Reflexões Astrológicas
Lisboa,
21h15min, 04/11/2021
Sol-Lua
Decanato:
Sol
Termos:
Mercúrio
Monomoiria:
Saturno
No mês de Novembro, o encontro dos luminares ocorre no
signo de Escorpião, de noite e abaixo do horizonte, no Lugar do Boa Fortuna (V),
no decanato do Sol, termos de Mercúrio e monomoiria
de Saturno, com Caranguejo a marcar a hora e com o Ponto de Culminação (MC) no
Lugar de Deus (IX), em Peixes, junto a Neptuno. O triângulo da água estabelece
assim o seu poder e firma o sentido profundo que se estabelece entre o
Horóscopo (I), a Boa Fortuna (V) e o Lugar de Deus (IX). Por outro lado, dado
que a sizígia se encontra abaixo do horizonte, Neptuno torna-se a luz mais
alta, a que culmina, Úrano sobe no céu, ascende como a vida, e Júpiter, Saturno
e Plutão descendem para o ocaso, para a sua morte. O novilúnio é um tempo em que
a luz se torna particularmente importante, concentrando e concedendo a sua
dádiva, o dom inaugural. O movimento da luz é sempre para humano uma proposta
de sentido e uma determinação da Necessidade.
No Lugar da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), onde a Cornucópia da
Abundância ou o Corno de Amalteia entregam as suas bênçãos, os luminares unem a
sua luz à de Marte. Esta é a acção renascida depois de um tempo de
retrogradação. Sob os raios solares, o princípio da força intensifica o seu brilho.
Marte surge como Estrela da Manhã e, numa posição anterior ao Sol, adquire uma
qualidade masculina e activa, o que permite uma harmonia dos opostos, visto que
está num signo feminino, Escorpião, o seu domicílio nocturno. Note-se que Marte
encontra-se nos seus próprios termos e decanato. Esta união do Sol, da Lua e de
Marte em Escorpião apresenta um enorme potencial regenerador e um valor
aumentado do dom de renascimento. Na Boa Fortuna, esse potencial e esse valor
concedem uma força fulgente e abrasiva a tudo o que criamos. O dom do
transformar e de destruir para criar estará bem vivo nas nossas mãos. Podemos,
se a assim o quisermos, ser “aqueles que
por obras valerosas / se vão lei da
morte libertando”, como diria Camões n’Os
Lusíadas. Existe portanto aqui uma potência de criação que permite a
passagem do limiar do comum, a génese da unicidade. Se a acolhermos, a luz
eclodirá da escuridão e do silêncio, tornando-se o princípio da criação.
Esse nascer do silêncio é expresso também por Mercúrio em
Balança no Lugar sob a Terra (IV). Aqui a palavra, enquanto princípio de
harmonia, torna-se a fundação, a raiz da realidade. Ora, como Estrela da Manhã
e primeira luz do amanhecer, Mercúrio, unido a Marte, ao Sol e à Lua, fará da
palavra uma força de vanguarda, uma claridade radical entre as trevas. Esse
valor torna-se dádiva ao unir-se salutarmente aos benéficos, ou seja, forma um
trígono com Júpiter e um sextil com Vénus. Este último, por a luz dominante ser
a do segmento nocturno, torna-se o grande benéfico. Vénus, sob o horizonte, em
Sagitário e no Lugar da Má Fortuna (VI), apresenta-se como a sabedoria que anda
entre nós, mas não é vista, o feminino ocultado.
Existe, deste modo, uma dádiva que une a palavra à
sabedoria sob o véu de um princípio de atracção, porém, essa é uma luz
invisível, que os humanos teimam em não ver. A união auspiciosa de Mercúrio e
Vénus, bem como de Júpiter e Saturno, ao corpo do Dragão da Lua corrobora o
sentido desta mensagem (Mercúrio trígono à Caput
Draconis, Vénus conjunta à Cauda e
Júpiter e Saturno trígono à Caput). A
sabedoria é uma potência oculta, um valor que a humanidade teima em renegar e
não transforma em palavra viva, em conhecimento. A Deusa Sophia é a promessa do
amanhã, aquela que ainda não desceu ao espaço e ao tempo e que não vive ainda no
seio da humanidade. Essa é a quadratura de Vénus a Neptuno. Aquilo que se
deseja está cingido por uma ausência de universalidade, de visão do Todo. A
imaginação criativa eclipsa-se pela atracção da ilusão. A compaixão não sai do
Lugar de Deus (IX) e não chega nem à sabedoria, nem ao amor. Porém, o potencial
permanece, está guardado como um tesouro.
Os luminares, enquanto luz oculta sob a terra, guardam essa
Compaixão e Amor de Deus, tornando-os um potencial de criação, uma força
imaginativa e criativa (trígono do Sol e da Lua, e de Marte, a Neptuno), pois
Neptuno representa agora aquilo que se faz (conjunção ao Ponto de Culminação).
A luz tem, porém, uma dificuldade de efectivação, uma vez que forma, juntamente
com Marte, uma quadratura com Júpiter e Saturno e, estando estes no Lugar da
Morte (VIII) e no signo da humanidade (Aquário), a proposta do novilúnio de
transformação radical encontra um dificuldade material e formal. No entanto, o
sextil do Sol, da Lua e Marte a Plutão permitem, após cumprir-se a morte e o
renascimento, o efectivar desse potencial luminar. Esse esforço sofrerá todavia
a adversidade actual de se tornar palavra (quadratura de Mercúrio e Plutão). O
tempo, tecendo a sua magia e sortilégio, revela que o hoje se esfuma e o amanhã
se adensa. O trígono de Mercúrio e Saturno mostra que essa palavra perdida,
sussurrada ou calada poderá, porém e em breve, tornar-se discurso e criar novos
mundos.
Por outro lado, os aspectos de tensão que se erguem com
Úrano (oposição aos luminares e a Marte e quadratura a Júpiter e Saturno)
expressam, entre outros sentidos, a Revolução da Terra, o grito de revolta da
Mãe-Terra, as alterações climáticas e a cristalização dos valores humanos. A
pobreza torna-se cada vez mais uma forma de opressão e, onde esta existe, a
revolução nascerá. A cimeira de Glasgow, a COP26, mostrará também a
incapacidade dos líderes mundiais criarem um verdadeiro plano ecológico, um
conjunto de medidas que tenha um propósito genuíno de transformar o mundo e a
humanidade e de enfrentar as alterações climáticas. A febre dos combustíveis
fósseis destrói a construção do futuro. As palavras tornam-se vazias e não
existe um compromisso que rompa com a mobilidade desenfreada e o consumismo desmedido.
O novilúnio ocorre em plena cimeira, mas infelizmente a luz não brilhará, pois
as soluções perdem-se naquilo que corrompe o humano: dinheiro e privilégios.
Marte une os seus raios em trígono com Neptuno e em sextil com Úrano. A força do morrer e do renascer colhem as bênçãos da compaixão e da humanidade, do acto de imaginar e mudar. Só existe esperança no humano, na excepção que luta contra o mundo. Os jovens que dizem que não existe Planeta B, que saem à rua e enfrentam o comum, o modo de vida que a maioria não quer mudar, são a esperança e a resistência. A crise energética, de combustíveis, electricidade e gás natural, resulta dessa dicotomia, dessa luta entre aqueles que querem manter uma sociedade centrada num determinado modelo de mobilidade e aqueles que querem um modo diferente de vida. Esse elemento de passagem resulta igualmente da estruturação que tem vindo a ser pedida pelos sextis de Úrano a Plutão e a Neptuno e pelo trígono de Úrano a Plutão, onde se conjuga a Revolução da Terra, a Compaixão como Unicidade e o Poder da Morte.
Regressemos, porém, ao grande benéfico deste novilúnio, Vénus, aquela que une a sua mensagem à de Marte e dos luminares, mostrando o sentido da luz, do Segmento de Luz (αἵρεσις). Deve-se acolher a dádiva da união dos benéficos (sextil de Vénus a Júpiter) que, pela sua localização, une a sabedoria e a humanidade (Sagitário e Aquário), mas nos lugares da Má Fortuna e da Morte, ou seja, essa união terá de nascer da destruição e da ocultação. O peso da gravidade temporal face ao desejo de viagem, de travessia do eu para o si, é revelado pelo potencial de acção que une, em sextil, Vénus e Saturno. O Amor e o Tempo são sempre os limites radicais de compreensão da realidade, aqueles que forçam o humano a integrar a humanidade. Nesta Lua Nova, sob véu vulcânico de Escorpião, os dons de destruir e criar, de mudar e transformar, bem como aqueles que fixam a capacidade resistir e actuar, serão particularmente visíveis e, sob o véu de Ísis, anunciarão os dois eclipses que marcam o termo do ano.
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