segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Reflexões Astrológicas 2022: Eclipse Lunar Total - Lua Cheia Touro-Escorpião

  Reflexões Astrológicas


Eclipses



Eclipse Lunar Total 

(Lua Cheia: Touro-Escorpião)

Lisboa, 10h59min, 08/11/2022

 

Lua

Decanato: Lua

Termos: Júpiter

Monomoiria: Mercúrio  

 

Sol

Decanato: Sol

Termos: Mercúrio

Monomoiria: Vénus

 

O Eclipse Lunar Total de dia 8 de Novembro ocorre com a Lua no signo de Touro e o Sol no de Escorpião, com Capricórnio a marcar a hora (hora de Lisboa), no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este abaixo do horizonte, na V, no lugar da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), e a Lua acima, na XI, no lugar do Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων). A Lua encontra-se no seu próprio decanato, nos termos de Júpiter e monomoiria de Mercúrio. O Sol encontra-se também no seu próprio decanato, nos termos de Mercúrio e monomoiria de Vénus. Na hora de Lisboa, o eclipse dar-se-á cerca de quatro horas após o ocaso do Lua e o nascimento do Sol. A ocultação da Lua, do Feminino e da Deusa, quer pela condição natural do próprio eclipse lunar, quer por estar abaixo do horizonte no segmento do Sol, será mais evidente, tornando simbólico o caminho por trilhar.

Se seguirmos uma outra técnica, diferente daquela que utilizámos no passado eclipse solar e baseada na ascensão recta no período de maior magnitude, concluímos que o efeito deste eclipse pode ficar perto dos três meses. Por outro lado, se nos sustentarmos no tempo de duração do eclipse, podemos fixar então um efeito que vai de cerca de um mês e meio até perto dos quatro meses, o que, na verdade, não faz divergir em muito o resultado.

Estas diferentes formas de se calcular o tempo em que os efeitos de um eclipse estarão mais presentes servem sobretudo para demonstrar que existem outros modelos para além do ptolemaico e das horas equatoriais. O eclipse de dia 8 quer pelo tempo que se acabou de fixar, quer pelas suas próprias características astrológicas não terá um efeito externo evidente, todavia possuirá um grande efeito interno, ou seja, o seu efeito nascerá das profundezas tanto da Terra como da alma.

Quanto ao seu efeito espacial, devemos observar primeiro as lições antigas. Manílio que nos deixou o primeiro manual de Astrologia Helenística – sim, porque Doroteu não só poderá ser ligeiramente posterior como o seu livro chegou até nós ou em fragmentos ou em versões posteriores – diz-nos que Touro rege a Cítia, a Ásia, por causa dos Montes Tauro na Turquia, e a Arábia (Astronomica, IV, 744-817). Vétio Valente segue esta tradição e coloca Touro a reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, uma província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia (Antologia I, 2).

Por outro lado, o mapa da sombra do eclipse diz-nos, porém, que este abrange uma área que é quase a oposta à do eclipse solar de dia 25 de Outubro, pois, no actual a Europa e a África ficam quase excluídas do manto penumbral. O eclipse recairá sobre a Ásia, a Austrália, o Pacífico e as Américas. A regência astrológica sobre o continente Asiático coincide com as lições de Manílio e de Valente, confirmando as questões globais em torno da Rússia, da China, de Taiwan e das Coreias, bem como os problemas no Irão, no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão.

O efeito do eclipse sobre o Irão dará, por exemplo, continuidade aos actuais protestos políticos, bem como à sua repressão, e fará permanecer a questão em torno dos direitos das mulheres, embora esta seja uma questão que se colocará muito para além das fronteiras do Irão. Os avanços do populismo e da extrema-direita, tanto na Europa como nos Estados Unidos da América têm minado os direitos das mulheres. Em todos estes casos e, em especial, neste último, a descida da sombra, no tema astrológico de referência, sobre a terra e sobre o lugar que a Lua ocupa assume aqui um sentido literal que torna agora o símbolo uma realidade.    

Este eclipse insere-se na série Saros 136, uma série relativamente recente, que se iniciou com o eclipse de 13 de Abril de 1680 sobre o eixo Balança-Carneiro. Esta série terminará a 16 de Junho de 2383 no eixo Sagitário-Gémeos, mas o primeiro eclipse da série é aquele que serve de matriz. Neste caso, menos de um mês após o eclipse, já em Maio de 1680, o Krakatoa, entre as ilhas de Java e Sumatra, entra em erupção. Algo que é astrologicamente confirmado pela quadratura da Lua e da Caput Draconis em Balança e do Sol, de Úrano, Marte e da Cauda Draconis em Carneiro a Saturno e Plutão em Caranguejo. Encontramos, com frequência, nos eclipses e, em especial, nos eclipses lunares, uma certo efeito sobre os desastres naturais, sejam eles erupções vulcânicas, sismos, tsunamis ou furacões.

Para além da erupção do Krakatoa, deve-se salientar o grande o auto-de-fé de 30 de Junho na Plaza Mayor, em Madrid, e cuja imagética pode ser apreendida pelo quadro de Francisco Rizi, exposto no Museu do Prado. Ora este facto é perceptível pela quadratura de Mercúrio e Júpiter em Touro a Neptuno em Aquário. A humanidade tende a acreditar na cristalização dos valores e na certeza de que a forma de alguns serem e estarem é a única que se pode aceitar.

Umas semanas antes, a 10 de Junho, é assinado um tratado de defesa mútua entre Espanha e Inglaterra. O sextil entre Mercúrio e Júpiter em Touro a Vénus em Peixes favoreceu a assinatura deste tipo de tratado. Por fim, e já para além dos efeitos imediatos do eclipse, mas assinalável, é o primeiro avistamento do cometa de 1680 que passou, nomeadamente, do tom cinza ao vermelho, como se visse, no céu, um feixe de luz, primeiro Saturno e depois Marte. À semelhança dos cometas antigos, a passagem do cometa de 1680 será de extrema importância.       

Na série 136, o último eclipse parcial da primeira da fase deu-se a 14 de Setembro de 1932. A Guerra de Chaco, entre a Bolívia e o Paraguai, marca o período em redor do eclipse, em especial, a Batalha de Boquerón, ou seja, o cerco da fortaleza de Boquerón pelos paraguaios, que ocorreu entre os dias 9 e 29 de Setembro de 1932, durante o próprio eclipse. Já o primeiro eclipse total da segunda fase desta série Saros aconteceu no dia 26 de Setembro de 1950.

Várias das séries Saros em que se inserem os últimos eclipses, os dos últimos anos, tiveram eclipses que correspondem ao período da Guerra da Coreia, o que encerra um sentido profundo, pois as questões que aí surgiram vão marcar acontecimentos actuais e futuros. A área geográfica das duas coreias continua a ser uma ameaça à paz mundial, pois o gatilho de uma grande guerra tende a ser puxado em questões aparentemente circunscritas.

O eclipse de 1950 inclui-se nesse lote. Uns dias antes do eclipse, deu-se a Batalha de Inchon (15/09) e, entre os dias 31 de Agosto e 19 de Setembro, a Batalha do Rio Ham. Como sinal claro do agravamento do conflito, a China entra na guerra, fortalecendo a posição norte-coreana. De uma outra forma e do outro lado do mundo, no Brasil, Getúlio Vargas é eleito presidente (03/10) para o último mandato e que terminará com o seu suicídio (24/08/1954). Neste período, criou-se muitas das dicotomias que ainda hoje persistem na sociedade e política brasileira. O eclipse 26 de Setembro de 1950 definiu-se por um carácter que diverge do actual, pois a sua expressão era externa e manifestou-se de forma explícita na geopolítica do seu tempo. Já o actual eclipse funda-se num elemento de ocultação que, na verdade, se une à natureza primordial de um eclipse.     

Robert Hand diz-nos, em Essays on Astrology, que “Os antigos adoravam todas as formas de divindades femininas, a maioria das quais estavam relacionadas com a Lua de alguma forma.” (1982: 14. Atglen: Whitford Press). Existe uma persistência natural da Lua no Sagrado Feminino, mas que, na astrologia, é por vezes desvalorizada. O exacerbamento conceptual da actual astrologia psicológica sobre a Lua traduz, na verdade, o medo do feminino e a rejeição, muitas vezes inconsciente, do seu potencial.          Tem-se esvaziado a Lua astrológica do espanto primordial, teofânico, que define a Lua como Grande Deusa.

Na mitologia grega, Hesíodo diz-nos, na Teogonia, que Hemera, Ἠμέρα (o Dia), e o Éter, Αἰθήρ (a Luz Celestial), nasceram de Érebo, Ἔρεβος (as Trevas), e de Nix, Νύξ (a Noite). Esta escuridão que reside na origem continua hoje a indicar esse medo do feminino, que assusta e faz enraivecer homens e mulheres, enraizados no patriarcalismo e na fragilidade de um masculino estereotipado e na distorção do feminino. Aquele que emerge nas águas da Grande Mãe, da deusa Sige, tem medo de se perder.

É curioso que os gregos faziam uma distinção entre o Éter que representa a luz celestial e o céu dos deuses com Úrano, o céu da natureza e dos humanos. Isto é algo que hoje tendemos a esquecer e que nos leva, uma vez mais, a repensar os planetas para além de Saturno e o seu verdeiro sentido. No caso do eclipse lunar, este aspecto é particularmente importante, uma vez que Úrano se encontra com a Lua, abaixo do horizonte, no reino sob a Terra. É impossível, também pela ausência do elemento Fogo neste eclipse, não relacionar o mesmo com a imagem da caverna, visto que ela representa essa escuridão primordial, essa Noite a partir da qual tudo nasce. 

Na alegoria da caverna, Platão afirma o seguinte: se alguém o forçasse a olhar para a própria e luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar” (República 515e, trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 15ª ed., 2017). O medo do feminino, da escuridão uterina, revela, com uma frequência abissalmente comum, o medo da luz. Por norma, aquele que teme a sombra quebra também perante a luz. A revelação, tanto por aquilo que se oculta como por aquilo se expõe, causa quase sempre um temor avassalador, daí que aquele que aceita a luz e nasce da caverna do feminino seja rejeitado e vilipendiado. A excepção e o comum nunca andam de mãos dadas. Porém, tanto a escuridão como a luz, tanto a noite como o dia são o nosso único caminho.

Com o Sol, Vénus e Mercúrio em Escorpião, ambos sob os raios solares e Mercúrio no Coração do Sol, sendo estes, para o tema de Lisboa, os únicos acima do horizonte, o sentido de mediação, segundo aquilo que se oculta, ganha uma nova força, uma outra dinâmica. Na XI, no lugar do Bom Espírito, esta pulsão solar torna-se assim a nascente no interior da caverna, a origem do rio e da passagem. Caído o escorpião, uma águia erguer-se-á, mas engana-se aquele que julga que a águia é um escorpião benévolo, pois se um ataca escondido na terra, o outro precipita-se oculto no ar. A morte é, contudo, uma e a mesma.

Vénus em Escorpião é a sensualidade que mata e o desejo que envenena, é como a música dos UHF “Matas-me com o teu olhar”, e essa morte não é apenas erótica, é também bélica. A deusa do amor e da guerra passeia-se por entre as hordas. Já Mercúrio em Escorpião é palavra que eleva os mortos, o cântico do Psicopompo que guia as almas no submundo. Aqui a palavra é um demiurgo necromante que recupera a sabedoria do passado e dos ancestrais. Neste eclipse, se temermos a morte e os mortos, a destruição, não alcançaremos a sua mensagem.

Existe, porém, nesta palavra sussurrada uma dádiva que emerge: Júpiter e Neptuno em Peixes unem-se triangularmente a esta concentração de luz e sombra em Escorpião. O retorno de Júpiter a Peixes e o reencontro com Neptuno recupera a dádiva das Musas e das Graças. A criação nasce do bem e, mesmo que discreta, pode salvar o mundo. O novo humano nasce também da sua criatividade, daquela que nasce da solidão do espírito e não da vaidade no meio da multidão.

Com Marte em Gémeos, em retrogradação, olhando para trás, quadrangularmente, para Júpiter e Neptuno em Peixes, rangendo os dentes e arranhando os cotovelos, a inveja ficará à espreita e irá expandir esse azedume para com o outro com a força que evita o choque de olhar para si. A aversão do lugar do Sol e dos seus porta-estandartes, Mercúrio e Vénus, ou seja, de Escorpião ao lugar de Marte, Gémeos, revela também este desligamento radical, esta apostrofia tópica, que, neste eclipse, enfraquece o próprio Marte. Paralelamente, e por Marte estar fora do segmento de luz dominante, Saturno torna-se o grande maléfico, tornando estruturante, uma vez mais, o trígono com Marte. O destino coloca a retribuição e a desmedida sobre os excessos da humanidade.

Saturno em Aquário, neste eclipse na II, no lugar do Viver (hora de Lisboa), representa aqui a ameaça sobre os bens de primeira necessidade, sobre a dignidade humana, e a prevalência da desigualdade social sobre a justa distribuição da riqueza. Saturno lança quadrangularmente, a partir do reino sob a terra, os seus raios sobre o eclipse, sobre os astros em Touro e Escorpião, que devolvem a escuridão penumbral, enlaçando-a entre a vida e a morte. As raízes da Terra, com a Lua, Úrano e a Caput Draconis em Touro, na Boa Fortuna (V), junto à Cornucópia de Amalteia, querem lançar, em igualdade, a abundância sobre todas e todos, mas as trevas impedem o caminho do bem.

O grande benéfico, que é Júpiter em Peixes, une-se em trígono (Escorpião) e em sextil (Touro) aos luminares, ao Dragão da Lua e aos planetas que os acompanham e revela, de facto, a via do bem que se oculta sob a sombra do eclipse. Júpiter e Neptuno trazem, de novo, dando à humanidade a outra hipótese de anular os erros do passado, a dádiva da bondade e compaixão, de trazer a si, ao si que se revela depois do eu, a bênção da totalidade, da imersão da alma individual na alma do mundo. Plutão em Capricórnio contribui para esta dádiva com sextil aos astros em Escorpião e Touro, com o poder da morte e com a transformação radical de nos apercebermos que tudo nasce, morre e renasce, que o que se cria também se dissolve. O apego é uma outra senda que não pertence ao caminho do bem.            

Este eclipse lunar total, no eixo Touro-Escorpião, coloca o binómio luz-sombra sobre a vida e a morte, sobre a qualidade do viver e do morrer, estabelecendo sobre o que se cria e o que se perde novas estruturas de valor. Será, deste modo, e se for essa nossa vontade, a Deusa eclipsada, o Feminino renegado, a recuperar o absoluto que pertence à Terra.  

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