Reflexões Astrológicas
Lisboa, 05h46min, 01/02/2022
Sol-Lua
Decanato: Mercúrio
Termos: Vénus
Monomoiria: Mercúrio
A
Lua Nova de Fevereiro ocorre no signo de Aquário, com Capricórnio a marcar a
hora – aquele que na Lua Nova de Janeiro marcava o Ocaso –, no Segmento de Luz
(αἵρεσις) da Lua, com os
luminares abaixo do horizonte e cerca de duas horas antes do nascer-do-sol
(hora de Lisboa), no lugar do viver (βιός),
no decanato de Mercúrio, nos termos de Vénus e na monomoiria de Mercúrio.
Neste
novilúnio, o lugar onde se dá sizígia, bem como os astros que a cercam,
determinam um alinhamento que encontrará algo próximo do seu inverso na Lua Nova
de Março, marcando um sentido que torna o céu palavra viva. Na Lua Nova de
Aquário, não são apenas os luminares que, na barca de Ré, lutam contra Apófis,
o senhor do Caos, pois, como um feixe de luz esperada, quase todos os planetas se
alinham para subir e sair do reino subterrâneo. Só Úrano foge da linha,
caminhando um pouco mais atrás. No entanto, é Marte, qual porta-estandarte, que
vence o submundo, tornando-se o único acima do horizonte.
Heraclito
diz que ““Pólemos é o pai de todas as coisas e de todas elas
é soberano, a uns apresenta-os como deuses, a outros como humanos, a uns fá-los
escravos, a outros homens livres.” (DK 22 B 53: Πόλεμος πάντων μέν πατήρ ἐστι, πάντων δέ βασιλεύς, καὶ τοὺς μέν θεούς ἔδειξε τούς δὲ ἀνθρώπους, τοὺς μέν δούλους ἐποίησε τοὺς δὲ ἐλευθέρους).
Ora esta é a mensagem de Marte, pois pólemos
(πόλεμος) indica a guerra, o
combate, o conflito e a batalha. Marte em Capricórnio, no signo do poder e da
culminação, no seu próprio segmento e exaltado, sai glorioso do submundo e traz
consigo a força dos contrários e a finalidade do poder, algo bem presente em
tempos eleitorais em que a desmedida quer vencer a democracia e a solidariedade.
Os
luminares fixam a sizígia em Aquário, no lugar do viver ou do modo de vida (βιός), fazendo-se acompanhar de Saturno,
regente diurno do signo que os acolhe. A luz e o tempo constroem o humano. Ora
os luminares, juntamente com Saturno, lançam os seus raios de forma abrasiva
até Úrano em Touro e até ao Dragão da Lua (Caput
Draconis), ou seja, a luz e o tempo geram um elemento de tensão com a vida
e a natureza, com a liberdade que se vê e oculta. A luz da humanidade conhece assim
a retribuição da natura naturans, da
natureza como agente activo, compreendendo a ὕβρις da
sua acção. O ser humano a cada dia que passa e que as alterações climáticas se
tornam realidade visível aperceber-se-á que a natura naturata, a natureza passiva, era apenas uma ilusão que ele
próprio criou. Gaia vive, age e reage, é senhora de si mesma.
Se,
por um lado, a tensão entre os luminares e Saturno em Aquário e Úrano em Touro
apontam para a necessidade, mas também para a dificuldade, de transformar, de
mudar as estruturas humanas cristalizadas, por outro lado, o conflito com o
Dragão da Lua revela o imperativo de renovar o sentido profundo – a sombra onde
o dragão/serpente se move – do caminho que traz a morte à vida, pois é também
Úrano, unido ao Dragão da Lua, que acentua a revolução sobre a sua mensagem. Das
brumas da necessidade, a luz obriga a mudança.
Ora
o caminho dragontino da morte ao viver (eixo nodal Escorpião-Touro), fazendo do
conhecimento da morte o conhecimento da vida, ou seja, criando um absoluto que pertence à terra (a
proposta de Hermann Broch), alia-se benevolamente a Marte, Vénus, Mercúrio e
Plutão em Capricórnio (trígono à Caput
e sextil à Cauda) e a Júpiter e
Neptuno em Peixes (sextil à Caput e
trígono à Cauda). Esta é uma união
poderosa que nos signos de Capricórnio, Peixes, Touro e Escorpião firma um
sentido profundo sobre o signo de Aquário, desafiando a proposta luminar. O
humano e a humanidade erguem a palavra e o pensamento na Terra e na Água e
destes colhem o alimento, a ambrósia, da sua transformação.
Se
os tempos futuros reforçam a premência de uma integração das qualidades
essenciais do elemento Ar, criando um processo transformativo que elevará a
ponte da mente ao intelecto, então o presente, esse agora que tende a fugir,
obriga a uma assimilação das qualidades da Terra e da Água. O Eterno Feminino é
a aurora do tempo futuro e é através da Mãe Eterna, da Sophia Nigrans e da Sophia
Stellarum, da Sabedoria que é sombra e luz, que se alcançará o fogo sempre
vivo, o Intelecto do Mundo.
A
partir do leme (οἴαξ)
da lunação, Marte, Vénus, Mercúrio Retrógrado e Plutão em Capricórnio definem o
poder da finalidade, o almejar sustentado do termo do caminho. Essa consciência
do fim sob a égide da força, do amor, da palavra voltada para si e da morte
concede uma significação mimética à vida, mas também à superficialidade da nossa
existência. A concentração destas planetas no signo de Capricórnio, que marca a
hora, permite que o olhar da alma se fixe, não na planície, onde a observação
se perde, mas sim no cume da montanha, na solitude plena de estar todo em si.
Marte
e Vénus em Capricórnio revelam o poder da união dos contrários, de um potencial
de criação que une na vontade a força e o desejo. Este é o ímpeto radical que
fita, firme e determinado, um certo alvo. Ora deste ímpeto pode nascer a
vitória edificante ou o triunfo destruidor. A pulsão de Marte e Vénus é
refreada, até dia 4, por um Mercúrio Retrógrado que torna a finalidade do poder
um processo interior, uma construção de um novo eu onde a palavra se torna
pensamento. Porém, Plutão vem trazer a esta reunião planetária a radicalidade
da transformação e o poder da morte como condição de renascimento.
Por
o segmento de luz dominante ser o nocturno, Vénus é o grande benéfico, todavia,
como está sob o horizonte, a sua luz é, neste novilúnio, uma dádiva partilhada
que se une, por um lado, a Marte sobre o Orto e a Mercúrio Retrógrado, o
Psicopompo do tema, junto a Plutão, senhor do submundo, e, por outro lado, tal
como os seus companheiros, a Júpiter e Neptuno em Peixes (sextil) e a Úrano em
Touro (trígono). As bênçãos destas uniões surgem sob um véu – Ísis oculta-se no
centro do templo – e exigem uma acção.
É
preciso submergir no reino sob a terra, ir para além do visível e do carácter
líquido das coisas comuns, da soma de todas as nossas vaidades. Não é por acaso
que Júpiter e Neptuno vão surgir no horizonte depois dos luminares. A dádiva da
bondade e da compaixão como formas de totalidade é algo que tem de ser procurado.
Júpiter e Neptuno encontram-se no lugar da Deusa, na III, e assim sendo estas dádivas
revelam-se sob a palavra do Feminino e o gesto da Lua. O espaço (Júpiter) pede portanto
uma imagem (Neptuno) e a imagem pede o seu espaço. E essa imagem é a Grande Mãe,
a Sabedoria, e o espaço que ela deve ocupar é a humanidade.
Neste
novilúnio, quando a luz da sizígia brilha escondida sob a terra no nosso modo de
viver, o humano e a humanidade terão de encontrar o seu propósito, a finalidade
do seu caminho, mas vão ter de levar consigo a bondade e compaixão.
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