segunda-feira, 18 de março de 2019

Tabuleta de Ouro Órfica: Tradução



Orfeu e a Obra da Memória



Tradução

     Esta é a obra da Memória. Quando se está prestes a morrer,
     para as bem fundadas muralhas do Hades, à direita de onde existe uma fonte,
     junto dela se ergue um branco cipreste.
     Aí, quando descendem, as almas dos mortos se refrescam.
5   Não chegues nem perto dessa fonte!
     Mas mais adiante encontrarás, do Lago da Memória,
     água fresca a correr. Nas suas margens, estão os guardiões.
     Estes perguntar-te-ão, com um discurso sagaz,
     porque investigas então a escuridão do sombrio Hades.
10 Diz: "Sou o filho da Terra e do Céu estrelado.
     Ressequido, tenho sede e morro. Agora dai-me depressa
     água fresca para beber do Lago da Memória".
     E então eles perguntam à subterrânea rainha.
     E então eles dar-te-ão de beber do Lago da Memória.
15 e também tu, tendo bebido, caminharás a via sagrada que outros
     famosos iniciados e bacantes percorreram.


Tabuleta de Ouro Órfica de Hipónion, L 1 (= Frag. 474 B), c. 400 AEC.


Texto Grego:
Bernabé, A. & A. I. J. San Cristóbal, 2008, Instructions for the Netherworld - The Orphic Gold Tablets. Leiden / Boston: Brill, pp. 245-248.

A tradução do grego é minha.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Unidade Dispersa (Poesia)

Juanes, Juan, Última Ceia, 1475-1545.
Valência: Igreja de São Nicolau de Bari e São Pedro Mártir.


Unidade Dispersa


Como podes ser uno
Se líquido te vertes
Em todas as coisas 

Como podes ser uno
Se longe procuras
O que habita em ti

Como podes ser uno
Se ávido te espalhas 
Na teia da vaidade

Como podes ser uno
Se preferes a poeira
Dos dias à eternidade

Como podes ser uno
Se múltiplo te repartes
E sozinho permaneces

Porque por seres uno
És também a dispersa
Unidade das coisas

20/01/2019

RMdF

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Tempos de Ascensão dos Signos para Portugal Continental e Ilhas



  Os Tempos de Ascensão (anaphoroi chronoi) ou Arcos Ascensionais dos Signos são o número de ascensão recta ou graus equatoriais que transitam o círculo do meridiano durante o tempo em que um certo grau do Zodíaco ascende. Devido à relação oblíqua da Eclíptica com o Equador, cada signo do Zodíaco ascende num tempo diferente, originando aquilo que se designa de signos de ascensão larga e signos de ascensão curta. Esta formulação permite ao astrólogo uma visão de totalidade que transcende a perfeição do círculo. 

  Por meio da aplicação dos Tempos de Ascensão às técnicas preditivas, tendo por base o princípio de que um grau equivale a um ano, podemos conhecer o tempo de activação das influências planetárias, os períodos planetários, o período dos seus regentes e do próprio signo que ocupa e o período de qualquer de qualquer ponto do mapa. Esta técnica pode também ser combinada com outras, como, por exemplo, a dos Ciclos Planetários. 

  O cálculo dos Tempos de Ascensão para o território português foi elaborado de raiz a partir dos princípios expostos por Ptolomeu no Almagesto, embora numa computação moderna. Desta forma e apesar de naturalmente existirem variações de latitude para as diversas localidades, aquelas que aqui apresento permitem um cálculo bastante preciso, até porque na técnica original, expressa por Vétio Valente, os valores finais eram unitários. Porém, hoje com a possibilidade de cálculos mais precisos devemos aspirar a uma maior precisão. 

  Os Tempos de Ascensão dos Signos são uma técnica pouco utilizada, mas com um valor considerável. Espero portanto que os valores apresentados contribuam para uma nova utilização desta técnica astrológica.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Os Doze Signos do Zodíaco (Poesia)

Miniaturista Francês in Livre des Proprietes des Choses
de Barthelemy l'Anglais (MS Fr. 9140), c. 1480.
Paris: Bibliothèque Nationale.

Os Doze Signos do Zodíaco


De guirlanda a orbe de estrelas 
A regra constante de eclípticas 
Constelações e em dúzia certa 
As fixámos desenhadas no alto 
Céu as linhas que uma luz une 
Concedendo a palavra e o mito 
À longínqua matéria, à visível 
Órbita E assim num só círculo 
Se tornam a conhecida ordem 
Não de ciência mas de sentido


11/01/2019 RMdF

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A Via da Temperança



A Temperança é a harmonia profunda que traduz a integração da polaridade, a via comum de imagem e semelhança.

A Temperança é aquela forma única e eterna de liberdade que guarda na memória, na experiência do tempo, a totalidade.

A Temperança é a divina dádiva da justa medida, da terceira via, aquela que entre os primordiais opostos se constrói.

A Temperança é aquele angélico caminho que, mediando, permeia e concilia a actividade criativa do ser humano. 

A Temperança é o mistério da inspiração, do sopro que, avançando e recuando, transforma o pensamento em comunhão.

A Temperança é aquela alada ascensão que, equilibrados os elementos, a luz permite e o humano livre alcança.

A Temperança é uma de forma de moderação que tem tanto de prudência, força ou justiça como de universal harmonia.