quarta-feira, 30 de novembro de 2022
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
terça-feira, 22 de novembro de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Sagitário
Reflexões Astrológicas
Lua Nova em Sagitário
Lisboa, 22h57min, 23/11/2022
Sol-Lua
Decanato: Mercúrio
Termos: Júpiter
Monomoiria: Marte
A Lua Nova de Novembro ocorre no signo de Sagitário,
com Leão a marcar a hora para o tema de Lisboa, e assim na V, no Lugar da Boa
Fortuna (ἀγαθή
τύχη), no decanato de Mercúrio, nos termos
de Júpiter e na monomoiria de Marte.
A sizígia dá-se, desta forma, abaixo do horizonte e cerca de três horas e meia
após o pôr-do-sol. O Sol encontra-se pois desfavorecido por estar fora do seu
próprio segmento de luz (αἵρεσις) e
abaixo do horizonte, já a Lua colhe as bênçãos da noite, embora esteja num
signo masculino. Recupera-se também aqui o elemento Fogo, ausente no tema do
eclipse lunar, e que reforça a força do intelecto.
Consequentemente,
a luz da sizígia, agora num signo de Fogo, encontra-se sob a terra, no útero de
Gaia. O olhar fixa-se então em Marte, como luz ascendente, e em Júpiter e
Saturno, como luzes que descendem. Úrano é a luz mais alta e Neptuno ladeia
Júpiter na sua queda. Porém, à hora do encontro dos luminares, todas estes
planetas, com a excepção de Saturno que se encontra conjunto ao Ponto do Ocaso,
se encontram retrógrados. Júpiter ficará directo cerca de cinco minutos após a
sizígia.
Esta
retrogradação, no hemisfério superior do tema, é particularmente significativa.
Saturno desaparece no horizonte e Marte, Úrano, Júpiter e Neptuno iludem o
olhar com seu movimento de retorno. Esta ilusão do movimento consagra a sua
impotência, a negação da potencialidade. O movimento volta a si mesmo, anulando
o potencial de acção. É um solipsismo e um ensimesmamento radical. No entanto,
como o movimento se estende no espaço e no tempo, esta negação tem uma
temporalidade restrita. A anulação do acto e o retorno a si tem um fim. A
questão que se coloca é saber se o período de ensimesmamento produziu uma
finalidade, um propósito que imerge de si mesmo e se torna acção.
Uma
Lua Nova em Sagitário obriga, de um outro modo, a reflectir sobre este signo de
passagem entre o animal e o humano. Se pensarmos no sistema tópico de casas,
tal foi primeiramente descrito, no século I EC, por Trasilo no Pínax (CCAG VIII/3: 99-101), e segundo a ordem vernal, Sagitário
ocupa então a IX, o lugar de Deus, já se olharmos para o mesmo sistema, mas
segundo a ordem do Thema Mundi, o
arqueiro ocupa a VI, o lugar da Má Fortuna, e é o outro signo, regido por
Júpiter (Peixes), que ocupa a IX, o lugar de Deus. Este aspecto firma um
sentido profundo, pois obriga, por um lado, a recuperar o potencial significativo
do Thema Mundi e, por outro, coloca o
valor conceptual de Sagitário para além da Sabedoria, frisando, todavia, a
mediação entre a luz e a sombra, entre o divino e o humano e entre o humano e o
animal.
Se o eixo-matriz do horizonte for, desta forma, o de
Caranguejo-Capricórnio, tal descreve o Thema
Mundi e seguindo a herança dos mistérios de Mitra, então o eixo da
pós-ascensão e do pós-declínio, daqueles que se seguem ao orto e ao ocaso, é o de
Gémeos-Sagitário. Curiosamente, ou não, este são os únicos signos duais de natureza
diversa (Peixes apresenta dois animais ou dois deuses de natureza similar).
Gémeos, segundo o mito de Pólux e Castor, apresentam um ser de natureza divina
ou semidivina e outro de natureza humana, já Sagitário indica um ser que é parte
humano e parte animal.
Sagitário é tradicionalmente associado ao centauro e se este
for Quíron, o seu pai será Cronos/Saturno, o regente do signo que, no Thema Mundi, está no Ocaso. Porém, os
centauros não utilizavam o arco e a flecha, o que leva Ps. Erastótenes a dizer
que este será Croto, o sátiro filho de Pã e Eufeme (cf. Rodolfo
Miguel de Figueiredo, Fragmentos
Astrológicas, 2021: 137-8, 149-50, 155-6). Neste caso, Pã relaciona-se com o carácter telúrico de Hermes/Mercúrio
(regente de Gémeos). Por outro lado, a relação de Croto com as Musas aponta
para a IX, o lugar de Sagitário na ordem vernal. Ora é o elemento de passagem
entre o animal e o humano que sobressai neste novilúnio. Podemos, no entanto,
congregar todas estas referências na mediação que a Sabedoria eleva entre as
trevas e a luz, ou seja, a Sabedoria funda o humano e aquele que a rejeita está
mais próximo da bestialidade do que da humanidade.
A Lua Nova de Sagitário, na V, no lugar da Boa Fortuna,
faz desta Sabedoria, uma promotora de abundância e torna-a, como elemento de
passagem, finalidade e destino. E se pensarmos bem, vemos, sem sombra de
dúvida, o quanto o mundo precisa de uma refundação segundo a Sabedoria. Porém,
a Sabedoria exige esforço e, para se tornar a fonte da abundância, é necessário
uma rejeição – a negação que anteriormente falávamos – da superficialidade. Marte
em Gémeos, opondo-se à sizígia, e como grande maléfico do tema, aquele que se
encontra no seu segmento de luz e acima do horizonte, firma-se na liquidez da
palavra, na mediação distorcida das falsas narrativas e na viagem pela
dualidade.
No caminho da luz que avança pelo submundo, é o Sol que
caminha na dianteira, seguido pela Lua, por Vénus e por Mercúrio, duas estrelas
do entardecer que assumem um carácter feminino, imaginativo e intuitivo. Existe
pois, nesta senda nocturna, uma acção criativa, um acto inaugural que acorda no
raiar da aurora. Este é um novilúnio em que a condição de espera, da virtude da
paciência e da tolerância, estará exacerbada. É o momento precioso e único em
que o arqueiro espera pelo destino da seta lançada. Pelo caminho, a seta
cruzará o lugar mais profundo do submundo (o IC) e a Cauda Draconis, lançando-se no destino e na morte, na destruição de
si mesma.
Júpiter e Neptuno em Peixes trazem, nesta lua nova, até
pelo fim anunciado da retrogradação de Júpiter e pela quadratura à sizígia e a
Vénus e Mercúrio, a passagem entre a dúvida e a esperança, ou a assunção da fé
como a outra via do caminho da verdade. Pistis-Sophia, a deusa da gnose
milenar, carrega assim, como anúncio de concórdia, essa união entre a dádiva de
Sagitário e a dádiva de Peixes. No entanto, a concórdia entre a sabedoria e a
fé exige um esforço. É o salto para o abismo, o precipitar-se do alto da
montanha. A quadratura dos benéficos (Júpiter e Vénus) indica esse labor do bem
que não anula a sua condição, mas frisa a necessidade de cuidado e diligência.
Crisipo de Solos diz-nos que “a justiça existe por natureza e não por convenção” (SVF
III, 308: φύσει τε τὸ δίκαιον εἶναι καὶ μὴ θέσει). Os sextis de Júpiter e Neptuno em Peixes a Úrano e à Caput Draconis em Touro e a Plutão em
Capricórnio reforçam a qualidade primordial da justiça, o seu enraizamento na
realidade. Naturalmente, quando se fala da justiça como condição natural é
impossível não relacionar este espírito de Júpiter com o tempo e a necessidade,
os atributos primordiais de Saturno. Estes aspectos anunciados inscrevem na liberdade
a justiça e a necessidade, é portanto livre aquele que cumpre, que realiza o seu
destino.
O Dragão da Lua, após o fim da segunda época anual de
eclipses, fortalece agora o seu sentido profundo. Fernando Pessoa definiu a Caput Draconis, afirmando que esta “é o escudo abstracto do destino” (Pessoa Inédito, ed.
Teresa Rita Lopes, 1993: 41. Lisboa: Livros Horizonte). Na cabeça do Dragão da
Lua, a Necessidade torna-se o fogo que, por ele lançado, ilumina a realidade,
já a cauda chicoteia o real com o peso do destino, da retribuição. Este animal
mítico é, na verdade, o derradeiro guardião do Sagrado Feminino, da Deusa da
Lua. A relação de Júpiter em Peixes (sextil e trígono) e Saturno em Aquário
(quadratura), bem como de Úrano de Touro (conjunção e oposição), de Neptuno em
Peixes (sextil e trígono) e de Plutão em Capricórnio (sextil e trígono), ao
Dragão da Lua no eixo Touro-Escorpião determina, deste modo, a força da roda da
fortuna sobre a realidade e sobre o humano.
Na continuidade da mensagem do Dragão da Lua, surge
Saturno tanto por estar fora do seu segmento de luz como pela posição
crepuscular. Este une-se, em sextil, ao Sol, à Lua, a Vénus e a Mercúrio, dando
ao peso da Necessidade sobre a Sabedoria uma qualidade significativa, ou seja,
o propósito da deusa Sophia, do Sagrado Feminino e da era do Espírito Santo,
como rosto feminino da Trindade, torna-se cada vez mais claro. A humanidade só
poderá ser uma unidade colectiva se o númen agregador for o da Grande Deusa. A
passagem de Saturno, em 2023, de Aquário para Peixes, de um signo masculino
para um feminino, cria essa ponte de sentido entre a humanidade e a totalidade.
Existe, no entanto, e aliás como sempre, uma resistência
patriarcal, mesmo daqueles que não se anunciam como prelados de valores
misóginos e androcêntricos. A quadratura de Marte em Gémeos a Júpiter e Neptuno
em Peixes e a oposição a Vénus em Sagitário cria, por um lado, uma tensão com
ambos os benéficos (Vénus e Júpiter) e, por outro, um conflito com o princípio
do Amor (Vénus) e com a sua exaltação (Neptuno), expressões do Sagrado Feminino.
A força disruptiva de Marte em Gémeos, agora em retrogradação, corrompe o
elemento mitológico de passagem entre o humano e o divino que o signo mutável
de Ar nos propõe, apresentando-nos a ruína inevitável da influência de certos
valores sobre o pensamento e os conceitos, sobre a palavra e o discurso.
A Lua Nova de Sagitário é a seta incandescente que ora
alumia o céu estrelado, ora cai e incendeia. O fogo da Sabedoria tem, de facto,
um potencial natural de iluminar a humanidade, mas reserva também para si, tal
como a lição do estoicismo antigo nos anuncia, o poder de conflagrar o mundo,
para o renovar ou o destruir.
quinta-feira, 17 de novembro de 2022
Mercúrio em Sagitário: De 17 de Novembro a 6 de Dezembro de 2022
quarta-feira, 16 de novembro de 2022
terça-feira, 15 de novembro de 2022
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Eclipse Lunar Total - Lua Cheia Touro-Escorpião
Reflexões Astrológicas
Eclipse Lunar Total
(Lua Cheia:
Touro-Escorpião)
Lisboa, 10h59min, 08/11/2022
Lua
Decanato: Lua
Termos: Júpiter
Monomoiria: Mercúrio
Sol
Decanato: Sol
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Vénus
O Eclipse Lunar Total de dia 8 de Novembro
ocorre com a Lua no signo de Touro e o Sol no de Escorpião, com Capricórnio a
marcar a hora (hora de Lisboa), no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este abaixo do
horizonte, na V, no lugar da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη),
e a Lua acima, na XI, no lugar do Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων). A Lua encontra-se no seu próprio decanato, nos termos de
Júpiter e monomoiria de Mercúrio. O
Sol encontra-se também no seu próprio decanato, nos termos de Mercúrio e monomoiria de Vénus. Na hora de Lisboa,
o eclipse dar-se-á cerca de quatro horas após o ocaso do Lua e o nascimento do
Sol. A ocultação da Lua, do Feminino e da Deusa, quer pela condição natural do
próprio eclipse lunar, quer por estar abaixo do horizonte no segmento do Sol,
será mais evidente, tornando simbólico o caminho por trilhar.
Se seguirmos uma outra técnica,
diferente daquela que utilizámos no passado eclipse solar e baseada na ascensão
recta no período de maior magnitude, concluímos que o efeito deste eclipse pode
ficar perto dos três meses. Por outro lado, se nos sustentarmos no tempo de
duração do eclipse, podemos fixar então um efeito que vai de cerca de um mês e
meio até perto dos quatro meses, o que, na verdade, não faz divergir em muito o
resultado.
Estas diferentes formas de se
calcular o tempo em que os efeitos de um eclipse estarão mais presentes servem
sobretudo para demonstrar que existem outros modelos para além do ptolemaico e
das horas equatoriais. O eclipse de dia 8 quer pelo tempo que se acabou de
fixar, quer pelas suas próprias características astrológicas não terá um efeito
externo evidente, todavia possuirá um grande efeito interno, ou seja, o seu
efeito nascerá das profundezas tanto da Terra como da alma.
Quanto ao seu efeito espacial,
devemos observar primeiro as lições antigas. Manílio
que nos deixou o primeiro manual de Astrologia Helenística – sim, porque
Doroteu não só poderá ser ligeiramente posterior como o seu livro chegou até
nós ou em fragmentos ou em versões posteriores – diz-nos que Touro rege a
Cítia, a Ásia, por causa dos Montes Tauro na Turquia, e a Arábia (Astronomica, IV, 744-817). Vétio Valente segue esta tradição e
coloca Touro a reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o
Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão,
mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia,
Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso,
da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais
ou Elamais (Cuzistão, uma província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia
e da Germânia (Antologia I, 2).
Por outro lado, o mapa da sombra do
eclipse diz-nos, porém, que este abrange uma área que é quase a oposta à do
eclipse solar de dia 25 de Outubro, pois, no actual a Europa e a África ficam
quase excluídas do manto penumbral. O eclipse recairá sobre a Ásia, a
Austrália, o Pacífico e as Américas. A regência astrológica sobre o continente
Asiático coincide com as lições de Manílio e de Valente, confirmando as
questões globais em torno da Rússia, da China, de Taiwan e das Coreias, bem
como os problemas no Irão, no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão.
O efeito do eclipse sobre o Irão
dará, por exemplo, continuidade aos actuais protestos políticos, bem como à sua
repressão, e fará permanecer a questão em torno dos direitos das mulheres,
embora esta seja uma questão que se colocará muito para além das fronteiras do
Irão. Os avanços do populismo e da extrema-direita, tanto na Europa como nos
Estados Unidos da América têm minado os direitos das mulheres. Em todos estes
casos e, em especial, neste último, a descida da sombra, no tema astrológico de
referência, sobre a terra e sobre o lugar que a Lua ocupa assume aqui um
sentido literal que torna agora o símbolo uma realidade.
Este
eclipse insere-se na série Saros 136, uma série relativamente recente, que se
iniciou com o eclipse de 13 de Abril de 1680 sobre o eixo Balança-Carneiro.
Esta série terminará a 16 de Junho de 2383 no eixo Sagitário-Gémeos, mas o
primeiro eclipse da série é aquele que serve de matriz. Neste caso, menos de um
mês após o eclipse, já em Maio de 1680, o Krakatoa, entre as ilhas de Java e
Sumatra, entra em erupção. Algo que é astrologicamente confirmado pela
quadratura da Lua e da Caput Draconis
em Balança e do Sol, de Úrano, Marte e da Cauda
Draconis em Carneiro a Saturno e Plutão em Caranguejo. Encontramos, com
frequência, nos eclipses e, em especial, nos eclipses lunares, uma certo efeito
sobre os desastres naturais, sejam eles erupções vulcânicas, sismos, tsunamis ou furacões.
Para
além da erupção do Krakatoa, deve-se salientar o grande o auto-de-fé de 30 de
Junho na Plaza Mayor, em Madrid, e cuja imagética pode ser apreendida pelo
quadro de Francisco Rizi, exposto no Museu do Prado. Ora este facto é
perceptível pela quadratura de Mercúrio e Júpiter em Touro a Neptuno em
Aquário. A humanidade tende a acreditar na cristalização dos valores e na
certeza de que a forma de alguns serem e estarem é a única que se pode aceitar.
Umas
semanas antes, a 10 de Junho, é assinado um tratado de defesa mútua entre
Espanha e Inglaterra. O sextil entre Mercúrio e Júpiter em Touro a Vénus em
Peixes favoreceu a assinatura deste tipo de tratado. Por fim, e já para além
dos efeitos imediatos do eclipse, mas assinalável, é o primeiro avistamento do
cometa de 1680 que passou, nomeadamente, do tom cinza ao vermelho, como se
visse, no céu, um feixe de luz, primeiro Saturno e depois Marte. À semelhança
dos cometas antigos, a passagem do cometa de 1680 será de extrema importância.
Na
série 136, o último eclipse parcial da primeira da fase deu-se a 14 de Setembro
de 1932. A Guerra de Chaco, entre a Bolívia e o Paraguai, marca o período em
redor do eclipse, em especial, a Batalha de Boquerón, ou seja, o cerco da
fortaleza de Boquerón pelos paraguaios, que ocorreu entre os dias 9 e 29 de
Setembro de 1932, durante o próprio eclipse. Já o primeiro eclipse total da
segunda fase desta série Saros aconteceu no dia 26 de Setembro de 1950.
Várias
das séries Saros em que se inserem os últimos eclipses, os dos últimos anos,
tiveram eclipses que correspondem ao período da Guerra da Coreia, o que encerra
um sentido profundo, pois as questões que aí surgiram vão marcar acontecimentos
actuais e futuros. A área geográfica das duas coreias continua a ser uma ameaça
à paz mundial, pois o gatilho de uma grande guerra tende a ser puxado em
questões aparentemente circunscritas.
O
eclipse de 1950 inclui-se nesse lote. Uns dias antes do eclipse, deu-se a
Batalha de Inchon (15/09) e, entre os dias 31 de Agosto e 19 de Setembro, a
Batalha do Rio Ham. Como sinal claro do agravamento do conflito, a China entra
na guerra, fortalecendo a posição norte-coreana. De uma outra forma e do outro
lado do mundo, no Brasil, Getúlio Vargas é eleito presidente (03/10) para o
último mandato e que terminará com o seu suicídio (24/08/1954). Neste período, criou-se
muitas das dicotomias que ainda hoje persistem na sociedade e política
brasileira. O eclipse 26 de Setembro de 1950 definiu-se por um carácter que
diverge do actual, pois a sua expressão era externa e manifestou-se de forma
explícita na geopolítica do seu tempo. Já o actual eclipse funda-se num
elemento de ocultação que, na verdade, se une à natureza primordial de um
eclipse.
Robert
Hand diz-nos, em Essays on Astrology,
que “Os antigos adoravam todas as formas
de divindades femininas, a maioria das quais estavam relacionadas com a Lua de
alguma forma.” (1982: 14. Atglen: Whitford Press). Existe uma persistência natural da
Lua no Sagrado Feminino, mas que, na astrologia, é por vezes desvalorizada. O
exacerbamento conceptual da actual astrologia psicológica sobre a Lua traduz,
na verdade, o medo do feminino e a rejeição, muitas vezes inconsciente, do seu
potencial. Tem-se esvaziado a Lua
astrológica do espanto primordial, teofânico, que define a Lua como Grande
Deusa.
Na
mitologia grega, Hesíodo diz-nos, na Teogonia,
que Hemera, Ἠμέρα (o
Dia), e o Éter, Αἰθήρ
(a Luz Celestial), nasceram de Érebo, Ἔρεβος (as
Trevas), e de Nix, Νύξ
(a Noite). Esta escuridão que reside na
origem continua hoje a indicar esse medo do feminino, que assusta e faz
enraivecer homens e mulheres, enraizados no patriarcalismo e na fragilidade de
um masculino estereotipado e na distorção do feminino. Aquele que emerge nas
águas da Grande Mãe, da deusa Sige, tem medo de se perder.
É
curioso que os gregos faziam uma distinção entre o Éter que representa a luz celestial
e o céu dos deuses com Úrano, o céu da natureza e dos humanos. Isto é algo que
hoje tendemos a esquecer e que nos leva, uma vez mais, a repensar os planetas
para além de Saturno e o seu verdeiro sentido. No caso do eclipse lunar, este
aspecto é particularmente importante, uma vez que Úrano se encontra com a Lua,
abaixo do horizonte, no reino sob a Terra. É impossível, também pela ausência
do elemento Fogo neste eclipse, não relacionar o mesmo com a imagem da caverna,
visto que ela representa essa escuridão primordial, essa Noite a partir da qual
tudo nasce.
Na
alegoria da caverna, Platão afirma o seguinte: “se alguém o forçasse a olhar para a própria
e luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos
objectos para os quais podia olhar” (República 515e, trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 15ª ed., 2017). O medo do feminino, da escuridão uterina, revela, com uma
frequência abissalmente comum, o medo da luz. Por norma, aquele que teme a sombra
quebra também perante a luz. A revelação, tanto por aquilo que se oculta como
por aquilo se expõe, causa quase sempre um temor avassalador, daí que aquele
que aceita a luz e nasce da caverna do feminino seja rejeitado e vilipendiado.
A excepção e o comum nunca andam de mãos dadas. Porém, tanto a escuridão como a
luz, tanto a noite como o dia são o nosso único caminho.
Com o Sol, Vénus e Mercúrio em Escorpião, ambos sob os
raios solares e Mercúrio no Coração do Sol, sendo estes, para o tema de Lisboa,
os únicos acima do horizonte, o sentido de mediação, segundo aquilo que se
oculta, ganha uma nova força, uma outra dinâmica. Na XI, no lugar do Bom
Espírito, esta pulsão solar torna-se assim a nascente no interior da caverna, a
origem do rio e da passagem. Caído o escorpião, uma águia erguer-se-á, mas
engana-se aquele que julga que a águia é um escorpião benévolo, pois se um ataca
escondido na terra, o outro precipita-se oculto no ar. A morte é, contudo, uma
e a mesma.
Vénus em Escorpião é a sensualidade que mata e o desejo
que envenena, é como a música dos UHF “Matas-me com o teu olhar”, e essa morte
não é apenas erótica, é também bélica. A deusa do amor e da guerra passeia-se por
entre as hordas. Já Mercúrio em Escorpião é palavra que eleva os mortos, o cântico
do Psicopompo que guia as almas no submundo. Aqui a palavra é um demiurgo
necromante que recupera a sabedoria do passado e dos ancestrais. Neste eclipse,
se temermos a morte e os mortos, a destruição, não alcançaremos a sua mensagem.
Existe, porém, nesta palavra sussurrada uma dádiva que
emerge: Júpiter e Neptuno em Peixes unem-se triangularmente a esta concentração
de luz e sombra em Escorpião. O retorno de Júpiter a Peixes e o reencontro com
Neptuno recupera a dádiva das Musas e das Graças. A criação nasce do bem e,
mesmo que discreta, pode salvar o mundo. O novo humano nasce também da sua
criatividade, daquela que nasce da solidão do espírito e não da vaidade no meio
da multidão.
Com Marte em Gémeos, em retrogradação, olhando para trás,
quadrangularmente, para Júpiter e Neptuno em Peixes, rangendo os dentes e
arranhando os cotovelos, a inveja ficará à espreita e irá expandir esse azedume
para com o outro com a força que evita o choque de olhar para si. A aversão do
lugar do Sol e dos seus porta-estandartes, Mercúrio e Vénus, ou seja, de
Escorpião ao lugar de Marte, Gémeos, revela também este desligamento radical,
esta apostrofia tópica, que, neste
eclipse, enfraquece o próprio Marte. Paralelamente, e por Marte estar fora do
segmento de luz dominante, Saturno torna-se o grande maléfico, tornando
estruturante, uma vez mais, o trígono com Marte. O destino coloca a retribuição
e a desmedida sobre os excessos da humanidade.
Saturno em Aquário, neste eclipse na II, no lugar do
Viver (hora de Lisboa), representa aqui a ameaça sobre os bens de primeira
necessidade, sobre a dignidade humana, e a prevalência da desigualdade social
sobre a justa distribuição da riqueza. Saturno lança quadrangularmente, a
partir do reino sob a terra, os seus raios sobre o eclipse, sobre os astros em
Touro e Escorpião, que devolvem a escuridão penumbral, enlaçando-a entre a vida
e a morte. As raízes da Terra, com a Lua, Úrano e a Caput Draconis em Touro, na Boa Fortuna (V), junto à Cornucópia de
Amalteia, querem lançar, em igualdade, a abundância sobre todas e todos, mas as
trevas impedem o caminho do bem.
O grande benéfico, que é Júpiter em Peixes, une-se em
trígono (Escorpião) e em sextil (Touro) aos luminares, ao Dragão da Lua e aos planetas
que os acompanham e revela, de facto, a via do bem que se oculta sob a sombra do
eclipse. Júpiter e Neptuno trazem, de novo, dando à humanidade a outra hipótese
de anular os erros do passado, a dádiva da bondade e compaixão, de trazer a si,
ao si que se revela depois do eu, a bênção da totalidade, da imersão da alma
individual na alma do mundo. Plutão em Capricórnio contribui para esta dádiva
com sextil aos astros em Escorpião e Touro, com o poder da morte e com a transformação
radical de nos apercebermos que tudo nasce, morre e renasce, que o que se cria
também se dissolve. O apego é uma outra senda que não pertence ao caminho do
bem.
Este eclipse lunar total, no eixo Touro-Escorpião, coloca
o binómio luz-sombra sobre a vida e a morte, sobre a qualidade do viver e do morrer,
estabelecendo sobre o que se cria e o que se perde novas estruturas de valor. Será,
deste modo, e se for essa nossa vontade, a Deusa eclipsada, o Feminino renegado,
a recuperar o absoluto que pertence à Terra.