quinta-feira, 31 de março de 2022

Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Carneiro

 Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Nova em Carneiro

Lisboa, 07h24min, 01/04/2022

 


Sol-Lua

Decanato: Sol

Termos: Vénus

Monomoiria: Lua 

 

            A Lua Nova de Abril, a primeira do novo ano astrológico, ocorre no signo de Carneiro, com este a marcar também a hora, portanto no Leme da Vida (Horóscopo/Ascendente), e ainda no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, com os luminares abaixo do horizonte e a menos de dois minutos do nascer-do-sol (hora de Lisboa), no decanato do Sol, nos termos de Vénus e na monomoiria da Lua. Um outro aspecto a considerar é que todos os astros se encontram no hemisfério oriental, somente a Cauda Draconis se fixa no hemisfério ocidental, no Lugar da Morte (VIII), o que reforça o sentido profundo deste novilúnio. O Outro é a morte do Eu e, caído o Eu, renasce o Si.

            A subida dos luminares junto ao horizonte, com a Primavera iniciada há menos de duas semanas, traz consigo a imagem dos deuses ibéricos Atégina e Endovélico a subirem do submundo para uma terra renascida, livre do peso, da gravidade escura do Inverno. O Sombrio devolve, recém-consagrada com uma nova luz, a Senhora do Renascimento. Da cornucópia de Amalteia, da cabra de Atégina, a abundância da flor e do fruto são devolvidas à terra. Porém, como um segredo no centro lar, no fogo que guarda a casa, Trebaruna relembra-nos que a morte participa da vida e que a morte do fruto é a vida da semente.  

            Ora é nessa esteira de vida, morte e renascimento, colhendo também as lições dos mistérios de Mitra, que Fírmico Materno descreve o Thema Mundi: “[Nechepso e Petosíris] pretendiam que fosse assim a natividade do universo, seguindo Esculápio e Anúbis, a quem o Poderosíssimo Deus Mercúrio concedeu os segredos desta ciência. Estabeleceram o Sol no grau 15 de Leão, a Lua no grau 15 de Caranguejo, Saturno no grau 15 de Capricórnio, Júpiter no grau 15 de Sagitário, Marte no grau 15 de Escorpião, Vénus no grau 15 de Balança, Mercúrio no grau 15 de Virgem e a hora no grau 15 de Caranguejo.(Mathesis, III, I, 1, ed. W. Kroll, F. Skutsch & K. Ziegler, 1968, vol. 1, 91: “Mundi itaque genituram hanc esse voluerunt secuti Aesculapium et Hanubium, quibus potentissimum Mercurii numen istius scientiae secreta commisit. Constituerunt Solem in Leonis parte XV., Lunam in Cancri parte XV., Saturnum in Capricorni parte XV., <Iovem in Sagittarii parte XV., Martem in Scorpionis parte XV.>, Venerem in Librae parte XV., Mercurium in Virginis parte XV., horam in Cancri parte XV.). Segundo esta descrição inaugural, Carneiro é o signo que se ergue no Lugar de Culminação (X), regendo assim a práxis do universo.

            A raiz de sentido do princípio de actividade que rege Carneiro não se prende tanto ao facto de ser o primeiro signo a contar do Equinócio da Primavera (hemisfério norte), mas sim devido à regência primordial fixada pelo Thema Mundi. Esta práxis radical determina, neste novilúnio, a actividade da luz, a força dos luminares. Assim sendo a luz do Sol e da Lua, ligeiramente abaixo do Ascendente, logo antes do nascer-do-sol, coloca essa acção entre a bruma e a alvorada. Existe um potencial, uma força que se quer efectivar, que tenta rasgar o véu das trevas, da sua própria sombra, e criar um novo mundo. Essa acção que traz a novidade ao mesmo coloca o peso da realidade sobre o Eu, mas potencia também o dom da criação.

            Sob os raios do Sol e conjunto aos luminares, encontra-se Mercúrio. A palavra, nascida do Silêncio, da deusa gnóstica Sige, torna-se uma força activa. Note-se que, no caso de Mercúrio, este já se encontra acima do horizonte sem gozar porém do espírito fulgente dos luminares, ou seja, brilha, mas não se expande, não alastra a sua influência. A força da palavra iluminará alguns, mas enganará outros, tornará uns apaixonados pela palavra e fará de outros virulentas vozes de conflito. É assim uma Estrela da Manhã que chega apenas aos que estão despertos. Porém, a co-presença dos luminares e de Mercúrio em Carneiro lança hexagonalmente e à esquerda os seus raios até Vénus, Marte e Saturno em Aquário.

            Na XI, o Lugar do Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων), a união dos dois maléficos a Vénus torna a deusa do amor refém. O desejo de tornar o humano em humanidade (Aquário) é reprimido por duas forças: a discórdia (Marte) e a retribuição (Saturno). A opressão e a guerra são uma expressão dessas forças. O lugar deste encontro concede, todavia, uma bênção velada: aquilo que está de passagem é uma dádiva no caminho. Esta é uma afirmação do caminho do meio. A temperança é a via eleita.

            Contudo, Carneiro odeia a polaridade. Marte teme apenas, pois é ela que o derrota, a deusa Atena, a senhora da guerra e da sabedoria, da justiça e da prudência. Do outro lado da sizígia, guardado pelo Poente (VII), o númen de Balança aguarda a sua hora. A impossibilidade ser o Outro, de ver ou compreender o que está para além de nós, é compensada pela necessidade social, indicada pelos planetas na XI, de elevação espiritual, reafirmando assim o conceito de δαίμων.

            Essa elevação continua a não ser, porém, uma via colectiva. O carácter pessoal e electivo do caminho espiritual preserva o seu valor de excepção. Esse é o peso do encontro de Júpiter e Neptuno na XII. No Lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων), a Justiça e a Compaixão, a Expansão do Bem e o Amor de Deus encontram o Mal, a corrupção do espírito, não por via da sua radicalidade, mas sim pela banalidade, pela liquidez daquilo que fazemos e daquilo em que acreditamos. No entanto, Júpiter e Neptuno em Peixes preservam os dons da bondade e da empatia, do melhor do humano. Na verdade, esta é a dádiva que pode vencer o poder da morte (sextil de Júpiter e Neptuno a Plutão em Capricórnio e trígono à Cauda Draconis em Escorpião) e trazer uma revolução ao modo de vida (sextil de Júpiter e Neptuno a Úrano e à Caput Draconis em Touro).

            Neste novilúnio, Plutão é o planeta que brilha mais alto. Do cume do céu, o poder da morte e da via radical de transformação encadeiam a realidade (Plutão em Capricórnio). A autoridade do Senhor do Submundo une-se à mensagem do Dragão da Lua, daquele que estende o seu corpo entre a luz e a sombra (trígono à Caput em Touro e sextil à Cauda em Escorpião), anunciando o primeiro eclipse de 2022. A via entre a morte (Escorpião) e a vida (Touro) é, desta forma, uma proposta de sentido. É pelo conhecimento da morte que se alcança o conhecimento da vida. O Et in Arcadia Ego é uma luz no caminho. O Ego, o Eu que em Carneiro se afirma, é aquele que diz que também ele vive na Arcádia, ou seja, o Eu (Carneiro) e a Morte (Escorpião) são um e o mesmo.

            A simbiose das mensagens de Plutão e do Dragão da Lua (eixo nodal) é demonstrada pela tensão que ela provoca. A quadratura dos luminares e de Mercúrio em Carneiro a Plutão em Capricórnio e de Vénus, Marte e Saturno em Aquário ao Dragão da Lua (eixo Escorpião - Touro), e a Úrano Touro, fixa o modo como a luz e o humano enfrentam a morte e a viver. Estas posições e estes aspectos são porventura a matriz de sentido do novilúnio de Carneiro. A guerra, os extremismos, os nacionalismos, a ganância, a indiferença, a vaidade e o perigo do pensamento único colocam a humanidade sobre o gume de uma espada. Os tempos que nos esperam vão ser difíceis e será a força dos nossos princípios, determinando a nossa práxis, que iluminará a Roda do Tempo e da Necessidade.

            A transformação só acontece depois de uma crise profunda e desengane-se quem pensar que uma espiritualidade, defumada e de mãos dadas, líquida e fotogénica, pode trazer a mudança necessária. O caminho da sabedoria é árduo e solitário e exige um esforço que não coincide com a fama. A humanidade terá de refundar a sua matriz e, no centro, como Mãe do Mundo, o Eterno Feminino será a glória e a graça de um novo humano.     

Lua em Carneiro: De 31de Março a 2 de Abril de 2022


Lua em Carneiro: das 10h31min de hoje às 17h51min do dia 2 de Abril.

segunda-feira, 28 de março de 2022

A Casa da Torre Velha - Citação III

 

Romance 
A Casa da Torre Velha


Sinopse

"A Casa da Torre Velha era o lugar do feminino e Arabela era a última de uma linhagem de mulheres." Esta é a frase inaugural e o mote de todo o romance.

A Casa da Torre Velha é a sede de um reino imaginário, o Vale da Torre, localizado no centro de Portugal e governado por uma mulher, a Senhora da Torre. Este reino cuja estória se cruza com a história da humanidade recria a presença da mulher e do feminino, tanto no universo temporal como na dimensão espiritual.

Os acontecimentos iniciam-se na primeira metade do século XIX. Magdalena, a Senhora da Torre e a avó de Arabela, ciosa do despotismo de Narciso, escondeu a sua fortuna e decidiu a sua sucessão. Para Narciso e Jacinta, os pais de Arabela, a família estava à beira da falência, mas para Magdalena era apenas o governo da Necessidade.

Neste romance-ensaio ou romance filosófico, a Casa da Torre Velha apresenta-se como o lugar do Sagrado Feminino, um espaço consagrado de regeneração espiritual e de esperança para a humanidade.


Edição: Março de 2022
Páginas: 574
ISBN: 978404333398


Livro (Paperback): 25€
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