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Lua Nova em Leão: Reflexões Astrológicas
Reflexões Astrológicas
Lua
Nova em Leão
Lisboa,
14h50min, 08/08/2021
Sol-Lua
Decanato:
Júpiter
Termos:
Saturno
Monomoiria:
Mercúrio
A Lua Nova de Agosto ocorre no signo de Leão, de dia e
acima do horizonte, no Lugar da Práxis (X), no decanato de Júpiter, termos de
Saturno e monomoiria de Mercúrio.
Estando a Lua fora do seu Segmento de Luz e com as posições acima descritas, a
afirmação do masculino e do carácter solar torna-se evidente. Mercúrio vai
acentuar igualmente a expressão masculina desta sizígia, pois encontra-se sob
os raios do Sol e numa posição anterior, também ela masculina. Junto ao Ponto
de Culminação (MC), na XI, o Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων), Marte em
Virgem assume-se como o astro que brilha mais alto no céu.
O carácter masculino e solar apresenta-se portanto como o
principal elemento de significação. O intelecto agente expande a sua luz
criadora de uma forma que pode, se essa for a vontade, transformar o mundo e o
humano. Esta luz vibrante pede que se procure o lugar secreto onde o divino
habita em nós. Lembremo-nos, por exemplo, do Evangelho de Maria Madalena quando diz: “onde está o Intelecto, ali está o tesouro” (10). No entanto, o
caminho para se alcançar esse tesouro surge como um enigma. É a esfinge que
desafia o peregrino e, perante a inquirição da vida e da morte, é exigida uma
revelação.
A luz de Agosto arde na individualidade, consome o
narcisismo e o egocentrismo e alumia a consciência de si, a chama pulsante do intelecto,
do numinoso em nós. No entanto, olhando de frente, opondo-se em retrogradação,
o Espaço e o Tempo, a Verdade e a Necessidade, Júpiter e Saturno enfrentam os
luminares e também Mercúrio. Aquilo que brilha em nós pode, porém, não chegar
ao outro, pode não ser reconhecido. Em Aquário, a construção do Novo Humano e
da Humanidade traz sobre si, como se a si retornasse, o espírito do bloqueio e
a impotência da realização, ou seja, o espírito agregador de um colectivo
aquariano não nasce, nem floresce, pedindo espera e reflexão.
Existe, nesta posição, uma necessidade imperiosa e social
de pensar o valor da humanidade, da solidariedade como matriz do colectivo. No Lugar
sob a Terra (IV), Júpiter e Saturno ocultam nas profundezas da terra a sombra
do feminino, o elemento que neste novilúnio sente a sua expressão diminuída,
pois Júpiter encontra-se nos termos de Saturno e no decanato da Lua e Saturno
nos termos e decanato de Vénus. Na fundação, na base da realidade, o Humano
fita a luz e o cume, reconhecendo o caminho da luz.
Apesar de estar sob o horizonte, Júpiter é o benéfico que
reverbera a luz da dádiva, intensificando a mensagem de Mercúrio e dos
luminares. O elemento criativo, a genialidade, o que transcende o comum
firma-se como potencial e expressa-se como luz do amanhã. O colectivo, o
social, não conseguindo fazer nascer em si essa luz, terá de colher na excepção
do individual essa potência de criação. Sob o véu do outro, Úrano em Touro, na VII,
em quadratura aos luminares e a Mercúrio (X) e a Júpiter e Saturno (IV) força o
conflito entre a liberdade e a tradição e demonstra a dificuldade da luz da
individualidade chegar ao outro. No entanto, é aí que reside o esforço e a
possibilidade de se alcançar um verdadeiro espírito de humanidade, onde o génio
de cada individualidade se toque e crie, agregando um colectivo que una os
seres humanos em solidariedade e compaixão, mas também em sintonia com o
espírito da terra, com a mãe Gaia.
Entre o conhecimento da vida e conhecimento da morte,
entre a II e a VIII, o corpo do Dragão da Lua estende a sua mensagem ao
transportar a sabedoria (Sagitário) na palavra (Gémeos), ao infundir a
sabedoria nesse conhecimento da vida e da morte. Ora a importância dessa
mensagem é enfatizada pelos aspectos benéficos (trígonos e sextis) da sizígia
dos luminares, de Mercúrio, de Júpiter e Saturno. Pelo contrário, Vénus e
Marte, e também Neptuno, formam quadraturas com o Dragão da Lua, mostrando que
a harmonia dos contrários pode não ser acolhida por aqueles que recebem – ou
rejeitam - a sabedoria na palavra, no conhecimento.
Sabendo nós que o masculino tem regido os paradigmas
humanos da maioria dos séculos que a história grafa, mesmo que de forma deturpada,
o problema reside em aceitar o feminino como origem e sede da sabedoria. A
tensão de Neptuno aponta também para esse problema, para a dificuldade de se
compreender que a compaixão e o amor universal são também eles meios para a
sabedoria se expressar e a ilusão é teimar na negação dessa evidência. O
paternalismo e o chauvinismo que persiste nos nossos tempos – mesmos no seio
das espiritualidades – terão sempre dificuldade em acolher o Divino Feminino. O
medo do feminino torna-se assim um obstáculo no caminho.
O encontro de Vénus e Marte no signo de Virgem, estando
ambos fora do seu Segmento de Luz, vem reforçar a necessidade de se acolher a
harmonia dos contrários. Porém, a forma como os opostos são integrados tende, face
à fragilidade humana, a abarcar o seu aspecto de conflito, de guerra permanente,
o πόλεμος de Heraclito (frag, 53
Diels). A influência desta conjunção no signo de Mercúrio e no Bom Espírito
(XI) intensifica uma dimensão racional e traz ao plano das ideias um espírito
combativo, mas também estético. Por outro lado, a força e o desejo podem fazer
também com que a intolerância e a intransigência ideológica sejam potenciadas,
o que é expresso também pela oposição a Neptuno em Peixes (V). Firma-se a
ilusão e desvanece a empatia.
A relação benigna (trígono) de Vénus e Marte em Virgem
(XI) com Úrano em Touro (VII) e Plutão em Capricórnio (III) frisa a importância
de se alcançar um equilíbrio ecológico e sustentável. Esse é o desafio dos
nossos tempos. No entanto, Marte trará o conflito a esse processo, mostrando
como os seres humanos são tão relutantes em mudar os seus hábitos. Não se salva
o planeta com algumas mudanças alimentares e apanhando algum plástico para a
fotografia. Existe uma exigência mais profunda que obriga a mudanças radicais,
sobretudo ao nível dos transportes, do comércio e dos recursos. Não sendo Vénus
o benéfico mais favorecido, pois encontra-se fora do seu segmento de luz, e
estando Marte pela mesma razão exacerbando o seu carácter de maléfico, este é
um tema que firmará intensas discussões e obrigará a um marcar, por vezes
extremado, de posições.
Por outro lado, concedendo a dádiva e unidos em trígono e
sextis, Úrano em Touro, Neptuno em Peixes e Plutão em Capricórnio continuam a
transformar a nossa realidade. Essa união da revolução da terra, da compaixão
como unicidade e do poder da morte, nos lugares da Deusa, da Boa Fortuna e do
Poente, transporta o nascer de uma nova era. O Eterno Feminino, o regresso da
Grande Mãe marca aqui um caminho, uma senda de possibilidade. O dom do aspecto
feminino do Divino pede uma integração, que não obriga, mas leva
necessariamente a uma aceitação, a uma transformação da realidade. É preciso
ver a sabedoria que a maioria não vê e nega.
Com
Escorpião a marcar a hora e os luminares em Leão, a intensidade marcará o
novilúnio, trazendo a luz e a sombra, a vaidade e a morte. O caminho que é de tensão
entre o abismo e o cume, entre a terra e o céu exige que génio em cada um brilhe
como nunca, mas, sob a sombra dos nossos demónios, teremos, por força e necessidade,
de vencer esse medo do feminino. A Idade do Espírito Santo é a luz do Eterno Feminino.