Eclipse Lunar Total
Eixo Sagitário-Gémeos
(Lua Cheia)
O primeiro eclipse de 2021 é um Eclipse Lunar Total, o último eclipse lunar do eixo nodal Gémeos-Sagitário e o último eclipse total da série Saros 121. Este é quiçá o primeiro aspecto que se deve ter em consideração na análise deste eclipse. As séries Saros, a par dos ciclos metónicos, representando estes uma continuidade dos primeiros, são os dois maiores contributos da Antiguidade para a análise cíclica dos eclipses. As séries Saros têm origem babilónica e apresentam cada uma cerca de 70 eclipses que ocorrem a cada 18 anos, começando por serem parciais e à medida que se aproximam do Equador passam a totais, para voltarem depois a parciais. Ora a série Saros 121 iniciou-se a 6 de Outubro de 1047. Três dias depois morreu o Papa Clemente II e Bento IX, que já havia sido papa em dois momentos anteriores, reassume o poder. Este foi o papa que excomungou o Patriarca de Constantinopla que, por sua vez, excomungou Bento IX, tendo-se criado assim as condições para o Grande Cisma.
Se elaborarmos o tema deste eclipse, que ocorreu em Carneiro, e Ptolomeu diz-nos que este rege a Germânia, ora Clemente II era germânico e tinha relações estreitas e preferenciais com o Sacro-Império, compreendemos então que quer a morte e a mudança do poder papal, quer os indícios do Cisma são astrologicamente evidentes (e.g. o regente do Asc. poente e em conjugação com Marte; e Plutão em conjugação com MC). Naturalmente, o tema deverá ser colocado em Roma. A localização nos temas astrológicos mundanos - sejam lunações, eclipses ou outros - tem, por um lado, um valor de ὁμφαλός, de umbigo do mundo, de lugar electivo, e, por outro, do potencial indicado pela expressão urbi et orbi, ou seja, o valor que se encontra, por exemplo, em Lisboa estende-se, enquanto lugar electivo, ao resto do mundo. A parte infere o todo e o tempo e o espaço fixam assim o sentido.
Embora a tradição nos diga que o primeiro eclipse de uma série Saros nos dá alguns indicadores de toda a série, o primeiro eclipse total tende a reforçar e aumentar esses indicadores. Na série Saros 121, o primeiro eclipse total foi a 13 de Julho de 1516. Ora a 24 de Agosto de 1516, dá-se a Batalha de Marj Dabiq, na qual os Otomanos, chefiados pelo Selim I, derrotam os Mamelucos e ganham o controlo do Egipto, da Arábia e do Levante. Se fizermos o tema do eclipse para Alepo, dado que Dabiq ficava próximo, compreendemos a importância do eclipse e da série Saros em que se insere para um conjunto de mudanças políticas e civilizacionais que ainda hoje se sentem. O eclipse ocorre em Capricórnio que, segundo Heféstion de Tebas, rege, entre outros, parte do Egipto, a Síria e a Cária. Por exemplo, o Horóscopo (Asc.) em Carneiro, conjunto a Marte, é um forte indicador de uma guerra iminente e, já no primeiro grau de Leão, a conjunção do Sol a Júpiter sugere também uma nova ordem, um novo poder.
No Eclipse de 26 de Maio, que ocorre em Sagitário, o Horóscopo recai em Leão, isto para Lisboa, o lugar a partir do qual se está a olhar o mundo. Entre outros, Sagitário rege, segundo Ptolomeu, a Espanha e a Arabia Felix (Iémen e Omã), já segundo Hiparco, também a Sicília e, segundo Odapso, ainda a Mesopotâmia (Médio Oriente), o Mar Vermelho, a Síria, o Egipto e Cartago (Norte de África). Por seu lado, Leão rege, segundo Vétio Valente, a Gália (França), o Proponto (Turquia, Mar de Mármara), a Galácia (Turquia, Ancara), a Trácia (Grécia, Macedónia, Bulgária e Turquia Europeia), a Fenícia (Palestina, Israel e Líbano), a Líbia, a Frígia (Turquia), a Síria e Pessino (Turquia). Como é facilmente compreensível pelos lugares enunciados, estas são regiões de conflitos e tensões nos nossos dias, sejam pela guerra como no caso da Síria, da Palestina e de Israel e do Iémen, sejam pela crise dos migrantes e dos direitos humanos como nos casos da Síria, da Turquia, da Grécia, do Norte de África, de Itália, de França e agora de Espanha (Ceuta). A Humanidade para subsistir terá de olhar para o Humano, não com um conjunto de lugares comuns pseudo-espirituais, reproduzidos vezes conta, mas sim com um pensamento estruturado e um intelecto agente que dê um sentido profundo à vontade e à acção. Enquanto persistir a ideia de que existem humanos de primeira e humanos de segunda e que existe um direito natural de uns a uma determinada terra ou lugar, a Humanidade como princípio e realidade agregadora está condenada.
A tradição astrológica diz-nos que os eclipses têm uma maior intensidade quando ocorrem acima do horizonte, excepto o caso de se darem no Lugar do Sob a Terra (IV), o que não é o caso do nosso eclipse de 26 de Maio. Porém, fixa-se na V, na Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), o que lhe confere um poder criativo potencial, mas não ainda efectivo. Esse princípio é confirmado pelo facto do seu regente, Júpiter, se encontrar no Lugar da Morte, na VIII, todavia, está em Peixes. A partilha de Sagitário e Peixes da regência de Júpiter aponta aqui para um caminho. Se Sagitário indica a Sabedoria e Peixes a Fé, podemos construir como ponte para futuro, essa proposta humana de conciliar a Sabedoria e a Fé. A Deusa Pistis-Sophia (Fé-Sabedoria) expande, de acordo com o poder de Júpiter, o seu potencial criador e renovador. Note-se, por exemplo, que a Lua está nos termos de Júpiter e o Sol no decanato de Júpiter. Deve-se também ter em consideração o facto do último eclipse da série Saros 121 ocorrer em Peixes, a 18 de Março de 2508. Existe aqui uma anunciação das forças benéficas e expansivas (Júpiter) da Deusa Pistis-Sophia (Peixes-Sagitário). Esta é proclamação da Idade do Espírito Santo, do regresso do Eterno Feminino.
O Dragão da Lua continua a marcar, até ao fim do actual ciclo no eixo Gémeos-Sagitário, uma mensagem que está em harmonia com a anunciação da Deusa Pistis-Sophia. A sabedoria da palavra (Sagitário-Gémeos) e a palavra da sabedoria (Gémeos-Sagitário) cingem o caminho de revelação que culminará no Eclipse Solar Total de 4 de Dezembro deste ano, ou seja, a partir da sabedoria a palavra transformará o humano. Esta ideia é também particularmente expressiva neste Eclipse Lunar de 26 Maio. A luz concentra a sua emanação na XI, no Lugar do Bom Espírito (ἁγαθόν δαίμων). Em Gémeos, o Sol, a Caput Draconis, Vénus e Mercúrio brilham em conjunto. Note-se que Vénus e Mercúrio estão para além dos raios fulgentes do Sol (+15º), fugindo da combustão e brilhando como Estrelas da Manhã, candeias da palavra, do intelecto e do amor à sabedoria. Porém, a necessidade de uma palavra que transforme colide aqui com Júpiter em Peixes (quadratura), ou seja, a palavra deixa-se corromper pela ilusão e pela intolerância e torna-se uma via para o racismo, para a xenofobia, para a misoginia, para o negacionismo, para populismo e para o totalitarismo. A palavra (Gémeos) rejeita a dádiva e a fé (Júpiter em Peixes) e também a compaixão e o amor universal (Neptuno em Peixes) e, por outro lado, não acolhe a sabedoria como finalidade (Sagitário), nem eleva a alma até à consciência de si (Lua). A quadratura de Júpiter - e de Neptuno- aos luminares não representa aqui uma tensão ou conflito, mas sim uma dúvida quanto a efectivação de uma possibilidade.
Se Júpiter e Neptuno mostram que a luz da palavra e da sabedoria pode, por rejeição, afastar-se da fé e da dádiva, da compaixão e do amor universal, Saturno Retrógrado, a partir do Poente (VII), partilha tanto a necessidade de reestruturação social, trazendo a igualdade onde existe desigualdade e injustiça, e de pensamento crítico como a lição do tempo, do eterno retorno (trígono ao Sol, Mercúrio e Vénus, sextil à Lua). Por estar junto ao Poente, já abaixo da linha do horizonte, o Velho Cronos fala-nos do fim de uma era, de um tempo que se eclipsa e, por estar em Aquário, de um humano que terá de morrer para inauguralmente renascer. O novo humano, como o antigo herói, terá de descer ao submundo para emergir renovado. Essa descida aos infernos é expressa também pelo medo do feminino. Marte em Caranguejo, na XII, no Mau Espírito (κακός δαίμων), em oposição a Plutão na VI, na Má Fortuna (κάκη τύχη), colocam o humano no abismo da sua sombra em frente de Perséfone, a Senhora do Submundo. Devemos lembrar-nos que a maioria das representações astrológicas estão exageradamente masculinizadas, assim quando, por exemplo, olhamos para Plutão devemos ver tanto Hades como Perséfone. O medo do feminino, expresso por Marte em Caranguejo, tem como contraponto a relação benéfica com Júpiter e Neptuno em Peixes (trígono) e com Úrano (sextil). Este é o Rei Pescador, o homem ferido, que guarda o Graal, representado pela vesica piscis. Desta forma, vencido o medo e chegados ao castelo do Graal, a deusa tenebrosa torna-se benevolente.
Por outro lado, Úrano em Touro surge na X, junto à Culminação (MC), trazendo uma vez mais a mensagem da revolução da terra. As manifestações climáticas serão mais frequentes - e também necessariamente mais radicais (sextil a Plutão em Capricórnio) - e uma parte dos jovens vão mostrar cada mais como a passividade das gerações anteriores, com o seu aburguesamento consumista, supérfluo e politicamente engajado, condenou o planeta. A utopia, que, nos últimos anos, muitos teimaram em condenar, renascerá com um propósito simples, mas determinado: salvar o planeta terra (sextil de Úrano a Júpiter e a Neptuno). Naturalmente, como noutros tempos, as ideias terão de cerrar fileiras e, se uns se colocam do lado da igualdade, promovendo uma sociedade mais justa, outros vão vender a divisão como garantia de um destino providencial (Saturno em quadratura com Úrano). De uma forma ou de outra, o desejo de mudança colide com a cristalização das estruturas de poder e o futuro ou trará uma sociedade melhor, ou a aurora dos novos totalitarismos. E a pandemia pode tornar-se uma lição e ser uma luz no caminho, avaliando-se o que está mal e quebrando as teias da desigualdade, ou a vontade de voltar a esse normal perdido pode imperar, agudizando-se assim as assimetrias sociais. Um tempo de crise profunda pode, porém, renovar a fé na humanidade e trazer, pelo menos a alguns, um processo de transformação (Plutão em sextil a Júpiter e Neptuno).
Este Eclipse Lunar vai tornar evidente a realidade última da interpretação astrológica é que, na verdade, tudo é luz e sombra. Ler o céu é simplesmente colher a luz certa, fitando a sua própria sombra.