Reflexões Astrológica
Lua
Cheia: Eixo Capricórnio – Caranguejo
Lisboa, 19h40min, 24/06/2021
Lua
Decanato:
Júpiter
Termos:
Mercúrio
Monomoiria:
Sol
Sol
Decanato:
Vénus
Termos:
Marte
Monomoiria:
Marte
Depois de dois eclipses que colocaram sobre o mundo e o
humano a aprendizagem do valor da luz e da sombra, da palavra e do silêncio,
esta Lua Cheia vem acentuar, tal como é próprio da sua natureza, uma outra dicotomia:
a relação entre a Graça da Origem (Caranguejo) e a Glória do Fim (Capricórnio).
Ora este sentido axial, que não é uma verdadeira oposição, mas sim um olhar
diametralmente de frente, está colocado sobre um outro, aquele que une a II e a
VIII, o Modo de Vida e a Qualidade da Morte. O eixo do plenilúnio coloca, desta
forma, a Lua sob o horizonte (II) e o Sol acima (VIII), a caminhar para o seu
crepúsculo. Neste posicionamento que fixa em cada margem do rio da realidade a
vida e a morte, a tradição e a ruína, os luminares não estão sós. Existe uma
co-presença em cada um destes lugares. Com a Lua, está Plutão e Vénus está com o
Sol. A Morte (Plutão) encontra a Alma (Lua) no seu próprio modo de vida (II),
obrigando a tradição (II) a fazer renascer o poder do feminino (Lua em
Capricórnio), e o Amor (Vénus) encontra a qualidade da morte (VIII) na luz da
origem (Sol em Caranguejo), trazendo um sentido às ruínas.
O significado que a luz encontra nesta Lua Cheia une-se
necessariamente ao de dois outros eixos que junto a si se fixam. A linha do
horizonte, que fixa o Horóscopo (Asc.) em Sagitário e o Poente (VI) em Gémeos,
é cingida pelo Dragão da Lua que ocupa a mesma posição zodiacal. Esse é o
caminho que projecta a Sabedoria (Sagitário) na Palavra (Gémeos), que permite e
concede um sentido profundo ao conhecimento. A ciência evolui, a medicina
também, a esperança média de vida aumenta, mas para onde caminhámos? A
sabedoria torna-se assim uma dádiva de sentido e um meio para a transformação
da palavra. É o poder do feminino (Lua em Capricórnio) que fixa o valor de um modo
de vida (II) e a sabedoria torna-se o rosto dessa consagração.
Os luminares, conjuntamente a Vénus e Plutão, lançam,
neste plenilúnio, os seus raios para Júpiter, Úrano e Neptuno, com os quais
estabelecem uma união harmoniosa (trígonos e sextis). Destas bênçãos, podemos
colher a necessidade de se fundar, a partir das profundezas da realidade, um
mundo de verdade e justiça (Júpiter em Peixes na IV, o Lugar Sob a Terra), de
se revolucionar o valor do serviço à Terra e ao próximo, sobretudo quando as
adversidades se adensam e a pandemia destrói o normal (Úrano em Touro na VI, a
Má Fortuna), e, por fim, de se fazer da compaixão, do Amor de Deus a base
primordial da nossa acção (Neptuno em Peixes, na IV). Essa harmonia luminosa é a
promessa de transformação que a humanidade pode trazer a si ou não.
Deve-se, no entanto, ter em consideração nesta Lua Cheia
– tanto no período que a antecede como no que a sucede -, a apreensão da
retrogradação planetária. Firma-se aqui o sentido de apreensão, pois este é um
fenómeno aparente que não depende do objecto, do seu movimento real, mas sim da
subjectividade do observador, da sua posição relativa. Esta apreensão não
resulta, porém, de uma fixação valorativa, isto é, por ser aparente o seu valor
não é melhor nem pior. O movimento de retrogradação, qualquer que seja o
planeta, dá ao observador, seja ele individual ou colectivo, a sensação de recuo
e o sentimento de retorno à origem, todavia, essa apreensão ganha um sentido
mais profundo pelo carácter do astro envolvido. No passado dia 22, com a
passagem de Mercúrio ao seu movimento directo, o silêncio da retrogradação volta
a ser palavra, discurso activo. Já na retrogradação de Júpiter (dia 20) existe,
em vez de uma expansão, um acercar-se, um cingir espacial da Verdade e da
Justiça, daquilo que se constrói, ou seja, por estar retrógrado, Júpiter não
perde a dádiva, o que muda é o sentido espacial. Júpiter junta-se a Saturno e
Plutão e, no dia 25, juntar-se-á Neptuno. Saturno, nesta dinâmica retrógrada, passa
a ser um tempo de retorno e de repetição. Plutão e Neptuno, pela distância que
têm da Terra, perdem parcialmente o seu carácter colectivo e passam a ter uma
acção interna mais expressiva, mas forçam também mundanamente as lições do
passado e da história.
Nesta Lua Cheia, as posições de Mercúrio e Marte são
especialmente relevantes, dado que ladeiam o signo zodiacal onde o Sol se
encontra. Mercúrio marca o seu lugar no Poente (VII), contudo, a sua posição
fixa-se ainda acima do horizonte. Por estar à frente do Sol e para além dos
seus raios, a mais de quinze graus, Mercúrio é uma Estrela da Manhã e o
Mensageiro dos Deuses, o arauto do Logos. Essa posição é acentuada por estar em
Gémeos, no seu domicílio diurno, antes do pôr-do-sol. Mercúrio une também os
seus raios com Marte em Leão (IX, sextil), com Júpiter e Neptuno em Peixes (IV,
quadratura) e com Saturno em Aquário (III, trígono). Neste caso, e seguindo as
lições da Astrologia Antiga, encontramos uma maior tensão no sextil com Marte e
no trígono com Saturno do que na quadratura com Júpiter e Neptuno, dado que a
luz benéfica de Júpiter tende a minimizar os efeitos quadrangulares, demonstrando
aqui a necessidade de procurar a Verdade e o Amor do Deus, bem como a
ancestralidade da comunhão com o divino. A união com Marte e Saturno vai também
nesse sentido, sobretudo pelo facto de Marte estar na Casa de Deus (IX) e
Saturno na Casa da Deusa (III), embora nestes aspectos a dinâmica traduz a
dificuldade de transmissão de uma mensagem, de pela palavra chegar ao outro. A
individualidade não chega ao colectivo e a vaidade não se torna criação.
Marte, na Casa de Deus (IX), expele, qual vulcão primordial
em erupção, os seus raios, dando força à fé e violência à crença. Por estar em
Leão, o Senhor da Guerra vai dar ânimo à individualidade da criação, ao
potencial criativo, mas vai igualmente dar certeza à vaidade e engrandecer a
ignorância. Ora, na Casa de Deus, Marte vai lançar e unir este olhar (oposição)
com Saturno na Casa da Deusa (III). A misoginia e chauvinismo podem marcar,
ainda mais, a religião e a espiritualidade, pois um guru com uma mulher bonita
ao lado não é uma expressão do Eterno Feminino, nem o paternalismo de homens e
mulheres em transformar o retorno da Grande Mãe num elencar superficial e
repleto de lugares-comuns de informações históricas acerca do feminino. O olhar
de Saturno, desde a Casa da Deusa e do Signo do Humano (Aquário), fere a lição
do tempo e da história, anunciando o Eterno Retorno (retrogradação de Saturno),
a Idade do Espírito Santo, da Pomba do Feminino.
A união dos maléficos encontra a sua síntese, o seu
meio-termo, na quadratura que ambos estabelecem com Úrano em Touro (VI, a Má
Fortuna). Esta é uma posição que fere e rasga a realidade por nós
percepcionada. A Força (Marte), o Tempo (Saturno) e a Revolução (Úrano) desferem
golpes disruptivos. No entanto, onde existe tensão e destruição, existe também
a glória e a graça da dádiva divina. Júpiter em Peixes lança os seus raios
benévolos para Úrano em Touro e Plutão em Capricórnio (sextis). É preciso
colher a efemeridade da morte e encontrar o valor nas ruínas, aceitando o
vendaval do Anjo da História. O Amor de Deus não muda, permanece na sua
fortificação, na câmara secreta do coração, o lugar da luz divina.
Neste plenilúnio, será preciso encontrar o caminho,
equilibrando-se na corda que se alonga sobre a realidade, e fundar esse caminho
entre a Glória do Fim (Capricórnio) e Graça da Origem (Caranguejo), pois quem
olha, entusiasmado, para o fim fita necessariamente a origem. Em todas as luas
cheias, é preciso saber receber os dons da harmonia dos contrários.
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