segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Aquário

  Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Nova em Aquário

Lisboa, 05h46min, 01/02/2022

 

Sol-Lua

Decanato: Mercúrio

Termos: Vénus

Monomoiria: Mercúrio

 

            A Lua Nova de Fevereiro ocorre no signo de Aquário, com Capricórnio a marcar a hora – aquele que na Lua Nova de Janeiro marcava o Ocaso –, no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, com os luminares abaixo do horizonte e cerca de duas horas antes do nascer-do-sol (hora de Lisboa), no lugar do viver (βιός), no decanato de Mercúrio, nos termos de Vénus e na monomoiria de Mercúrio.

            Neste novilúnio, o lugar onde se dá sizígia, bem como os astros que a cercam, determinam um alinhamento que encontrará algo próximo do seu inverso na Lua Nova de Março, marcando um sentido que torna o céu palavra viva. Na Lua Nova de Aquário, não são apenas os luminares que, na barca de Ré, lutam contra Apófis, o senhor do Caos, pois, como um feixe de luz esperada, quase todos os planetas se alinham para subir e sair do reino subterrâneo. Só Úrano foge da linha, caminhando um pouco mais atrás. No entanto, é Marte, qual porta-estandarte, que vence o submundo, tornando-se o único acima do horizonte.

            Heraclito diz que “Pólemos é o pai de todas as coisas e de todas elas é soberano, a uns apresenta-os como deuses, a outros como humanos, a uns fá-los escravos, a outros homens livres.” (DK 22 B 53: Πόλεμος πάντων μέν πατήρ ἐστι, πάντων δέ βασιλεύς, καὶ τοὺς μέν θεούς ἔδειξε τούς δὲ ἀνθρώπους, τοὺς μέν δούλους ἐποίησε τοὺς δὲ ἐλευθέρους). Ora esta é a mensagem de Marte, pois pólemos (πόλεμος) indica a guerra, o combate, o conflito e a batalha. Marte em Capricórnio, no signo do poder e da culminação, no seu próprio segmento e exaltado, sai glorioso do submundo e traz consigo a força dos contrários e a finalidade do poder, algo bem presente em tempos eleitorais em que a desmedida quer vencer a democracia e a solidariedade.

            Os luminares fixam a sizígia em Aquário, no lugar do viver ou do modo de vida (βιός), fazendo-se acompanhar de Saturno, regente diurno do signo que os acolhe. A luz e o tempo constroem o humano. Ora os luminares, juntamente com Saturno, lançam os seus raios de forma abrasiva até Úrano em Touro e até ao Dragão da Lua (Caput Draconis), ou seja, a luz e o tempo geram um elemento de tensão com a vida e a natureza, com a liberdade que se vê e oculta. A luz da humanidade conhece assim a retribuição da natura naturans, da natureza como agente activo, compreendendo a ὕβρις da sua acção. O ser humano a cada dia que passa e que as alterações climáticas se tornam realidade visível aperceber-se-á que a natura naturata, a natureza passiva, era apenas uma ilusão que ele próprio criou. Gaia vive, age e reage, é senhora de si mesma.

            Se, por um lado, a tensão entre os luminares e Saturno em Aquário e Úrano em Touro apontam para a necessidade, mas também para a dificuldade, de transformar, de mudar as estruturas humanas cristalizadas, por outro lado, o conflito com o Dragão da Lua revela o imperativo de renovar o sentido profundo – a sombra onde o dragão/serpente se move – do caminho que traz a morte à vida, pois é também Úrano, unido ao Dragão da Lua, que acentua a revolução sobre a sua mensagem. Das brumas da necessidade, a luz obriga a mudança.

            Ora o caminho dragontino da morte ao viver (eixo nodal Escorpião-Touro), fazendo do conhecimento da morte o conhecimento da vida, ou seja, criando um absoluto que pertence à terra (a proposta de Hermann Broch), alia-se benevolamente a Marte, Vénus, Mercúrio e Plutão em Capricórnio (trígono à Caput e sextil à Cauda) e a Júpiter e Neptuno em Peixes (sextil à Caput e trígono à Cauda). Esta é uma união poderosa que nos signos de Capricórnio, Peixes, Touro e Escorpião firma um sentido profundo sobre o signo de Aquário, desafiando a proposta luminar. O humano e a humanidade erguem a palavra e o pensamento na Terra e na Água e destes colhem o alimento, a ambrósia, da sua transformação.

            Se os tempos futuros reforçam a premência de uma integração das qualidades essenciais do elemento Ar, criando um processo transformativo que elevará a ponte da mente ao intelecto, então o presente, esse agora que tende a fugir, obriga a uma assimilação das qualidades da Terra e da Água. O Eterno Feminino é a aurora do tempo futuro e é através da Mãe Eterna, da Sophia Nigrans e da Sophia Stellarum, da Sabedoria que é sombra e luz, que se alcançará o fogo sempre vivo, o Intelecto do Mundo.       

            A partir do leme (οἴαξ) da lunação, Marte, Vénus, Mercúrio Retrógrado e Plutão em Capricórnio definem o poder da finalidade, o almejar sustentado do termo do caminho. Essa consciência do fim sob a égide da força, do amor, da palavra voltada para si e da morte concede uma significação mimética à vida, mas também à superficialidade da nossa existência. A concentração destas planetas no signo de Capricórnio, que marca a hora, permite que o olhar da alma se fixe, não na planície, onde a observação se perde, mas sim no cume da montanha, na solitude plena de estar todo em si.

            Marte e Vénus em Capricórnio revelam o poder da união dos contrários, de um potencial de criação que une na vontade a força e o desejo. Este é o ímpeto radical que fita, firme e determinado, um certo alvo. Ora deste ímpeto pode nascer a vitória edificante ou o triunfo destruidor. A pulsão de Marte e Vénus é refreada, até dia 4, por um Mercúrio Retrógrado que torna a finalidade do poder um processo interior, uma construção de um novo eu onde a palavra se torna pensamento. Porém, Plutão vem trazer a esta reunião planetária a radicalidade da transformação e o poder da morte como condição de renascimento.

            Por o segmento de luz dominante ser o nocturno, Vénus é o grande benéfico, todavia, como está sob o horizonte, a sua luz é, neste novilúnio, uma dádiva partilhada que se une, por um lado, a Marte sobre o Orto e a Mercúrio Retrógrado, o Psicopompo do tema, junto a Plutão, senhor do submundo, e, por outro lado, tal como os seus companheiros, a Júpiter e Neptuno em Peixes (sextil) e a Úrano em Touro (trígono). As bênçãos destas uniões surgem sob um véu – Ísis oculta-se no centro do templo – e exigem uma acção.

            É preciso submergir no reino sob a terra, ir para além do visível e do carácter líquido das coisas comuns, da soma de todas as nossas vaidades. Não é por acaso que Júpiter e Neptuno vão surgir no horizonte depois dos luminares. A dádiva da bondade e da compaixão como formas de totalidade é algo que tem de ser procurado. Júpiter e Neptuno encontram-se no lugar da Deusa, na III, e assim sendo estas dádivas revelam-se sob a palavra do Feminino e o gesto da Lua. O espaço (Júpiter) pede portanto uma imagem (Neptuno) e a imagem pede o seu espaço. E essa imagem é a Grande Mãe, a Sabedoria, e o espaço que ela deve ocupar é a humanidade.

            Neste novilúnio, quando a luz da sizígia brilha escondida sob a terra no nosso modo de viver, o humano e a humanidade terão de encontrar o seu propósito, a finalidade do seu caminho, mas vão ter de levar consigo a bondade e compaixão. 


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