terça-feira, 19 de março de 2024

Reflexões Astrológicas 2024: Ano Novo Astrológico

  Reflexões Astrológicas


Lunações


2024 – Ano Astrológico

Lisboa, 03h07min, 20/03/2024

 

Sol

Decanato: Marte    

Termos: Júpiter  

Monomoiria: Marte        

 

   O início do Ano Astrológico ocorre, como sabemos, com o ingresso do Sol no signo de Carneiro, logo no decanato de Marte, nos termos de Júpiter e na monomoiria de Marte. Já a Lua encontra-se, neste ano, no seu próprio segmento, em Leão, no mesmo elemento do Sol, em Fogo, e no decanato de Saturno, também nos termos de Júpiter e na sua monomoiria. A posição da Lua é aqui particularmente significativa, pois, daqui a um ano, aquando do início do Ano Astrológico de 2025, estará em Sagitário, completando-se, deste modo, o triângulo de Fogo. A Lua em Fogo está em desarmonia, masculinizada por um elemento dinâmico que a torna irascível e visceralmente instintiva. Para a hora de Lisboa, Capricórnio está a marcar a hora, colocando assim o Sol na IV, no Lugar sob a Terra (ὑπόγειον). O poder da finalidade ergue-se pois como o leme do ano, um que culmina na morte (Ponto de Culminação em Escorpião).           

   O Sol, encerrado no Lugar sob a Terra (ὑπόγειον), conserva em si um valor de gérmen, de potência de luz. A acção da luz (Sol em Carneiro) está guardada entre as mãos, como dádiva do futuro. Epicteto diz-nos o seguinte: “Fixa, a partir de agora, um carácter e um padrão para ti próprio, que guardarás quando estiveres sozinho, ou quando te encontrares com outros.(Encheiridion 33.1, trad. A. Dinucci & A. Julien, p.56. Coimbra, 2014: Imprensa da Universidade de Coimbra). A frase de Epicteto surge como indicador daquele que pode ser o regente ou os regentes do ano. Numa análise astrológica mundana, fixar um único regente para todo o planeta é metodologicamente errado e qualquer astrólogo rigoroso evitará esse diagnóstico. No entanto, a análise dos planetas com maior força ou poder (δύναμις) torna-se ela mesma imperativa.

   Para o tema de Lisboa, logo para Portugal, Saturno, por ser o regente do signo que marca a hora, será um planeta com força ou poder reforçado no ano de 2024, já a Lua em Leão é o único astro acima do horizonte, o que lhe confere o poder da luz visível, embora esta esteja num lugar inactivo e sob um olhar diametral tenso (Marte e Plutão). Face ao tema simbólico de Portugal e a uma tradição astrológica que faz de Peixes o seu signo regente, Saturno, a transitar por esse mesmo signo, torna-se assim um regente significativo. Já de uma perspectiva geograficamente indeterminada, Vénus é o planeta que tem mais força, pois aquando do ingresso vernal encontra-se no seu signo de exaltação (Peixes) e nos seus próprios termos. Mercúrio e Júpiter gozam também desta última dignidade, todavia a força de Vénus é maior. Esta encontra-se para além dos raios solares, numa posição dianteira, como Estrela da Manhã. A fase helíaca vai aumentar o seu poder.  

   Se regressarmos à frase de Epicteto, podemos compreender melhor a questão do regente ou dos regentes do ano astrológico de 2024. De um lado, temos Vénus em Peixes, o planeta mais dignificado, mas, no mesmo signo, temos também Saturno, que exerce pressão determinante sobre o período em causa. Os planetas em Peixes surgem, neste ano, como a potência de valor para a acção do Sol em Carneiro. Nesse sentido, é fundamental fixar, como diz Epicteto, um carácter, um padrão que sirva o próprio e a sua relação com os outros, ou seja, que firme a partir do interior a acção exterior, tanto individual como colectiva. Vénus e Saturno não são um par improvável, dado que o Amor e o Tempo caminham a mesma via. Só semeando se poderá depois ceifar. Porém, esta influência exercer-se-á sobretudo na primeira estação do ano, Primavera no hemisfério norte e Outono no hemisfério sul.

   De um outro modo, se, por um lado, temos em 2024 a permanência de Saturno no mesmo signo, em Peixes, por outro lado, temos Júpiter e o seu ingresso em Gémeos. O senhor da justiça e do bem, regendo o espaço, será também um regente do futuro. Ao ingressar em 2024 num signo de Ar, marca o tempo de influência que se iniciou com a grande conjunção em Aquário, em 2020, e se estenderá até 2060 com o encontro de Júpiter e Saturno em Gémeos, passando pela conjunção de 2040 em Balança. Em 2024, o ingresso de Júpiter em Gémeos torna-se particularmente significativo, pois possui elementos radicais desse ciclo mundano. No entanto, ao ingressar em Gémeos, Júpiter passará a olhar quadrangularmente para Saturno em Peixes, intensificando-se o carácter estruturante dessa relação.    

   A questão do regente do ano não pode limitar-se a uma redução numerológica, nem a uma sequência planetária, seguindo uma qualquer ordem, como, por exemplo, a ordem caldaica. Na verdade, como se percebe pela explanação anterior, não é possível reduzir a questão a um único planeta, pois os critérios de análise e determinação são plurais. Desta forma, podemos concluir que Vénus, Saturno e Júpiter vão ter uma força reforçada. No entanto, também Marte tem uma influência especial, uma vez que é o regente de Carneiro onde se encontra a Caput Draconis, determinando o actual ciclo nodal de eclipses. Marte terá assim uma relação óbvia com o Dragão da Lua e com sentido profundo do destino e da necessidade. Existe também um outro critério que eleva a influência de Marte em 2024. A conjunção dos maléficos que ocorre, mais ou menos, de dois em dois anos, firma-se agora no signo de Peixes, ou seja, Marte e Saturno vão exercer uma influência conjunta entre 22 de Março a 30 de Abril.

   Convém, no entanto, frisar-se um aspecto que determina com frequência muitas das interpretações. A explanação do mal tende a tornar-se mais atractiva. Existe um fascínio por aquilo que destrói, todavia, tende-se a ignorar que a destruição é apenas uma fase do ciclo e que a destruição é antecedida e sucedida pela criação. Este encantamento do mal conduz-nos, deste modo, a um certo esquecimento da dádiva do bem. Séneca, no De Constantia Sapientis, afirma o seguinte: “Finalmente, deve ser mais forte o que danifica em relação ao que é danificado; mas a maldade não é mais vigorosa do que a virtude; o sábio, portanto, não pode ser danificado. A injúria contra os bons só é tentada pelos maus; os bons, entre si, vivem em paz, os maus são tão perniciosos aos bons quanto entre si. Mas se não possível danificar a não ser o mais fraco, e o mau, por outro lado, é mais fraco que o bom, e os bons só devem recear injúria de quem não é bom, a injúria não atinge o homem sábio. Com efeito, já não é mais preciso ficar-te relembrando de que ninguém é bom, excepto o sábio.” (7.2, Séneca, Sobre a Providência Divina e Sobre a Firmeza do Homem Sábio, ed. R. da Cunha Lima, p. 90. São Paulo, 2000: Nova Alexandria).

   No tema do Ano Novo Astrológico, esta prevalência da sabedoria e do bem pode ser observada na relação entre os benéficos. Ora Vénus encontra-se num signo regido por Júpiter e é também o regente da triplicidade diurna de Júpiter e este encontra-se num signo regido por Vénus, sendo também o regente do decanato em que esta se fixa. Existe uma interdependência no valor da dádiva do bem, dando forma à afirmação de Séneca e mostrando como a sabedoria e o bem não se deixam afectar pela acção do mal. A retrogradação dos maléficos, de Saturno de 29 de Julho a 15 de Novembro e de Marte de 6 de Dezembro a 24 de Fevereiro de 2025, servem essa suspensão da acção do mal através da interiorização do potencial do bem. Essa ponte da potencialidade à acção, do pensamento ao acto, relembra-nos que a sabedoria é imperativa e que não se deixa ferir, pois ela é em si mesma o bem supremo, ou seja, a ignorância estende-se, mas não faz caminho.

   De igual forma, a retrogradação de Júpiter, de 9 de Outubro a 4 de Fevereiro de 2025, já com este em Gémeos, traz-nos também essa ponte, mas com algumas diferenças. Neste período, existirá um movimento que nos lembrará, colhendo os dons do signo de Gémeos, que a palavra e o conhecimento são vias de transformação, ou seja, neste caso, precisa de existir um reconhecimento positivo da dádiva da sabedoria. Já no que concerne aos transaturninos é preciso referir também as retrogradações e dizer-se que, pela sua própria natureza, não têm o mesmo tipo de influência. Ora Úrano estará retrógrado de 1 de Setembro a 4 de Fevereiro de 2025, Neptuno de 2 de Julho a 12 de Outubro e Plutão de 5 de Maio a 12 de Outubro. Destes planetas, quer no período de retrogradação, quer no seu movimento directo, só Plutão mudará de signo. De 3 de Setembro a 19 de Novembro, regressará pela última vez a Capricórnio. Esta é, na nossa era, a última oportunidade de assimilação da sua mensagem.

   No entanto, devemos relembrar que estes planetas avançam muito pouco num ano. Úrano trilhará em diante cerca de quatro graus e meio, Neptuno pouco mais de dois graus e Plutão quase dois graus. Assim, é com cautela que se deve interpretar a sua influência anual e sobretudo a influência pessoal. Será portanto aconselhável circunscrever a orbe de análise. Existe um extravasar de sentidos acerca da influência destes planetas que é, por vezes, descabida. Quando Plutão ingressou em Aquário, estando neste signo cerca de vinte anos, ouviu-se e leu-se disparates como por exemplo: “entrou na minha casa IV, um dos pais pode morrer”, “entrou na casa VI, indica doença grave” ou “entrou na casa VII, vai existir um divórcio”. Em vinte anos, é natural que qualquer uma dessas coisas possa acontecer, sem que que o responsável directo seja Plutão. O estudo astrológico é sempre holístico, ou seja, é uma visão do todo.  

   Na análise mundana de um ano astrológico, o tema do ingresso vernal e a evolução dos movimentos planetários até ao ingresso seguinte é o primeiro indicador. A este deve, porém, seguir-se o estudo dos eclipses, sobretudo por duas razões: a primeira assenta no facto de os eclipses serem expressões radicais da luz e da sombra, logo dos luminares, e a segunda por a sua influência se estender durante meses ou anos. Em 2024, existirão quatro eclipses: dois eclipses lunares, a 25 de Março e a 18 de Setembro, e dois eclipses solares, a 8 de Abril e a 2 de Outubro. Todos estes eclipses ocorrem no eixo Carneiro-Balança, logo no eixo de sentido entre a unidade e a dualidade. No entanto, antes do ano terminar, o Dragão da Lua passará para o eixo Peixes-Virgem, ou seja, para a ponte de sentido entre a parte e o todo, entre o conhecimento do lote e a sabedoria da totalidade. Passar-se-á então de eixo de identidade para um de integração.

   No tema do actual ingresso vernal, a interpretação das relações planetárias pode agora começar pelos transpessoais, pois existe com a mudança de signo de Plutão uma alteração no paradigma. Com Úrano em Touro, Neptuno em Peixes e Plutão em Capricórnio, existe uma harmonia entre estes planetas (sextil e trígono), mas, com Plutão em Aquário, este passará a estar em quadratura com Úrano e desligado, sem aspecto ptolemaico, face a Neptuno. Esta mudança representará não um qualquer deslumbramento aquariano, mas sim um agravamento de muitas das tensões que já se encontram latentes. Se não nos esquecermos que Aquário é primeiramente regido por Saturno e se observarmos no tema vernal como Marte e Plutão estão conjuntos neste signo, podemos concluir que existe uma corrupção nas estruturas de poder e na forma como estas se relacionam com as populações. A ligação de Marte e Plutão em Aquário ao Dragão da Lua (trígono à Cauda e sextil à Caput) coloca a destruição actual na urdidura da providência. A desagregação dos valores democráticos e o avanço da extrema-direita e do populismo são disso exemplo e a chegada, em 2025, de Saturno e Neptuno a Carneiro adensará os perigos que estão à espreita.

   Mercúrio que, em Carneiro, teria posição particularmente, por estar para além dos raios solares, mas como Estrela da Tarde e conjunto à Caput Draconis, poderá adquirir um valor de sentido ambíguo, apontando, por um lado, para o ímpeto da palavra criativa e, por outro, para a palavra que confunde, que deturpa e que promove a mentira como verdade. O destino e a necessidade pesam sobre palavra e conduzem o humano ao seu enigma primordial: para escolher a sabedoria é preciso seguir a via da verdade e esta implica sempre uma qualquer forma de angústia e de revelação. O sextil do Sol, de Mercúrio e da Caput Draconis em Carneiro a Marte e Plutão em Aquário e o trígono à Lua em Leão firmam um elo entre liberdade e destruição. No tema de Lisboa, o Ponto de Culminação encontra-se em Escorpião, logo numa posição que é quadrangular face aos seus regentes (Marte e Plutão em Escorpião). Existe um fenómeno de desagregação do humano como senda de possibilidade da criação de uma nova humanidade ou como via para uma nova extinção. O abismo abeira-se.

   Por o tema de Lisboa dignificar o segmento de luz nocturno, Vénus torna-se o grande benéfico e, por estar exaltada e nos seus próprios termos, ganha uma força reforçada. Desta forma, Afrodite expande o amor no domicílio de Júpiter, onde também se encontra Saturno e Neptuno, o seu regente moderno de Peixes. Este será um lugar de dádiva, a partir do qual se poderá expandir o seu sentido radical. O sextil a Júpiter e Úrano em Touro recuperam naturalmente o tema da Grande Mãe, da Mãe Terra e do Divino Feminino. No entanto, este é um númen que continua oculta entre o crepúsculo e a aurora. A quadratura da Lua em Leão a Júpiter e a Úrano em Touro e destes a Marte e a Plutão em Aquário impedem a dignidade espiritual do Divino Feminino e o reconhecimento da nobreza de espírito da sua dignificação. A nova ecologia precisa espiritualidade do feminino e a sociedade também.  

   O ano astrológico de 2024 aponta para um sentido que exalta a criação de pontes, de elementos de passagem. Vénus e Saturno, o desejo de criar e a necessidade de destruição, vão colocar o humano sob a égide radical desse factor de transformação. Existe pois uma necessidade de revalorização da dádiva do bem (Vénus e Júpiter), mostrando-nos que também entre as ruínas existem tesouros. É a luz da candeia, guardada sob o manto do sábio. O planeta que habitamos e a humanidade estão ao viver aquele momento entre eras, entre um ciclo que se fecha e um que ainda não se abriu. Em 2024, a experiência do limiar tornar-se-á, desta forma, um sentido profundo.

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