sexta-feira, 28 de outubro de 2022
Júpiter em Peixes: De 28 de Outubro a 20 de Dezembro de 2022 (3º e Último Ingresso)
terça-feira, 25 de outubro de 2022
Leitura do Poema "A Humanidade em Tempos Sombrios", dedicado à minha filha.
Livro: O Resto Permanece Humano: Livro I
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Eclipse Solar Parcial - Lua Nova em Escorpião
Reflexões Astrológicas
Eclipse Solar Parcial
(Lua Nova em Escorpião)
Lisboa, 12h00min, 25/10/2022
Sol-Lua
Decanato: Marte
Termos: Marte
Monomoiria: Vénus
O
Eclipse Solar Parcial de 25 de Outubro ocorre no signo de Escorpião, com Sagitário
a marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, com os luminares acima do horizonte, embora na XII,
também designada de Pós-Ascensão, o lugar da Má Fortuna (κάκη τύχη),
e a cerca de quatro horas após o orto solar (hora de Lisboa), no decanato e
termos de Marte e na monomoiria da Vénus.
Os eclipses, no eixo nodal Escorpião-Touro, serão particularmente expressivos
até ao eclipse total de 20 de Abril de 2023, já em Carneiro, embora a
influência de alguns destes eclipses, como o actual, se estenderá pelos
próximos anos, marcando assim essa ponte entre a morte a vida, entre as
estruturas de valor que constroem a realidade e alimentam a nossa actividade.
A
distribuição planetária pelo tema consolida a ideia – e que aliás será demonstrada
pela matriz da série Saros em que este eclipse se insere – de que os elementos
estruturantes (Terra e Ar) actuam agora de forma mais activa do que os
elementos dinâmicos (Água e Fogo). Em primeiro lugar, deve-se estabelecer as
fundações da uma nova realidade para depois colocar em movimento as novas
forças criativas. Porém, metade dos astros, se considerarmos os transaturninos,
encontram-se abaixo da linha do horizonte, o que potencia, no elemento Água, o princípio
de sombra uterina do próprio eclipse.
Mercúrio
é a luz mais alta e a Estrela da Manhã, mas o eclipse ocultará a sua luz, bem
como a de Vénus, a Estrela da Tarde, e, junto ao Poente, caindo para o reino
sob a Terra, a de Marte. O número pode assim encobrir o sentido preciso e
profundo deste eclipse, ou seja, Escorpião, qual timoneiro da morte, encerra em
si, como um nevoeiro denso e temível, as chaves do abismo, e sem se descer ao
abismo não se sobe à montanha. Essa é a dureza da verdade e do caminho da
sabedoria, é como uma via iniciática que se trilha com esforço desapegado e
despido de toda a vaidade.
Um
eclipse tem o potencial extraordinário de colocar a sombra e a luz sobre o
tempo e espaço, ocultando e revelando a sua dádiva. Ora, em termos geográficos
e segundo as lições da astrologia antiga, Manílio refere primeiramente que
Escorpião governa Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82), enquanto Vétio Valente (Antologia I,2)
diz-nos que Escorpião rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia,
Creta, as ilhas Cíclades, o Peloponeso, a Arcádia, Cirene, a Dória, a Sicília, a
Pérsia, Metagonitis ou a Numídia (Norte
de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África,
Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália,
Cartago, a Líbia, Amom (Jordânia),
Espanha e Roma.
A sombra do actual eclipse cobre de
facto muitas destas áreas, estendendo-se desde a Islândia até ao norte da
Mongólia, entre o norte de África e o Médio Oriente e as regiões árcticas. No
entanto, o centro do eclipse ocorre entre as cidades russas de Surgut e de Nizhnevartovsk,
na planície siberiana ocidental. Estas são duas cidades cuja riqueza resulta especialmente
do gás natural e do petróleo, alertando-nos para um agravamento da crise dos bens
de primeira necessidade. Aquilo que tem valor está sob julgamento. De uma forma
simplista e animada pela propaganda ocidental, dir-se-ia que a sombra da morte recairá
sobre a Rússia e que a Ucrânia inverterá o ónus bélico, mas o lugar da morte
pode também ser o sítio a partir do qual ela se expande, o seu actual
domicílio. A guerra é sempre guerra e a humanidade perde sempre.
Independentemente da perspectiva, a
realidade diz-nos que será a partir deste território, seja qual for o lado das
barricadas, que as hordas de falsos valores conduzirão a humanidade até às suas
ruínas. A lição de uma sizígia sob corpo do Dragão da Lua e no signo de
Escorpião remete-nos para uma concentração de luz e sombra num elemento
destrutivo e este não é apenas a guerra, vai muito para além dela, pois coloca-nos
no limiar do abismo, sem a segurança do fio de Ariadne, e obrigando-nos a centrar,
ou recentrar, no essencial. Joseph Campbell, em O Poder do Mito, diz-nos: “Ama os teus inimigos porque eles são os
instrumentos do teu destino.” (trad.
J. F. Moisés, 174. São Paulo, 1990: Palas Athena).
E, para aquele que se firma somente na vida (Touro) não existe maior inimigo que
a morte (Escorpião), mas a vida e a morte, seja pela aceitação ou pelo temor,
são os instrumentos originais do nosso destino.
O
tempo, face ao destino, surge assim como a cruz que se carrega por amor. O Amor
de Deus vive na totalidade do tempo, na eternidade, todavia, o humano teme o
instante e a eternidade, pois estes são, na verdade, um e o mesmo. A
Necessidade, neste eclipse, traça os seus ditames de forma oculta. Se, de uma forma
um pouco diferente do método ptolemaico, considerarmos três factores antigos, ou
seja, o avanço de 10º do eixo nodal a cada eclipse de uma série Saros, a
magnitude do eclipse e os tempos de ascensão para o centro do eclipse,
constatámos então que a influência deste eclipse poder-se-á estender dos seis
meses até aos quatro anos e meio. Este efeito funda-se num sentido que se
encontra profundamente enraizado nas transferências de luz e sombra da presente
série Saros.
Bernadette Brady, em Predictive Astrology, acerca do conceito
de série Saros, afirma o seguinte: “Imagine-se
todo o conceito como uma floresta. Cada série Saros é uma árvore na floresta e
cada eclipse é uma folha dessa árvore em particular.” (2022: 196.
Newburyport: Weiser Books. Originalmente: The
Eagle and the Lark, 1992).
Cada série Saros produz um eclipse solar a cada 18 anos e 9 ou 11 dias,
consoante os anos são bissextos, e estender-se-á por cerca de 650 anos. À
medida que a série avança, cerca de 10 graus a cada eclipse, o eclipse acontece
mais perto do eixo nodal, reduzindo-se a orbe entre o eixo e eclipse. Se a
série começou no Pólo Norte, ela terminará no Pólo Sul, e vice-versa. Existe
neste conceito não só um sentido profundo, riquíssimo para a Astrologia Mundana
ou Global, mas também uma enorme beleza.
O
primeiro eclipse de uma série e o seu tema astrológico servem de matriz para
toda a série, é o seu tema genetlíaco. A
série Saros 124 começou com o eclipse de 3 de Março de 1049. Ora, a 12 de
Fevereiro, Leão IX tornou-se papa e este será o pontífice que marcou, até 1054,
o período que conduziu ao Grande Cisma, à separação entre a igreja católica e a
igreja ortodoxa. Pode parecer, à primeira vista, apenas um acontecimento ou
fenómeno espiritual, todavia, este cisma estabeleceu um conjunto de alterações
políticas que subsistem até aos nossos dias. Por outro lado, o último eclipse
da primeira fase, isto é, da primeira fase eclipses parciais, deu-se a 1 de
Junho de 1193. Uma data que consolidou o desfecho da terceira cruzada: morre
Saladino e o rei Ricardo I, no seu regresso, é capturado por Leopoldo V, duque
da Áustria, e entregue ao imperador Henrique VI, por suspeita de envolvimento
no assassinato de Conrado de Monferrato, eleito rei de Jerusalém.
O Sol, a Lua, Vénus e Mercúrio em Peixes, no eclipse
matriz (06/03/1049), em sextil a Saturno em Capricórnio e também Neptuno em
Carneiro em sextil a Júpiter e Plutão em Aquário favorecem estes acontecimentos
e determinam uma tendência que está presente em toda a série. De facto, no
primeiro eclipse total que assinala o início da segunda fase (12/06/1229), os
factos históricos prosseguem em sentido similar, pois, nesse ano, termina a
sexta cruzada na Terra Santa e é assinado o Tratado de Paris que impõe o fim da
cruzada albigense que, por consequência, leva a igreja católica a estabelecer
permanentemente o Santo Ofício da Inquisição em Roma, chefiado pela ordem
dominicana.
A segunda fase da série Saros 124, aquela em que
ocorreram os eclipses totais, estendeu-se até ao eclipse total de 22 de
Setembro de 1950 ou até ao eclipse híbrido de 3 de Outubro de 1986. No
primeiro, a Guerra da Coreia domina o panorama geoestratégico mundial, mas
também ideológico. Deve-se destacar que, na data do próprio eclipse, começou a
Segunda Batalha de Seul e, no dia seguinte, a Batalha da Colina 282. Já na data
do eclipse híbrido, convém salientar o sismo de San Salvador (10/10/1986) e o encontro
de Reagan e Gorbatchev, em Reiquiavique, para se discutir a redução do arsenal
bélico. Este encontro falhou o seu propósito. Porém, do ponto vista
astrológico, o centro do eclipse ocorreu na costa da Islândia, confirmando o
seu sentido.
A terceira e última fase da série iniciou-se com o
eclipse parcial de 14 de Outubro de 2004 e terminará a 11 de Maio de 2347. No
eclipse de 2004, menos de duas semanas após o mesmo, assinou-se o Tratado de
Roma, a primeira constituição europeia. É assim bastante evidente que esta
série está profundamente enraizada em valores espirituais e políticos, todavia,
quando são colocados em acção, assumem-se, com frequência, quer como promotores
de concórdia, quer como fontes de intolerância e até de totalitarismo. A
intensidade maléfica do actual trígono de Ar, ou seja, Mercúrio em Balança, Marte
em Gémeos e Saturno em Aquário, possui muitos dos elementos que corromperam o
pensamento, as ideias e a comunicação. A superficialidade com são abordados
muitos dos temas é exemplo disso mesmo, bem como o poder disruptivo da
propaganda e da desinformação.
A aversão entre o eclipse, entre a posição dos luminares
e de Vénus em Escorpião, e Marte em Gémeos estabelece-se com profundidade, pois
não se funda apenas na posição geométrica e na respectiva ausência de aspecto
ptolemaico, mas também no facto de o regente domiciliar do eclipse se encontrar
neste lugar disfuncional, onde a morte da sombra e da luz, sugerida pelo
eclipse, é de facto anunciada. Existe aqui, nesta aversão, uma destruição que
não é explícita, mas que se oculta no prenúncio de Hades, na sua sombra sob a
terra, sob o reino de Deméter. A relação do eclipse com Júpiter em Carneiro
fundamenta-se também numa aversão, contudo, quer por ser um benéfico, quer por
não ter a mesmo dignidade em Escorpião ou ainda pelo trânsito futuro por Peixes
e depois por Touro, não assume o mesmo carácter que Marte em Gémeos.
O segmento de luz intensifica também o carácter maligno
de Marte, fazendo deste o grande maléfico do eclipse. Já Saturno em Aquário,
apesar de atenuado pelo segmento de luz diurno, une-se quadrangularmente com os
luminares e com Vénus. Este traz consigo a morte de Penteu, o rei de Tebas que
casou com Harmonia, filha de Afrodite e Ares. As bacantes, adoradoras de
Dioniso, confundem, no seu frenesim, Penteu com um javali e matam-no. É Dioniso
quem leva as bacantes a cometer o acto, porque Penteu renegava o deus e
desrespeitava o seu culto. O carácter apolíneo de Penteu, enraizado aqui em
Touro, opõe-se ao dionisíaco, à expressão de Escorpião e este é o eixo nodal, o
corpo do Dragão da Lua, que rege este eclipse. Saturno em Aquário concede
quadrangularmente, com peso, com gravidade, a este eixo e a esta oposição entre
Apolo e Dioniso, entre Touro e Escorpião, a ὕβρις,
a desmedida. Existe, deste modo, uma nova tensão nas fundações da Natureza.
A relação do eclipse com os transaturninos pode encontrar
também aqui uma matriz de sentido que é mitológica e astrológica. Se Escorpião
é Dioniso, então a sombra do eclipse vai levar a estes planetas o êxtase da
destruição, o frenesim da separação, aquele em que o indivíduo se perde,
emergindo num delírio espiritual e místico. As profundezas reservam para si
esse poder. Tem de existir uma renovação pela morte. Esta é a condição necessária
para o renascimento, para a chegada de uma nova luz. A sabedoria voltará a
brilhar, pois morto o velho humano, o novo nascerá.
A forma como, no entanto, este princípio leva os seus
raios aos planetas transaturninos obriga-nos a rever a estrutura conceptual que
lhes outorgarmos, pois se analisarmos com cuidado a mitologia de Úrano, de
Neptuno e de Plutão, percebemos que podemos estar a cair numa falácia. Quando,
para facilitar a interpretação, a astrologia contemporânea colou o significado
dos signos primeiro ao significado das casas na ordem vernal e depois destas
aos seus regentes, criou-se um sentido que pode ser desadequado e exagerado. Algo
que, pelo peso da tradição, não aconteceu com os restantes planetas. Contrariou-se,
por exemplo, o valor conceptual do thema
mundi e o significado tópico do sistema de casas, ambos criados pela matriz
hermética da astrologia antiga. A mitologia pode refundar estes conceitos e
trazer outros sentidos aos transaturninos.
A
oposição entre os luminares e Vénus em Escorpião, sob o manto do eclipse, e
Úrano em Touro tem, neste binómio nietzschiano de apolíneo e dionisíaco, uma
hegemonia do tirso, qual deus itifálico, sobre o deus castrado emasculado. A
castração de Úrano não é, de um ponto de vista astrológico, a consequência
directa de uma certa androgenia de Hermes/Mercúrio. Úrano é castrado por
Cronos/Saturno por se recusar a separar-se de Gaia, impedindo os seus filhos de
sair do seu ventre. Na verdade, a posição de Úrano em Touro reforça este
aspecto. Este é também o céu agressor e o símbolo da terra abusada, subjugada.
A actual quadratura de Saturno e Úrano traduz, neste cenário mitológico, a
libertação da Terra do seu jugo. Hoje o abusador é o humano e a Terra clama por
liberdade.
De
uma outra forma, o trígono com Neptuno em Peixes mostra como o deus Posídon não
representa de todo a ilusão ou a evasão. É um deus dominante, misógino como
Zeus, que tomou o trono de Eurínome, a deusa do mar e da origem, e que sob a
forma de cavalo é sexualmente prolífico, daí que represente aqui a teogamia e a
fertilização divina. Já o sextil com Plutão em Capricórnio introduz, por
exemplo, como o deus romano Plutão representa a abundância, pois as riquezas
nascem sob a terra, no seu domínio. Ora, indicando Capricórnio o corno de Amalteia,
a cornucópia da abundância, esta posição adquire assim um outro sentido. Este é
o poder da semente. Os planetas transaturninos devem pois passar por uma
refundada exegese que os liberte do pensamento único.
Neste
eclipse, o grande benéfico, devido ao segmento de luz, é Júpiter em Carneiro.
No signo que é fogo em acto, exacerbará a dinâmica criativa, mas aquilo que
cria também destrói. Essa é a regência domiciliar de Marte sobre Carneiro. A
actual oposição de Júpiter e Mercúrio, estando em Balança, mas ainda sobre os
raios sombrios do eclipse (15º), estende diametralmente a dádiva e a palavra.
Existe uma separação entre a justiça e o pensamento. A ilusão da propaganda
populista e belicista serve essa cisão. O sextil, símbolo do livre-arbítrio,
entre Júpiter em Carneiro e Marte em Gémeos, entre o grande benéfico e o grande
maléfico do tema do eclipse, consolida aqui, de forma negativa, esta tendência
para a corrupção da justiça e do pensamento.
Já,
por outro lado, o sextil entre Júpiter em Carneiro e Saturno em Aquário pede à
liberdade humana uma integração do destino na dádiva, criando uma outra
justiça. A nova era, o tempo do Espírito Santo, do Divino Feminino, cria, sob
os auspícios de Júpiter e Saturno, o espaço e o tempo para a Sabedoria. Porém,
existem agora três quadraturas que minam os passos que hoje temos de dar nesse
sentido. São elas a quadratura de Mercúrio em Balança e Plutão em Capricórnio,
a de Marte em Gémeos e Neptuno em Peixes e a de Júpiter em Carneiro e Plutão em
Capricórnio. Todas revelam, tal como a mensagem do Dragão da Lua indica, os
falsos valores que estão demasiados enraizados e que a humanidade teima em
defender. O falso sentido de universalidade, a obstinação do pensamento único e
a parcialidade da injustiça impedem a mudança necessária.
Um
eclipse solar em Escorpião, mais do que em qualquer outro signo, coloca-nos
perante a Sombra, não aquela que tudo escurece, mas aquela que oculta a Luz.