Reflexões Astrológicas
Eclipse Solar Total
(Lua Nova em Sagitário)
Lisboa,
07h43min, 04/12/2021
Sol-Lua
Decanato:
Lua
Termos:
Vénus
Monomoiria:
Lua
O
eclipse solar total de 4 de Dezembro marca o fim anunciado da presença do
Dragão da Lua, do eixo nodal, sobre o eixo Sagitário-Gémeos. Os nodos só
chegarão ao eixo Escorpião-Touro no dia 18 de Janeiro de 2022, mas este eclipse
marca o termo da mensagem, da sua proposta de sentido. O caminho da Sabedoria à
Palavra será substituído por aquele que leva a Morte à Vida, que define o valor
que vai da qualidade da morte até ao modo de viver. Essa via eleita de criação
e mistério foi proclamada como um prenúncio ou sinal no eclipse lunar do
passado dia 19 de Novembro, todavia, a mensagem do Dragão da Lua sobre os
signos de Sagitário e Gémeos ainda se faz notar e marcará de uma forma mais
intensa o período até ao dia 18 de Janeiro.
Este
eclipse pertence à série Saros 152, uma série recente, iniciada no século XIX.
O facto de esta série estender-se de 1805 até 3049 mostra e revela uma proposta
de futuro e a criação de uma nova individualidade e de nova autoridade, visto
que se inicia e se finda em eclipses no signo de Leão. A série Saros 152 é
marcada pelo sentido do poder seja ele sobre si próprio, sobre os outros ou
sobre a terra. O primeiro eclipse, a 26 de Julho de 1805, é definido
necessariamente pelas guerras napoleónicas. Nesse ano, Lord Nelson derrota
Napoleão em Trafalgar, mas, por sua vez, Napoleão vence, em Austerlitz, de
forma marcante, a Terceira Coligação. Este foi um ano de luz e sombra para a
Europa e para o leonino Napoleão.
A
primeira fase da série terminará com o eclipse de 21 de Outubro de 1949. Nesse
ano, uns dias antes e sob o patrocínio de Balança, é criada a República Popular
da China sob a liderança de Mao e a República da China é recolocada em Taiwan,
mas também, na Europa, nasce a República Democrática Alemã (RDA). Uns meses
antes, é criada a NATO e termina a Primeira Guerra Indo-Paquistanesa, bem como
a guerra Árabe-Israelita, a Guerra de Independência para os israelitas e “A
Catástrofe” para os palestinianos.
Por
outro lado, a fase central da série Saros, ou seja, a fase dos eclipses totais,
apresenta três eclipses até ao actual: o de 2 de Novembro de 1967, o de 12 de
Novembro de 1985 e o de 23 de Novembro de 2003. Nos dois primeiros, sob a égide
de Escorpião, encontramos, em 1967, a Guerra dos 6 Dias e a consequente
ocupação israelita da Faixa de Gaza, da Península do Sinai, da Cisjordânia e
dos Montes Golã, já em 1985, encontramos na URSS a ascensão de Gorbatchov ao
poder, o fim da Ditadura Militar no Brasil e da Guerra do Líbano, bem como o
escândalo, no segundo mandato de Reagan, da venda de armas americanas ao
governo iraniano de Khomeini.
De
um outro modo, temos nesse mesmo ano o grande terramoto na Cidade do México com
milhares de mortos (19 de Setembro) e algumas horas após o eclipse, já no dia
13 de Novembro, a tragédia de Armero com a erupção estratovulcão Nerado del
Ruiz em Tolima, Colômbia, com cerca de vinte mil mortos. A influência nefasta
de Escorpião é notória. Por fim, o eclipse de 2003 une-se ao um eclipse lunar,
do qual já falámos aquando do eclipse lunar parcial de 19 de Novembro de 2021,
e que determina os acontecimentos em torno da Guerra do Iraque e do fim do regime de Saddam Hussein.
Se, por um lado, a série Saros 152 confirma uma forte
influência político-militar, por outro lado, com Sagitário a marcar a hora e a
acolher o encontro eclipsado dos luminares e com o mapa da visibilidade do
eclipse de 4 de Dezembro definimos a sua influência geográfica. Sagitário
rege, segundo Ptolomeu (Apotelesmática,
II, 3), Tirrénia ou Etrúria (Toscana, Lácio e Úmbria), a Celtica, a Espanha e a Arabia
Felix (Iémen e Omã), já segundo Hiparco, Creta, Sicília, Itália, Ibéria (Heféstion
de Tebas, Apotelesmática, I, 1). Segundo
Valente (Antologia, I, 2), governa a
Etrúria (Itália), Gália (França), Espanha, Arabia
Felix (Iémen e Omã), Cilícia, Creta, Sicília, Itália, Chipre, o Mar
Vermelho, Casperia, as nações junto ao Eufrates, Mesopotâmia, Cartago, Mar da
Líbia, o Adriático, o Atlântico, os Tribálios (povo ilírio ou trácio), a
Báctria (Afeganistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Paquistão e China), o Egipto e
as regiões circundantes.
Já
o mapa da visibilidade do eclipse coloca-o na Antárctida, Sul de África e no
Atlântico Sul. Não nos coloca este numa área de particular relevância nas
alterações climáticas e na nova variante ómicron do vírus SARS-CoV 2? E não
será a Antárctida o continente determinante para o futuro do planeta Terra?
O
eclipse solar coloca o respectivo encontro dos luminares no mesmo lugar onde
Sagitário marca a hora, no Leme da Vida, com o Sol e a Lua ainda abaixo do
horizonte, no Segmento de Luz (αἵρεσις) nocturno,
aguardando a iminente hora de alba, na decanato da Lua, termos de Vénus e monomoiria da Lua. Esta é uma posição
que, tendo em conta o Eclipse Solar Total, confere uma qualidade radical de
ocultação da luz, de um manto negro caído sobre o mundo e a humanidade, mas
também de espera e esperança, de seguir a Sabedoria que revela a luz oculta e
que nos confirma que essa mesma luz chegará.
Nesta
hora escura, a única luz acima do horizonte é Marte em Escorpião, no lugar do
Mau Espírito (κακός δαίμων). É, porém, impossível não
reconhecer aqui as semelhanças com o tema do Eclipse Lunar Parcial de 19 de
Novembro, onde Sagitário também marcava a hora e onde Marte era igualmente a
luz mais alta. No entanto, neste evento astrológico, Marte ascende sozinho.
O
mais positivo dos astrólogos contemporâneos, renegando o olhar nefasto dos
astrólogos antigos sobre a sombra dos eclipses, terá com certeza dificuldade em
não sentir aqui o peso, a gravidade, da destruição e da morte, da opressão e do
sofrimento. Naturalmente, onde existem trevas, existe luz, pois mesmo ocultada
brilhará na noite escura, sob o manto do sábio, na chama da fé e da sabedoria,
da Deusa Pistis-Sophia. A via eleita traz-nos sempre rosas rubras de espinhos
aguçados. Ilude-se quem pensar que dar as mãos em grupinho e pensar positivo
evita o horror da realidade. E Marte em Escorpião sobre a sombra que recai nos
luminares obriga a esse choque com o real. Não existe uma verdadeira
transformação pela luz se vivermos dissociados da realidade numa qualquer bolha
de ilusão espiritual.
A
chegada próxima de Júpiter a Peixes, onde se encontra Neptuno, força a visão de
totalidade e a expansão inevitável do horizonte que é a empatia e a compaixão.
A quadratura de Neptuno, em Peixes, agora Directo, ao Sol, à Lua e a Mercúrio em Sagitário surge
hoje como súplica, como um pedido urgente de se unir a Sabedoria ao Amor
Universal. Se virarmos as costas ao outro, ignorando quem sofre, porque embarcámos
numa viagem até ao templo de todas ilusões, de todas as vaidades, não existe
salvação para a humanidade e a sombra triunfará.
Na
sombra, a luz dos luminares une-se em sextil a Júpiter e Saturno. A luz
constrói sob o seu próprio véu uma resistência que perdura no espaço e no
tempo. Se a humanidade se unir à sabedoria, a luz triunfará. Essa é a proposta
de acção deste sextil e, considerando-se que um sextil traz consigo maior
liberdade que um trígono, ou seja, força a acção sobre o possível e não sobre o
destino, a estruturação que, no signo da humanidade (Aquário), Júpiter e Saturno
concedem permite um acto transformador da vontade, aquele que no signo da
sabedoria (Sagitário) leva a sua dádiva à palavra, à construção da realidade
(eixo nodal Sagitário-Gémeos).
A
posição posterior de Mercúrio face ao Sol apela a esse lado criador da palavra.
Mercúrio, enquanto Estrela da Tarde, gera a poesia da realidade, a
representação do sentido profundo dos mistérios. Em Sagitário, a palavra de
Mercúrio torna-se assim viagem, elemento radical de passagem. Porém, também ela
se ressente da luz eclipsada com quem partilha a presença, adquirindo, desse
modo, uma qualidade de potência não efectivada, mas consciente do espaço e do
tempo.
No Lugar
do Viver (II), onde se cria o modo de vida, atribuindo-lhe um valor, o amor
beija a morte no signo do poder (Vénus e Plutão em Capricórnio). A longa
estadia de Vénus em Capricórnio (de 5 de Novembro a 6 de Março), incluindo o
período retrogradação (de 19 de Dezembro a 29 de Janeiro) concede uma união do
amor ao poder ordenado do tempo. Esta posição conjuga, por força da
necessidade, aquilo se deseja e se atrai com aquilo que se faz e se almeja.
Ora, neste lugar, existe uma ligação tripla entre o amor, o poder e o viver e o
valor da vida é encontrado nessa ligação.
A
expressão de Vénus funde-se com a Plutão, trazendo a morte, o renascimento e a
transformação para essa valor da vida. Face ao facto do Segmento de Luz
dominante ser o nocturno, Vénus torna-se o grande benéfico espalhando as suas
bênçãos até Marte (sextil), Úrano (trígono) e Neptuno (sextil). Com este
último, o Amor Universal surge como valor e fundação, mas é com Marte e Úrano
que a sua acção é determinante, pois, pela intensidade da dádiva, atenua a sua
acção nociva.
Para
se avaliar o peso que o eixo Marte-Úrano coloca, de uma forma, sobre os luminares
e Mercúrio e sobre o corpo do Dragão da Lua, visto que envolve o eixo do
horizonte, mas também sobre o Júpiter e Saturno e, de outra forma, sobre
Neptuno (trígono), sobre Vénus e Plutão (sextil) e sobre o Ponto de Culminação
(sextil), temos que considerar o sentido do termo δαίμων.
Este nasce com o sentido de deus ou deusa, de divindade ou poder divino, mas
também de alma, em especial, das almas da Era de Ouro, e dessa forma tem também
sentido de destino, do lote ou quinhão que coube ou foi distribuído a cada um.
Ora é a partir daí que nasce o significado de génio, de demiurgo, de ser de
passagem, desenvolvendo-se, com uma acepção muito negativa e deturpada,
enquanto demónio. Na astrologia, o termo surge essencialmente associado a dois
lugares ou casas (XI e XII) e a um lote ou parte (Lote ou Parte do Espírito),
mas também em íntima relação com o termo τύχη, Fortuna.
Úrano
em Touro no Lugar da Má Fortuna (κάκη τύχη) e Marte em Escorpião
em Lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων) trazem consigo
e levam aos outros o sentido maligno de uma má mediação seja ela pelo Espírito
ou pela Fortuna. A Revolução da Terra (Úrano em Touro) e a Força do
Renascimento (Marte em Escorpião), em conjugação com a propínqua mudança do
eixo nodal, conduzem a um leque de transformações intensas que, na maioria dos
casos, não surgirão de forma pacífica ou benigna. A pandemia está longe de
estar controlada ou ultrapassada. As alterações climáticas vão ser cada vez
mais evidentes e os seus efeitos mais destrutivos.
As
crises financeiras, em especial, aquelas relacionadas com cripto-moedas e com
novas formas de especulação, nomeadamente imobiliárias, estão à espreita. As
desigualdades sociais e as migrações, com a crise dos refugiados, forçam o
sentido fundamental da solidariedade. Os movimentos de extrema-direita ameaçam
as democracias. Os conflitos geopolíticos e militares podem surgir ou
agravar-se.
As
quadraturas de Marte a Júpiter e Saturno e destes a Úrano potenciam estas
situações. Estes não são tempos de paz, mas também não deixar de ser tempos de
fé e esperança. Neptuno junto ao Ponto Subterrâneo faz do Amor Universal e da
fé uma fundação da realidade. Por outro lado, o Ponto de Culminação em Virgem
recentra o serviço ao próximo e ao planeta como cume e salvação.
Júpiter
e Saturno, lado a lado, no Lugar da Deusa (III), continuam a estabelecer os
pilares da realidade. No entanto, pelo facto do Eclipse se fixar no segmento de
luz nocturno, Saturno torna-se o grande maléfico. O senhor do tempo impede a
expansão de Júpiter, restringe e constringe as suas dádivas, ou seja, Saturno
coloca a Roda da Necessidade sobre o Bem, a Beleza e a Justiça. Némesis
determina assim a acção. No Lugar da Deusa, Júpiter e Saturno reafirmam o
imperativo de se criar novas formas de comunicação e conhecimento, pedem portanto
uma mediação assente na Sabedoria.
Vivemos
num tempo que ameaça o valor da verdade e onde o imediatismo desfaz a exigência
do rigor. Ora a ligação de Júpiter e Saturno ao Dragão da Lua (trígono à Caput Draconis e sextil à Cauda) confere um poder de disposição e
ordem à sua proposta de sentido e, por estarem no Lugar da Deusa, traçam um
caminho de salvação, de catarse, que é o Eterno Feminino, o regresso da Deusa
Sophia. A Palavra, o verbo que cria, nasce da Sabedoria e a via do futuro é
esse caminho de origem.
O
encontro eclipsado dos luminares no decanato e monomoiria da Lua e termos de Vénus, num signo masculino, mas
intimamente relacionado com a Sabedoria e com a Deusa Pistis-Sophia, traz a
este eclipse um simbolismo profundo que faz da Grande-Mãe, da Sabedoria, esse
elemento de passagem que traz a luz das trevas, tornando-a a Iluminada e
Iluminadora. Nesse sentido, é a Virgem Negra que carrega em si, qual gestante,
a Luz da Sabedoria. Os eclipses, sob a égide do eixo nodal Sagitário-Gémeos,
concedem o dom da viagem e da passagem, do caminho entre dois elementos.
Da
Sabedoria à Palavra, o Novo Humano nascerá, formando-se na nova senda, aquela
vai da Morte ao Viver. Esta proposta de sentido e, sobretudo a transformação
exigida pela mudança axial, vai vigorar, intensificando-se, desde este eclipse
até ao eclipse solar parcial do dia 30 de Abril de 2022. A Luz, de uma forma de
outra, fará o seu caminho, mas somos que escolhemos onde ela brilhará.
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