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terça-feira, 19 de outubro de 2021
Lua Cheia - Eixo Carneiro/Balança: Reflexões Astrológicas
Reflexões Astrológicas
Lua
Cheia: Eixo Peixes – Virgem
Lisboa, 15h57min, 20/10/2021
Lua
Decanato:
Vénus
Termos:
Saturno
Monomoiria:
Júpiter
Sol
Decanato:
Júpiter
Termos:
Vénus
Monomoiria:
Sol
O
plenilúnio de Outubro coloca a Lua em Carneiro sob o horizonte, fora do seu
Segmento de Luz, no Lugar de Deusa (III), no decanato de Vénus, termos de
Saturno e monomoiria de Júpiter. Por
seu lado, o Sol encontra-se em Balança, no Lugar de Deus (IX), acima do
horizonte, no seu Segmento de Luz, no decanato de Júpiter, termos de Vénus e monomoiria do Sol. Aquário marca a hora
entre Júpiter e Saturno, com este último a ascender acima do horizonte, já o
Ponto de Culminação surge em Sagitário, na XI, no Lugar do Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων), junto a Vénus
e à Cauda Draconis.
À
semelhança do plenilúnio de Outubro, os elementos significativos masculinos são
mais fortes que os femininos. No entanto, o facto de quer a Lua, quer o Sol se
encontrarem respectivamente no Lugar da Deusa e no Lugar de Deus estabelece uma
fixação do sentido original destas posições. Desta forma, e como é próprio dos
plenilúnios, a natureza axial firma a sua representação da realidade. O Eu,
projectado com a luz lunar e a partir do lugar do Divino Feminino, encontra o
Outro, realizando a luz solar e reunindo-se ao Divino Masculino, ou seja, pelo
Feminino o Eu encontra o Outro, pela Sabedoria encontra a Vontade, e, através
desse encontro, renasce a luz em si mesmo. O Eu, unido e perdido no Outro,
encontrará o Si Mesmo quando completar o ciclo e conhecer a totalidade. E a
chave dessa ligação harmónica é o termo encontro, o olhar de frente, enquanto acontecimento
radical e potência de transformação. A matriz dessa união transporta em si o
sentido e o valor da origem porque reproduz o mistério da câmara nupcial.
Um
outro aspecto que valora, isto é, que atribui um valor original a este
plenilúnio é o facto de este apresentar apenas dois planetas retrógrados (Úrano
e Neptuno), bem diferente dos seis que assim se encontravam no início do mês
(Mercúrio, Júpiter, Saturno, Úrano, Neptuno e Plutão). Devemos ter sempre em consideração,
o sentido profundo da retrogradação, contrariando a liquidez de uma astrologia
popular que esvazia, quase que ridicularizando, este fenómeno astrológico. Ora
enquanto fenómeno, a retrogradação nasce de uma percepção, do olhar humano que
colhe sensação de que um determinado astro se move em sentido contrário. O
lugar fixa, desta forma, o olhar.
A
ideia de retrogradação constrói-se pois a partir desta percepção, provando
assim a natureza antropocêntrica da linguagem astrológica. Um planeta
retrógrado indica um voltar a si, um retorno ao sentido original, um
ensimesmamento retrotenso, daí que a acção se torne reacção, potência
reafirmada ou ainda impotência ou não potência. É como a negação da acção de Bartleby de Melville. Contrariamente, o
movimento agora directo de Mercúrio, Júpiter, Saturno e Plutão exterioriza e
efectiva, deste modo, a natureza destes planetas, tornando-os activos.
O
Sol em Balança, nesta Lua Cheia, faz-se acompanhar por Marte e Mercúrio, o
primeiro sob os raios solares e o segundo a afastar-se deles, já para além do
limite dos quinze graus e apresentando-se como Estrela Manhã. A posição anterior
ao Sol de Mercúrio e Marte fixa o seu carácter masculino e racional. Já surge a
Lua sozinha no Lugar da Deusa. No entanto, o eixo do novilúnio une-se de forma
vantajosa aos benéficos. O Sol, Mercúrio e Marte formam um sextil com Vénus e
com o Ponto de Culminação (MC) e um trígono com Júpiter, Saturno e o Horóscopo
(Asc.). Já a Lua, de forma inversa, une-se em sextil a estes últimos e em
trígono aos primeiros.
De
facto, existe neste tema da Lua Cheia uma intensa harmonia axial, formada pelos
eixos de ascensão, de culminação, dos luminares e nodal e pelos planetas que
confluem nestes eixos. Por outro lado, a presença dos benéficos junto ao
Horóscopo (Júpiter) e ao Ponto de Culminação (Vénus) confirma o valor da dádiva
que surge exacerbado neste momento, revelando o potencial de transformação que
reside no acto de se saber receber as bênçãos do céu. Se tivermos em conta os
lugares onde se fixam, tantos os benéficos, como os eixos anteriormente
citados, concluir-se-á o potencial espiritual deste tema, não necessariamente
num sentido mais contemporâneo, embora também, mas num sentido clássico, ou
seja, o humano poderá afirmar o seu potencial de excelência segundo os
princípios do bem, da beleza e da justiça, mas também da temperança e da fé.
Existe assim uma proposta de revolução do humano que, na verdade, serve de
fundação do tema com Úrano em Touro no Lugar sob a Terra.
Por
outro lado, Plutão une-se quadrangularmente com o Sol, com Mercúrio, com Marte
e com a Lua. O Senhor da Morte e da Transformação, avançando agora de forma directa
segundo a sua natureza, no Lugar do Mau Espírito, κακός δαίμων (XII), faz sentir a sua
presença. O Poder da Morte ou Plutão em Capricórnio adquire o sentido do Et in Arcadia ego, ou seja, a morte
caminha entre nós, até na Arcádia, e sussurra os seus ditames. A actividade
vulcânica será, por exemplo, mais intensa, pois Plutão faz borbulhar as
profundezas da terra, revelando assim o seu poder. Não é por acaso que, tal
como a morte, a erupção não seja possível de prever. A natureza define também o
limite do humano, seja por esta acção de Plutão, seja pela quadratura de Úrano
a Júpiter e Saturno, ou até mesmo pela conjunção destes últimos. De um outro
modo, a união benéfica de Úrano em Touro, Neptuno em Peixes e Plutão em
Capricórnio (trígono de Úrano a Plutão e sextil destes a Neptuno) estrutura
esse limite e permite a transformação espiritual do humano.
O
exacerbamento do masculino neste tema conduz, não por necessidade, mas como
resultado da natureza humana, das suas fraquezas, ao enfraquecimento do
feminino. A oposição da Lua a Mercúrio e Marte, estando estes no Lugar da Deus
(IX), apresenta o modo como o Feminino tem ainda uma expressão débil nas
religiões tradicionais, sendo, por exemplo, a Mãe de Deus, mas não é Deus-Mãe.
Essa é uma transformação que falta fazer. Por outro lado, continua a existir
uma resistência chauvinista à presença da mulher na academia e no pensamento. A
mulher que estuda continua a ser perigosa. Todo isto continua a promover a
violência contra as mulheres.
A
quadratura de Vénus em Sagitário (XI) a Neptuno em Peixes (II), do Amor ao do
Amor de Deus, do desejo à compaixão, mostra a dificuldade de encontrar o valor,
um modo de vida (II), em que impere o desapego e a empatia. Esta tensão evidencia
o bloqueio que existe na passagem do limiar de nós. Não conseguimos ver que a
sabedoria é também o amor ao próximo. Com indiferença, não existe evolução
humana. É como aquele que vai de modo espiritual, compenetrado, meditando, à
Índia e que a caminho do ashram do
seu guru passa, sem ver, as crianças com fome e que vivem para além da dignidade
humana. O desejo de espiritualidade facilmente se torna vaidade.
Vénus
em Sagitário, a partir do Lugar do Bom Espírito (XI), conjunta ao Ponto de
Culminação (MC) e à Cauda Draconis,
une-se em sextil ao Sol, Mercúrio e Marte, na IX, e a Júpiter, ao Horóscopo
(Asc.) e a Saturno, na I, traduzindo a vontade ou o desejo de levar a Amor à Sabedoria
até ao Leme da Vida e ao Lugar de Deus. A união dos benéficos, em especial, por
Júpiter ser o mais vantajoso, aquele que está no seu próprio Segmento de Luz,
tende a expandir esse propósito, no entanto, Júpiter está ainda sob o
horizonte. Essa ocultação faz com que o caminho da sabedoria, anunciado
nomeadamente pelo corpo do Dragão Lua, esteja ainda sob o véu, tornando-o
presente, mas não comum. A vida tem de trazer a sabedoria até si, mas para tem
de si libertar da ignorância e da sua prole: a ilusão e o engano. Esse esforço
catártico manifesta-se, por exemplo, na união de Vénus e Saturno e pelo facto de
Saturno ser a luz que surge no horizonte, proclamando a mensagem do Tempo e da
Necessidade.
Neste
plenilúnio, existe um potencial de transformação espiritual explícito e
inegável que poderá, todavia, ser negado e repudiado, mas que necessariamente
produzirá a mudança. Esta mudança, já sentida no novilúnio, culminará nos eclipses
que marcam o final do ano.