consonances as “different peoples, as it were,” who came from “the same country of Geometry.” Essentially, they originated from the same set of principles in different ways. In the case of the consonances, the section of the circumference of a circle corresponding to the side of an inscribed polygon was extended in a straight line and compared in length with the remaining part of the circumference. Kepler compared this departure from the circle to the foundation of a new colony, where the consonances, “living by their own laws,” had established a certain distance from their circular origins. The aspects, on the other hand, were thought to rely completely on the circle for their determination. While the length of a line measured by the side of an inscribed polygon lay at the heart of every consonance, no such feature could be found in the geometrical formulation of an aspect. An aspect was determined entirely by the inscription of congruent and constructible polygons in a circle. “The aspects, remaining within their own country, the circle,” Kepler wrote, “make use of no other laws than those which the roundness of the circle prescribes to them.” These figures had been found among the regular plane figures, Kepler wrote, and were “congruent and inscribed in a circle.”

Despite their different origins, the aspects and consonances relied similarly on the soul for their recognition. Kepler defined an aspect as “a thing of reason” whose influence could not be conveyed immediately, “as if rain and similar things came down from the heavens themselves,” but objectively by an animate faculty. “If there were no soul in the earth,” Kepler wrote, the sun, moon, and planets would have no astrological influence, “either on their own or through any suitable aspect.” And while the harmonies he identified among the motions of those celestial bodies were not audible, they were thought to resonate with a higher faculty of the soul. In fact, the celestial harmonies involved some of the same relations the soul made instinctually when it enjoyed a musical melody. Kepler claimed that the consonances were not simply created by the fluctuation of the air but consisted more fundamentally in harmonic proportions produced by the human voice as well as the motions of the planets. For the perception of these proportions, Kepler referred to the ability of the soul to identify and appreciate their archetypal essence. In the same way the motions of the planets expressed the archetypal principles of the consonances, Kepler argued, the configuration of the heavens exemplified similar principles that found their resonance in the soul of the earth. “It suffices that there is a soul,” Kepler wrote, “which perceives those proportions when they exist and is stirred up by them.”



Boner, P. J., 2013, Kepler's Cosmological Synthesis: Astrology, Mechanism and the Soul. Leiden/ Boston: Brill.

Lua Fora de Curso: Junho de 2021

 
Lua Fora de Curso

Junho de 2021


A Lua, como qualquer Planeta, quando está Vazio ou Fora de Curso, preserva um princípio de continuidade cíclica, embora desconectada, mas perde o sentido de direcção. Existe uma ausência de finalidade, apesar de existir movimento.

Os períodos em que a Lua está Fora de Curso devem ser tidos em consideração para melhor se decidir o tempo de agir ou pensar, de falar ou calar.

Lua em Peixes: De 1 a 3 de Junho de 2021


Lua em Peixes: das 10h08min de hoje às 18h59min do dia 3.