segunda-feira, 8 de setembro de 2025
Lançamento: O Resto Permanece Humano: Livro IV
Lançamento: O Resto Permanece Humano, volume 1: Livros I, II e III
sábado, 6 de setembro de 2025
Reflexões Astrológicas 2025: Eclipse Lunar Total (Lua Cheia Peixes-Virgem)
Reflexões Astrológicas
Eclipses
Lisboa, 19h12min, 07/09/2025
Lua
Decanato: Júpiter
Termos: Júpiter
Monomoiria: Lua
Sol
Decanato: Vénus
Termos: Vénus
Monomoiria: Marte
O Eclipse Lunar Total de dia 7 de Setembro
ocorre com a Lua no signo de Peixes e com o Sol no de Virgem, com Aquário a
marcar a hora e a cerca de uma hora e meia do pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo
no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do
horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já a Lua está abaixo do horizonte,
na II, no lugar do Viver (δύσις). A Lua encontra-se pois no decanato e
nos termos de Júpiter e na sua monomoiria,
enquanto o Sol encontra-se no decanato e nos termos de Vénus e na monomoiria de Marte.
No caso das dignidades, afirma-se o
facto de os luminares serem regidos, tanto no decanato como nos termos, pelo
benéfico que rege o segmento de luz contrário, ou seja, Vénus para o Sol e Júpiter
para a Lua. Daqui que se depreende um certo reforço benéfico da qualidade dos
lugares onde se encontra o eixo umbral. No entanto, convém salientar-se que,
devido a troca de regências, essa valoração do bem só ocorre se o feminino
integrar o masculino e o masculino, o feminino. Esta inversão de regentes serve
pois um sentido profundo.
Os eixos umbral e nodal encontram-se
no eixo de sentido da integração, existindo assim uma união significativa entre
a sombra do eclipse e a integração do todo (Peixes) na parte (Virgem), uma vez
que a Lua se encontra em Peixes. No δωδεκατόπος (doze lugares), a Lua encontra-se no
lugar do Viver, βίος (II). Paulo de Alexandria designa este
lugar de Porta do Hades, Ἅιδου πύλη (Introdução, cap. 24), devido à sua posição junto ao
Ascendente e abaixo do horizonte. Encontramos o valor do modo de vida e da
morte neste eixo (II-VIII), pois como diria Trasilo, a II é um “indicador de esperanças”, ἐλπίδων σημαντικήν (CCAG VIII/3: 101.20),
já a VIII é nas palavras de Paulo de Alexandria indicadora da “realização da morte”, θανάτου τελευτήν (Introdução, cap. 24). Consequentemente, os sentidos cruzados
de todos estes eixos ganham uma unidade significativa.
É necessário também considerar-se a
ponte de sentido no eixo Peixes-Virgem que se estabelece entre o actual eclipse
lunar e o eclipse solar de dia 21 de Setembro. Em certa medida, neste ano de
2025, o sentido já havia sido iniciado pelo eclipse lunar de 14 de Março,
todavia, é neste período de 7 a 21 de Setembro que a proposta significativa da
sombra sobre o eixo de integração se torna mais intensa. Com a sombra a cair
sobre a totalidade ou sobre a integração do sentido de totalidade (Lua em
Peixes no eclipse lunar), quando o manto umbral cobrir os luminares, a parte
poderá sentir uma maior dificuldade de integração tanto da sua própria natureza
e condição como do seu lugar no todo. Desta forma, e à semelhança do que se
afirmara aquando do eclipse lunar de 14 de Março, o obscurecimento dracôntico
recai sobre o sentido da parte e o valor da totalidade. No entanto, no actual
eclipse, é o valor da totalidade que se encontra sob uma maior tensão umbral.
A integração da totalidade obriga a uma consciência do
todo, daquilo que engloba a alma humana na Alma do Mundo. Ora para que isso
aconteça o indivíduo deverá primeiramente reconhecer a liberdade da sua própria
alma face a tudo aquilo que não lhe diz respeito. Epicteto diz-nos o seguinte:
“Ao vires alguém preferido em
honras, ou muito poderoso, ou mais estimado, presta atenção para que jamais
creias – arrebatado pela representação – que ele seja feliz. Pois se a essência
do bem está nas coisas que são encargos nossos, não haverá espaço nem para a
inveja, nem para o ciúme. Tu mesmo não irás querer ser nem general, nem prítane
ou cônsul, mas homem livre. E o único caminho para isso é desprezar o que não é
encargo nosso.” (Encheiridion 19b, trad. A. Dinucci & A. Julien, 2014: 46-7. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra). A sombra na totalidade pisciana é um alerta para a dificuldade
de ver esta liberdade e de encontrar a felicidade apenas naquilo que é encargo
nosso. Sê feliz porque amas e grato porque és amado. Existe aqui uma diferença
substancial entre o amor que damos que depende de nós, e que por isso resulta
em felicidade, do amor recebido que depende do outro, e logo deverá gerar
gratidão.
A integração da parte no todo e do todo na parte está,
como podemos observar nesta máxima de Epicteto, intimamente relacionada com a liberdade
que é fixarmos a nossa existência apenas naquilo nos compete, mas com um outro
aspecto enunciado por Séneca. O filósofo diz-nos o seguinte: “Frequentemente dá-se o caso de um exército
temer o inimigo sem motivo e de o itinerário que lhe parecera mais perigoso ser
afinal o mais seguro. A ignorância, essa, está sempre em sobressalto; os
perigos assaltam-na quer de cima quer de baixo; à direita e à esquerda há
razões de pânico; os perigos quer a atacam pelas costas quer se lhe levantam na
frente; qualquer situação a enche de medo, a encontra impreparada, a tal ponto
que o próprio socorro a apavora! O sábio, porém, sempre alerta, sempre pronto a
responder a qualquer assalto, não recuará um passo mesmo que sobre ele caiam a
pobreza, a desgraça, a ignomínia ou a dor; impertérrito, o sábio afrontará
estes males, passará pelo meio deles.” (Ep.59.8; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A.
Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).
O comportamento do sábio, oposto ao daquele que se move
por ignorância, é essencialmente uma integração da parte no todo e uma
consciência da totalidade. Ao observarmos a acção do sábio, vemos que este
cruza uma visão holística com o olhar da montanha, daí que não se deixe
perturbar. A premeditação do mal serve o sábio que, contemplando o mal
possível, se preparara para todas as suas vicissitudes. Ora, num eclipse como o
actual, as duas propostas, a de Epicteto e de Séneca, estão ameaçadas. A sombra
invade o carácter humano e impede esta integração. A parte segue a parte em vez
de entrar no mar da totalidade.
O derradeiro ingresso de Saturno em Peixes que só daqui a
quase três décadas voltará a este signo veio adensar o peso da necessidade
sobre o manto umbral. As estruturas conservadoras, por um lado, e a dificuldade
de integração dos valores piscianos, por outro lado, confirmam o peso de um
mundo em decadência. Assistimos no conforto dos lares dos países mais
desenvolvidos a um genocídio, no qual a fome se tornou arma de guerra, levado a
cabo por um estado intocável. A alegada dívida histórica está a ser cobrada com
a vida de inocentes, sobretudo crianças, e nós permitimos. É a total anulação
do humanismo e dos valores essenciais e primitivos do cristianismo. O actual
eclipse que, para o tema de Lisboa, faz justamente a Lua cair no lugar do Viver
(II), do valor da vida, e devia servir de alerta, neste caso aos portugueses,
para a cumplicidade desumana da sua inacção.
A influência geográfica do eclipse de dia 7 tem o seu
centro no Oceano Índico, ao largo do Sri Lanka e à entrada da Baía de Bengala.
O manto umbral e penumbral alastrar-se-á pela Ásia, pela África, pela Europa e
pela Austrália. Segundo as regências geográficas antigas, Vétio Valente (Antologia I, 2) diz-nos que Peixes exerce influência
sobre o Eufrates e o Tigre, a Síria, o Mar Vermelho e o Mar Arábico, a Índia, a
Média-Pérsia e as regiões circundantes, o rio Borístenes ou Boristene
(Dniepre), a Trácia, a Ásia e a Sardenha. Manílio, por seu lado, concede a
Peixes o Eufrates, o Tigre e o Mar Vermelho, as terras da Pártia, a Báctria, a
Etiópia, a Babilónia, Susa e Nínive (Astronomica IV, 800-6). Já Virgem rege a Mesopotâmia, a
Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso,
Arcádia, Cirene (Líbia), Dória (Grécia), Sicília e Pérsia ou Parsa (Irão).
Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e
a Grécia estão sob a sua influência (Astronomica IV, 763-8).
A influência temporal será, devido à duração do período
total, de cerca de um mês e meio. No entanto, dada à duração do período umbral,
poderá estender-se até cerca de três meses e meio e de uma forma já ténue,
sustentada no período penumbral, poderia ir até ao limite de cinco meses e
meio, o que estaria em concordância com o cálculo baseado nas declinações dos
luminares. Devemos numa análise da influência temporal voltar a reforçar que,
no período até ao eclipse solar de dia 21 de Setembro, o sentido profundo deste
eclipse terá uma maior intensidade que progressivamente irá diminuindo.
É necessário frisar, uma vez mais, a ligação que existe
entre os eclipses lunares e as dinâmicas do planeta Terra, nomeadamente o que
designamos por desastres naturais. Dada a natureza deste eclipse, podemos
observar, por exemplo, como o tufão Kajiki no Vietname foi um prenúncio da sua
sombra. Os sismos e tempestades com origem no mar estão potenciadas, podendo
originar tsunamis e tufões. A lua em Peixes, com a regência moderna de Neptuno,
agora em Carneiro com uma força mais destrutiva, e com o Júpiter, regente
antigo ou tradicional, em Caranguejo, outro signo de água e com o qual forma um
trígono, potencia estes fenómenos. A co-presença da Lua e Saturno também firma
uma vibração mais tensa. Lembremo-nos que Cronos/Saturno foi preso no lugar
mais profundo do submundo, após ter sido derrotado por Zeus/Júpiter. No
Tártaro, lutava contra as correntes que os sustinham, ou seja, fazia vibrar as
profundezas da Terra.
O eclipse lunar total de 7 de Setembro
pertence à série Saros 128, sendo o 41º eclipse de um total de 71. É o 11º
eclipse dos 15 eclipses totais da série, o que transmite um certo
desenvolvimento da sua proposta significativa. O eclipse inicial, como sabemos,
serve de matriz de sentido para toda a série. Ora o primeiro eclipse desta
série ocorreu a 18 de Junho de 1304 (Calendário Juliano). A Lua estava em Capricórnio
e o Sol em Caranguejo e o Dragão da Lua estendia-se no eixo Sagitário-Gémeos.
Mercúrio e Marte estavam em Gémeos, Vénus em Touro, Júpiter em Leão e Saturno
em Balança. Nos transaturninos, Úrano estava em Balança, Neptuno em Escorpião e
Plutão em Aquário. Nesta data e na hora de Lisboa, Virgem marcava a hora e Touro
culminava. A série Saros 128 terminará a 2 de Agosto de 2566, com um eclipse no
eixo Leão-Aquário, ou seja, com a Lua em Carneiro e o Sol em Balança.
A análise comparada dos dois temas,
face ao seu ciclo planetário, faria logo sobressair o facto de Plutão se
encontrar em Aquário no eclipse-matriz tal como hoje se encontra. Naturalmente,
isto adensa esta ligação entre o signo da humanidade e o planeta da morte. Em
tempos sombrios como os que vivemos, resgatar a semente da morte, o memento mori, da consciência do humano
recupera esse sentido primário e matricial que encontramos em toda a série
Saros. Por outro lado, temos Neptuno em Escorpião e agora em Carneiro, os dois
domicílios de Marte recebem o planeta da imaginação. A força de Marte tende,
por um lado, a intensificar a imaginação criativa, se for recebida como dom,
ou, por outro lado, pode com uma força bélica e disruptiva trazer uma ilusão
massificada. Os populismos e os avanços da extrema-direita traduzem essa
realidade. A ideologia vai-se tornar progressivamente violência.
Úrano e Saturno em Balança, estando
este último na sua exaltação, favorecem a criação e estruturação de modelos de
pensamento. Algo que será transmitido pelos raios triangulares ao actual Úrano
em Gémeos. A comunicação pede um sentido renovado que tanto pode dar origem a
novas formas de conhecimento como de desinformação. Do ponto vista histórico, aquando do eclipse-matriz, é de
se assinalar o início do conclave papal, após a morte de Bento XI a 7 de Julho
de 1304, que só terminará no ano seguinte, a 5 de Junho de 1305, com eleição de
Clemente V e que marcará o início de período conhecido como o Papado ou o
Cativeiro de Avinhão (1309-1377). É também de assinalar a primeira guerra pela
independência da Escócia.
O eclipse-matriz revela para um eclipse lunar uma forte influência
política e militar. De facto, se pensarmos bem o início do século XIV, marca um
período de intensas mudanças tanto políticas como filosóficas e espirituais. A
conjunção de Mercúrio, Marte e a Cauda
Draconis vai assinalar o carácter disruptivo de muitas dessas
transformações. As heresias ou heterodoxias cristãs ou o crescimento do poder
do Santo Ofício da Inquisição são dois elementos de destaque, bem como as
profundas alterações políticas. O sextil Júpiter em Leão a Saturno e Úrano em
Balança é também revelador dessas transições. Um eclipse lunar com a Lua exilada
em Capricórnio traz consigo uma forte dinâmica saturnina que lhe confere uma
influência semelhante à de um eclipse solar e, sendo um eclipse-matriz, essa
significação vai estender-se a toda a série.
Convém, no entanto, salientar-se que, por neste eclipse a
Lua estar em Peixes, vamos encontrar um certo sentido de destruturação desse
sentido-matriz. A imersão no todo que o Peixes tende a apresentar com candura
vai agora tomar outras formas. A sombra vai apresentar rudemente a
despersonalização como inevitável e a ilusão da realidade tornará tudo mais
confuso. Lembremo-nos que a sombra vai incidir sobre o signo de Virgem que a guardará
até ao eclipse solar. Com Sol e Mercúrio exaltado em Virgem, e com a quadratura
a Úrano em Gémeos, tudo o que é representado pela razão, pelo pensamento, pela
palavra, pela organização das estruturas comunicacionais está sob pressão. A
sombra dracôntica quer levar tudo o que está estabelecido até ao grande oceano
e mostrar que aquilo que a mente humana produz não chega a ser um grau de areia
na totalidade que é a Alma do Mundo e o seu Intelecto.
Se de Peixes vem uma totalidade assombrada, Júpiter em
Caranguejo com o trígono à Lua, a Saturno e à Caput Draconis e o sextil ao Sol, a Mercúrio e à Cauda Draconis vem contribuir com a
expansão do sentido da origem. Na verdade, a totalidade e a origem são duas
expressões ou conceitos para a mesma realidade inefável que não cabe em nenhum
conceito. Esta é, porém, a via para conhecimento de si. O Eu perde-se na
totalidade do oceano da origem e surge renovado como o Si. A dificuldade para o
humano é o medo de entrar no oceano e perder-se. Está tão agarrado ao que julga
ser importante que não vê que ao perder-se encontra-se. Terá pois de olhar para
o fundo do mar e encarar as sombras que se movem na escuridão.
Marte em Balança, exilado, ameaça as estruturas
relacionais, contudo, o sextil a Vénus em Leão e a quadratura a Júpiter em
Caranguejo trazem alguma moderação ou progressividade a disrupção interpessoal.
O trígono entre Vénus em Leão e Neptuno em Carneiro contribui também com certa elevação
do fogo do amor, se for vivido dessa forma. Vénus em Leão pode elevar o amor na
beleza de alma nobre ou pode afundá-la num narcisismo patológico. Algo que pode
ser potenciado, para o bem e para o mal, pela oposição a Plutão em Aquário. Os
trígonos de Úrano em Gémeos e Plutão em Aquário a Marte em Balança trazem, sob
a égide do destino, uma força transformadora à forma que como lemos e pensamos
a realidade. Essa força não é, porém, voluntária, pois traz consigo os ditames
da providência e necessidade.
Se considerarmos a sistema antigo de leitura de aspectos,
ou seja, pelos conceitos de aplicação e separação, temos de destacar três deles
pela força da aplicação. Primeiramente, o trígono entre Júpiter exaltado em
Caranguejo e Saturno em Peixes que traz consigo a dádiva da Água. Depois, a
quadratura de Saturno em Peixes a Úrano em Gémeos e o trígono entre Úrano e
Plutão em Aquário são, na verdade, duas faces da mesma moeda. O primeiro traz,
com alguma tensão, a criação de novas estruturas e a necessidade de romper com
certas formas de estar e pensar, já o segundo que se estenderá ao longo de
vários anos marcará esse ponte de sentido entre revolução e transformação,
entre progresso e morte. Se pensarmos que nestes dois aspectos Úrano está
presente, este é o vendaval do Anjo da História.
O eclipse lunar total de 7 de Setembro encerra assim um
sentido intermédio entre o eclipse de lunar de 14 de Março e o eclipse solar de
21 de Setembro. Em 2025, a sombra alongar-se-á no eixo Virgem-Peixes, no eixo
de integração da parte no todo, e com um foco particular no signo de Virgem. Não
devemos portanto perder esta oportunidade enquanto humanidade de colher as suas
lições. Se esquecermos a solidariedade, o melhor do humano, viveremos sempre na
escuridão.
segunda-feira, 1 de setembro de 2025
Calendário Astrológico: Setembro de 2025

segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Reflexões Astrológicas 2025: Conjunção Vénus – Júpiter em Caranguejo
Reflexões Astrológicas
Trânsitos e Aspectos
Conjunção Vénus – Júpiter em Caranguejo
Lisboa,06h15min, 12/08/2025
Vénus - Júpiter
Decanato: Mercúrio
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Lua
A
conjunção de Vénus e Júpiter em Caranguejo ocorre, no seu momento exacto, com
Leão a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na XII, no Lugar do Mau
Destino ou Mau Espírito (κακός
δαίμων), no decanato e termos de Mercúrio e
na monomoiria da Lua. O ingresso
dá-se assim acima do horizonte e cerca de meia hora antes do nascer-do-sol. Vénus
encontra-se no seu próprio segmento (αἵρεσις) e Júpiter fora, fazendo de Vénus o
grande benéfico do tema. Podemos estabelecer também uma via ascendente que
começa no Sol, numa posição pré-ascensão, e vai até o Úrano, o astro que mais
se aproxima do Ponto de Culminação.
A conjunção Vénus-Júpiter no signo de Caranguejo é a dádiva
que vem do mar, é o canto de Ariel, mas a Ariel de Caranguejo tem cabelos de
azeviche e olhos de obsidiana. Não é a sereia pisciana da exaltação de Vénus. Na
Pequena Sereia, Ariel para andar na terra perde a voz, para andar por entre os
homens deixa de ser quem é, sujeita-se às suas regras, às suas obrigações, e
para isso deixa de ser a mulher que vem do mar, perde a integridade do próprio
corpo, transformado a pedido, por imposição do mal. O canto de Ariel é encanto
e não é nem um canto de ninguém, nem um canto para ninguém, é um canto que
ilumina o mar profundo e que toca com encanto os seus abismos.
Para quem
tenha visto a versão de animação, mais antiga, da Pequena Sereia da Disney,
lembrar-se-á que na gruta de Ariel encontra-se um quadro de Maria Madalena. A
perda da voz ou a voz roubada é um clássico do feminino agrilhoado. Na actual
conjunção, em pleno mar, Júpiter já se encontra em Caranguejo, o masculino que coexiste
com o Divino Feminino, espera a deusa anunciada, espera o encontro com Vénus.
Este elemento é particularmente importante. Sobretudo se pensarmos que Vénus
está no seu próprio segmento e Júpiter na sua exaltação. A luz espalha-se no
masculino e espalha-se por se encontrar no lugar do feminino, no lugar da Lua,
com a Deusa do Amor. Se existe um exacerbamento da dádiva de Júpiter este nasce
da presença do Divino Feminino.
Existe uma
beleza profunda no encontro dos benéficos, uma que torna qualquer tema especial,
porém, nem sempre as suas dádivas são colhidas, nem as suas bênçãos
reconhecidas. No lugar da Lua (Caranguejo), estes dons podem adquirir um valor
de mistério primordial e, por no tema de Lisboa se encontrar na XII, ganha
também um sentido de aprisionamento. O Mau Espírito ou Mau Destino envolve esta
dádiva, tentando, dada a natureza do lugar, toldar os dons do bem. No entanto,
a persistência do bem resulta daquilo que Séneca descreve do seguinte modo: “O supremo bem não admite qualquer grau
superior a si, desde que nele se contenha a virtude, e desde que a virtude não
seja diminuída pela adversidade e permaneça intacta mesmo que o corpo sofra
alguma amputação: e de facto a virtude mantém-se! É que eu concebo a virtude
como animosa e sublime, e tanto mais ardente quanto mais obstáculos encontra.”
(Ep.71.18;
Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004:
Fundação Calouste Gulbenkian). Se o termo virtude
desagradar o leitor contemporâneo, poder-se-á utilizar a tradução do termo grego
ἀρετή, ou seja, a excelência.
A ideia de
supremo bem torna-se, de um ponto de vista astrológico, bastante expressiva na
conjunção dos benéficos. A questão que se coloca é que ele se aplica à
conjunção quando é considerado em si mesma, pois, de um ponto de vista
relativo, a persistência do bem terá de ser sempre colocada em contexto. No
entanto, as lições de Petosíris indicam que, mesmo num aspecto tenso com os
maléficos, a acção profícua dos benéficos supera, ou tende a superar, a dos
maléficos. Ora esta ideia da virtude ou da excelência como bem supremo assume,
na expressão astrológica, uma ponte de sentido entre os benéficos, por um lado,
e os luminares, por outro. É desta união da dádiva à luz que se pode alcançar o
supremo bem. A excelência astrológica terá de nascer desta relação primordial.
Contudo, a simples presença da conjunção dos benéficos torna-se um indicador,
por um lado, da dádiva e, por outro, da persistência do bem. Na distribuição de
raios a sua força, estará sempre reforçada.
Nesta
conjunção, as duas energias do bem fundem-se numa única expressão. Cada uma
contribui com a sua própria natureza e de acordo com o lugar que ocupa. Neste
caso, Caranguejo, o lugar da Lua, recebe os benéficos com os dons que lhe são
próprios. O lado materno de Caranguejo é diferente do lado materno, por
exemplo, de Touro que representa a Mãe Terra. Caranguejo é a Lua como mãe, é a
Mãe Divina, a luz do feminino iluminando o céu em cada um das suas faces.
Quando os planetas ocupam um lugar, os deuses estão ali, estão de passagem e
fixam-se nessa morada. Afrodite e Zeus ou Vénus e Júpiter estão no lugar da Lua,
da Mãe Divina. Ora isto remete-nos para Séneca quando diz que “Os deuses não nos desprezam nem invejam,
antes nos admitem à sua presença e nos estendem a mão para ajudar-nos a subir!
Admiras-te que um homem possa ascender à presença dos deuses? A divindade é que
vem até junto dos homens e mesmo, para lhes ficar mais próxima, penetra até ao
interior dos homens, pois sem a presença divina não é possível existir a
virtude! As sementes divinas existem dispersas no corpo humano: se forem
tratadas por quem as saiba cultivar, elas crescerão à semelhança da sua origem,
desenvolver-se-ão em plano idêntico ao da divindade de que provieram; mas se
caírem nas mãos de um mau cultivador então este, tal como um terreno estéril e
pantanoso, matá-las-á, produzindo ervas daninhas em vez de searas.” (Ep.73.15-6; Cartas a Lucílio, 2ª ed,,
trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).
Se considerarmos um tema astrológico, onde os deuses se
encontram é lá que se encontram as suas sementes. Um tema que receba a
conjunção dos benéficos, seja ele natal ou mundano, será sempre um com uma dimensão
especial de dádivas. Quem quer que conheça alguém nascido com esta conjunção,
verá que se encontra ali alguém que tem algo para dar. As bênçãos do bem não se
guardam para si. Vénus e Júpiter, unidos num tema, pedem uma distribuição do
bem, ou seja, a luz recebida deve ser devolvida de acordo com os dons que
receberam. O bem recebido não se esgota em si mesmo. Pelo contrário, cresce
como semente e torna-se uma árvore robusta, uma que entregará ao mundo os
frutos e as futuras sementes. Segue o caminho do bem e lá encontrarás as suas
dádivas. Nesse caminho, encontrarás o tesouro.
Ora na actual conjunção Vénus-Júpiter firma-se e
evidencia, de forma facilmente observável, uma predominância do númen feminino.
O Divino Feminino é, neste momento, uma luz que se vê, que surge erguida sob o
horizonte, anunciada, como proposta de transformação da humanidade. Pelo facto,
da conjunção se fixar em Caranguejo, o lugar da Lua, esse já seria por si só um
anúncio, mas os elementos não se reduzem a essa determinação. Vénus e Júpiter
em Caranguejo unem-se triangularmente à Lua e à Caput Draconis em Peixes. Do lugar da exaltação de Vénus e do domicílio
de Júpiter, a Lua e o Dragão da Lua vão contribuir e consubstanciar a expressão
do Divino Feminino nesta efeméride. Porém, não nos devemos esquecer que para o
tema de Lisboa os lugares não favorecem nem a conjunção, nem a união
triangular, pois a conjunção cai na XII e a Lua e Caput Draconis encontra-se na VIII, no lugar da Morte.
Existem também outros dois elementos de tensão que atacam
este prenúncio escatológico do Divino Feminino. Os maléficos fixam
quadrangularmente o seu olhar na conjunção dos benéficos. Marte em Balança e
Saturno (e Neptuno) em Carneiro criam dois aspectos de tensão a Vénus e Júpiter
em Caranguejo. O eixo da identidade (Carneiro-Balança) revela a dificuldade de
receber a transformação que representa o númen do Divino Feminino. Existe uma
resistência, uma oposição declarada ao elemento transformativa, ou seja, a
humano teme a desintegração da identidade e a imersão na origem. É como se a
humanidade revelasse colectivamente o medo do útero divino, o que não é difícil
de apreender dada a misoginia em que estamos envolvidos. O númen feminino tem
sido sempre alvo de oposição, de resistência. No entanto, relembrando Séneca e
Petosíris, existe, por um lado, a prevalência do bem supremo e, por outro, a
persistência dos benéficos, daí resulta a conclusão de que; apesar destes
elementos restritivos, o Divino Feminino fará o seu caminho pelo menos até
aqueles que o queiram receber.
Os elementos de tensão devem ser assim considerados de
forma distinta e específica. Saturno e Neptuno em Carneiro revelam como a práxis de uma identidade, enraizada em
estruturadas patriarcais cristalizadas e em elementos espirituais
preconceituosos que ainda persistem, tende a rejeitar a integração do númen
feminino. Saturno e Neptuno em Carneiro são uma oportunidade humana de
transformação, por meio da acção, de estruturas caducas, porém, a natureza humana
tende a resistência. Esta quadratura à conjunção dos benéficos apresenta-nos a
base dessa fortaleza dogmática. Por outro lado, mas consequentemente, a
quadratura de Marte em Balança à conjunção é bom exemplo da força debilitada,
uma força (Marte) erguida a partir das deficientes estruturas relacionais do
humano (Balança), como promotora de uma violência estrutural contra o feminino
e contra a mulher. Os nossos tempos, a realidade sombria que vivemos, continua
a ser absurdamente perigosa para uma mulher. A transformação a partir do Divino
Feminino vem contrariar a continuidade desse padrão destrutivo.
Aos raios quadrangulares, lançados a partir de Carneiro e
Balança até à conjunção dos benéficos, podemos juntar também a quadratura entre
a Lua e a Caput Draconis em Peixes e
Úrano em Gémeos. Neste elemento de tensão, face à proposta considerada pela
conjunção, vai encontrar-se uma dificuldade de conciliar as estruturais
comunicacionais da sociedade contemporânea, baseadas numa expressão líquida e
informe, e a profundidade espiritual de integração na totalidade imersiva de
uma deusa sob a água e que dá à costa. A racionalidade dedutiva, por um lado, e
a ausência de profundidade, por outro, apresenta-se como um sério obstáculo
aquilo que é proposto pela conjunção e pela sua relação com a Lua e com o seu Dragão.
Existe assim uma barreira de discurso ou de entendimento desse discurso à
proposta de transformação desta co-presença dos benéficos.
Paralelamente, sob um traço astrológico da aversão, Sol e
Mercúrio em Leão apresenta uma outra mensagem que, na verdade, se relaciona com
aquela que a conjunção quer transmitir. Quando o Sol em Leão alcança o melhor
de si, ultrapassando as pulsões narcísicas que lhe são inatas, chega àquilo que
se pode designar de nobreza da alma e com Mercúrio promove a nobreza do
discurso. Existe, porém, uma raridade neste estágio leonino, uma que não
chegará a todos por determinação geral, e que também não se limita ao Sol ou a
Mercúrio, abrangendo também outros planetas ou pontos astrológicos. A proposta
do melhor de Leão servirá, por exemplo, para atenuar a acção deletéria dos
maléficos. A união em trígono a Saturno (e Neptuno) e em sextil a Marte, os
dois em separação, faz do Sol e de Mercúrio os arautos de uma transformação
através do carácter.
A oposição do Sol e Mercúrio em Leão a Plutão vai adensar
esta proposta transformativa. Plutão traz o Memento
Mori à nobreza da alma. Alguém com uma alma nobre trará sempre si a
sabedoria de que se vai morrer. A presença tangível da morte permite que se dê
valor à vida. Os tolos que pensam que não vão morrer não dão valor a nada. O Memento Mori como semente plutoniana vai
contrariar a acção dos maléficos, relativizando a sua influência e mostrando-nos
que devemos colocar as nossas preocupações naquilo que controlamos e não em
eventos externos. A morte como lição tem o poder de exercer um processo de reductio, ou seja, devemos estabelecer
como lição essa redução ao essencial, àquilo que contribui para o
estabelecimento de uma via transformativa.
Em 2025, a conjunção entre Vénus e Júpiter em Caranguejo
vai trazer aquele que pode ser entendido como o dom ou a dádiva que neste ano
se anuncia. O Divino Feminino surge acima do horizonte, como estrela que guia,
como luz no caminho. Se utilizarmos como unidade simbólica o tema de lisboa,
vemos que o Sol ainda não nasceu e que Vénus e Júpiter ascendem acima do
horizonte. Nesse amanhecer olissiponense, os benéficos são Estrelas da Manhã,
guias de uma luz que rompe a escuridão. A permanência e persistência do bem é
algo que deve estar sempre presente, lembrando-nos que onde está o tesouro,
está a transformação. Na subida para o templo, é o amor que nos salvará e a
deusa do amor indicar-nos-á o caminho.
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