"A Grande Mãe é virgem, mas num sentido diferente do que o patriarcado, mais tarde, entendeu erroneamente como símbolo de castidade. Justamente por ser fecunda e parturiente, ela é virgem, isto é, 'não relacionada' e não dependente de um homem. Em sânscrito, 'mulher independente' é sinónimo de meretriz. Assim, a mulher que não está ligada a um homem é não apenas um tipo feminino universal como também um tipo sagrado na antiguidade. (...)
Por conseguinte, a deusa da fertilidade é tanto mãe como virgem; a hetaira, que não pertence a nenhum homem, mas está pronto a dar-se a cada um. Ela está à disposição de todo aquele que, tal como ela, esteja ao serviço da fertilidade. Voltando-se para o seu ventre, ele serve a ela, a sagrada representante do grande princípio da fertilidade. Deve-se entender o 'véu de noiva', nesse sentido, como o símbolo da kedesha, a meretriz. Ela é 'desconhecida', isto é, anónima. Ser desvelada significa aqui ser desnudada, mas isto é apenas outra forma de anonimato. O factor real e operativo é sempre a deusa, o transpessoal."
Erich Neumann, História da Origem da Consciência, pp. 55-6. Tradução Margit Martincic. São Paulo: Editora Cultrix, 1990.
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