quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O Resto Permanece Humano: Livro IV - Poema III



Os sorrisos podem transformar o mundo. Um sorriso, em particular, transformou a minha vida. Face às trevas, salvou-me. Face à luz que acabara de descobrir, elevou-me. Depois desse momento inaugural, tudo mudou. A verdade fundou-se em mim com uma certeza inabalável. Conseguir olhar, para além do espaço e do tempo, e ver o fogo da origem, ardendo vivo, sempre vivo, como a luz e o amor que somos. Um sorriso deu-me aquilo que procurei em toda a minha vida: a imersão na totalidade divina. Naquele momento, tudo estava integrado e os fios das Meras eram agora teias de luz divina, brilhando numa só certeza. Não era fé, não era esperança, era a realidade alí à minha frente. Tudo começou com um sorriso. A partir daquele momento, a mulher a quem pertence o sorriso tornou-se única na minha vida e quaisquer que sejam as circunstâncias será sempre única. O meu amor por ela é incondicional e a minha gratidão por esse encontro é infinita.


A SORRIR O DESTINO


Sem esperar esperando


______________ Descendo tu chegaste


O mundo todo em ti eu vi ____________


___________ E do destino sem esperar


Mas esperando tu sorriste




Figueiredo, Rodolfo Miguel de, 2025, "A Sorrir o Destino" in O Resto Permanece Humano: Livro IV, p.83. Lisboa: Livros - Rodolfo Miguel de Figueiredo.

Saiba mais acerca deste e de outros livros em https://rodolfomfigueiredo.wixsite.com/livros

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Hairesis ou o Segmento de Luz: A Primeira Dignidade Astrológica


   
   No século I da Era do Comum, Trasilo, o astrólogo e amigo do Imperador Tibério, dizia o seguinte: "Determina também as setes zonas de acordo com a tradição de Petosíris e Nechepso, tal como a própria defende. E determina a natureza das errantes e quais as que são apropriadas para cada um dos signos; assim como que a Cronos e Zeus seguem o Sol, já Ares e Afrodite, a Lua, portanto afirma que uns são do segmento do Sol, os outros do da Lua, enquanto Hermes é comum" (Tábua ou Pínax in Catalogus Codicorum Astrologicum Graecorum, VIII/3: 99-101).

   Esta que é umas das mais antigas descrições deste modelo e que resume uma divisão simples, mas que, no entanto, era a primeira a se ter em consideração na análise de qualquer tema. Dia ou Noite? Esta é primeira de todas as questões. Se o tema for diurno, o Sol domina. Se o tema for nocturno, é a Lua que domina. Esta divisão é a base do modelo astrológico. Curiosamente, a Hairesis (αἵρεσις) que optei por traduzir por Segmento de Luz, o sect of light anglo-saxónico ou a seita como traduzem os nossos amigos brasileiros, seguindo a vertente religiosa-espiritual do termo e que foi chegar à nossa heresia, deixou de ser tida em consideração.

    Esta dignidade foi utilizada como base do sistema interpretativo consistentemente até Abu Mashar, ou seja, até à grande astrologia árabe. Na era moderna, caiu em desuso e desapareceu do sistema astrológico. Foi, porém, reabilitada com a releitura dos textos astrológicos gregos e latinos. Se olharmos com atenção, ou seja, com olhos de ver, torna-se incompreensível que a distinção dia e noite não seja considerada desta forma, pois a leitura mais imediata.

    A presença do Segmento de Luz no sistema astrológico torna-se assim consequente e necessária, pois não só tem raízes profundas na leitura astrológico como tem uma validade interpretativa facilmente comprovável. Para o astrólogo tradicional, mesmo que não helenístico, esta presença é natural. Resta saber se o astrólogo de uma linhagem contemporânea está disponível para essa reposição.   
    


Síntese do Modelo Astrológico do Segmento de Luz

 

O !, ) e * pertencem ao segmento diurno e são considerados masculinos. Pode-se considerar também ) masculino e * feminino (acerca de Saturno feminino leia-se o meu livro Fragmentos Atrológicos).    

 

O #, & and ( pertencem ao segmento nocturno e são considerados femininos. Pode-se considerar também & feminino e ( masculino.

 

Se $ nasce antes do ! (Estrela da Manhã), pertence ao segmento diurno e é considerado masculino.

 

Se $ nasce depois do ! (Estrela da Tarde), pertence ao segmento nocturno e é considerado feminino.


 

Um planeta do segmento diurno num tema diurno está no seu próprio segmento por natureza.

 

Um planeta do segmento diurno num tema nocturno está fora do seu próprio segmento por natureza.

 

Um planeta do segmento nocturno num tema nocturno está no seu próprio segmento por natureza.

 

Um planeta do segmento nocturno num tema diurno está fora do seu próprio segmento por natureza.

 


Força Benéfica de &.

& pertence ao segmento nocturno. Num tema nocturno, é um benéfico forte. Num tema diurno, é um benéfico fraco.

& no seu próprio segmento é mais benéfico. & fora de segmento é menos benéfico.

 

Força Benéfica de ).

) pertence ao segmento diurno. Num tema diurno, é um benéfico forte. Num tema nocturno, é um benéfico fraco.

) no seu próprio segmento é mais benéfico. ) fora de segmento é menos benéfico.

 

Força Maléfica de (.

( pertence ao segmento nocturno. Num tema nocturno, é um maléfico forte, ou seja, menos destruidor. Num tema diurno, é um maléfico fraco, ou seja, mais destruidor.

( no seu próprio segmento é menos maléfico. ( fora de segmento é mais maléfico.

 

Força Maléfica de *.

* pertence ao segmento diurno. Num tema diurno, é um maléfico forte, ou seja, menos destruidor. Num tema nocturno, é um maléfico fraco, ou seja, mais destruidor.

* no seu próprio segmento é menos maléfico. * fora de segmento é mais maléfico.

 

De dia ou de noite, o planeta em posição superior, ou seja, acima do horizonte (eixo Ascendente-Descendente) torna-se mais proeminente e mais activo. Contrariamente, os planetas abaixo do horizonte têm uma expressão mais contida e menos activa. No entanto, os lugares que ocupem podem exponenciar ou mitigar essa condição. 

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Redescobrir o Thema Mundi: A Origem dos Domicílios Planetários




Os computadores parecem, por vezes, abismos de informações. Encontrei estas imagens de uma antiga lição, de 2019, acerca do Thema Mundi. Entretanto já fiz outros gráficos. Na astrologia, como em qualquer área do saber, temos a tendência para cristalizar posições, sem investigarmos a origem e o sentido do que está por detrás dessas posições. A ideia conceptual da ordem vernal, começando com Carneiro e associando os signos às casas (lugares na terminologia antiga), está tão enraizada na astrologia contemporânea que se tende a rejeitar outra realidade, nomeadamente o verdadeiro sentido das ordens e sobretudo da estrutura domiciliar.

Ora sabemos que as exaltações planetárias tiveram origem babilónica e sabemos também que os domicílios tiveram origem egípcia. Dos textos que dispomos, e neste caso não nos podemos queixar, pois temos diversidade textual, concluímos que a estrutura de sentido a partir da qual nascem ou se expressam os domicílios é o Thema Mundi e não a disposição vernal a partir de Carneiro, inexistente nos textos antigos com referência aos domicílios. Esta, na verdade, pode até parecer estranha ou forçada para a astrologia no hemisfério sul, mas isso é outro assunto (a hegemonia de um sistema configurado para o hemisfério norte). E já nem se fala do absurdo contemporâneo que é associação absoluta da significação entre signos e casas. O astrólogo antigo sobrepunha as rodas (signos e lugares) sem confundir os sentidos.

O Thema Mundi coloca Caranguejo na I, dizendo que é o Horóscopo (o Ascendente) do Mundo, por uma razão muito simples. A I é a vida, o nascimento. Bem sei que a misoginia dos nossos tempos gostaria muito que tivéssemos nascido todos do falo de Marte, mas lamento dizer que foi da vulva da Lua que todos nascemos. É o feminino a Mãe do Mundo, e é o feminino a mãe do humano. A restante ordem do Thema Mundi tem um sentido muito explícito e que, com a significação antiga dos lugares, se adensa. Naturalmente, ninguém diz para se rejeitar outras ordens, pois a pluralidade de sentidos é sempre bem vinda e fazia parte da astrologia antiga, mas a origem das regências domiciliares encontra-se no Thema Mundi.

sábado, 20 de setembro de 2025

Reflexões Astrológicas 2025: Eclipse Solar Parcial (Lua Nova em Virgem)

Reflexões Astrológicas

Eclipses 




Eclipse Solar Parcial 

(Lua Nova em Virgem)

Lisboa, 20h 43min, 21/09/2025

 

Sol-Lua

Decanato: Mercúrio  

Termos: Saturno   

Monomoiria: Lua    

                                           

 

   O Eclipse Solar Parcial de 21 de Setembro ocorre no signo de Virgem, com Carneiro a marcar a hora (hora de Lisboa), no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, com os luminares abaixo do horizonte, na VI, no lugar do Má Fortuna (κάκη τύχη), e cerca de uma hora após o pôr-do-sol, no decanato de Mercúrio, nos termos de Saturno e na monomoiria da Lua, no grau anarético deste signo. Manílio define o lugar onde se dá o eclipse do seguinte modo: “porta laboriis erit: scandendum est atque cadendum” (Astronomica II, 870: “a porta do trabalho serão: por uma se sobe e pela outra se desce”). A tensão do incumprimento é a mais intensa do todo o δωδεκατόπος (doze lugares), pois não se une ao Horóscopo e está sob o horizonte. No entanto, a união triangular ao lugar da Práxis, a X, permite que se efective, mas só através do esforço, do labor. A sombra terá de ser trabalhada.

   Paulo de Alexandria define o sexto lugar como ἀπόκλιμα φαῦλον (declínio débil) e designa-o de ποινέ, ou seja, retribuição, castigo ou vingança (Introdução, cap. 24). Fírmico Materno, por seu lado, considera-o uma infelix regio (região funesta) ou diz que é rebusque inimica futuris (inimiga das acções futuras), fazendo dela vitio fecunda nimis (demasiado fecunda em maldade). A VI é assim definida como um locus piger, um lugar passivo (Mathesis, II, 19, 7). Esta qualificação do sexto lugar é importante, pois, segundo a ordem vernal, é neste lugar que recai o signo de Virgem, já segundo a ordem do Thema Mundi este signo ocupa o terceiro lugar, designado tradicionalmente por Deusa, ou por lugar da Deusa da Lua. Consequentemente a união destes dois sentidos torna-se fundamental para compreensão da natureza do actual eclipse.

   A análise astro-mitológica do signo de Virgem estabelece uma ponte de sentido entre estas duas qualificações. O signo de Virgem, segundo a tradição, representa Astreia, filha de Astraeus e Eos (Aurora) ou de Zeus e Témis, ou Dikê (Némesis, na sua forma de retribuição). Na astrologia moderna ou contemporânea, tendemos a colocar o conceito de justiça mais associado ao signo de Balança que ao de Virgem. No entanto, das constelações zodiacais, o signo de Balança foi o último a ser definido, pois pertenceria inicialmente ao Grande Escorpião, do qual representaria as suas pinças. Da sua divisão nasceria o signo de Balança, as pinças tornaram-se escalas, e o signo Escorpião que ficaria com o resto do corpo do Grande Escorpião. Esta origem é importante, pois mostra como o signo de Balança, o único representado por um objecto, representa apenas o instrumento que repousa nas mãos da deusa, no signo de Virgem. Está portanto mais associado à aplicação da justiça.

   A deusa da Justiça é, segundo o mito das idades do mundo, a última a permanecer na terra. Todos os outros deuses subiram ao Olimpo. No entanto, à medida que a perfídia humana cresce, a Deusa começa a ser ignorada. Hesíodo, em Os Trabalhos e os Dias, conta-nos o seguinte: “E ela segue-os, chorando pela cidade e pelas moradas dos povos, / vestida da névoa, trazendo desventura aos homens que a baniram e a não distribuem com rectidão” (222-4, trad. A. Elias Pinheiro & J. Ribeiro Ferreira, 100. Lisboa, 2005: INCM). Progressivamente a deusa abandona a humanidade. Esta ideia de ausência do Divino Feminino é assim associada ao signo de Virgem. Numa perspectiva mais determinada pelos ciclos da natureza e pela agricultura, a deusa Deméter, após o rapto de Cora (Perséfone), sua filha, deixa o mundo e refugia-se numa gruta na Arcádia, deixando a natureza perecer e levando todos à miséria. Ora o somatório destes elementos demonstra a associação do signo Virgem aos lugares indicados, ou seja, à III enquanto Deusa e à VI enquanto Má Fortuna, a miséria da ausência do feminino.

   Como o actual eclipse ocorre no signo de Virgem, a sombra dracôntica assume também, sob o véu do obscurecimento, esta ausência do feminino enquanto degradação do humano e corrupção da natureza. Na sua forma de retribuição, a sua face mais severa, Dikê revela-se como Némesis. Foi a acção humana que levou a deusa a tomar esta forma que é tradicionalmente associada a Saturno. Segundo o mito das idades, Saturno rege a idade de ouro quando a justiça ainda existia entre os humanos. Hoje, aquando do eclipse solar de dia 21, Saturno olha de frente (oposição) para o encontro umbral dos luminares. A partir de Peixes, trazendo consigo o peso do destino (Cauda Draconis), Saturno fita esta ausência, esta negação da harmonia.

   Este abandono ou esta ausência não é, porém, definitiva, passada a sombra, renascido o humano, a deusa voltará. Vergílio, nas Bucólicas, diz o seguinte: “A última idade do canto cumeio chegou já;/ a grande ordem dos séculos nasce de novo./ Já regressa a Virgem, regressam os reinos saturninos; /já do céu alto uma nova progénie é enviada.” (IV, 4.7: itima Cumaei uenit iam cļńs aetas;/magnus ah integro saeclorum nascitur ordo./ iam redit et Virgo, redeunt Satumia regna, /iam noua progenies caelo demittitur alto. Trad. Frederico Lourenço, 109-10. Lisboa, 2021: Quetzal Editores). No entanto, o retorno da deusa, considerando o que motivou o seu afastamento, nascerá de duas razões: ou porque a perfídia recuou entre os humanos; ou porque a deusa quer ajudar o humano nesse recuo. As duas razões não se excluem e obrigam ambas à transformação do humano, ao seu regresso à excelência original. Esta ideia insere-se naturalmente na conceptualização do eixo de integração que une Virgem a Peixes, ou seja, a parte ao todo. Diante da sombra que oculta a luz, a parte não vê, não alcança o todo. O humano não vê a deusa, não se integra na sua totalidade.

   Séneca apresenta um percurso para aquilo que deverá ser, segundo o espírito de Virgem, a sanidade da alma: “Dir-te-ei agora o que significa uma alma sã: é cada um contentar-se consigo mesmo, ter confiança em si próprio, saber que todos os votos feitos pelos homens, todos os benefícios que trocam entre si não têm a mínima importância para a obtenção da felicidade. Uma coisa passível de acréscimo não é uma coisa perfeita; o homem que quer vir a possuir uma permanente alegria, tem de fruir apenas do que efectivamente lhe pertence. Ora rodos os bens a que o comum dos mortais aspira são, de uma forma ou outra, transitórios, pois de coisa alguma a fortuna nos permite a posse para sempre. Mesmo esses bens transitórios, contudo, podem ser-nos agradáveis se estiverem sujeitos ao controlo e à influência da razão; apenas a razão pode tornar recomendáveis esses bens, cujo usufruto se revela nocivo a quem os ambiciona por si mesmos.” (Ep.72.7; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). Este itinerário da alma é, na verdade, uma negação do que conduziu ao afastamento da deusa, é uma rejeição da Má Fortuna, tornando-se assim o sentido do actual eclipse.

   A influência temporal deste eclipse deve ser analisada com alguma ponderação, pois, como veremos mais adiante, este eclipse pertence a uma série Saros recente, iniciada em 1917, logo a sua assinatura mundana de sentido ainda se está estruturar. Por um lado, por ser um eclipse parcial com uma tipologia rara, a sua duração, bem como a ascensão recta, é maior, logo a influência também será. No entanto, por a sua significação ainda se estar a estabelecer, a influência temporal poderá ser maior, mas o efeito tenderá a ser mais ténue ou até difuso. A duração fixaria assim a influência em cerca de quatro anos e meio e a ascensão recta em mais de uma década, já a declinação dos luminares colocaria em destaque uma influência maior entre os quatro e os cinco meses.     

   A influência geográfica do eclipse de dia 21 tem o seu centro no mar, entre o sul da Austrália e a Antárctida, perto também da Nova Zelândia, sendo visível nas ilhas Fiji, Tuvalu, Tonga, Samoa, Samoa Americana, Ilhas Cook, Tahiti e Polinésia Francesa. A área geográfica como podemos ver é restrita. Já segundo as regências geográficas antigas, Vétio Valente (Antologia I, 2) diz-nos que Virgem rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dória (Grécia), Sicília e Pérsia ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a sua influência (Astronomica IV, 763-8).

   O eclipse solar parcial de 21 de Setembro pertence à série Saros 154, sendo o 7º eclipse de um total de 71. O próximo vai iniciar uma fase de eclipses anulares. O primeiro eclipse total só ocorrerá em 2404. O eclipse inicial é a matriz de sentido para toda a série. O primeiro eclipse desta série ocorreu a 19 de Julho de 1917. O Sol e a Lua estavam em Caranguejo e o Dragão da Lua estendia-se no eixo Caranguejo-Capricórnio. Mercúrio e Vénus estavam em Leão, Marte e Júpiter em Gémeos e Saturno em Leão. Nos transaturninos, Úrano estava em Aquário, Neptuno em Leão e Plutão em Caranguejo. Nesta data e na hora de Lisboa, Gémeos marcava a hora e Aquário culminava. A série Saros 154 terminará a 25 de Agosto de 3179, com um eclipse no signo de Virgem, tal como o actual.

   No ano 1917, antes do eclipse, deu-se, a 5 de Fevereiro, a Revolução Mexicana que com a nova constituição, vai ser a primeira a instituir os direitos sociais, dois anos antes da Constituição de Weimar, nela estavam inscritos direitos como o direito à greve, o voto feminino, liberdade de expressão, a separação entre estado e igreja, entre outros. Este é o ano das aparições de Fátima, tendo sido a primeira a 13 de Maio e as 13 de Outubro já depois do eclipse. Na Rússia, dá-se a Revolução de Outubro que leva Lenine e o Partido Bolchevique ao poder. O mês de Dezembro será um mês de grande instabilidade. Em Espanha, assistir-se-á a três mudanças no presidente do governo. Não nos podemos esquecer que estávamos na Primeira Guerra Mundial e, neste mês, os Estados Unidos da América entram na guerra. É também de assinalar a 6 de Dezembro o choque entre dois cargueiros em Halifax, no Canadá, que vai dar origem a uma grande explosão que, por sua vez, provocará um tsunami. Em Mondane (França), o descarrilamento de um comboio com mil soldados provocará a morte de oitocentos deles.   

   Uma informação que é também relevante é que o actual eclipse dá-se com o Sol no último grau de Virgem, o grau anarético. Ora isto serve primeiramente para desfazer um erro que infelizmente é muito comum. É grau anarético e não anorético, ou seja, é o grau destruidor e não o grau com falta de apetite. O primeiro provém de anareta (ἀναιρέτης) e o segundo é o adjectivo de anorexia, do prefixo negativo ana que indica aqui falta ou ausência e o substantivo orexis (ὄρεξις), fome ou apetite ou desejo. Pela internet este erro é muito comum. A destruição neste caso ocorre por força do limite e imposição do limiar do lugar onde aquele signo se perde e o seguinte já se avista. Um eclipse solar neste lugar vai adensar o peso sobre o sentido da sombra. Curiosamente, a sizígia umbral encontra-se a trinta de graus de Marte que também se encontra num grau anarético, mas neste caso o de Balança. Em ambos os casos, devemos considerar que esta destruição é limite de algo.

   Face ao tema do eclipse lunar de dia 7, deve-se destacar as duas grandes diferenças nas posições planetárias: Mercúrio deixa o seu signo de domicílio e exaltação, Virgem, para ingressar em Balança e Vénus deixa o signo de Leão para entrar no signo de Virgem. Vénus em Virgem assume-se como Estrela da Manhã e encontra-se numa posição já para além dos raios abrasivos do Sol. Mercúrio, embora no signo seguinte ao do Sol, encontra-se sob os raios e numa posição helíaca posterior, adquirindo desta forma uma expressão feminina e um carácter mais emotivo, sentimental e intuitivo.

   Apesar de Marte estar a deixar o signo de Balança, onde se encontrar em detrimento, para entrar em Escorpião, o seu domicílio, vai ainda oferecer, durante cerca de um dia, os seus raios maléficos ao recém-chegado Mercúrio. Já a Vénus em Virgem, no domicílio e exaltação de Mercúrio, não espalha todas as suas qualidades, algo que só acontecerá quando entrar em Balança, o seu domicílio masculino e diurno. Vénus em Virgem assume na Deusa Tríplice a sua face de Donzela, da jovem que ainda não se iniciou no mistério da maternidade. No entanto, apesar de estar fora do alcance dos raios solares, Vénus está numa posição conjunta e a fazer aplicação à sizígia umbral, logo participa deste sentido profundo de ocultação e obscurecimento.

   Do ponto de vista astro-mitológico, seria o momento em que Cora (Perséfone) seria raptada por Hades, conduzindo assim ao lamento de Deméter. O sextil da sizígia umbral, de Vénus e da Cauda Draconis em Virgem a Júpiter em Caranguejo vai trazer a dádiva da origem, o bem que se encontra no começo da viagem, a esta relação, ou seja, a procura do estado anterior de abundância de modo a recuperar, a restaurar esse bem. O retorno à natureza e aos seus bens é hoje um exemplo dessa relação.

   A oposição Saturno em Peixes ao lugar do eclipse, o trígono dele a Júpiter em Caranguejo, lembrando a lição de Petosíris de que nem todos os trígonos são bons, nem todas as quadraturas são más, e a quadratura de Saturno e do lugar umbral a Úrano em Gémeos é a marca dos tempos sombrios em que vivemos. O humano está escolher o seu lugar na história. Estamos à assistir a um genocídio em tempo real, com toda a informação, com imagens, sim porque há imagens de Gaza, da destruição, da fome, do infanticídio, do massacre de gentes à procura de comida, de um povo, e a maioria permanece num estado de absoluta dormência, como se nada fosse, com uma cumplicidade absurda para com os algozes de Israel. O conceito de humanidade assenta numa premissa primordial: um humano é um humano, isto é, os seres humanos têm todos o mesmo valor. Desta premissa decorre, segundo o espírito que agrega o conceito de humanidade, a solidariedade, ou seja, quem sofre, quem precisa deve ser a força da acção humana para reparar, para mitigar esse sofrimento, essa necessidade. Enquanto permitirmos as ideias de que um humano vale mais do outro e de que existem terras prometidas, a humanidade cairá no seu próprio abismo. E aqueles que não fazem nada, que nem uma opinião expressam, permitem essas atrocidades.

   A posição fragilizada de Úrano em Gémeos, onde a palavra devia ser revolução permanente, bem como a quadratura de Mercúrio em Balança a Júpiter em Caranguejo, onde o espírito nacionalista da extrema-direita corrompe a justiça e harmonia entre as gentes, entre os povos, vão mostrar como a inteligência e a palavra se afundam na sombra da ignorância. A quadratura de Mercúrio em Balança a Júpiter em Caranguejo e a oposição a Neptuno em Carneiro são uma marca da transmissão das novas ideologias populistas, nacionalista, xenófobas e misóginas que existem na extrema-direita, nos novos totalitarismos.

   Já os trígonos de Mercúrio (e de Marte, embora já por pouco tempo) em Balança a Úrano em Gémeos e a Plutão em Aquário trazem, sob os desígnios da providência e da necessidade, toda uma proposta de transformação da palavra, do discurso e do conhecimento. Porém, devido à retrogradação de Úrano e de Plutão, este é o gérmen de uma criação que pode florescer nuns e desaparecer noutros ou nunca sequer existir, ficando como mera potencialidade não efectivada. Este grande trígono não deixa de ser o vendaval do Anjo da História que coloca o humano e o seu carácter sob avaliação.                            

   A semelhança do que se referiu no eclipse lunar, o trígono entre Júpiter exaltado em Caranguejo e Saturno em Peixes que traz consigo a dádiva da Água. Curiosamente, nos tempos líquidos que vivemos essa é uma dádiva frequentemente desvalorizada. As sociedades actuais e a natureza humana expressam hoje muito mais os espectros do criar (Terra), do pensar (Ar) e do agir (Fogo) que os do sentir (Água). Os sentimentos e a intuição, o amor e a fé como via de sabedoria, perdem-se no frenesim dos dias e na superficialidade das relações. A retrogradação de Saturno e o seu derradeiro estágio no signo de Peixes é uma proposta de sentido profundo onde a dádiva da Água será veículo de transformação.

   A Vénus em Virgem, unindo-se hexagonalmente a Júpiter em Caranguejo, quadrangularmente a Úrano em Gémeos e opondo-se a Saturno em Peixes, relembra-nos o verso de Séneca que “não há caminho fácil da terra até às estrelas (Hercules Furens 437: non est ad astra mollis e terris via). Vénus, neste lugar, traz consigo a lição de Pigmalião e os perigos do ideal de perfeição sem humanidade, porque se apenas divino é perfeito, mas sem humanamente divino contrasta com o ideal os espectros de luz e sombra que caracterizam a humanidade. Nós devemos aprender a ser humanos. A perfeição no amor está no gesto e no cuidado, não no ideal. Colhemos a dádiva do bem onde ele existe.

   O sextil entre os benéficos mostra como a acção humana, fruto do seu carácter, nos coloca entre o reconhecimento da origem, do que lá existia e a perfeição que é a realização do amor, não como finalidade, mas como viagem. Já quadratura entre Vénus em Virgem e Úrano em Gémeos vem destruturar a rigidez das estruturas comunicacionais e transformar os ideais de beleza e perfeição. Este encontro entre os signos regidos por Mercúrio será um marco de revolução nas próximas semanas. A oposição Vénus-Saturno, no eixo Virgem-Peixes, firma a ponte, o elemento de passagem, entre o amor e o tempo, entre o amor e o destino, ou seja, a roda gira mesmo para os amantes e por a roda girar existe amor.

   O eclipse solar de dia 21 apresenta, como vimos, uma proposta de sentido que se estenderá pelos próximos tempos, marcando com transformação, em especial, os signos da cruz mutável, sobretudo aquando de presença planetárias temporalmente mais extensas. Nos próximos eclipses da série Saros 154, a significação do actual eclipse será recuperada, pois existem elementos de sentido que ainda se estão a formar e que se irão relacionar com outras efemérides. Desta forma, entre a luz e a sombra, o lugar onde colocámos as sementes da nossa humanidade será determinante e marcará o nosso futuro.     

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

O Resto Permanece Humano: Livro IV - Poema II




Desde o dia em que o seu céu se abriu e um raio solar, na hora do crepúsculo, me conduziu até onde estavas, desde esse dia que a minha vontade é um caminho até ti, uma estrada de céu e terra e sobretudo de mar e vento que gravou em pedra que tu eras o seu fim, a finalidade da viagem. Chegaste anunciada como uma benção que todos os dias se renova. A dádiva é seres tu, tal como és, toda e inteira. A minha única vontade é essa estrada, esse caminho, sabendo que estás lá, no fim da viagem.


POR MINHA ÚNICA VONTADE


Quero só vestir-te com os braços

Despir-te com as mãos _______

___________________ Envolver-te

Tornar-te minha Tornar-me teu

Ser um e ser todo de dia e noite

Cumprir o destino ____________

______________ Realizar o amor



Figueiredo, Rodolfo Miguel de, 2025, "Por minha única Vontade" in O Resto Permanece Humano: Livro IV, p.91. Lisboa: Livros - Rodolfo Miguel de Figueiredo.


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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

O Resto Permanece Humano: Livro IV - Poema I



O crepúsculo agora é mais tarde, mas, nos meses de Outubro e Novembro, pelas 17 horas, já vemos o Sol deitar-se no horizonte, trazendo consigo uma luz que incadeia. Desse momento em diante, é a Lua que reina sozinha no céu estrelado.



LUA DA MINHA VIDA


Caindo deitado meu sol poente

E tu crescendo em mim divina

Lua da minha vida tão perfeita

Marcado o gesto um só sorriso

Assim guardo o amor à noite



Figueiredo, Rodolfo Miguel de, 2025, "Lua da Minha Vida" in O Resto Permanece Humano: Livro IV, p.86. Lisboa: Livros - Rodolfo Miguel de Figueiredo.


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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O Resto Permanece Humano: Livro IV - Dedicatória



Dedicatória


O projecto literário e poético O Resto Permanece Humano que vai agora no seu quarto livro é dedicado à minha filha Maria Madalena, todavia este último livro é um pouco diferente. Embora como coerência se mantenha em epígrafe a mesma dedicatória, uma mulher tem uma influência que passa por todo o livro como um vento de mudança.

A Maria surgiu neste livro já anunciada, pois muitos poemas, escritos antes de a conhecer, são prenúncios da sua chegada. Ela chegou já anunciada, daí que existia um fio de Meras em todos esses poemas. Seria portanto impossível não dedicar o livro às duas Marias: uma, para quem o livro serve de lição de vida e de conhecimento da alma do pai; a outra, que no livro é a própria vida, pois está em mim como está a vida, é o amor que move todas as coisas e que por todas elas passa, a revelação do sentido e da certeza.

Naturalmente, o próximo livro, o Livro V, será a continuação daquilo que neste se apresenta. Nele esta dedicatória adquirirá uma outra substância. O poema "Imago Deae" torna-se assim uma síntese da presença de uma musa que não é uma musa abstracta, mas sim uma musa real, uma mulher encantadora que é um ser humano extraordinário e uma pessoa verdadeiramente importante na vida do autor. Este livro celebra, deste modo, um encontro que é um tesouro de vida.



Imago Deae



Linha negra olhos de Hathor

Cabelos estendidos no poente

Qual Cora coroada sua rainha

De vestido curto Éfesia deusa

Assim Maria senhora do mar



Figueiredo, Rodolfo Miguel de, 2025, "Imago Deae" in O Resto Permanece Humano: Livro IV, p.81. Lisboa: Livros - Rodolfo Miguel de Figueiredo.


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