sexta-feira, 5 de maio de 2023

Reflexões Astrológicas 2023: Eclipse Lunar Penumbral (Lua Cheia: Touro-Escorpião)

 Reflexões Astrológicas


Eclipses


Eclipse Lunar Penumbral 

(Lua Cheia: Touro-Escorpião)

Lisboa, 18h23min, 05/05/2023

 

Lua

Decanato: Sol

Termos: Mercúrio

Monomoiria: Marte 

 

Sol

Decanato: Lua

Termos: Júpiter

Monomoiria: Vénus


 

  O Eclipse Lunar Penumbral de dia 5 de Maio ocorre com a Lua no signo de Escorpião e o Sol no de Touro, com Balança a marcar a hora e a cerca de duas do pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já a Lua está abaixo do horizonte, na II, no lugar do Viver (βιός). A Lua encontra-se no decanato do Sol, nos termos de Mercúrio e monomoiria de Marte, enquanto o Sol encontra-se no decanato da Lua, nos termos de Júpiter e monomoiria de Vénus. Se pensarmos que, da Lua até ao Ponto de Culminação, não existe nenhum astro, concluímos então que é o caminho luminar em que Sol se insere, e que é por si dominado, que se torna mais significativo, pois de uma forma mais abrangente é aquele que vai de Marte em Caranguejo a Júpiter em Carneiro ou, se preferirmos uma maior simbólica cadente, dado que Marte está junto à Culminação, será aquele que vai de Vénus em Gémeos a Júpiter em Carneiro. Este é o caminho dos benéficos, ou do bem, rumo ao Poente, onde o Sol se encontra obscurecido. Neste ocaso da realidade, a acção do bem vive na sombra.     

  Existe uma clara aproximação de sentido entre este eclipse e o anterior eclipse solar, visto que, por um lado, Balança marca a hora no actual eclipse e este é um dos signos que integra o eixo para o qual avançará o eixo nodal e marcará a próxima fase de eclipses, iniciada com o eclipse de dia 20 de Abril, e, por outro lado, a Lua recai nos dois eclipses na II, no Lugar do Viver (βιός), exacerbando a sua significação tópica. É igualmente assinalável o facto de em ambos os eclipses a Lua se encontrar sob o horizonte. A ocultação luminar, seja pela sua visibilidade ou, neste caso, também pela sombra do eclipse, adquire sempre um simbólica radical, um valor que transmite uma representação profunda da realidade. Ora a ocultação da Lua, da Deusa, do Espírito Santo ou do Divino Feminino, num lugar que determina o valor do viver, assume um carácter primordial de transformação, ou seja, diz-nos que, na sombra, sob o manto da nossa ignorância, se encontra aquilo que nos falta, a fonte da nossa angústia, da nossa incompletude. Não provimos aquilo verdadeiramente nos sustem.   

  A área geográfica do actual eclipse é maior que a do eclipse solar, embora semelhante. A zona principal incide sobre a Ásia e sobre a Oceânia, expandindo a influência do eclipse de dia 20 de Abril. A segunda zona alcança, já de forma parcial, África e a Europa. No caso de Portugal, este manto chega sensivelmente até ao Tejo, ou seja, cobre apenas metade do país. Se seguirmos, porém, a tradição antiga, a Lua em Escorpião fornece-nos um conjunto de informações adicionais. Valente diz-nos que Escorpião rege a Metagonitis ou Numídia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália, Cartago, Líbia, Amom (Jordânia), Sicília, Espanha e Roma. Já para Manílio Escorpião rege Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82).

  No entanto, devemos também considerar o Sol em Touro, embora com uma menor expressão geográfica. Segundo Vétio Valente (Antologia I, 2), vai reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. Para Manílio, Touro rege Cítia, a Ásia (por causa dos Montes Tauro) e a Arábia. (Astronomica, IV, 744-817). No caso dos eclipses lunares, a questão da influência geográfica é deveras importante, já que, no seu período de influência, encontramos frequentemente a existência de fenómenos naturais extremos, tais como sismos, erupções vulcânicas ou tempestades.

  Em termos temporais, a acção deste eclipse pode ser fixada entre perto dos dois meses até aos seis ou sete meses. O período de cerca de dois meses pode ser estabelecido a partir da ascensão recta, enquanto a linha temporal mais extensa é alcançada pela extensão temporal dos contactos umbrais. No entanto, podemos afirmar que a sua influência será mais intensa nos dois meses que se seguem ao eclipse. Existe, porém, um outro factor a ter em consideração acerca desta influência, pois, segundo a série Saros em que está inserido, este eclipse está intimamente ligado ao eclipse da mesma série que acontecerá a 16 de Maio de 2041, também no eixo Escorpião-Touro. Os sentidos propostos pelo actual eclipse criam uma ponte significativa entre os dois eclipses, estendendo assim a sua proposta de representação da realidade.

  A série Saros 141 é uma série relativamente recente que se iniciou a 27 de Agosto de 1608, com eclipse no eixo Peixes-Virgem, e que terminará a 11 de Outubro de 2888, com um eclipse no eixo Carneiro-Balança. O primeiro eclipse total só acontecerá em 2167 com um eclipse no eixo Aquário-Leão. Nesta série, dado o primeiro e o último eclipse, existe uma união de sentido entre o fim e o início, entre a significação dos dois eixos. Esta ideia matriz serve, face ao actual eclipse, a consolidação, a integração na consciência humana que a Natureza é um ser vivo, com alma, que nasce, morre e renasce. O eixo Escorpião-Touro está a oferecer-nos uma profunda lição acerca do valor da Terra, da Mãe-Terra. Marco Aurélio diz-nos o seguinte: “Contempla o curso dos astros como se levado foras nas suas revoluções, e considera de contínuo como os elementos se transformam uns nos outros. Tal contemplação purifica-nos das nódoas da terra.” (Pensamentos VII, 47, trad. J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995). Fomos nós que colocámos as “nódoas da terra” e somos nós que as temos de tirar. 

  O início da série Saros 141 é marcado por alguns acontecimentos em torno da fundação da colónia americana de Jamestown. A 13 de Agosto de 1608 é submetida para publicação a história dos primeiros dias da colónia de John Smith e, a 10 de Outubro, este é eleito presidente do conselho colonial. A história de John Smith e de Pocahontas é um exemplo de aceitação do outro, da diferença e de criar laços afectivos com alguém que a maioria tende a rejeitar. Face à crise dos refugiados, da pobreza e das desigualdades sociais, o simbolismo por detrás desta história torna-se imperativo. Podemos encontrar astrologicamente esse sentido no trígono que, hoje, une os astros nos três signos de água. A sua significação congrega a tensão e a possibilidade. Séneca afirma o seguinte: “Pensa bem como esse homem que chamas teu escravo nasceu da mesma semente que tu, goza do mesmo céu, respira, vive e morre como tu. Tanto direito tens tu a olhá-lo como homem livre como ele a olhar-te como escravo” (Ep.47.10; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). Ora este é também o espírito da Saturnália e de Saturno (e Neptuno) em Peixes.

  A refundação da justiça social e das estruturas políticas, económicas e sociais estará intimamente relacionada com o medo de feminino que se apresenta com Marte em Caranguejo. A respeito de Marte convém referir-se que é o astro mais alto, em conjunção ao Ponto de Culminação. Este factor, aliado à posição de Plutão retrógrado em Aquário, junto ao Ponto Subterrâneo, embora em posição pós-polar e noutro signo, vai colocar sob pressão os fenómenos naturais extremos. O trígono de Água apresenta, neste eclipse, um sentido profundo. O medo de feminino é um sinal dos tempos, mas a forma abusiva como utilizamos os recursos do planeta também o é, e sobre estes dois eixos de acção e reacção vive a morte, a retribuição e a necessidade. A sombra do eclipse, com a Lua em Escorpião, revela-nos que, face à gravidade da desmedida, será apenas sob a terra queimada, sob as cinzas da história, que o renascimento acontecerá. O tempo pede, novamente, que os escravos se ergam e se tornem senhores. Essa é, como já observámos, a lição de Saturno em Peixes e que agora se une à do eclipse lunar.      

  A quadratura de Plutão em Aquário aos luminares e ao Dragão da Lua, a partir do lugar da Boa Fortuna, confirma a sua mensagem fundamental de que a morte paira sobre o humano e de que a semente do amanhã repousa ainda sob a terra, oculta no ventre da Grande Mãe. Não existe criação sem destruição. Essa é a ideia que nos deve servir de guia e que contribuirá para nos redimensionarmos. Os complexos humanos de super-homem deverão cair, pois a actividade humana tem sido exacerbada por um narcisismo desenfreado que quer que esqueçamos a nossa finitude, a nossa incompletude. É esvaziando-nos que nos tornámos plenos. O trígono de Vénus em Gémeos, no lugar do Deus Sol, a Plutão em Aquário indica a palavra do Amor que vence a dualidade, a separação. Porém, é sempre mais fácil distinguir do que congregar. Se por vaidade dizemos que reunimos, estamos a apenas a criar mais separação. A quadratura de Vénus a Saturno e Neptuno aponta para essa dificuldade. A teia que une a necessidade e a compaixão, criando possibilidade e redenção, exige esforço. Temos de primeiro nos perder, para depois nos encontrarmos, renovados e renascidos.

  Na casa da Grande Mãe, da Mãe Natureza, que é o signo de Touro, o Sol, Mercúrio, Úrano e a Caput Draconis expressam uma mensagem que se firma no ocaso da realidade. Fundar um novo modo de vida quando tudo o que se vê é morte é o desafio dos nossos tempos. A qualidade da morte alia-se aqui à noção de poente. O caminho de Júpiter em Carneiro avança para o seu fim, o que, neste tema, assume literalmente esse término. A acção do bem tornar-se-á a bondade da terra. Júpiter em Touro chegará com a dádiva de Gaia. Porém, a actual quadratura entre Júpiter em Carneiro e Marte em Caranguejo revela esse mesma dificuldade de acolher os dons da terra e do feminino. Neste eclipse lunar, este choque entre o grande benéfico e o grande maléfico assume um carácter de definição e prenúncio. A par do trígono de Água e do eixo do eclipse, este é um símbolo do futuro que resume a mensagem da actual ocultação luminar.

  O eclipse lunar de dia 5 de Maio, como lhe é natural, mas aqui um pouco mais acentuado, vai trazer consigo um conjunto de sentidos subliminares, como se sibilados pela Senhora do Tempo e da Necessidade. Nem tudo é literal, directo ou evidente, existem pois sentidos que preenchem a trama de um tear. A união de Júpiter em Touro e Saturno em Peixes, bem como a longa travessia de Vénus em Leão, assinalam uma era do feminino e o actual eclipse é a sombra que antecede a luz. Em suma, é sobre a sombra que se guarda a luz e iluminado é aquele que guarda a centelha da sabedoria.        

Sem comentários:

Enviar um comentário