domingo, 21 de abril de 2024
Lançamento: O Resto Permanece Humano: Livro III
quinta-feira, 11 de abril de 2024
Reflexões Astrológicas 2023: Parte II - Citação 2
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Reflexões Astrológicas 2024: Eclipse Solar Total (Lua Nova em Carneiro)
Reflexões Astrológicas
Eclipse Solar Total
(Lua Nova em Carneiro)
Lisboa, 19h17min, 08/04/2024
Sol-Lua
Decanato: Sol
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Saturno
O
Eclipse Solar Total de 8 de Abril ocorre no signo de Carneiro, com Balança a
marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, com os luminares acima do
horizonte, na VII, junto ao Poente (δύσις), e cerca de cinquenta minutos antes do
ocaso (hora de Lisboa), no decanato de Sol, termos de Mercúrio e na monomoiria do Saturno. O sentido de luz,
da sombra e da ocultação ganha assim um valor reforçado. Este eclipse apresenta
algumas semelhanças com o eclipse solar de 14 de Outubro de 2023, pois, tanto
num como noutro, o eclipse dá-se junto ao Poente. No entanto, existe uma
inversão do eixo, o eclipse que ocorrera em Balança, acontece agora em Carneiro
e assim o signo que marcava a hora é agora o seu oposto. O eixo da identidade,
entre a luz e a sombra, continua a estabelecer-se como sentido profundo. Porém,
o foco, o centro da ocultação da luz, encontra-se agora no signo de Carneiro, o
que transporta naturalmente para algumas das significações do ano novo
astrológico.
Em termos astro-mitológicos, existe
uma tradição em torno dos doze trabalhos de Hércules. A influência da leitura
esotérica de Alice Bailey determinou em grande parte a sua predominância
contemporânea, todavia, a tradição antiga dos trabalhos, sobretudo a sua
reunião no número de doze episódios é relativamente tardia. O mito do herói
zodiacal mais antigo, e quiçá mais simbólico, é o de Jasão e os argonautas. A
viagem do Argo é uma viagem solar e a sua natureza é circular, é um eterno
retorno. Apolónio de Rodes, na Argonáutica,
descreve-o como “Jasão, herói de Ares”
(I, 349) e quando este foi escolhido
para liderar a expedição, afirmou o seguinte: “Se me confiais esta distinção de me ocupar
de vós,/ nada impede, como dantes, a
nossa viagem./ Agora consigamos o
favor de Apolo com sacrifícios/ e
preparemos já um festim.” (I, 351-4, Apolónio de Rodes: Argonáutica, Livros I e II, ed. A.A.Alves de Sousa. Coimbra, 2021: Imprensa da
Universidade de Coimbra). O herói de Ares (Marte, domicílio) precisa
do favor de Apolo (Sol, exaltação) e a finalidade da viagem é o velo ou tosão
de ouro (Κρίος Χρυσόμαλλος), a
pele do aríete ou carneiro imortal (Carneiro), filho de Posídon (Neptuno,
regente moderno de Peixes). A significação astro-mitológica é bastante
explícita. Jasão, bem mais do Hércules, combina elementos tanto de Carneiro
como de Peixes. A passagem de Peixes de fim de
ciclo para Carneiro que inicia o novo ciclo e que tem como finalidade um novo Peixes
está presente neste mito (cf. Figueiredo, R. M. de, 2024, Fragmentos Astrológicos, 2ª ed. revista e aumentada, 137-8. Lisboa:
Livros – Rodolfo Miguel de Figueiredo).
Este
sentido astro-mitológico é fundamental para se compreender o ciclo de eclipses,
tanto anual como nodal, em que este se insere. A passagem do eixo zodiacal-nodal
Carneiro-Balança para o eixo Peixes-Virgem torna-se, deste modo, um elemento de
sentido mimético do mito de Jasão. No entanto, no que aos eclipses solares
concerne, esta mudança ainda demorará algum tempo, pois depois deste eclipse,
em Carneiro, seguir-se-á um em Balança (2 de Outubro de 2024) e outro Carneiro
(29 de Março de 2025), e só a 21 de Setembro de 2025 é que ocorrerá o primeiro
eclipse solar no eixo Peixes-Virgem, neste caso em Virgem. No entanto, de um
ponto de vista mundano, este é um ciclo de passagem, sobretudo se considerarmos
que a influência dos eclipses solares se mede em anos. A passagem do eixo de
identidade para o eixo de integração, ou seja, da unidade e dualidade à parte e
ao todo, expressa uma ponte de sentido entre a consciência de si e a
necessidade.
Proclo afirma, no seu Comentário
à República de Platão, o seguinte: “O
daemon distribuído é o guardião das vidas centradas nas obras do devir, e guia
toda a nossa constituição interna no reino da geração. Os lotes significam, por
sua vez, a ordem cósmica que determina para as almas os tipos de existência que
cada uma merece, de acordo com o seu próprio mérito. Nesta estrutura, Láquesis
é a regente, porque estabelece a ordem em todos os céus. Os tipos de existência
são as formas de vida centradas nas obras da criação, que são atribuídas pelo
universo às almas à medida que estas descendem, sendo estas vidas em maior ou
menor número. As escolhas indicam as projecções do pensamento, de acordo com o
poder das almas de se colocarem a si mesmas em movimento, agindo em harmonia
com a ordem do universo. A transferência para diferentes animais, melhores e
piores, significa os muitos e variados caminhos da alma segundo os diferentes
poderes, racionais ou irracionais, pois o semelhante é sempre atraído pelo
semelhante de acordo com a justiça do cosmos.” (Essay 15 94.25-95.10. Proclus: Commentary on Plato Republic, vol. II: Essays 7-15, ed. D.
Baltzly, J. F. Finamore & G. Miles, p. 330.
Cambridge, 2022: Cambridge University Press).
O
significado astrológico do lote distribuído e do seu guardião é imenso,
transcende o sentido de certos lugares (XI e XII), bem como o valor da doutrina
dos lotes, pois está enraizado na matriz filosófica da astrologia antiga e
subentendido em muitos conceitos da astrologia contemporânea. Ora o lote
distribuído – ou escolhido – e o guardião são o momento inaugural do princípio
de identidade que rege o início da viagem, existencial e zodiacal. Carneiro,
com um sentido profundo de unidade, conduz a embarcação da vida e da alma, tal
como Jasão no Argo, num caminho entre a luz e a sombra, numa viagem que
culminará na integração da totalidade (Peixes), ou seja, na compreensão profunda
do valor do lote e do seu guardião. Num eclipse no signo de Carneiro, existe
necessariamente uma expressão deste acto primeiro de avançar entre a luz e a
sombra, de encontrar uma via electiva.
Por
todas estas razões, o eclipse de 8 de Abril terá uma influência abrangente,
todavia, em sentido restrito, a influência astrológica fixar-se-á em cerca de
um ano e dois meses. Porém, se considerarmos a declinação dos luminares, a sua
influência será de cerca de sete anos, incluindo-se assim num contexto de ciclo
nodal mais amplo. A questão da influência dos eclipses tem sido um pouco descurada.
Em termos mundanos, o eclipse, isto é, a ocultação da luz, tem um valor
profundo e antiquíssimo. Desde a Antiga Babilónia, desde os presságios
astrológicos, que começaram a ser compilados em 1800 AEC, mas que
podem remontar ao século VIII AEC (Enūma Anu Enlil), que os eclipses são fortes
indicadores das transformações colectivas. E não é por acaso, visto que a luz e
a sombra e, em especial, um fenómeno de ocultação da luz, possuem uma
influência radical. Todas as outras influências astrológicas dependem ou
deveriam depender deste binómio (luz e sombra) e, desta forma, dos luminares
(Sol e Lua). Já a influência genetlíaca é tradicionalmente mais restrita e, por
norma, cinge-se ao grau do eclipse.
O
eclipse solar total de 8 de Abril tem o seu centro geográfico na região de
Durango, no México, incidindo o manto penumbral sobre a América Central e a
América do Norte. Nas regências geográficas antigas, o Sol e a Lua em Carneiro
regem, segundo Manílio, o Helesponto
(Estreito de Dardanelos), Propontis (Mar de Mármara), a Síria, a Pérsia e o
Egipto (Astronomica, IV, 744-817). Já Vétio Valente (Antologia I, 2) diz-nos que o signo exerce influência sobre as
seguintes regiões: a Babilónia, Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), a
Pérsia, a Palestina e as regiões circundantes, a Arménia, a Trácia, a
Capadócia, Susã (cidade antiga, capital do Elão ou Susiana, hoje sudoeste do
Irão), o Mar Vermelho e o Mar Negro, o Egipto e o Oceano Índico. Heféstion de Tebas transmite-nos que
Carneiro tem as seguintes regências geográficas: “Segundo Ptolomeu: a Britânia, a Galácia, a Germânia, a Palestina, Edom
e a Judeia. Mas, tal como Hiparco, os antigos egípcios também fizeram de acordo
com as partes: para o ombro esquerdo, a Babilónia; para o ombro direito, a
Trácia; para o peito, a Arménia; para a coluna, tanto o vale da Pérsia como o
da Capadócia, a Mesopotâmia, a Síria, o Mar Vermelho. Fizemos uma exposição
separada de cada uma das partes, porque é assim que comummente utilizado nos
prognósticos desses lugares.” (Apotelesmática I, 1).
O eclipse actual, no signo de
Carneiro, pertence à série Saros 139, sendo o seu 30º eclipse. Esta série
começou a 17 de Maio de 1501 (calendário juliano), com um eclipse no signo de Gémeos,
e terminará a 3 de Julho de 2763, com um eclipse no signo de Caranguejo. É
portanto uma série recente e com uma matriz de sentido que nos conduz da
dualidade da palavra e do conhecimento à matriz do feminino e ao reconhecimento
da origem da alma. Depois da sombra, a luz da Grande Mãe emergirá do oceano
primordial. No entanto, no que à série concerne, ainda nem chegámos a meio do
caminho e, neste eclipse masculinizado, assente apenas num dos númenes do par
divino, a sombra permanecerá sobre a Terra-Mãe. No tema matriz da série, o Sol,
a Lua, Mercúrio e Saturno estavam em Gémeos, Vénus e a Caput em Touro, Júpiter em Carneiro, Marte e Úrano em Peixes,
Neptuno em Capricórnio e Plutão e Cauda
em Escorpião.
Aquando deste eclipse, com os
maléficos em quadratura, colocando os luminares e Mercúrio sob a sua
influência, é fácil compreender como 1501 foi um ano de conflitos e guerras e
de redefinições geoestratégicas. Neste ano, César Bórgia, filho do Papa
Alexandre VI, será uma figura determinante. De cardeal a gonfaloneiro papal,
terá um papel importante para assegurar o poder do papa e os interesses
franceses, seus aliados. A 25 de Julho de 1501, o rei Frederico I rende-se a
César Bórgia e ao rei francês Luís XII, entregando-lhes assim o Reino de
Nápoles. A 13 de Maio, a República de Veneza assinou um tratado com o Papa
Alexandre VI e com o Reino da Hungria pela protecção da Dalmácia veneziana na
guerra com os Otomanos. Por outro lado, em Espanha, termina a rebelião
muçulmana de Alpujarras, assegurando-se assim a controlo espanhol de Granada.
Paralelamente a todos os acontecimentos bélicos, Pedro Álvares Cabral regressa
a Portugal da sua expedição, iniciando-se a hegemonia portuguesa na Índia e no
Brasil (Neptuno culminando em Capricórnio).
No eclipse de dia 8 de Abril, assistimos,
à semelhança do que ocorrera no eclipse lunar de 25 de Março, a uma co-presença
planetária em apenas quatro signos zodiacais. No entanto, existem algumas
diferenças. A Lua que estava em Balança está agora em Carneiro, como o Sol, e
Vénus deixou a sua exaltação, em Peixes, e entrou no domicílio de Marte,
Carneiro. Estas duas mudanças são significativas, sobretudo porque
sobrevalorizam o masculino em detrimento do feminino. A Lua deixa o domicílio
de Vénus para entrar no Marte e Vénus também, deixando a sua exaltação. Este é um
lugar difícil para os planetas femininos. É uma posição que está negativamente
exacerbada se se pensar que está agora sob a influência de um eclipse. O lugar
de exaltação do Sol (Carneiro) tem, neste momento, a sua luz ocultada. Um manto
de sombra tolda o entendimento do Sol, o carácter espiritualmente transformador
da sua luz.
No
lugar do Poente, temos assim Vénus, em posição pós-poente, logo abaixo do
horizonte e como Estrela da Manhã, a Caput
Draconis, a Lua, o Sol e Mercúrio, este sob os raios solares eclipsados e
como Estrela da Tarde. Se, por um lado, Vénus é uma promessa do amanhã,
escondida sob o horizonte, por outro, Mercúrio é a palavra que arde na sombra,
o conhecimento obscurecido. A posição de Vénus, ligeiramente abaixo do
horizonte, marca um caminho descendente da luz. Não existem astros nem a
ascender, nem a culminar. Vénus é como Perséfone a entrar no submundo, para se
unir a Hades (Plutão) que avança para o lugar mais profundo, para o Tártaro. O
amor e a morte ocultam-se sob o véu da realidade mais profunda, da verdadeira
natureza das coisas. O sextil de Plutão em Aquário aos astros em Carneiro
aponta para este sentido, para o aprofundamento destruturado das nossas acções.
Com
a Lua e Vénus em Carneiro, o feminino entra no lugar de exaltação do Sol, um
lugar onde a luz está agora ocultada, subtraída à realidade humana pessoal e
colectiva. Ao deixar para trás o signo de Peixes, Vénus deixou desequilibrado o
poder dos maléficos, ou seja, já não é um travão para a expansão dos seus
raios. A dádiva do amor perde o sentido de totalidade. Devemos ter também em
consideração que existe uma relação tensa com a posição dos maléficos no tema
matriz da série Saros: Marte está em conjunção e Saturno em quadratura. Esta ligação
mostra-se como o espelho do mal, o olhar devolvido do abismo humano. Outro
aspecto a salientar é que a conjunção exacta dos maléficos ocorrerá dois dias
depois do actual eclipse, no grau 15 de Peixes. Contudo, a fé e a esperança
continuam no horizonte, pois este grau pertence ao decanato e aos termos de
Júpiter.
Esta
posição, a par da de Plutão em Aquário, olhando quadrangularmente para Júpiter
e Úrano em Touro, revela uma total corrupção do sentido primordial de
humanidade e do valor do humano. O conflito entre Israel e o Hamas e o
genocídio do povo palestino evidencia esta disrupção. As tensões começam com a
quadratura de Marte em Balança com Plutão em Capricórnio, adensam-se com a
entrada de Plutão em Aquário, a 21 de Janeiro, e, por fim, culminam com a
conjunção dos maléficos em Peixes. O fim da humanidade é a extinção do humano.
A pergunta que se coloca é o que faz com que o mal (Marte e Saturno em Peixes)
não se torne total e não se espalhe como uma praga, e a resposta, de acordo com
o lugar que esse ocupa, só pode uma, a união pelo amor, pela compaixão (Neptuno
em Peixes), da Fé à Sabedoria (Pistis-Sophia).
O
sextil de Marte, Saturno e Neptuno em Peixes a Júpiter e Úrano em Touro concede
à liberdade, à afinidade electiva, a transformação do mal em bem, exigindo um
esforço real de reestruturação. A via da justiça, da justa medida, é uma parte
da dádiva, das bênçãos que a humanidade pode colher. Júpiter concede a bênção
da luz do bem. Porém, uma vez que o eclipse ocorre no segmento diurno, fazendo
de Júpiter o grande benéfico, essa bênção encontra-se obscurecida, existe, mas
não é vista. Este obscurecimento do bem é observável em outros dois elementos
de análise. No tema de Lisboa, Júpiter e Úrano estão na VIII, no lugar da
morte, ou seja, num lugar inactivo, sem vida, e, por outro lado, olham
quadrangularmente para Plutão, o senhor da morte. Esta ligação da morte ao bem,
à revolução do bem, coloca a humanidade sobre o abismo.
O
eclipse solar de dia 8 de Abril, no signo de Carneiro, resume, desta forma, um
momento da humanidade e da sua história em que a acção humana se encontra
obscurecida, incapaz de se fixar na luz ausente, mas esperada. A acção precisa
de finalidade. O acto inaugural em Carneiro precisa de saber que a finalidade
da viagem é o tesouro da totalidade que se encontra Peixes. No entanto, nos
tempos que vivemos, o humano é como um Jasão sem o Argo e sem companheiros de
viagem, sem o conhecimento do tosão de ouro. O humano precisa de reencontrar a
humanidade e seguir a luz.
segunda-feira, 1 de abril de 2024
Calendário Astrológico: Abril de 2024
terça-feira, 26 de março de 2024
Brevemente: O Resto Permanece Humano: Livro III
segunda-feira, 25 de março de 2024
Reflexões Astrológicas 2024: Eclipse Lunar Apulso (Lua Cheia Balança-Carneiro)
Reflexões Astrológicas
Eclipse Lunar Apulso
(Lua Cheia: Balança-Carneiro)
Lisboa, 07h13min, 25/03/2024
Lua
Decanato: Lua
Termos: Saturno
Monomoiria: Marte
Sol
Decanato: Marte
Termos: Júpiter
Monomoiria: Saturno
O Eclipse Lunar Apulso de dia 25 de Março
ocorre com a Lua no signo de Balança e o Sol no de Carneiro, com Carneiro a
marcar a hora e cerca de quarenta e cinco minutos após
o nascer-do-sol (hora de Lisboa), logo no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do horizonte, na I, no Leme do
tema (οἴαξ),
já a Lua está abaixo do horizonte, na VII, no lugar do Poente (δύσις). A Lua encontra-se no seu decanato, nos termos de Saturno
e monomoiria de Marte, enquanto o Sol
encontra-se no decanato de Marte, nos termos de Júpiter e monomoiria de Saturno. Após a aurora, com a noite terminada, o
eclipse colocará a sua sombra sobre o eixo do horizonte e, a partir da
Ascensão, trará consigo a mensagem do Dragão da Lua, aquela que une a necessidade
e o destino.
Um
eclipse lunar apulso ou penumbral acontece quando a Lua passa só pela penumbra
terreste, ou seja, pela parte menos escura da sombra da Terra. Neste tipo de
eclipse, o obscurecimento da Lua é subtil e difuso, tornando a sua observação
mais difícil. De um ponto de vista simbólico, a Terra não esconde a Lua, leva-a
sob o véu. Não é Deméter pesarosa à procura de Perséfone, oculta sob a Terra
com Hades, é sim Deméter, passeando, na Primavera e Verão, com Cora (Koré), protegida sob o manto materno. Um
eclipse lunar expressa, também por esta razão, algumas das matizes de luz e
sombra do feminino, mostrando a ponte de sentido que existe entre o mito e a
realidade. No entanto, o eclipse actual não favorece o feminino, pois a Lua, no
tema de Lisboa, afunda-se no Poente, num signo masculino e nos termos de
Saturno.
A
luz e a sombra, guardados pelo corpo do dragão primevo, revelam a forma como a
providência gere a parte e o todo, como concede cada porção de luz e sombra,
sem perder nunca a visão do todo, o olhar da montanha. Proclo, nos Elementos de Teologia, diz-nos o
seguinte: “Todo o todo-na-parte é uma parte de um todo-de-partes. Porque se é uma parte, é uma parte de
algum todo; e este deve ser ou o todo que contém, em virtude do qual é chamado
de todo-na-parte, ou então algum
outro todo. Mas, na suposição anterior, será uma parte de si mesmo, e a parte
será igual ao todo, e os dois idênticos. E se for uma parte de outro todo, ou é
a única parte, e se assim for será novamente indistinguível do todo, sendo a
única parte de uma unidade pura; ou então, uma vez que as partes de qualquer
todo são pelo menos duas, este todo incluirá um outro elemento e, sendo
composto por uma pluralidade de partes, será um todo das partes que o compõem.
Por conseguinte, o todo-na-parte é
uma parte de um todo-ou-partes.” (Prop.68, The Elements of Theology, ed. E.R.
Doods, p.65. Oxford, 1971: Clarendon Press).
Ora se ultrapassarmos sem preconceito a linguagem
filosófica, julgando que é erudição aquilo que apenas traduz a realidade,
compreendemos uma porção daquela que é relação entre a parte e o todo. Esta
relação é transcrita pelo eixo Peixes-Virgem, aquele será a próxima viagem do
ciclo nodal. No entanto, o actual ciclo de eclipses ocorre no eixo
Carneiro-Balança, ou seja, no eixo da identidade, aquele que une a unidade e a
dualidade e que estabelece a travessia da ponte da alteridade. A significação
destes dois eixos é fundamental para a compreensão, para a consciência íntima,
da luz e da sombra sobre estes binómios. A providência colocará a necessidade (Caput) e o destino (Cauda) sobre estes conceitos e sobre a forma como integramos o seu
sentido profundo. O eclipse de dia 25 de Março marca, neste ano de 2024, o
início da continuação dessa viagem. O desafio será passar, neste e
nos próximos anos, da identidade (Carneiro-Balança) à integração (Peixes-Virgem).
Seguindo
a ideia desenvolvida por Proclo, será necessário compreender-se como a parte
que nos coube participa do todo e de que tipo é esse todo, o que é, de facto,
uma integração da identidade na totalidade. Porém, essa integração ocorre
primeiro como revelação da consciência de si e depois como desagregação dessa
mesma consciência na consciência do todo, ou seja, seguindo a inspiração
estóica, a alma individual compreende que participa da Alma do Mundo. Quando um
eclipse se firma sobre o horizonte, dando luz à sombra e sombra à luz,
confirmando as suas naturezas, esse processo de integração toma a forma de
desafio ou enigma. Se excluirmos Júpiter, Úrano e Plutão, todos os outros
planetas estão presentes em signos dos eixos indicados. Na verdade, em Peixes,
existe uma forte co-presença planetária (ou Stellium
como hoje se diria). Neste signo, aquando do eclipse, estão Marte, Saturno,
Vénus e Neptuno, os maléficos e os planetas da dádiva do amor (Vénus exaltada e
Neptuno no signo por si regido).
Face
ao exposto, a influência do actual eclipse terá de conciliar a sua presença nos
ciclos nodais com a extensão temporal da sua acção concreta. A questão da influência
dos eclipses deve considerar sempre uma metodologia plural, uma que se fixe
para além das horas equatoriais descritas por Ptolomeu. A leitura das
declinações do Sol e da Lua colocariam uma influência restrita de um a dois
meses, já a duração penumbral fixaria uma influência mais ténue, de quase cinco
meses. Um outro critério que também firma a sua influência é a série Saros em
que se insere. A série Saros 113 é uma série antiga que começou a 29 de Abril
de 888 e que vai terminar a 10 de Junho de 2150. Este é o 64º eclipse de um
total de 71 eclipses, o que confere uma certa maturidade à mensagem proposta
pela série.
A
série Saros 113 é inaugurada por um eclipse em que o Dragão da Lua se estende pelo
mesmo eixo que o actual, todavia, o eixo luminar encontrava-se no eixo
Touro-Escorpião, ou seja, no eixo do ciclo nodal anterior ao que estamos a
viver. Este factor, para a questão da influência, corrobora o sentido de uma
influência abrangente, escrita num ciclo astrológico mundano mais amplo. O tema
do primeiro eclipse de uma série Saros serve de matriz para toda a série e,
seguindo este modelo interpretativo, existe uma proximidade do sentido astrológico
inicial com o actual.
No
eclipse de 29 de Abril de 888, a Lua e Úrano estavam no signo que marca a hora,
Escorpião, e no signo oposto, Touro, estavam o Sol, Mercúrio e Plutão. Em
Carneiro, estava a Caput Draconis,
Marte e Neptuno. Júpiter estava em Caranguejo e Saturno, culminando, em Leão.
Curiosamente, Vénus era o único planeta que se encontrava cadente, o mesmo que
hoje está exacerbado, mas também cadente. Porém, em 888, estava no lugar da
Deusa (III) e hoje está na XII, no Mau Destino (ou Espírito). Existe pois uma
potência por cumprir. Ora, aquando deste eclipse-matriz, ocorrem três mortes
que conduzem a mudanças em três reinos diferentes. Morre o imperador carolíngio
Carlos III, levando a mais uma cisão no Reino dos Francos. Morre Al-Mundhir,
emir de Córdoba, sendo sucedido pelo irmão Abdullah ibn Muhammad al-Umawi. Ora
Emirado de Córdoba vai anteceder o Califado de Córdoba que tanta importância
terá na história política e cultural da época. Por fim, morre o imperador Xi
Zong que também será sucedido pelo irmão, neste caso, Zhao Zong, e que dará
continuidade à dinastia Tang.
No
mesmo ano, o rei Alfredo, o Grande, funda a Abadia de Shaftesbury, mas é
sobretudo pelas efemérides militares que o período deste eclipse é lembrado. O
conde de Vannes, Alan I, e o seu rival, Judicael, unem forças para derrotar os
Vikings em Questembert. Dá-se também a Batalha de Milazo, em que os aglábidas
esmagam a armada bizantina ao largo da Sicília. Deve-se salientar igualmente as
expedições militares do rei Arnulfo da Caríntia na região dos Alpes e do norte
de Itália, confirmando o seu poder na sucessão de Carlos III. Todos estes
acontecimentos fundam um período de transformações e que, num curto período, vão
provocar várias mudanças. O trígono entre os maléficos potenciou muitos destes
momentos (Marte em Carneiro e Saturno em Leão).
A
influência espacial do eclipse de 25 de Março coloca o centro da sombra no mar,
no Oceano Pacífico, perto do Equador, entre Puerto Ayora (Ilha de Santa Cruz,
Equador) e as ilhas Marquesas, da Polinésia Francesa, estas um pouco mais a
sul. À semelhança dos últimos eclipses e do próximo, o eclipse será visível em
grande parte do continente americano. Já o manto penumbral será visível na
ascensão da Lua nas zonas orientais da Europa e de África e, no seu declínio,
no extremo ocidental da Ásia e da Oceania. Já nas regências geográficas antigas,
e de uma forma menos intensa, o Sol em Carneiro, segundo Vétio Valente (Antologia I, 2), rege as seguintes regiões: a Babilónia,
Elymais ou Elamais (Cuzistão,
província do Irão), a Pérsia, a Palestina e as regiões
circundantes, a Arménia, a Trácia, a Capadócia, Susã (cidade antiga, capital do
Elão ou Susiana, hoje sudoeste do Irão), o Mar Vermelho e o Mar Negro, o Egipto
e o Oceano Índico. Para Manílio, rege Helesponto
(Estreito de Dardanelos), Propontis (Mar de Mármara), a Síria, a Pérsia e o
Egipto (Astronomica, IV, 744-817).
De
uma forma mais intensa, a Lua em Balança, também segundo Valente (Antologia I, 2), vai ter influência sob a Báctria (região
persa do Coração que corresponde actualmente ao Afeganistão, Tajiquistão,
Uzbequistão, Paquistão e China), a China, a zona do Cáspio, Tebaida (região do
Antigo Egipto entre Abidos e Assuão), o Oásis (Oásis de Siwa ou Siuá, no
deserto da Líbia), Troglodítica (região antiga do deserto líbio, mas que se
pode estender por região que vai até ao Mar Vermelho e ao Corno de África), a
Itália, a Líbia, a Arábia, o Egipto, a Etiópia, Cartago, Esmirna (Anatólia,
Turquia), os Montes Tauro (Sul da Turquia), Cilícia (Turquia) e Sinope (Norte
de Turquia, junto ao Mar Negro). Manílio coloca a Itália e, em especial, a cidade
de Roma sob a regência de Balança, referindo, por um lado, que Roma controla as
mais variadas coisas, exaltando e precipitando as nações nos pratos da balança,
por outro lado, este é signo do imperador, de Augusto que terá nascido a 23 de
Setembro de 63 AEC (Astronomica IV,773-77).
O
tema do eclipse de dia 25 de Março tem, como já observarmos uma grande
concentração planetária nos eixos anunciados. Dos doze signos, apenas cinco tem
a presença de planetas. Em Carneiro, temos o Sol, Mercúrio (e a Caput Draconis), já em Balança está a
Lua (e a Cauda Draconis). Neste eixo
de identidade, entre a unidade e a dualidade, a luz da acção e da palavra e a
mediação criativa encontram-se obscurecidas, pendem sobre o horizonte como as
escalas desequilibradas de uma balança. A sombra do eclipse vai trazer um
obscurecimento ao sentido de identidade, à consciência daquilo que se é, tanto
pessoal como colectivamente. De uma perspectiva política, o enraizamento dos
valores democráticos encontra-se assombrado. A penumbra de um individualismo
narcísico, incapaz de integrar as ideias de solidariedade e de Estado Social,
corrompe a ponte democrática entre a igualdade e a liberdade. A Lua em Balança,
num eclipse lunar, acentua o desequilíbrio de valores. Em Portugal, a cada dia
que passa, o valor da Revolução de Abril perde-se na espuma dos dias, no
desligamento da realidade.
Mercúrio
em Carneiro, como Estrela da Tarde, abaixo do horizonte, revela uma palavra que
não faz, que tenta, mas não cria, que não promove uma verdadeira práxis. Tudo
se perde na desinformação, na ignorância, na liquidez dos tempos. O sextil de
Plutão em Aquário ao Sol, a Mercúrio e à Caput
em Carneiro e o trígono à Lua e à Cauda
em Balança, ambos em separação, trazem o sentido profundo da morte ao humano e
à humanidade, potenciando o elemento de transformação anteriormente descrito.
Existe uma desintegração de valores colectivos. Aquando da ascensão do nazismo,
Saturno estava em Aquário e Úrano em Carneiro. De uma outra forma, quando
Saturno e Neptuno passarem para Carneiro vamos encontrar elementos concordantes,
diferentes, mas comuns. De uma outra forma, na Marcha sobre Roma, que marca a
ascensão do fascismo italiano, Saturno estava em Balança e Marte em Capricórnio.
Existe muitos pontos de ligação com a actual ascensão da extrema-direita.
Júpiter
e Úrano em Touro em quadratura a Plutão em Aquário e em sextil a Marte,
Saturno, Vénus e Neptuno em Peixes servem de base conceptual e de estrutura de
sentido para o tema do eclipse lunar. Nesta configuração astrológica, a par da
que se estende no eixo Carneiro-Balança, repousa a mensagem de luz e sombra que
a providência nos concede. Evágrio do Ponto, um
monge-asceta e teólogo do século IV EC, afirma o seguinte: “O
conhecimento espiritual é ‘as asas’ da mente; o gnóstico é a mente das asas. E
se isto é assim, então as coisas carregam o signo das ‘árvores’: (elas são)
aquelas coisas em que a mente se empoleira, desfrutando das suas folhas e
deleitando-se com os seus frutos, enquanto almeja, a cada momento, a ‘árvore da
vida’.” (Kephalaia gnóstica 3.56
S2 in Evagrius of Pontus: The Gnostic
Trilogy, ed. R. Darling Young, J. Kalvesmaki, C. Stewart, C. Stang & L.
Dysinger, 284. Oxford, 2024: Oxford
University Press). A humanidade precisa de asas, de voar pelo
céu da gnose até à sabedoria. No entanto, a configuração astrológica mostra o
contrário ou, no mínimo, as dificuldades de possuir essas asas e voar.
Existe
um elemento de sentido, e que já abordamos no tema do Ano Novo Astrológico, que
pode ser designado como a estranheza do bem ou a negação da dádiva. A conjunção
dos maléficos (Marte e Saturno) em Peixes traz a experiência do mal à vontade
de totalidade. Porém, esta experiência do mal, como tal como o eclipse sugere no
eixo luminar, nodal e de ascensão, é colocada numa balança, onde de um lado
está a própria experiência do mal e do outro está a dádiva do amor. A união de
Vénus e de Neptuno em Peixes, ou seja, o lugar de exaltação e de domicílio
moderno, potencia exacerbadamente esta bênção. Contudo, esta dádiva perder-se-á
até ao momento do eclipse solar e, nesse momento, a conjunção dos maléficos
forçará o seu peso nas escalas da balança.
Seguindo
a citação de Evágrio do Ponto, Júpiter e
Úrano em Touro são hoje, no voo da gnose, as árvores do conhecimento espiritual.
Nesta posição e também pelos aspectos que se forma, nomeadamente o sextil aos
planetas no signo de Peixes. A relação destes dois posicionamentos conjuga dois
elementos, pois temos tanto o factor de estruturação ou reestruturação da
realidade como a liberdade ou o livre-arbítrio sobre a experiência do mal e a dádiva
do amor. No caso do tema de Lisboa, podemos observar como os regentes do eixo luminar
recaem ambos na XII, no lugar do Mau Destino (κακός δαίμων), revelando a degradação da mediação, do elemento de passagem,
entre o humano e a providência.
O Eclipse Lunar Apulso de dia 25 de Março é o primeiro momento alto do Dragão da Lua em 2024 e é a primeira grande luta entre a luz e a sombra. No actual ciclo, é também o penúltimo eclipse lunar no eixo nodal Carneiro-Balança, o último em que o Dragão da Lua e os luminares estão neste eixo. Por isso, a questão da luz e da sombra sobre o eixo da identidade, sobre a unidade e a dualidade, tornar-se-á mais revelante, bem como o peso da sua mensagem durante o período de influência. Como em todo o eclipse, será necessário enfrentar a sombra e seguir a luz.