terça-feira, 5 de outubro de 2021

Lua Nova em Balança: Reflexões Astrológicas

  Reflexões Astrológicas


Lunações

Lua Nova em Balança

Lisboa, 12h05min, 06/10/2021

 

Sol-Lua

Decanato: Saturno

Termos: Mercúrio

Monomoiria: Sol

 

            Neste mês de Outubro, o encontro dos luminares ocorre no signo de Balança, de dia e acima do horizonte, no Lugar do Bom Espírito, ἀγαθόν δαίμων (III), no decanato do Saturno, termos de Mercúrio e monomoiria do Sol e com Sagitário a marcar a hora, estando o eixo do horizonte junto ao do Dragão da Lua. O Sol está no seu próprio segmento de luz (αἵρεσις), sendo o portador da luz neste novilúnio. Já a Lua está fora do seu segmento de luz, num signo masculino e diurno, logo a sua luz de prata está enfraquecida. A posição da sizígia nos doze lugares acentua o carácter solar e masculino deste encontro.

            No entanto, o Lugar do Bom Espírito confere sempre uma elevação espiritual, uma transposição da materialidade, da fortuna terrena e da individualidade. Neste lugar, a regência de Júpiter e a força significativa do conceito de δαίμων permitem uma expansão da alma até ao espírito e uma interiorização da gnose. De igual forma, o sentido relacional do signo de Balança concede também um crescimento desta gnose individual até ao próximo, até ao outro. A alteridade primordial da lei da harmonia obriga mesmo a esse processo. A evolução do humano tem de integrar a realidade da partilha e da interacção, ou seja, a visão da totalidade tem de si iniciar no limiar do eu.

            Com os luminares estão também Mercúrio e Marte, todavia, encontram-se ambos fora do seu Segmento de Luz. Mercúrio por estar numa posição posterior ao Sol, estando ainda sob os seus raios, adquire um carácter feminino, pertencendo assim ao segmento da Lua. Ora esta natureza de Mercúrio está também de acordo com o facto de estar retrógrado. Mercúrio, o senhor da palavra, encontra-se muito debilitado, tornando difícil a partilha e a harmonia através da discurso e do conhecimento. Esta posição relativa de Mercúrio torna-o também um promotor de desinformação e de ideias disruptivas. O acto deliberado de levar a mentira ao outro como se fosse verdade estará particularmente destacado neste período. A força da palavra ganha assim um carácter regressivo e senão mesmo repressivo.

            Marte, por seu lado, partilha alguns dos elementos que definem a posição de Mercúrio, todavia, existe alguma ambiguidade no seu sentido radical. Por um lado, sabemos, segundo as lições dos astrólogos antigos, que Marte é o único que não se deixa queimar pelos raios do Sol, pelo contrário, a sua força sai reforçada. Ora Marte não está só sob os raios como está no seu coração, ou seja, a menos de um grau do luminar. O Coração do Sol está para astrologia antiga como o Cazimi está para a astrologia árabe. Desta forma, a posição estaria favorecida, contudo Marte está Exílio, estando portanto a sua acção operativa enfraquecida, e está ainda fora do seu Segmento de Luz, fazendo dele o maléfico dominante e cuja acção é mais destrutiva. A posição de Marte resume assim uma certa dualidade que tenderá a existir entre acção e inacção, entre potência e impotência, entre a força que cria e a força que destrói. De qualquer forma, ser-lhe-á muito difícil contribuir para a harmonia que é pedida pela sizígia do novilúnio. Pelo contrário, tenderá a trazer a malícia e o conflito não de forma directa, mas habitando na sombra.   

            Em contrapartida, os luminares, bem como Mercúrio e Marte, unem-se em trígono com Júpiter e Saturno que se encontram no Lugar da Deusa (III). Por estarem no seu Segmento de Luz, os senhores do espaço e do tempo adquirem um carácter benigno e vantajoso que vê somente a já conhecida ameaça de Úrano (quadratura). Ora pela posição de Úrano na VI, na Má Fortuna, e pelo fim da retrogradação de Plutão no mesmo dia do novilúnio, a pandemia vai mostrar que ainda não chegou o seu fim, seja pela sua persistência em países já com boas taxas de vacinação, seja pela sua disseminação em países que, devido à soberba de outros, ainda receberam vacina, ou também pelo surgimento de outras variantes. A quadratura de Plutão aos luminares - e a Mercúrio e Marte - refere também este sentido, bem como pode descrever o peso, em termos mundiais, dos negacionistas e dos populistas. Com um outro sentido, a terra continuará a tremer e a borbulhar fogo e lava. Esse é o poder da morte sobre a terra.

            A ligação benéfica da sizígia, Mercúrio e Marte com Júpiter e Saturno (trígono), bem como a união também triangular à Caput Draconis, representa uma forte união significante no elemento ar. As qualidades de uma mente activa e agente como forma de expressar a humanidade e o humano tornam-se não só dominantes como necessárias. A exigência do pensamento e do espírito crítico tornam-se portanto fundamentais nos nossos dias. Os perigos da superficialidade acrítica revelar-se-ão, mostrando o quão necessário é o espírito reflexivo. No entanto, esse imperativo da razão, seguindo a mensagem do Dragão de Lua, terá de ter a Sabedoria como origem, fundação e base. Sem os grilhões da Razão de outrora, a Sabedoria renascerá.

            Depois do elemento dionisíaco de Nietzsche e do inconsciente da psicanálise de Freud, a humanidade compreendeu a parcialidade da razão e trouxe até si o potencial do irracional. Ora a Sabedoria como origem permite que existe em si a Razão e o Irracional, mas lembremo-nos que o irracional não é sinónimo de ignorância, daí que o excesso de elemento ar possa fazer do pensamento uma vaidade efémera e vazia ou um fanatismo restrito e opressivo. Esta é, porém, uma oportunidade de trazer novas ideias ou de recuperar, com um novo olhar, velhos conceitos. Existe um potencial comunicativo e discurso nesta união de astros (Sol, Lua, Mercúrio e Marte em Balança; Júpiter e Saturno em Aquário; e Ponto Poente e Caput Draconis em Gémeos) que vem exacerbar a importância das ideias e também das ideologias, dos conceitos e das correntes de pensamento. A mente vai porém necessitar de equilíbrio e de harmonia, do propósito de Balança.

            A conjunção de Neptuno em Peixes com o Ponto Subterrâneo (IC) confere ao Amor Universal o potencial de origem e fundação, tornando a compaixão, a empatia e a solidariedade os alicerces do futuro, os pilares de um novo mundo e de uma nova humanidade. No entanto, a quadratura de Neptuno ao corpo do Dragão Lua relembra a dificuldade de a Sabedoria se tornar Palavra e de como os vícios da imaginação, ou seja, a ilusão e o engano poder-se-ão tornar os braços armados da ignorância, a mãe de todos os males, aquela se opõe à Sabedoria, ao Eterno Feminino. A partir do seu Exílio em Escorpião, conhecendo a morte e o renascimento, Vénus, a Dádiva do Amor, une-se em quadratura a Júpiter e Saturno e a Úrano (oposição), Neptuno (trígono) e Plutão (sextil). Ora estes três últimos unem-se também entre no triângulo anteriormente referido (sextis de Úrano e a Plutão e a Neptuno e trígono de Úrano a Plutão), o mesmo que conjuga a Revolução da Terra, a Compaixão como Unicidade e o Poder da Morte.

            A posição de Vénus, que está fora do seu Segmento de Luz, mas a ascender no horizonte, é determinada essencialmente pela relação do seu estado de exílio com a união quadrangular a Júpiter e Saturno. Essa união adquire uma certa especificidade, pois a quadratura com Júpiter é favorável, embora estruturante, dado que une os dois benéficos, um deles bonificado pelo facto de estar no seu Segmento de Luz (Júpiter), e a quadratura com Saturno é mitigada por este estar também no seu segmento. Assim sendo, esta relação, que se estabelece entre o Lugar da Deusa (III) e o do Mau Espírito, κακός δαίμων (XII), serve de véu de ocultação, de sombra, àquela que se firma entre a sizígia, Mercúrio e Marte e Júpiter e Saturno. Vénus está ocultada, negada, num lugar de sombra, a XII. Na verdade, existe uma semelhança na condição de Vénus e Marte, todavia, este último oculta-se, exilado, sob os raios do Sol, já Vénus está fechada num lugar assombrado sob o véu do espaço (Júpiter) e do tempo (Saturno) à espera da luz, da revelação, ou seja, a lei da atracção (Vénus) pede um outro espaço e um outro tempo, onde o desejo se torne concórdia.

            O novilúnio de Outubro, em Balança, torna a harmonia do pensamento a anunciação dos dois eclipses que irão marcar a parte final do ano e as mudanças astrológicas que se vão começar a sentir com o fim da retrogradação de Plutão, Saturno, Júpiter e Mercúrio (ordem cronológica). A harmonia nasce do movimento. Lembremo-nos da carta de Tarot a Temperança e de como o eterno fluir das coisas, equilibrando os opostos, é o sentido da Sabedoria (Sagitário). O encontro dos luminares dá-nos neste mês lunar o potencial de criação que é a partilha da luz e a união das suas bênçãos.

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