Lua Fora de Curso
terça-feira, 31 de maio de 2022
Lua Fora de Curso: Junho de 2022
segunda-feira, 30 de maio de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Gémeos
Reflexões Astrológicas
Lua Nova em Gémeos
Lisboa, 12h30min, 30/05/2022
Sol-Lua
Decanato: Júpiter
Termos: Júpiter
Monomoiria: Saturno
A
Lua Nova de Maio, depois dos eclipses solar e lunar no eixo Touro-Escorpião,
ocorre no signo de Gémeos, com Leão a marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, com os luminares acima do
horizonte, no Lugar do Bom Espírito, ἀγαθόν δαίμων (XI),
e a caminho da culminação, no decanato e termos de Júpiter e na monomoiria de Saturno. Mercúrio
Retrógrado, regente de Gémeos, marchando à frente do Sol, longe dos seus raios,
é uma Estrela da Manhã e o astro mais alto. Em Touro e recuando, ou dando a
ilusão que recua, Hermes serve o silêncio e guarda o mistério. O Trismegisto
torna-se o mestre da iniciação, do caminho interior, e sob a Mãe Terra constrói
o templo da palavra criadora, do que Logos que é um fogo sempre vivo.
O
masculino surge, neste tema do novilúnio, com uma expressão dominante e com uma
acção dinâmica. No entanto, a retrogradação de Mercúrio, que terminará um dia
antes de Saturno começar a sua, apela ao acto pensado e à palavra medida. A
justa medida actua, nesta lua nova, como elemento estruturante e estruturado de
passagem, ou seja, o sentido de viagem é consolidado pela harmonia entre aquilo
que se pensa, diz e faz. Essa é a lição de Mercúrio, o regente do novilúnio,
Retrógrado e em Touro. O movimento do silêncio à palavra serve aqui a
necessidade de concedermos a verdade às nossas ideais e ao nosso discurso. A
dúvida metódica continua a ser uma metodologia de rigor.
O
carácter de mediação polar, de integração do diâmetro na unidade do círculo, é
particularmente expressivo no novilúnio de Gémeos, especialmente pelo facto de
neste signo não existir uma verdadeira integração. O processo de integração de
uma dualidade expressa surge em Gémeos, alcança o princípio ou potencial de
harmonia em Balança e é concluído em Peixes, onde o Amor (união dos opostos) se
exalta. Estes últimos, contrariamente ao que se possa pensar, não nadam em
direcções opostos: Afrodite e Cupido, transformados em peixes, fogem juntos de
Tífon e os dois peixes que trazem Afrodite para a costa, nascida da espuma do
mar ou de um ovo, nadam no mesmo sentido. Em Gémeos, pelo contrário, existe
polaridade por ausência ou distinção, mas também por procura ou demanda.
A
tradição astro-mitológica, enunciada no meu livro, diz-nos o seguinte: “O mito que, porém,
melhor descreve o signo de Gémeos é dos Dióscoros (Castor e Pólux). Nasceram de
Zeus e Leda e são irmãos de Helena e Clitemnestra. Porém, Leda era casada com o
rei da Lacedemónia, Tíndaro. Na noite em que Zeus se uniu a Leda, sob a forma
de Cisne, ela uniu-se também ao marido. Destas uniões, nasceram dois pares de
gémeos ou dois ovos: de Zeus, Pólux e Helena e, de Tíndaro, Castor e
Clitemnestra.” (Fragmentos
Astrológicos 2021: 138). Este é o gérmen da polaridade
geminiana, ou seja, da passagem entre o humano e o divino, entre mortalidade e
imortalidade, porque após a morte de Castor (mortal), em combate, Pólux
(imortal) clama a Zeus (Júpiter): “(…) Ouvi a palavra, pai,/ Divide
em dois, o céu que a mim concedeste,/ De
toda a oferenda, a metade maior será.” (Ovídio,
Fastos V, 716-8: “(…)‘percipe verba,
pater: / quod mihi das uni caelum, partire duobus: /dimidium toto munere maius
erit’).
Zeus concede o pedido e Pólux e Castor brilham no céu em dias alternados.
Ora esta polaridade natural e
criadora que, no novilúnio se une à conjunção da luz solar e lunar, procura um
elemento de força e expansão no sextil a Marte e Júpiter em Carneiro. A partir
do Lugar de Deus (IX), estes retribuem com outra dicotomia. Segundo o Segmento
de Luz, Júpiter é o maior dos benéficos e Marte o maior dos maléficos, e
aguçados por estarem em Carneiro, lançando a oposição radical entre o Eu e o Mundo
(o Outro), outorgam activamente o Bem e a Justiça, mas também o Conflito e a
Destruição. Pela natureza do sextil, esta relação coloca reflexivamente a acção
no próprio e não no exterior, na Providência. Marco Aurélio diz-nos o seguinte:
“Como anda o teu guia interior? Isso é
que importa. O resto cai fora do teu livre arbítrio; é cinza dos mortos e fumo.”
(Pensamentos XII, 33: Πῶς ἑαυτῷ χρῆται τὸ ἡγεμονικόν; ἐν γὰρ τούτῳ τὸ πᾶν ἐστι. τὰ δὲ λοιπὰ ἢ προαιρετικά ἐστιν ἢ ἀπροαίρετα, νεκρὰ καὶ καπνός, trad.
J. Maia, Lisboa, Relógio D’Água, 1995).
A luz que brilha em nós, indicada
aqui pela união dos luminares, é τὸ
ἡγεμονικόν do estoicismo, esse “guia
interior” de que fala Marco Aurélio, a parte dominante da alma, a razão ou
intelecto. Do Bom Espírito, do demiurgo de passagem entre o humano e o divino,
o Sol e a Lua une-se ao Leme da Vida (I) em Leão (sextil), a nobreza do
espírito, e a Saturno em Aquário (trígono) no Poente (VII). Saturno representa tudo
o escapa ao livre arbítrio, tudo o que está sob a alçada do destino e da
necessidade. O sentido do Destino sobre a Humanidade, de Saturno em Aquário, observa,
concedendo a sua lição, a capacidade que se adquire de colocar o valor nesse “guia interior”, na partilha da Razão
(Sol e Lua em Gémeos).
Saturno, por seu lado, une-se em
sextil a Marte e Júpiter em Carneiro, revelando o potencial de a Necessidade se
tornar Justiça e Equilíbrio, o Bem em Acto, ou Castigo e Retribuição, a
Desmedida como Reacção. De um outro modo, Saturno, com esse olhar vindo do
Lugar de Deus, coloca o tempo sob o Poente, trazendo consigo a imagem da
mudança de um era, dos tempos que se põem e da hora que espera nascer. O tempo
do Espírito Santo, da Mãe Eterna espera a sua hora.
No entanto, a quadratura de Saturno em
Aquário a Vénus, Úrano e Mercúrio e também à Caput Draconis e ao Ponto de Culminação, todos em Touro, impõe,
como é próprio do fim de um tempo, o peso da destruturação de uma realidade e da
construção de novos valores. Não é portanto um tempo de júbilo, de um simples
hedonismo taurino, mas sim um tempo que exige gravidade naquilo que se pensa e
diz, naquilo que se deseja, naquilo que queremos mudar, mesmo entre o caos e o
ideal, em suma, naquilo a que atribuímos valor.
A mensagem do Dragão da Lua,
estendendo o seu corpo entre Escorpião e Touro, entre a Morte e o Viver, obriga
necessariamente a que se coloque a destruição do valor anterior como condição
para se criar um novo. Essa exegese da morte traduz-se num sentido de origem (Cauda Draconis na IV, no Lugar sob a
Terra), o que sugere aliás a próxima viagem da Serpente da Luz e da Sombra pelo
eixo Caranguejo-Capricórnio, mas traduz-se também no poder de finalidade da
própria morte, ou seja, Plutão em Capricórnio, onde o culminar da morte, da
transformação, firma o seu próprio poder.
O Senhor do Submundo olha triangularmente
para Vénus, Úrano e Mercúrio e para à Caput
Draconis e para a Culminação e quadrangularmente para Marte e Júpiter. A
visão da montanha confunde-se aqui com a visão do abismo e de um lado e do
outro, a dádiva tem o sabor da retribuição e a punição tem o aroma, o perfume,
de uma bênção. A bipolaridade da consciência que se eleva e se afunda ou se
transforma ou se destrói. Esta é esfinge no caminho. Os dois eixos através dos
quais o olhar da Morte se fixa separam também duas realidades inconciliáveis: o
poder e guerra, de um lado, e a vida e a Mãe-Terra, do outro. O militarismo
imergente não salvará o planeta da sua ruína, bem pelo contrário, arrastá-lo-á
mais rapidamente para a destruição. A conjugação de forças em Touro é também
esse sinal de alerta.
Tocado pelo grito da Mãe-Terra
(sextil a Vénus, Úrano e Mercúrio), Neptuno em Peixes, representando a
imaginação activa e uma energia tantas vezes incompreendida, traz-nos, a partir
do Lugar da Morte (VII), o Amor de Deus e a Compaixão como Totalidade, mas também
o véu de Maya, tecendo a ilusão necessária que serve o caminho, a morte e a
revelação. No entanto, a quadratura de Neptuno aos luminares aponta para a
dificuldade radical de conciliar a polaridade, de fazer nascer o Amor entre os
opostos. A ponte entre Gémeos e Peixes é, de um ponto de vista hermético, o
caminho iniciático da Palavra à Solidão, conduzindo pelo trilho agreste a voz da
multidão até ao silêncio divino.
O novilúnio de Maio tem, neste tempos
difíceis, de guerra, de propaganda, de ilusão e enganos, de falsos ideais, de juízo
fácil, um enorme potencial, pois possibilita a beleza da palavra que recua, da palavra
pensada, mas também da voz no deserto, do sermão aos peixes. A exigência do pensar,
mesmo quando tudo o que se vê é ignorância, carrega consigo o verbo da salvação.
domingo, 29 de maio de 2022
sábado, 28 de maio de 2022
sexta-feira, 27 de maio de 2022
quarta-feira, 25 de maio de 2022
terça-feira, 24 de maio de 2022
segunda-feira, 23 de maio de 2022
Mercúrio em Touro: De 23 de Maio a 13 de Junho de 2022 (2º Ingresso)
domingo, 22 de maio de 2022
sábado, 21 de maio de 2022
sexta-feira, 20 de maio de 2022
Um Romance acerca do Sagrado Feminino: A Casa da Torre Velha
quarta-feira, 18 de maio de 2022
terça-feira, 17 de maio de 2022
segunda-feira, 16 de maio de 2022
Livro de Astrologia: Fragmentos Astrológicos
domingo, 15 de maio de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Eclipse Lunar Total - Lua Cheia Escorpião-Touro
Reflexões Astrológicas
Eclipse Lunar Total
(Lua Cheia:
Escorpião-Touro)
Lisboa, 05h11min, 16/05/2022
Lua
Decanato: Vénus
Termos: Saturno
Monomoiria: Lua
Sol
Decanato: Saturno
Termos: Saturno
Monomoiria: Júpiter
O Eclipse Lunar Total de dia 16 de
Maio ocorre com a Lua no signo de Escorpião e o Sol no de Touro, com Carneiro a
marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις)
da Lua. Por seu lado, a Lua encontra-se no decanato da Vénus, nos termos de
Saturno e na monomoiria da Lua, já o
Sol encontra-se no decanato e nos termos de Saturno e monomoiria de Júpiter. Na hora de Lisboa, o eclipse ocorre a cerca
de uma hora e quinze minutos do ocaso do Lua e do nascimento do Sol. Assim
sendo, a lua está acima do horizonte, no seu próprio Segmento de Luz, mas no
Lugar da Morte (VII), preparando-se para a sua queda. Pelo contrário, o Sol
está no Lugar do Viver, na Porta do Hades (Ἅιδου πύλη) como diria Paulo
de Alexandria (Introdução, cap. 24).
Este eclipse lunar é visível na
América do Norte, América Central e América do Sul, na Antárctida, no Atlântico
Norte e no Pacífico. Depois de forma menos intensa, ou seja, com menor tempo de
visibilidade, em África, na Europa, no Médio Oriente e no início ocidental da
Ásia. No caso de Portugal, convém salientar-se que as ilhas do grupo ocidental
do Arquipélago dos Açores (Flores e Corvo) estão ainda na fase penumbral, já as
restantes ilhas estão na fase parcial, logo as primeiras têm uma duração de
visibilidade total maior. Note-se também que o manto do eclipse estende-se até
fronteira europeia com a Rússia, cobrindo ainda, já no seu limite, a Ucrânia. A
luz e a sua ausência são símbolo e sentido.
Por outro lado, observando-se depois
as lições da astrologia antiga sabemos, segundo Valente (Antologia I,2)
que Escorpião - posição lunar - rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia,
Creta, as ilhas Cíclades, o Peloponeso, a Arcádia, Cirene, a Dória, a Sicília, a
Pérsia, Metagonitis ou a Numídia
(Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África,
Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália,
Cartago, a Líbia, Amom (Jordânia),
Espanha e Roma.
Já Manílio diz-nos que Escorpião
rege Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82). Se considerarmos as regentes
indicadas para o signo de Touro e referidas no eclipse de 30 de Abril,
percebemos facilmente que o actual Eclipse Lunar Total, embora com influência
menor que o Eclipse de Touro, recentra no Mediterrâneo a mensagem do Dragão da
Lua, o corpo de mistério da serpente primordial que se estende entre a Luz e a
Sombra.
O eclipse de dia 16 de Maio insere-se
na série Saros 131, uma série de 72 eclipses que teve o seu início a 10 de Maio
de 1427 e terminará a 7 de Julho de 2707. É uma série bem mais recente que a do
eclipse solar de 30 de Abril (Saros 119), todavia, quer uma, quer outra,
começam com eclipses (solar e lunar) com o Sol em Touro e terminam com outros
com o Sol em Caranguejo. Existe um elemento de passagem, que viaja pela
história, e coloca a humanidade entre a vida (Touro) e a origem (Caranguejo)
ou, numa outra dimensão, a da Lua, entre a morte (Escorpião) e o fim
(Capricórnio). São portanto a síntese do valor e do sentido.
O eclipse de 1427, o primeiro da
série, firma-se nas Guerras Hussitas. De um lado, encontramos as forças
católicas, liderados pelo imperador Sigismundo do Sacro-Império Romano-Germânico
e apoiadas pelo papado e pelas monarquias católicas europeias, do outro, estão
as várias facções hussitas. Ora estes, que são primeiramente dissidentes
heterodoxos do cristianismo católico-romano, vou tornar-se, cerca de cem anos
antes, os porta-estandartes da Reforma, de Lutero e da 95 Teses.
O movimento hussita sustentou-se nas
ideias de João Hus que, por sua vez, fora influenciado por Wyclif e pelos
seguidores de Pedro Valdo. Hus era um forte crítico do poder eclesiástico e
defendia o sacerdócio universal dos crentes, ou seja, quem crê não precisa de
mediação no seu diálogo de fé com Deus, algo muito próximo daquilo que vemos
nos gnósticos ou nos cátaros e que podemos ler no Evangelho de Tomé: “Jesus disse: Eu sou a luz. A que está acima
de todos. Eu sou o Todo. O Todo proveio de mim e o Todo chegou a mim. Trazei-me
um madeiro. Eu estou ali. Levantai a pedra ali me encontrareis.” (logion 77). Ora ideias de Hus foram condenadas
no Concílio de Constança (1414-1418) e o próprio foi queimado na fogueira, a 6
de Julho de 1415.
Este eclipse estende, por exemplo, a
sua influência até à Batalha de Tachov, a 4 de Agosto de 1927, em que os
hussitas vencem e terminam assim a quarta cruzada que se ergueu contra eles. A
questão religiosa marca esta série Saros, pois o último eclipse penumbral, a 14
de Julho de 1535, é assinalado pelo fim da Rebelião de Münster (24 de Junho), a
mesma que é descrita por José Saramago no seu livro In Nomine Dei (1993). A
tentativa dos anabaptistas radicais de estabelecerem um governo próprio,
independente do Principado-Bispado de Münster, um estado do Sacro-Império,
termina com a ofensiva das forças sitiantes e com a captura dos seus líderes,
os quais serão mais tarde torturados e executados, com os seus corpos expostos
publicamente em gaiolas.
Sob
o mesmo eclipse, a 6 de Julho, é executado Sir Thomas More, o autor da Utopia, por não reconhecer Henrique VIII
como líder da igreja britânica e, a 4 de Outubro, é publicada a primeira bíblia
em língua inglesa, com as traduções de William Tyndale e Myles Coverdale. Ora o
primeiro eclipse parcial, a 25 de Julho de 1553, segue a mesma tendência, pois
a 19 de Julho Maria Tudor é proclamada como legítima rainha, promovendo assim o
regresso ao catolicismo romano.
O último eclipse parcial ocorreu a
12 de Março de 1914. Dois dias antes, a sufragista Mary Richardson danifica, em
protesto, a Vénus ao Espelho de
Velásquez com um cutelo na National Gallery. A 28 de Junho é assassinado o
arquiduque Francisco Fernando da Áustria por um membro da Mão Morta, uma
organização nacionalista sérvia, marcando o início da Primeira Guerra Mundial.
Já o primeiro eclipse total deu-se a 2 de Abril de 1950, cruzando-se aqui com a
Série Saros 119, a do Eclipse Solar Parcial do passado dia 30, e com o Eclipse
Solar Anular de 18 de Março de 1950.
Às questões levantadas nesse
eclipse, nomeadamente a Guerra da Coreia e o referendo acerca do regresso do
rei Leopoldo III e da queda do governo belga, acrescenta-se a abdicação de
Leopoldo, a 15 de Abril, a favor do seu filho Balduíno, o adensar da Guerra
Fria, com o NSC 68, o reconhecimento da Grã-Bretanha do estado de Israel (27 de
Abril) e a aprovação da segregação racial do Apartheid pelo parlamento
sul-africano (também a 27 de Abril). Uns meses mais tarde, a 17 de Novembro, o
14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso assume os seus poderes temporais, dado que a
cerimónia de entronização ocorrera em Lassa, a 22 de Fevereiro de 1940.
Os eclipses do eixo nodal, ou
dragontino, Touro-Escorpião, que se estendem até 28 de Outubro de 2022, firmam
o sentido, o seu significado radical, no conceito de valor. Ora, dado que o
eixo diametral é traçado a partir de signos femininos, o valor do feminino, da
terra-mãe e do corpo da mulher reafirma-se e ressurge como um modelo de
transformação. O Sagrado Feminino aparece no horizonte como uma luz redentora.
Entre a vida e a morte, a Senhora do Mundo concede a sua dádiva.
A presença de Úrano na solidez
conceptual do signo de Touro promove nesse valor a necessidade de revolução e
progresso, todavia quando afligido, por exemplo, pela quadratura de Saturno ou
até pela actual oposição da Lua em Escorpião no Lugar da Morte, esse valor é
ameaçado. Veja-se o caso norte-americano com o perigo do Supremo Tribunal
reverter o direito federal à interrupção da gravidez. Uma misoginia estrutural
e uma defesa de conceitos machistas apresentam-se assim como uma coerção
civilizacional à transformação desse valor do feminino.
A colocação do eixo Touro-Escorpião
sobre o eixo do δωδεκατόπος
(doze lugares) do Viver, βίος
(II), e da Morte, θάνατος
(VIII), reforça o sentido primordial do próprio eixo zodiacal. O valor surge assim
entre o modo de viver, tornando o lugar, como diria Trasilo, um “indicador de esperanças”, ἐλπίδων σημαντικήν (CCAG VIII/3: 101.20),
e a própria morte, nas palavras de Paulo de Alexandria como a “realização da morte”, θανάτου τελευτήν (Introdução, cap. 24). Deve ser encontrado aqui um sentido entre
aquilo que se espera e se constrói e aquilo que se realiza e se destrói. E, por
fim, a presença do Dragão da Lua, senhor ancestral dos eclipses, da luz e da
sombra, faz com que os três eixos convirjam numa única unidade de sentido: o
valor da luz entre a vida e a morte, entre a criação e a destruição.
Saturno em Aquário, trazendo o peso
da Necessidade sobre a Humanidade, olha quadrangularmente para os luminares, para
Úrano, para o Dragão da Lua, e assim para o eclipse. O destino do humano
torna-se a sua própria sombra e aquilo que se oculta assume-se como a gravidade
de uma destruição. Saturno, por este estar fora do Segmento de Luz, é o mais
danoso dos maléficos, todavia, está no seu domicílio e no Lugar do Bom Espírito
(XI). O sextil entre Saturno e os benéficos serve para atenuar essa natureza
maléfica, trazendo a acção do bem ao destino da humanidade. Existe, deste modo,
na própria Necessidade uma lição que acolhe tanto a pedagogia de uma
providência universal como a retribuição de uma desmedida. E isso é algo que,
por vezes, é difícil de aceitar e que leva a maldizer os raios saturninos.
Por outro lado, Vénus e Júpiter, a
união das dádivas, unem-se ao Leme da Vida em Carneiro. A conjunção dos
benéficos ocorre, porém, neste eclipse, sem tocar os luminares ou o Dragão da
Lua (aspectos antigos). É como se a pulsão do acto e a acção do bem não
encontrassem o seu caminho. Vénus está em exílio, errando fora do templo do
amor e tornando mais egoístas os desejos superficiais. No entanto, os benéficos
numa condição pós-ascendente concedem a sua dádiva. Em Portugal, dado que o
tema do eclipse é elaborado para Lisboa, essa acção pode ter também um efeito
de conflito, de posições extremadas. Lembremo-nos que os benéficos estiveram em
Peixes no 25 de Abril de 1974, na Revolução dos Cravos, e em Carneiro no atribulado
ano de 75.
Plutão é o astro mais alto e, como
regente moderno de Escorpião, é também o deste eclipse lunar. O senhor do
submundo lança até 24 de Março de 2023 os seus raios a partir de Capricórnio,
projectando a transformação enquanto Poder da Morte e unindo a finalidade à
destruição. Depois, em Aquário, não se pense, como existe uma certa tendência
quando um planeta ingressa em Aquário, que tudo será arco-íris e unicórnios.
Nessa altura, a Morte será lançada a partir da Humanidade, a partir das suas próprias
estruturas. As mudanças nascem sempre de uma qualquer forma de destruição. A
Revolução Americana no fim de Plutão em Capricórnio (Declaração da
Independência: 4 de Julho de 1776) e a Revolução Francesa (Tomada da Bastilha:
14 de Julho de 1789) já com Plutão em Aquário não foram um encontro de amigos,
foram formas de luta e morte.
Ora Marte, o regente clássico de
Escorpião, agora em Peixes, concedendo-nos a imagem do herói sacrificado e da
ilusão da guerra, terá, num futuro próximo, uma acção que hoje nos deve servir
de alerta. Aquando da assinatura da Declaração da Independência e da Tomada da
Bastilha, Marte estava em Gémeos e, na Segunda Guerra Mundial, quando Plutão
estava em Leão, signo oposto a Aquário, e aquando do lançamento das bombas atómicas
em Hiroshima (6 de Agosto de 1945) e em Nagasaki (9 de Agosto de 1945), Marte
também estava em Gémeos. O senhor da guerra estará nesta constelação a partir
de 21 de Agosto e lá permanecerá até 26 de Março de 2023. De Peixes a Gémeos, o
deus Ares fará um caminho quadrangular que, na verdade, determinará o futuro
próximo da humanidade e que se cruzará com a entrada de Plutão em Aquário.
A relação Marte e Plutão com os
luminares e o Dragão da Lua (sextil e trígonos), ou com Úrano (sextil e trígono),
mas também de Neptuno que partilha o mesmo signo que Marte (Peixes) são aqui
uma chave de sentido, mas também uma promessa do futuro. Poderá o Rei Pescador,
herói sacrificado, entregar o Graal ao humano, determinando assim o valor da
luz entre vida e a morte, ou, seguindo um falso herói, a guerra, a ilusão e a
morte vencerão o humano, comprometendo a humanidade? A Acção do Bem colide,
porém, com o Poder da Morte (quadratura de Vénus e Júpiter em Carneiro com
Plutão em Capricórnio), tornando mais difícil a demanda da dádiva e a fortuna
do bem.
Por fim, no Lugar da Deusa (III),
Mercúrio Retrógrado em Gémeos, lutando contra a sua própria natureza, serve a
deusa Sige – o Silêncio primordial, o ventre da Sabedoria e a origem da Palavra
– e luta contra a mentira, contra o discurso enganoso e a propaganda, contra a
ignorância. Este silêncio que antecede a palavra justa une-se à dádiva do bem,
aos benéficos (sextil a Vénus e Júpiter em Carneiro), e concede o dom da
compreensão ao peso, à gravidade do destino sobre a humanidade (trígono a
Saturno em Aquário). No entanto, este Mercúrio Retrógrado em Gémeos enfrenta
quadrangularmente Marte e Neptuno em Peixes, ou seja, aquilo que pensamos que
nos salva, aquilo pelo qual lutamos pode também ser aquilo que nos engana,
ludibriando, neste eclipse, o valor que colocamos nas coisas e nos acontecimentos.
Em suma, o actual eclipse lunar de
dia 16 de Maio lança, entre a luz e a sua ocultação, um conjunto de raios de sentido
que encontrarão a sua culminação no eclipse lunar total de 8 de Novembro.