Reflexões Astrológica
Lisboa,
13h02min, 22/08/2021
Lua
Decanato:
Lua
Termos:
Saturno
Monomoiria:
Júpiter
Sol
Decanato:
Marte
Termos:
Marte
Monomoiria:
Vénus
O eixo da Lua Cheia de Agosto coloca
a Lua sob o horizonte, fora do seu segmento de luz, no Lugar sob a Terra (IV),
no decanato da Lua, termos de Saturno e monomoiria
de Júpiter. Por seu lado, o Sol surge no Lugar de Culminação (X), acima do
horizonte, no seu próprio segmento de luz, no decanato de Marte, termos de
Marte e monomoiria de Vénus. Neste
plenilúnio, é impossível não assinalar o facto de este marcar o fim de um ciclo
iniciado na Lua de Cheia de Julho: a primeira no signo de Leão. Ora a 24 de
Julho a Lua estava no segundo grau de Aquário e o Sol no segundo de Leão e
agora, nesta Lua de Cheia de Agosto, encontram-se no grau trigésimo grau,
percorrendo-se assim quase um signo. O sentido deste ciclo continuará, porém,
até Lua Nova de Setembro, mas desta vez e progressivamente o simbolismo da
colheita e do serviço ganhará a sua gravidade.
Este ciclo foi mediado pela Lua Nova
de Agosto no décimo sétimo grau de Leão. Mais do que em qualquer outro período
do ano este ciclo marca a relação entre a individualidade (Leão) e a humanidade
(Aquário), ou seja, o humano terá de encontrar o lugar entre a consciência de
si, a chama pura do intelecto, e a consciência social e colectiva. A
necessidade de se encontrar um equilíbrio entre a criação individual e a partilha
colectiva é imperiosa. Veja-se, por exemplo, o desequilíbrio mundial no processo
de vacinação, entre países ricos e pobres, ou a forma como cada país responde
aos desastres naturais, à intolerância, à misoginia, ao racismo e à guerra. A
consciência de si terá de quebrar colectivamente a soma de todas as vaidades,
pois só onde existir solidariedade, a humanidade persistirá.
Um outro elemento de análise deste
ciclo, oferecido como uma pequena pista - a última das dignidades astrológicas
-, é a monomoiria. Segundo a lição de
Paulo de Alexandria (Introdução, cap.
5), ficamos a saber que tanto a Lua Cheia de Julho como a de Agosto ocorrem nas
mesmas monomoirias, isto é, a Lua
encontra-se na monomoiria de Júpiter e o Sol na de Vénus. O feminino e o
masculino alternam assim as suas dádivas. E a mediar estas bênçãos encontra-se,
na Lua Nova de Agosto, a monomoiria
de Mercúrio. Hermes Trismegisto indica o caminho do Pai e o da Mãe, o da
Vontade e o da Sabedoria, dizendo que são um e o mesmo. Por outro lado, calculados
os eventos lunares para Lisboa, no tema da Lua Nova e da Lua Cheia de Agosto,
Escorpião marca a hora, colocando assim o novilúnio e o plenilúnio junto ao
eixo polar vertical. A segunda parte do ciclo estabelece, deste modo, uma
relação entre a Morte (Escorpião), a Criação (Leão) e a Humanidade (Aquário).
Nesta segunda fase do ciclo, a morte e a extinção será necessariamente uma
ameaça à vaidade, pois o eu quando voltado apenas para si, criando apenas
simulacros de si próprio, extingue-se com a morte, com a sua própria destruição.
Com o eixo do plenilúnio sobre o de
culminação, a ideia de cume e de acção efectiva recai sobre o Sol que expande a
expressão leonina de criação e recebe a dádiva dos benéficos: de Vénus em
Balança (sextil), a partir da XII, do Mau Espírito (κακός δαίμων), e de Júpiter
em Aquário (oposição), junto da Lua, a partir da IV, do Lugar sob a Terra (ὑπόγειον).
Ora os benéficos, unidos triangularmente entre si, trazem consigo os dons do
bem, da beleza e da justiça, porém também a dádiva ocorre segundo a necessidade
e a presença de Saturno, junto à Lua e a Júpiter, é a lembrança dessa lei
divina. Ora esta relação entre a luz, a dádiva e a necessidade produz, se
tivermos também em consideração a posição de Úrano em Touro na VII, muitas das
transformações que temos assistido nos últimos dias ou semanas. A resposta da
Terra à agressão humana e o modo como em humanidade reage são expressos por
muitas destas posições.
Já em contraste com a ponte que
separa as margens do narcisismo e da genialidade leonina, estão Mercúrio e
Marte em Virgem, na XI, no Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων) e, olhando-os
de frente, está Neptuno em Peixes, na V, no Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη). No eixo dos lugares
benéficos de Vénus (a V) e Júpiter (a XI), a força da palavra, que poderá
estender-se da opressão e da desinformação até à transformação radical pelo
espírito do serviço colectivo ao próximo, recebe a compaixão e o amor universal
como a face da verdadeira fortuna ou colhe a ilusão e constrói, sob uma mente
tolhida pela ignorância, o negacionismo e o populismo. De facto, estando Marte
fora do seu segmento de luz, o seu brilho espalhará uma energia maléfica que,
pela proximidade, corromperá primeiramente a palavra e o pensamento (Mercúrio)
e, por estar na XI, conduzirá, por força da necessidade, à intolerância e ao
extremismo, às propostas colectivas disruptivas.
Nesta Lua Cheia, o Sol em Leão terá
de se esforçar por fazer da criação uma dádiva e ser um arauto da luz, caso
contrário, o perigo do egocentrismo, pessoal e social, poderá tornar a luz num
incêndio. Contudo, a posição, aparentemente maligna, de Marte conjunto a
Mercúrio é equilibrada, forçada a uma harmonia, pelo trígono destes a Úrano em
Touro, na VI, e a Plutão em Capricórnio, na III. Esta ligação coloca em destaque
a Revolução da Terra, o Poder da Morte e a Força da Palavra, unindo-se num
sentido que expressa, por exemplo, o relatório do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas que, face às suas conclusões, terá de ser discutido
na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas que vai começar a 14 de Setembro.
Desta forma, este trígono dos signos
de Terra é um sinal no caminho que se funde com o sextil de Úrano e Plutão a
Neptuno em Peixes. A percepção de que o planeta Terra é um organismo vivo - o
corpo da Deusa Mãe - será no tempo em que vivemos uma realidade indiscutível,
sobretudo por força de uma causalidade natural que traz, como reacção, a
resposta da Mãe Terra à agressão humana. Colhemos assim o fruto das nossas
acções.
Com Vénus em Balança, na XII, no Mau
Espírito, o pensamento e as ideias oprimem o feminino e criam uma discórdia na
sua dádiva de beleza e bondade. O mal cinge o feminino e a igualdade pede a sua
presença. O trígono entre a Deusa do Amor na XII e Saturno na IV, lançando, a
partir das profundezas da terra, o jugo do tempo sobre a Vénus dignificada, que
surge aqui como uma forma de repressão. A consciência dos direitos da mulher
avança, por um lado, mas é reprimida por outro. A ameaça dos talibãs sobre a
mulher e o feminino é disso exemplo. Ora esse sentido é reforçado pela
quadratura de Vénus a Plutão em Capricórnio, na III, no Lugar da Deusa da Lua.
O poder sobre o feminino afirma-se como domínio, submissão e abuso. A
possibilidade de destruição, enquanto expressão física da ignorância, ganha uma
força que obrigará a pensar a vida e a morte, o valor e a tradição. Essa é a
mensagem que encontramos na posição relativa do Dragão da Lua.
Vénus em Balança, na XII, une-se em
trígono à Caput Draconis em Gémeos,
na VIII, e em sextil à Cauda Draconis
em Sagitário, na II. A harmonia da dádiva do feminino (Vénus), reprimida pelo
lugar que ocupa (XII), pelo olhar opressivo da Necessidade (Saturno) e da Morte
(Plutão), mas obrigada a expandir-se (trígono a Júpiter), une-se à sabedoria da
palavra e à palavra da sabedoria. A proposta de futuro, a mensagem de eterno
retorno, indicada até ao Natal pelo eixo nodal Sagitário-Gémeos do Dragão da
Lua, sugere uma passagem, um caminho de sentido, que conduz a sabedoria à
palavra, ao discurso e ao conhecimento.
A nossa estrutura de pensamento, centrada na razão, no Logos, ignorou a sabedoria. Ora a Sabedoria, a deusa Sophia, é também o Eterno Feminino, o Espírito Santo. Porém, nesta Lua Cheia, com a Lua sob o horizonte, no Tártaro abismal, com Vénus sob o véu demoníaco de um Mau Espírito e o Sol reinando no alto cume, o feminino não só é temido como pode até ser rejeitado. Se a luz leonina aluminar o colectivo, então a Mãe Eterna deixará o seu santuário secreto e abençoará o mundo.