quarta-feira, 19 de março de 2025

Reflexões Astrológicas 2025: Ano Novo Astrológico

  Reflexões Astrológicas


Ingressos


2025 – Ano Astrológico

Lisboa, 09h02min, 20/03/2025

                 

Sol

Decanato: Marte    

Termos: Júpiter  

Monomoiria: Marte        

 

   O início do Ano Astrológico ocorre, por convenção vernal e por influência da tradição astrológica do hemisfério norte, com o ingresso do Sol no signo de Carneiro, logo no decanato de Marte, nos termos de Júpiter e na monomoiria de Marte. Note-se, neste ponto preliminar, que se fosse seguida a tradição do Thema Mundi, então o início do Ano Astrológico aconteceria com o ingresso do Sol em Caranguejo, o que estaria em harmonia com os primórdios da espiritualidade pagã e com a relação primordial do humano com a luz celeste. Os solstícios e as lunações são as celebrações mais antigas e mais enraizadas nessa relação. No entanto, a tradição vernal do hemisfério norte tornou-se dominante e essa é a que de forma mais agregadora aqui se segue.

   A Lua encontra-se, neste ingresso, fora do seu segmento, em Sagitário, no mesmo elemento do que em 2024, em Fogo, quando se encontrava em Leão, e no decanato de Mercúrio, nos termos de Júpiter, tal como em 2024, e na monomoiria de Saturno. A presença da Lua num signo masculino e no elemento Fogo não lhe é naturalmente favorável, pois constitui uma desarmonia que não conduz à expressão das suas qualidades primárias e inatas. Para a hora de Lisboa, Touro está a marcar a hora, colocando assim o Sol na XII, no Lugar do Mau Destino (κακν δαίμων), e a Lua no Lugar da Morte (θάνατος). A luz, embora sob olhar triangular, encontra-se assim em debilidade, pois a natureza dos lugares que ocupa enfraquece a sua expressão.

   À semelhança daquilo que se enunciou na reflexão astrológica do ano passado, a questão do regente do ano, tal como é simplisticamente colocada pela astrologia de massas, assenta ou em premissas erradas ou em metodologias incoerentes. Dever-se-á considerar, deste modo, como primeira premissa, a força planetária dominante aquando do início do ano astrológico. A análise das dignidades revela, excluindo-se primeiramente os transaturninos, um enfraquecimento de todas as forças planetárias. A Lua, pelas condições já referidas, vê então a sua natureza feminina e essencial comprometida. Os benéficos estão ambos nos signos do seu detrimento, Vénus em Carneiro e Júpiter em Gémeos. Depois tanto Vénus como Mercúrio encontram-se retrógrados e sob os raios do Sol. Sobram assim os maléficos. Marte está em Caranguejo, no signo da sua queda. Saturno, não estando favorecido, é o que se encontra numa posição menos desfavorável. Para o tema de Lisboa, Saturno encontra-se na XI, no Bom Destino (ἀγαθόν δαίμων), e numa via ascendente, só suplantada por Plutão que se encontra conjunto ao Ponto de Culminação. Desta forma, segundo a premissa das dignidades, Saturno tem sobre o ano astrológico de 2025 uma força mais dominante.

   Um outro critério de análise é o dos ingressos anuais. Ora os planetas de Mercúrio a Júpiter, inclusive, pela duração dos seus ciclos são compreensivelmente excluídos. Depois de Saturno a Plutão, com a excepção deste último que permanecerá em Aquário, vão todos ingressar no signo seguinte: Saturno e Neptuno em Carneiro e Úrano em Gémeos. Este critério, em conciliação com o anterior, intensifica a predominância de Saturno. Porém, pelo tempo que cada um permanecerá nesse signo, o ingresso de Neptuno em Carneiro e de Úrano em Gémeos são, do ponto de vista da astrologia mundana, de grande importância. A retrogradação levará, todavia, a que esta mudança seja para já um anúncio, pois ambos vão retornar, em 2025, ao signo de partida. Neste ponto, também Saturno retornará a Peixes.

   Em 2025, a influência de Saturno, quer em Peixes, quer em Carneiro, torna-se assim uma expressão do tempo, do destino e da necessidade, uma que se vai relacionar necessariamente com os novos ciclos de Úrano, Neptuno e Plutão, mas também com a mudança do eixo nodal de Carneiro-Balança para Peixes-Virgem e por conseguinte com os eclipses anuais. Por outro lado, o ingresso de Júpiter em Caranguejo permitirá que, durante o período em que Saturno estiver em Peixes, os dois se unam triangularmente. Esta é a uma bênção que diverge das quadraturas Júpiter em Gémeos e Saturno em Peixes e Júpiter em Caranguejo e Saturno em Carneiro. Existe também uma outra dádiva que é a união dos benéficos no signo de Caranguejo. Nesse momento, a Grande Mãe, a Deusa da qual tudo nasce e à qual tudo retorna, dar-nos-á a possibilidade de receber as suas bênçãos. Nesses dias, as potencialidades do signo de Caranguejo vão alcançar uma expressão maior.   

   Epicteto, nas suas Diatribes, diz-nos o seguinte: “Onde, então, está o progresso? Se algum de vós, ao afastar-se das coisas exteriores, voltou-se sobre a sua capacidade de escolha, aperfeiçoando-a e exercitando-a, de modo a torná-la harmoniosa à natureza, elevada, livre, desimpedida, desembaraçada, leal, digna; e aprendeu que não é possível ser leal e livre quem deseja ou evita as coisas que não estão sob seu encargo, mas é necessário modificar-se e vagar junto com elas, bem como sujeitar-se aos que podem provê-las ou impedir o acesso a elas.(I.4, 18-9, trad. Dinucci, 64-5. Coimbra, 2020: Imprensa da Universidade de Coimbra). A lição de Epicteto é importante neste ponto, pois fixa a liberdade no que depende de si. Essa é a dádiva. O destino coloca o seu peso, a sua gravidade, sobre o humano, trazendo fortuna ou infortúnio, logo não é nos acontecimentos, nas coisas exteriores, que reside a liberdade. A liberdade pertence ao carácter, pertence à alma, está nas mãos do humano que se volta para si mesmo e aí encontra o seu livre arbítrio. Colher a luz da dádiva e receber a Grande Deusa, o poder da origem, é uma escolha. Bebendo de Dante, no Inferno, somos sombras e sombras vemos, mas no Paraíso, diante da Rosa Mística, elevamo-nos no amor que move o céu e as estrelas. 

   A leitura do Segmento de Luz (αἵρεσις) favorece também a acção benévola de Saturno, pois estando no seu próprio segmento e acima do horizonte vê a força maléfica contida. No caso dos maléficos, poder-se-ia dizer que o Segmento confere um carácter de luz de maximus minimus e minimus maximus, ou seja, o maléfico que pelo segmento tem uma luz maior, tem uma acção malévola menor, e o que tem uma luz menor, tem uma acção malévola maior. Desta forma, no tema do novo ano astrológico, Saturno concede as bênçãos do tempo e da necessidade e Marte fere com tensão e discórdia. Este factor vai firmar a influência predominante de Saturno no ano de 2025. Lembremo-nos que, face à sua retrogradação, Marte oferece um caminho de repetição nos signos de Caranguejo e Leão.

   Um outro aspecto que também deve merecer a nossa atenção é o facto de, tanto no tema do ano astrológico de 2025 como no de 2026, Mercúrio se encontrar retrógrado. No tema de 2026, Mercúrio passará a directo cerca de 5 horas após o ingresso do Sol em Carneiro. Estas retrogradações de Mercúrio vão acentuar, por um lado, as dificuldades de comunicação e a corrupção do poder da palavra e, por outro, uma vez que em 2025 Mercúrio está em Carneiro e em 2026 em Peixes, vão relevar a necessidade de reintegrar os sentidos profundos e anteriores na construção de um novo pensamento e de um novo discurso, ou seja, a memória servirá o pensamento futuro. O desafio apresenta-se também por passar de uma mensagem que fere e que cria divergência para uma que agrega e que imprime um valor de totalidade. Algo que é tão difícil nos nossos tempos.

   Existe uma certa tendência astrológica contemporânea para fixar a maioria dos sentidos da astrologia mundana nos movimentos planetários de Úrano, Neptuno e Plutão, transformando-os depois numa realidade astrológica individual, quando, na verdade, Júpiter e Saturno são os maiores indicadores dessa significação e, neste caso, com uma melhor conciliação entre o individual e o colectivo. Séneca dizia que “Um homem que entende o dever como limite rigoroso ao poder, pode exercer o seu poder sem perigo para os demais.” (Ep.90.4; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).

   A união do Dever (Saturno) ao Poder (Júpiter) representa assim um desafio político e civilizacional de todo o ciclo astrológico. Quando Marte actua sobre o dever, transforma-o em raiva e em vingança e quando actua sobre o poder, transforma-o em ganância e em crueldade. Por isso, diz o estoicismo antigo que devemos dominar as paixões. A alma serena sabe cumprir o seu dever enquanto a alma prudente serve o poder sem se servir. Ora isto não se implica apenas aos líderes. Num tema, exercemos domínio e controlo sobre as potencialidades de Mercúrio, Vénus e Marte e entregamo-nos às de Júpiter e Saturno.

   Em 2025, vai-se firmar a passagem do eixo nodal de Carneiro-Balança para Peixes-Virgem, ou seja, de um eixo de identidade para um de integração. Dos quatro eclipses anuais, três ocorrem neste segundo eixo e um acontece ainda no anterior. Primeiramente, devemos lembrar-nos que o Dragão da Lua transmite um sentido que se estende da compreensão do destino, da gravidade daquilo que não pode ser mudado (Cauda Draconis), até à revelação da necessidade, de que existe um propósito, uma finalidade, em tudo o que acontece (Caput Draconis). Os eclipses lunares de 14 de Março e de 7 de Setembro, com o primeiro com a Lua em Virgem e o segundo em Peixes, trazem consigo o peso da sombra, da escuridão, da ocultação da luz, sobre o sentido da integração da parte no todo e do todo na parte. Já o eclipse solar de 21 de Setembro, com o Sol e a Lua em Virgem, vai acentuar o obscurecimento do valor da parte, ou seja, a parte não encontra o seu lugar na visão do todo, no sentido da totalidade. Pelo peso da sombra, as coisas separadas perdem-se, desintegram-se.

   Para além da mudança do eixo nodal, as mudanças de signo de Júpiter e Saturno trazem uma marca distintiva ao novo astrológico. A 25 de Maio, Saturno ingressa em Carneiro, onde permanecerá até 1 de Setembro, e a 9 de Junho, Júpiter ingressa em Caranguejo. Saturno em Carneiro absorve a agressividade e a impetuosidade do seu novo lugar. Este é certamente o Cronos da Titanomaquia, da guerra entre a velha e a nova ordem. Os Titãs são deuses elementais que nascem de Gaia (matéria) e de Úrano (forma), enquanto os deuses do Olimpo tornam-se progressivamente deuses ideais ou arquetípicos. Esta é uma luta de sentido, de poder ou fundamento espiritual. Já Júpiter em Caranguejo indica o regresso do princípio masculino à sua origem, ao Divino Feminino. Encontramos aqui relação de Zeus com Reia, sua mãe, e com Gaia, sua avó. É o jovem Zeus que vemos, por exemplo, em Creta a iniciar-se nos mistérios do feminino.

   Quanto aos transaturninos devemos destacar, em primeiro lugar, o facto de que com os novos ingressos vão estar os três em signos masculinos, o que, juntamente com o ingresso de Saturno em Carneiro, vai definir um novo elemento distintivo. A sua acção será mais expressiva, revelando, em termos colectivos, um potencial maior tanto em termos criativos como em termos destrutivos. Quando se encontram em signos femininos, a sua acção é mais subtil, porventura até mais refinada. São portanto de esperar transformações geracionais mais radicais e, em certa medida, mais violentas. Por exemplo, a conjunção de Saturno e Neptuno em Carneiro tornar-se-á uma força motriz para novos nacionalismos e para novas expressões ideológicas e governativas do autoritarismo e do totalitarismo. A ilusão do poder e da guerra fere a acção humana.

   Neptuno entra no signo de Carneiro a 30 de Março, regressando a Peixes a 22 de Outubro. Já Úrano ingressa em Gémeos a 7 de Julho e regressa a Touro a 8 de Novembro. Os movimentos planetários directos e retrógrados, em 2025, vão ser particularmente significados, encerrando um sentido passagem entre o progresso e a consolidação, sem que por isso exista um quadro valorativo inato. Nuns casos, essa passagem fundamenta a destruição e a discórdia, noutros, a transformação e a inovação. Ora Úrano estará retrógrado de 6 de Setembro a 4 de Fevereiro de 2026, Neptuno de 4 de Julho a 10 de Dezembro e Plutão de 4 de Maio a 14 de Outubro. Já Júpiter estará retrógrado de 11 de Novembro a 11 de Março de 2026 e Saturno de 13 de Julho a 28 de Novembro. O poder da potência, a serenidade do sábio, poderá ser mais forte que o poder da acção, a perícia do guerreiro.

   Paralelamente, o ingresso de Úrano em Gémeos vai fomentar sobretudo um novo paradigma comunicacional e tecnológico. Vai passar-se do paradigma da sustentabilidade, das alterações climáticas e da economia verde para o da inteligência artificial e da destruturação dos media tradicionais, contaminados pelo facilitismo da desinformação e pela permeabilidade aos interesses político-económicos e incapazes de acompanhar a velocidade da informação. Por outro lado, o imediatismo dessa mesma informação, animado pelas dicotomias geminianas, levará necessariamente à perda de rigor e à corrupção da verdade.

   No que aos transaturninos concerne, existirá a marca de um intenso período de transformações. A marca da guerra e dos conflitos está sobre o horizonte. Os dois sextis que unirão Plutão em Aquário a Neptuno (e Saturno) em Carneiro e este a Úrano em Gémeos vão ser um elemento distintivo dos tempos que se avizinham. São como a ponta de uma seta que fere a acção humana e as suas escolhas, ou seja, é como se já existisse uma tendência natural na possibilidade. Em certo sentido, apesar da primordialidade do bem, existe uma propensão visceral para o mal.

   Quanto à geometria de aspectos no tema do ano novo astrológico deve-se olhar primeiramente para os aspectos ao Sol. Já referimos o olhar triangular do Sol e da Lua e a presença de Mercúrio e Vénus sob os seus raios. A quadratura do Sol em Carneiro a Marte em Caranguejo tem um sentido que se espelha na quadratura da Lua em Sagitário a Saturno (e Neptuno) em Peixes. Os maléficos que se olham triangularmente fixam o seu olhar, como com o gume de uma espada, nos luminares. A luz recebe a acção transformadora da destruição e da discórdia. Nem sempre o bem é o motor da transformação.

   A acção dos maléficos produz, por vezes, a base, o substrato radical, de uma revolução, de uma transformação profunda. A humanidade nunca mudou com gestos de assentimento e conformação. Ora a quadratura da Lua ao Dragão da Lua, embora não no funesto grau do ângulo recto, vai produzir algo semelhante, mas neste caso por acção da Providência, da força conjunta do destino e da necessidade. Os antigos astrólogos alertavam para o perigo deste posicionamento, considerando-a pior que a conjunção à Cauda Draconis. Júpiter em Gémeos também se une quadrangularmente ao Dragão da Lua, fazendo com que o destino restrinja a sua dádiva e colocando assim a Lua em Sagitário em oposição.

   Os tempos sombrios tendem a ser, ao longo da nossa história, o prelúdio de grandes transformações. No entanto, para que se alcance o progresso civilizacional, é necessário passar por períodos de tensão e obscurantismo. A noção de propósito e finalidade, do sentido da Providência, mesmo que através da destruição, é corroborado pela conjunção de Saturno em Peixes à Caput Draconis e pelo trígono de Marte em Caranguejo a esta co-presença. Por outro lado, como nem tudo nasce de tensões, a acção do bem também faz o seu caminho, o sextil do Sol (e de Mercúrio e Vénus) em Carneiro a Júpiter em Gémeos e o trígono da Lua em Sagitário a Vénus em Carneiro surgem como dádiva e caminho.

   Existe hoje uma certa astrologia que teme a designação de benéficos e maléficos, uns porque a consideram, erradamente, maniqueísta, outros que, num espírito new age simplista, pensam que é tudo arco-íris e unicórnios, que só existem tendências, que tudo pode ser mudado, que tudo tem um lado bom. Infelizmente, a realidade não é assim. Só se pode compreender o valor da dádiva, de uma bênção, se se interiorizar o valor da sua ausência e do caminho de agruras para a alcançar. E sim o mal existe. A ignorância é, por exemplo, o maior dos males.

   Vénus em Carneiro e Júpiter em Gémeos trazem-nos as bênçãos do amor em acto e da bondade da palavra. Nos nossos tempos, nestes tempos sombrios, estas são duas dádivas com um potencial imenso, todavia, como qualquer tesouro, exigem primeiro disponibilidade e depois demanda, o que nem sempre é fácil. Curiosamente, existe um outro tesouro, o Sol, Mercúrio, Vénus e a Lua unem-se hexagonalmente a Plutão em Aquário que, por sua vez, se une triangularmente a Júpiter. Esta é a bênção que permite encontrar os vestígios da luz e do bem por entre os destroços, nas ruínas da realidade, porque sim Plutão é morte e destruição, não é o festival hippie que nos querem vender. Encontrar uma semente fértil na terra queimada é uma bênção de Plutão. Hades e Perséfone guardam no interior da Terra a dádiva da semente que germina. Neste novo ano astrológico, esta será assim uma dádiva no caminho.

   O Ano Astrológico de 2025 é, em suma, um tempo de desafios, de tensão e discórdia. Em termos pessoais, podemos encontrar marcadores benévolos de transformação, mas, em termos mundanos ou globais, este será um ano de limiar em que os conflitos, a guerra, a ignorância definem o peso do destino e o modo como a necessidade força a humanidade a mudar, a tornar-se mais consciente do espírito e dos valores que revelam o humano. Somos humanos, mas escolhemos ser humanidade.  

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