quarta-feira, 31 de maio de 2023
domingo, 21 de maio de 2023
sábado, 20 de maio de 2023
sexta-feira, 19 de maio de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Lua Nova em Touro
Reflexões Astrológicas
Lisboa, 16h53min, 19/05/2023
Sol-Lua
Decanato: Saturno
Termos: Marte
Monomoiria: Vénus
A
Lua Nova de Maio ocorre no signo de Touro, com Balança a marcar a hora para o
tema de Lisboa e, deste modo, na VIII, no Lugar da Morte (θάνατος), da qualidade da morte, no decanato
de Saturno, nos termos de Marte e na monomoiria
de Vénus. A sizígia dá-se assim acima do horizonte e cerca de quatro horas
antes do pôr-do-sol. No actual novilúnio, o encontro dos luminares ocorre a
caminho do Poente, estando a Lua desfavorecida por estar fora do seu segmento
de luz (αἵρεσις), mas num signo feminino, o da sua própria exaltação. A Lua
Nova de Touro vem fechar um conjunto sucessivo de fenómenos astrológicos nesta
constelação: o eclipse lunar, o ingresso de Júpiter em Touro e a actual
sizígia. Estes colocaram em análise o sentido profundo deste signo. Segundo Vétio
Valente, Touro é feminino, sólido, gera ordem, é terreno, rústico, está relacionado
com a agricultura, é semi-vocal ou mudo, nobre, invariável, energético,
inacabado e indicador de propriedade e posses (Antologia I, 2). A significação
antiga permanece no tempo e continua a permitir o aprofundamento conceptual
daquilo que foi estabelecido.
A
ligação entre o signo de Touro e a Terra, a Grande Mãe, encontra-se radical e
estruturalmente enraizada. É a matriz do crescimento e da abundância. Na
reflexão acerca do ingresso de Júpiter em Touro, já explorámos a relação entre
Reia e Zeus/Júpiter, o seu nascimento e infância em Creta, ou seja, o poder
matriarcal na dádiva do Júpiter astrológico. No entanto, para a análise da
sizígia, o rapto de Europa e a relação entre Pasífae e o Touro de Creta possuem
uma outra dinâmica, uma que, para além do consequente encontro dos luminares,
também se encontra indicado na conjunção de Vénus e Marte em Caranguejo. O
touro é o companheiro da Deusa-Mãe, da Πότνια Θηρῶν, a
Senhora dos Animais. Esta é uma deusa das origens e da qual descendem muitas
das divindades femininas, tais como Reia, Cíbele, Hera, Ártemis, Deméter ou
Atena.
No meu livro Fragmentos Astrológicos, encontra-se a seguinte descrição: “O rapto de Europa
marca uma das fundações do mito do Touro Cretense. Zeus enamorou-se de Europa e
para a cativar transformou-se num touro de resplandecente brancura e com os
cornos em forma de lua. A jovem sentou-se no dorso do touro que fugiu em
direcção ao mar. Chegados a Creta, os dois consumam a paixão junto de uma
fonte, em Gortina, à sombra de plátanos. Europa teve de Zeus três filhos:
Minos, Sarpédon e Radamanto. Numa segunda fase, o Touro é enviado, a partir do
mar, por Posídon para a costa de Creta, o reino de Minos. A rainha Pasífae
enamora-se do animal e pede a Dédalo que construa uma vaca de madeira, onde ela
possa entrar e assim unir-se ao animal. Dessa união nasce o Minotauro, um ser
metade homem, metade touro, que será colocado num labirinto e, mais tarde,
derrotado por Teseu com a ajuda de Ariadne, filha de Pasífae e Minos. Por fim,
numa terceira fase, Héracles é encarregue de apanhar o Touro. Este é depois
libertado, percorrendo a Grécia até chegar a Maratona, onde é morto por Teseu.
O herói vence sempre a fera, mas é o feminino que persiste.” (135-6. Lisboa, 2021: Livros – Rodolfo Miguel de Figueiredo). Existe pois uma continuidade de sentido, um elemento mimético
de passagem, que se estende ao longo da narrativa do mito do Touro Creta. O
feminino, sobretudo se virmos para além do exacerbamento dos feitos masculinos,
tem, nesta enunciação mitológica, um enorme poder, uma potencialidade criativa.
A união da
mulher e do touro e a passagem do animal ao humano, ou seja, a sua elevação,
são elementos de transformação profundos. No encontro venusiano com o animal, a
luz do feminino muda a realidade. Europa, Pasífae e Ariadne são elementos de
continuidade, mas não são elementos passivos, é a sua acção que dá sentido à
narrativa e que permite a possibilidade de mudança e, mesmo no caso de
Héracles, não nos esqueçamos que o herói está ao serviço da deusa, de Hera, uma
Deusa-Mãe. Ora o grande encontro de luz no signo de Touro (Lua, Sol, Úrano,
Mercúrio e Júpiter) concede essa mesma mudança. Porém, esta não é nem súbita,
nem radical, é uma mudança paciente, estruturada, que se funda e firma nas
raízes da realidade, na demanda do valor, do sentido do viver. No tema de Lisboa,
esse encontro de luz dá-se no lugar da morte. O signo da vida ocupa o espaço da
morte. A frase lapidar Et in Arcadia ego
que nos diz que também a Morte vive na
Arcádia reafirma o seu sentido, a sua permanência conceptual e simbólica.
Epicteto
afirma o seguinte: “Humanos, aguardai
Deus. Quando ele enviar o sinal e vos libertar desse serviço, então vos
liberteis para ele. Mas, por ora, suportai, permanecendo neste mesmo lugar ao
qual ele vos designou. Pouco é o tempo para permanecer aqui, e fácil para os
que estão desse modo dispostos. Pois qual tirano ou qual ladrão, ou quais
tribunais ainda serão temíveis para os que tornaram comparáveis a nada o corpo
e as posses deste? Esperai! Não partais de modo irracional!” (Diatribes I.9,
16-17, trad. Dinucci, 88. Coimbra, 2020:
IUC).
A dádiva da luz é uma bênção do bem e da virtude e a procura do valor, desse
absoluto que pertence à terra, implica um processo racional de elevação: do
animal ao humano, do humano ao divino. Não esqueçamos, porém, que o deus estóico
não é um ser distante que traz até nós a revelação. Para o estoicismo, e em
particular para Epicteto, nós somos um fragmento de Deus, somos o próprio deus,
logo a revelação não é externa, ela inicia-se única e exclusivamente naquilo
que somos, é um conhecimento de si.
O
encontro de luz no signo de Touro, sobretudo se pensarmos que se inicia na Lua
e no Sol, passa por Úrano e Mercúrio assexuais ou andróginos, embora neste
caso, devido à posição helíaca, masculinos, e termina em Júpiter, e também pela
conjunção destes à estrela Algol, encontramos um choque, uma colisão, entre a
necessidade de ressurgimento do númen feminino e as estruturas patriarcais
dominantes. Algol dá poder ao feminino, mas alimenta a intensidade, não fosse
ela a cabeça da Medusa, um símbolo por excelência do feminino. Segundo Ovídio,
Medusa era uma bela donzela que terá sido violada por Posídon no templo de
Atena. Ora a deusa sem mãe castiga a donzela, transformando-a num monstro, por
esta ter conspurcado com o seu templo. Encontramos aqui a simbologia desta
união de luz, do encontro dos planetas em Touro com a estrela Algol. No
entanto, não se pode esquecer a tradição e, neste caso, a malignidade de Algol.
Neste sentido, o encontro desta estrela com a sizígia pode, de facto, trazer
violência e destruição, sobretudo desastres naturais resultantes das alterações
climáticas.
Por
outro lado, o tema da sizígia encerra também uma outra dinâmica que já se
iniciara no eclipse lunar e que continuou no ingresso de Júpiter de Touro. O
facto de Marte e Plutão se estenderem, opondo-se ou quase, ao longo do eixo de
culminação, e de Balança marcar a hora apresenta-se como uma dinâmica comum,
uma que funda também, sobre o caminho do abismo ao cume, uma potência de
destruição. Marte traz destruição, ou violência, ao lugar da Lua e Plutão
espalha quadrangularmente os raios da morte até à sizígia e àqueles que a
acompanham. Este novilúnio, embora firme a matriz do signo de Touro, transporta
consigo uma potencialidade disruptiva que pode estender a sua influência para
além do mês lunar. A humanidade está sobre aviso e isso está cada vez mais
claro.
Séneca,
referindo-se aos tempos áureos, diz-nos, na sua Medeia, que “Os nossos pais viveram em tempos / magníficos dos
quais o embuste estava bem arredado. / Cada
um ficava tranquilamente nos seus litorais / e chegava à velhice nos campos ancestrais, / rico com pouco; não conhecia senão / as riquezas que o solo pátrio produzia.” (329-334, trad. A. A. Alves de Sousa. Coimbra, 2013: Imprensa da Universidade de Coimbra). Se tivermos em consideração
que a Idade de Ouro fora regida por Saturno, encontrarmos um indício da
proposta de transformação. O sextil da sizígia e daqueles que estão
co-presentes a Saturno e Neptuno em Peixes e os trígonos destes últimos a Vénus
e Marte em Caranguejo e à Cauda Draconis em Escorpião congregam uma mensagem semelhante
àquela que Séneca descreve. Está a ser-nos pedido, senão mesmo exigido, que
mudemos o modo de vida. Pede-se um regresso à Idade de Ouro, em que a Terra
esteja viva e em que a sua abundância nos seja suficiente. As deslocações
desenfreadas, face ao facto de serem extremamente poluentes e nos desviarem do
essencial, e o nosso consumismo colocaram a humanidade sobre o fio da navalha. Tornámo-nos
a sombra da nossa desmedida e isso traz até nós o peso, a gravidade, do destino.
Existe uma causalidade que encaminhou até nós as penas de Némesis. E, perante o
abismo, o que podemos fazer? Seguir a luz. Essa é nossa única solução.
O novilúnio de Maio, com a sua intensa concentração de luz, mas também de alguma sombra, no signo de Touro, encerra uma proposta de abundância. Ora essa proposta, em particular no actual ano astrológico, estará em evidência sobretudo nos movimentos astrológicos pelos signos de Terra e de Água. A Era do Espírito Santo, do Sagrado Feminino, está a anunciar-se tanto com a pomba que cinge o céu como com a sacerdotisa que sibila e dança ao som do tambor nocturno. Nesta Lua Nova, a Deusa-Mãe, a Terra, concede-nos uma dádiva que precisamos de aceitar.
terça-feira, 16 de maio de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Júpiter em Touro
Reflexões Astrológicas
Júpiter
em Touro
Lisboa,
18h20min, 16/05/2023
Júpiter
Decanato:
Mercúrio
Termos:
Vénus
Monomoiria:
Vénus
O ingresso de Júpiter em Touro ocorre
com Balança a marcar a hora, para o tema de Lisboa e, deste modo, na VIII, no
Lugar da Morte (θάνατος), da qualidade da morte, no decanato
de Mercúrio, nos termos e na monomoiria
de Vénus. O ingresso dá-se assim acima do horizonte e a duas horas e vinte e
cinco minutos do pôr-do-sol. Júpiter encontra-se, deste modo, favorecido por
estar no seu próprio segmento (αἵρεσις) e acima do horizonte. O estudo deste
ingresso e do seu tema é essencial para a compreensão dos tempos que se
avizinham. A análise relativa dos ingressos de Júpiter e Saturno em 2023
atribuirá uma qualificação estrutural dos elementos significativos que definem,
consequentemente, o ano em curso.
No tempo (Saturno) e no espaço (Júpiter), o Eterno Feminino tornar-se-á a dádiva da transformação. Esta é uma ideia que explorámos quando Saturno ingressou em Peixes e que agora, com entrada de Júpiter em Touro, é reafirmada. Partindo da premissa que é o planeta que transmite as suas qualidades ao lugar (signo) e não o contrário, podemos concluir que Júpiter chega à casa, ou ao templo, da Grande Mãe. Touro é, por excelência, o lugar da Mãe-Terra, da Mãe dos Deuses. A natureza criadora é particularmente activa neste lugar e, nesse sentido, será aí que Júpiter expressará as suas qualidades. A pergunta que se coloca é saber que Júpiter é que encontraremos neste lugar. E não, não pensemos, baseados no androcentrismo do pensamento astrológico comum, que vamos encontrar aqui o senhor do Olimpo, sentado no seu trono. A melhor imagem de Júpiter em Touro surge naturalmente da mitologia e da sua tradição. Zeus em Creta firmar-se-á como sentido profundo deste ingresso.
Em Creta, o mito do nascimento e da infância de Zeus são elementos mitológicos que tornam o deus dependente, ou subalternizado, face ao númen feminino. Reia é uma Grande Mãe, frequentemente desvalorizada. Antonino Liberal afirma o seguinte: “Conta-se que existe, em Creta, uma gruta sagrada cheia de abelhas. No seu interior, conforme afirmam os narradores, Reia deu à luz Zeus. Trata-se de um local sagrado de que ninguém deve aproximar-se, seja deus ou mortal. Numa certa altura de cada ano, diz-se que uma grande labareda emana da gruta. Na sequência da história, diz-se que isto acontece sempre que o sangue proveniente do nascimento de Zeus começa a fervilhar. As abelhas sagradas que eram amas de Zeus ocupam esta gruta.” (Metamorfoses, 19, ed. R. M. Troca Pereira. Coimbra, 2017: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017). As abelhas, o parto e a nutrição são elementos que estabelecem aqui uma hegemonia do Sagrado Feminino. Por outro lado, não em Creta, mas sim na Arcádia, Pausânias conta-nos que o Lymax, na Figália, um afluente do Neda, é um rio que teve a sua origem na limpeza de Reia após o parto, depois do nascimento de Zeus, pois a ninfas que a auxiliaram atiraram para o rio os restos da dequitação (placenta e membranas), também nos diz ainda que, perto da nascente do Alpheio, existia um templo sem telhado, com dois leões de pedra, dedicado à Mãe dos Deuses (Descrição da Grécia VIII.41.1 e VIII.44.5). Este é o poder do divino feminino.
Zeus/Júpiter nasce em Creta, quando Reia fugia de Cronos/Saturno que queria devorar o seu filho, tal como fizera com os seus irmãos. Reia dá à luz numa caverna, no Monte Dícti, e depois entrega a criança aos cuidados das ninfas Adrasteia e Ida e dos Curetes. O jovem Zeus será alimentado pela cabra Amalteia (Capricórnio) e por abelhas, ou seja, com leite e mel. Os elementos ou categorias ginocêntricas superiores a uma divindade masculina são aqui determinantes. Às deusas minóicas com serpentes, encontradas no Palácio de Cnosso, junta-se o culto do touro em Gotina, representado, por exemplo, pelo rapto de Europa, quando Zeus, sob a forma de touro, leva a filha do rei de Tiro, Agenor, para Creta. Por outro lado, temos, também de acordo com a tradição mitológica, a história de Pasífae, do Touro e do Minotauro, mas igualmente o trabalho de Hércules em que este terá de tomar o Touro de Creta. A relação entre a Grande Mãe, Zeus/Júpiter e o Touro são a matriz de sentido que define o ingresso de Júpiter em Touro. Zeus é aqui “o Touro de sua Mãe”. De um poder matriarcal, inaugura-se um poder matrilinear, tanto que Zeus/Júpiter só conseguirá desafiar e destronar o seu pai, Cronos/Saturno, com o auxílio de divindades femininas, nomeadamente a sua mãe (Reia) e a sua avó (Gaia).
A viagem de Júpiter pela constelação de Touro inicia-se a 16 de Maio de 2023 e termina a 26 de Maio de 2024, tendo um período de retrogradação de 4 de Setembro a 31 de Dezembro de 2023. É portanto um trânsito consistente, sem saídas e reingressos como aquele que observamos em Carneiro ou em Peixes. Essa afirmar-se também como significação estrutural de Touro, um signo de Terra. Existe, durante o período deste ingresso, uma relação íntima com a retrogradação, em especial, com a de Vénus (23/07 a 04/09/2023) que termina quando a de Júpiter começa, mas também com a Saturno (17/06 a 04/11/2023), ou seja, a matriz primordial das potencialidades planetárias pede uma renovada efectivação, o processo inaugural de passagem de sentido entre a potência e o acto traz até nós uma nova proposta criativa. Paralela ao estado relativo de retrogradação planetária, encontramos a relação elemental, aquela que une harmoniosamente Júpiter (Touro/Terra), Saturno (Peixes/Água), Úrano (Touro/Terra), Neptuno (Peixes/Água) e, por algum tempo, Plutão (Capricórnio/Terra). Na verdade, só este último, ao encontrar-se em Aquário (Ar), vai criar uma tensão elemental. A harmonia em torno de elementos femininos (Terra e Água) reafirma tudo aquilo que já foi mitologicamente referido.
A análise do tema de ingresso apresenta, para além da assinalável concentração de luz no signo de Touro, a semelhança do eixo de culminação com aquele que regeu o eclipse lunar. Marte e Plutão continuam, respectivamente, no cume e no abismo, estendendo, entre si e os pólos os que definem, uma promessa de destruição que surge como aviso ou lembrança. Este marco na estrada diz-nos que o criar e o destruir são duas faces de uma mesma realidade. No entanto, se compararmos com o tema do eclipse lunar, Marte afasta-se da culminação, encontrando-se no signo seguinte. A ausência de planetas entre a ascensão e a culminação vem retirar alguma firmeza ou aspereza a esta posição. O trígono entre os maléficos (Marte em Caranguejo e Saturno em Peixes) diz-nos que esta destruição não acontece por acidente, não é fruto do acaso, ela surge porque faz parte do destino, resulta da necessidade, de uma causalidade natural. Tudo está de acordo com a natureza.
A forma como a luz se reúne em Touro confirma a superioridade do poder da natureza sobre a realidade humana. Gaia impõe a sua vontade. A vingança de Gaia é hoje tão real como a soberba humana. A natureza está recriar as suas estruturas, mesmo que isso produza destruição. Em Touro, existe um caminho de luz do Sol a Júpiter, passando por Úrano, Mercúrio e a Caput Draconis e avançado até ao Poente, a seguir ao qual se encontra a Lua, em Carneiro e já sob o horizonte. Esta é uma posição onde a Lua se encontra enfraquecida e subjugado ao poder masculino e que conduz, sobretudo se considerarmos a posição de Marte em Caranguejo e consequente quadratura à Lua, àquilo que anteriormente se referiu como o medo do feminino. Este tende a gerar formas de violência contra as mulheres e reservas na adopção espiritual do Sagrado Feminino. No entanto, o facto de Vénus e Marte se encontrarem juntos, em Caranguejo, mostra que o medo não esconde ou anula a atracção. Com Vénus e Marte em Caranguejo, o herói quer obter o amor da Grande Mãe, quer regressar a casa, à origem.
A posição relativa de Júpiter estabelece a qualidade do seu ingresso. Se, por um lado, temos a conjunção em Touro que agrega uma qualidade que confere luz, intelecto, razão, inovação e necessidade à dádiva do bem, por outro lado, a forma como estes raios se unem aos demais vai intensificar a sua qualidade. Primeiro, não existe nenhuma outra relação com o elemento Terra. Com a Água, temos os dois sextis: o primeiro com Vénus e Marte em Caranguejo e o segundo com Saturno e Neptuno. Com o Fogo, também não existe uma ligação, exceptuando a quadratura ao Ponto de Culminação. E com o Ar, temos a quadratura com Plutão em Aquário e com o Ponto Subterrâneo. Estas são ligações que se estabelecem com Júpiter e com aqueles que estão co-presentes no signo de Touro e que confirmam astrologicamente tudo aquilo que já se explorou. Existe pois uma união entre o sentido mitológico e a significação astrológica e esta aprofunda uma mensagem que anuncia a aurora de uma Nova Era.
O ingresso de Júpiter em Touro reúne o sentido de dádiva, que é próprio de qualquer benéfico, neste caso, a bênção do bem e da justiça, com a Natureza e com a Grande Mãe. Esta é uma significação que não devemos perder de vista e pode ser conciliada, colocada em harmonia e concórdia, com qualquer outra que se possa apresentar. A beleza do pensamento é a sua pluralidade e astrologia deve ser plural como o universo.
segunda-feira, 15 de maio de 2023
sexta-feira, 12 de maio de 2023
Reflexões Astrológicas 2022: Parte II - Citação 4
domingo, 7 de maio de 2023
sexta-feira, 5 de maio de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Eclipse Lunar Penumbral (Lua Cheia: Touro-Escorpião)
Reflexões Astrológicas
Eclipse Lunar Penumbral
(Lua Cheia:
Touro-Escorpião)
Lisboa, 18h23min, 05/05/2023
Lua
Decanato: Sol
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Marte
Sol
Decanato: Lua
Termos: Júpiter
Monomoiria: Vénus
O Eclipse Lunar Penumbral de dia 5
de Maio ocorre com a Lua no signo de Escorpião e o Sol no de Touro, com Balança
a marcar a hora e a cerca de duas do pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo no
Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do
horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já a Lua está abaixo do horizonte, na II, no lugar do Viver
(βιός).
A Lua encontra-se no decanato do Sol, nos termos de Mercúrio e monomoiria de Marte, enquanto o Sol encontra-se
no decanato da Lua, nos termos de Júpiter e monomoiria
de Vénus. Se pensarmos que, da Lua até ao Ponto de Culminação, não existe
nenhum astro, concluímos então que é o caminho luminar em que Sol se insere, e
que é por si dominado, que se torna mais significativo, pois de uma forma mais
abrangente é aquele que vai de Marte em Caranguejo a Júpiter em Carneiro ou, se
preferirmos uma maior simbólica cadente, dado que Marte está junto à
Culminação, será aquele que vai de Vénus em Gémeos a Júpiter em Carneiro. Este
é o caminho dos benéficos, ou do bem, rumo ao Poente, onde o Sol se encontra
obscurecido. Neste ocaso da realidade, a acção do bem vive na sombra.
Existe uma clara aproximação de
sentido entre este eclipse e o anterior eclipse solar, visto que, por um lado,
Balança marca a hora no actual eclipse e este é um dos signos que integra o
eixo para o qual avançará o eixo nodal e marcará a próxima fase de eclipses, iniciada
com o eclipse de dia 20 de Abril, e, por outro lado, a Lua recai nos dois
eclipses na II, no Lugar do Viver (βιός), exacerbando a sua significação
tópica. É igualmente assinalável o facto de em ambos os eclipses a Lua se
encontrar sob o horizonte. A ocultação luminar, seja pela sua visibilidade ou,
neste caso, também pela sombra do eclipse, adquire sempre um simbólica radical,
um valor que transmite uma representação profunda da realidade. Ora a ocultação
da Lua, da Deusa, do Espírito Santo ou do Divino Feminino, num lugar que
determina o valor do viver, assume um carácter primordial de transformação, ou
seja, diz-nos que, na sombra, sob o manto da nossa ignorância, se encontra
aquilo que nos falta, a fonte da nossa angústia, da nossa incompletude. Não
provimos aquilo verdadeiramente nos sustem.
A área geográfica do actual eclipse
é maior que a do eclipse solar, embora semelhante. A zona principal incide
sobre a Ásia e sobre a Oceânia, expandindo a influência do eclipse de dia 20 de
Abril. A segunda zona alcança, já de forma parcial, África e a Europa. No caso
de Portugal, este manto chega sensivelmente até ao Tejo, ou seja, cobre apenas
metade do país. Se seguirmos, porém, a tradição antiga, a Lua em Escorpião fornece-nos
um conjunto de informações adicionais. Valente diz-nos que Escorpião rege a Metagonitis
ou Numídia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte
de África, Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia,
Itália, Cartago, Líbia, Amom (Jordânia), Sicília, Espanha e Roma. Já para Manílio
Escorpião rege Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82).
No entanto, devemos também
considerar o Sol em Touro, embora com uma menor expressão geográfica. Segundo Vétio Valente (Antologia I, 2), vai reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão,
o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia
(Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia,
Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso,
da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão,
província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. Para
Manílio, Touro rege Cítia, a Ásia (por causa dos Montes Tauro) e a Arábia. (Astronomica, IV, 744-817). No caso dos eclipses lunares, a
questão da influência geográfica é deveras importante, já que, no seu período
de influência, encontramos frequentemente a existência de fenómenos naturais
extremos, tais como sismos, erupções vulcânicas ou tempestades.
Em termos temporais, a acção deste
eclipse pode ser fixada entre perto dos dois meses até aos seis ou sete meses.
O período de cerca de dois meses pode ser estabelecido a partir da ascensão
recta, enquanto a linha temporal mais extensa é alcançada pela extensão
temporal dos contactos umbrais. No entanto, podemos afirmar que a sua
influência será mais intensa nos dois meses que se seguem ao eclipse. Existe,
porém, um outro factor a ter em consideração acerca desta influência, pois,
segundo a série Saros em que está inserido, este eclipse está intimamente
ligado ao eclipse da mesma série que acontecerá a 16 de Maio de 2041, também no
eixo Escorpião-Touro. Os sentidos propostos pelo actual eclipse criam uma ponte
significativa entre os dois eclipses, estendendo assim a sua proposta de representação
da realidade.
A série Saros 141 é uma série
relativamente recente que se iniciou a 27 de Agosto de 1608, com eclipse no
eixo Peixes-Virgem, e que terminará a 11 de Outubro de 2888, com um eclipse no
eixo Carneiro-Balança. O primeiro eclipse total só acontecerá em 2167 com um eclipse
no eixo Aquário-Leão. Nesta série, dado o primeiro e o último eclipse, existe
uma união de sentido entre o fim e o início, entre a significação dos dois
eixos. Esta ideia matriz serve, face ao actual eclipse, a consolidação, a
integração na consciência humana que a Natureza é um ser vivo, com alma, que
nasce, morre e renasce. O eixo Escorpião-Touro está a oferecer-nos uma profunda
lição acerca do valor da Terra, da Mãe-Terra. Marco Aurélio diz-nos o seguinte:
“Contempla o curso dos astros como se
levado foras nas suas revoluções, e considera de contínuo como os elementos se
transformam uns nos outros. Tal contemplação purifica-nos das nódoas da terra.”
(Pensamentos VII, 47, trad.
J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995).
Fomos nós que colocámos as “nódoas da terra” e somos nós que as temos de
tirar.
O início da série Saros 141 é
marcado por alguns acontecimentos em torno da fundação da colónia americana de
Jamestown. A 13 de Agosto de 1608 é submetida para publicação a história dos
primeiros dias da colónia de John Smith e, a 10 de Outubro, este é eleito
presidente do conselho colonial. A história de John Smith e de Pocahontas é um
exemplo de aceitação do outro, da diferença e de criar laços afectivos com
alguém que a maioria tende a rejeitar. Face à crise dos refugiados, da pobreza
e das desigualdades sociais, o simbolismo por detrás desta história torna-se imperativo.
Podemos encontrar astrologicamente esse sentido no trígono que, hoje, une os
astros nos três signos de água. A sua significação congrega a tensão e a possibilidade.
Séneca
afirma o seguinte: “Pensa bem como esse
homem que chamas teu escravo nasceu da mesma semente que tu, goza do mesmo céu,
respira, vive e morre como tu. Tanto direito tens tu a olhá-lo como homem livre
como ele a olhar-te como escravo” (Ep.47.10;
Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004:
Fundação Calouste Gulbenkian). Ora este é também o espírito da Saturnália
e de Saturno (e Neptuno) em Peixes.
A
refundação da justiça social e das estruturas políticas, económicas e sociais
estará intimamente relacionada com o medo de feminino que se apresenta com
Marte em Caranguejo. A respeito de Marte convém referir-se que é o astro mais
alto, em conjunção ao Ponto de Culminação. Este factor, aliado à posição de
Plutão retrógrado em Aquário, junto ao Ponto Subterrâneo, embora em posição
pós-polar e noutro signo, vai colocar sob pressão os fenómenos naturais
extremos. O trígono de Água apresenta, neste eclipse, um sentido profundo. O
medo de feminino é um sinal dos tempos, mas a forma abusiva como utilizamos os
recursos do planeta também o é, e sobre estes dois eixos de acção e reacção
vive a morte, a retribuição e a necessidade. A sombra do eclipse, com a Lua em
Escorpião, revela-nos que, face à gravidade da desmedida, será apenas sob a
terra queimada, sob as cinzas da história, que o renascimento acontecerá. O
tempo pede, novamente, que os escravos se ergam e se tornem senhores. Essa é,
como já observámos, a lição de Saturno em Peixes e que agora se une à do
eclipse lunar.
A
quadratura de Plutão em Aquário aos luminares e ao Dragão da Lua, a partir do
lugar da Boa Fortuna, confirma a sua mensagem fundamental de que a morte paira
sobre o humano e de que a semente do amanhã repousa ainda sob a terra, oculta
no ventre da Grande Mãe. Não existe criação sem destruição. Essa é a ideia que
nos deve servir de guia e que contribuirá para nos redimensionarmos. Os
complexos humanos de super-homem deverão cair, pois a actividade humana tem
sido exacerbada por um narcisismo desenfreado que quer que esqueçamos a nossa
finitude, a nossa incompletude. É esvaziando-nos que nos tornámos plenos. O
trígono de Vénus em Gémeos, no lugar do Deus Sol, a Plutão em Aquário indica a
palavra do Amor que vence a dualidade, a separação. Porém, é sempre mais fácil
distinguir do que congregar. Se por vaidade dizemos que reunimos, estamos a
apenas a criar mais separação. A quadratura de Vénus a Saturno e Neptuno aponta
para essa dificuldade. A teia que une a necessidade e a compaixão, criando
possibilidade e redenção, exige esforço. Temos de primeiro nos perder, para
depois nos encontrarmos, renovados e renascidos.
Na
casa da Grande Mãe, da Mãe Natureza, que é o signo de Touro, o Sol, Mercúrio, Úrano
e a Caput Draconis expressam uma mensagem que se firma no ocaso da realidade.
Fundar um novo modo de vida quando tudo o que se vê é morte é o desafio dos nossos
tempos. A qualidade da morte alia-se aqui à noção de poente. O caminho de Júpiter
em Carneiro avança para o seu fim, o que, neste tema, assume literalmente esse término.
A acção do bem tornar-se-á a bondade da terra. Júpiter em Touro chegará com a dádiva
de Gaia. Porém, a actual quadratura entre Júpiter em Carneiro e Marte em Caranguejo
revela esse mesma dificuldade de acolher os dons da terra e do feminino. Neste eclipse
lunar, este choque entre o grande benéfico e o grande maléfico assume um carácter
de definição e prenúncio. A par do trígono de Água e do eixo do eclipse, este é
um símbolo do futuro que resume a mensagem da actual ocultação luminar.
O
eclipse lunar de dia 5 de Maio, como lhe é natural, mas aqui um pouco mais acentuado,
vai trazer consigo um conjunto de sentidos subliminares, como se sibilados pela
Senhora do Tempo e da Necessidade. Nem tudo é literal, directo ou evidente, existem
pois sentidos que preenchem a trama de um tear. A união de Júpiter em Touro e Saturno
em Peixes, bem como a longa travessia de Vénus em Leão, assinalam uma era do feminino
e o actual eclipse é a sombra que antecede a luz. Em suma, é sobre a sombra que
se guarda a luz e iluminado é aquele que guarda a centelha da sabedoria.