Lisboa, 04h32min,
27/04/2021
Lua
Decanato: Marte
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Marte
Sol
Decanato: Mercúrio
Termos: Vénus
Monomoiria: Vénus
O eixo do plenilúnio de Abril coloca a Lua
(IX) no seu próprio Segmento de Luz (αἵρεσις), no decanato
de Marte, termos de Mercúrio e monomoiria
de Marte, e o Sol (III) fora do Segmento de Luz, no decanato de Mercúrio, nos
termos de Vénus e monomoiria de Vénus.
Nesta primeira Lua Cheia do ano astrológico, encontramos, à semelhança da Lua
Nova de Abril, uma harmonia dos opostos, uma união do feminino e masculino, do
céu e da terra. Desta forma, tal como na anima
e no animus junguianos, existe aqui
uma partilha e uma integração em si mesmo da polaridade original. A Lua adquire
elementos masculinos de Marte e o Sol elementos femininos de Vénus. A sua
localização acentua também este aspecto. O Sol está na Casa da Deusa (III) e a
Lua na Casa de Deus (IX). Esta proposta de integração da dualidade primordial,
da consciência pura de que o Divino é Pai e Mãe, obriga a uma mediação, a um
processo de agregação simbiótica, que é sugerido por Mercúrio tanto por o seu
aspecto andrógino como por o seu carácter de Psicopompo, bem como por Úrano, a
sua expressão musical superior.
O Sol na Casa da Deusa da Lua (III) sob o
horizonte nocturno terá de enfrentar a Sombra, de descer ao abismo, para que a
integração do feminino possa ocorrer e, estando ele em Touro e colocando sob os
seus raios Úrano, Vénus e Mercúrio, terá de obter a bênção da Mãe-Terra, terá de
acalmar a sua ira. A razão dedutiva não será, porém, a via electiva, pois os
três planetas estão numa posição posterior ao Sol, sendo portanto Estrelas da
Tarde, a luz do crepúsculo. O caminho luminar torna-se, deste modo, uma via do
coração. Com a Lua vigiando e olhando de frente estes prorrogadores da senda
eleita, o amor, a arte e a literatura, ou seja, a capacidade de criar a partir
da emoção e do sentimento, do potencial imagético, vai marcar e demonstrar a marcha
ascendente da luz desde o abismo da sua própria realidade.
Os Senhores do Espaço e do Tempo (Júpiter e
Saturno em Aquário), a partir do lugar do Mau Espírito (κάκον δαίμων), lançam um
olhar de tensão (quadratura) sobre o desafio solar de descer aos infernos, a
catábase, qual Ishtar ou Orfeu. Saturno mostra como o tempo da Terra colide com
o tempo do Humano e Júpiter, enfraquecido pela saída anunciada do signo em que
se encontra, revela como a matéria se molda também em destruição e em excesso,
com cheias, sismos e vulcões ou com urgência de postigo ou esplanada. Este encontro
alerta também para os perigos de uma sociedade líquida. Por outro lado, Plutão
em Capricórnio, a partir do Bom Espírito (ἁγαθόν δαίμων), une-se em
trígono ao Sol e àqueles que estão sob os seus raios. Ora também Neptuno
partilha as bênçãos ao unir-se em sextil, a partir do Leme do Vida, do
Horóscopo em Peixes, proclamando a chegada próxima de Júpiter, o seu regente. Note-se
que esta relação com Neptuno e Plutão surge, naturalmente, de forma inversa com
a Lua (sextil com Plutão e trígono com Neptuno), existindo pois uma tensão com
Saturno e Júpiter (quadratura).
Estas dádivas de transformação (Plutão) e
imaginação (Neptuno) são colhidas pela luz (solar e lunar), mas também por uma
proposta de revolução (Úrano), da palavra que cria (Mercúrio) e do amor que
eleva (Vénus). Enquanto Estrelas da Tarde estes planetas adquirem também um
carácter feminino, logo a sua expressão, até por estarem na Casa da Deusa da
Lua (III), sendo por ela vigiados (Lua em oposição), vai demarcar e acentuar o
imperativo do regresso do Eterno Feminino, do Paracleto nascido Mulher. Essa é a
revolução da Terra-Mãe e da Deusa Sophia, aquela que vencerá o chauvinismo
misógino e paternalista dos populismos de extrema-direita. Em Portugal, ela é
também o Abril por cumprir, a necessidade de uma revolução que, por continuar a
ser necessária, permanece viva no tempo. No resto do mundo, é o mesmo espírito
de mudança que clama pela sua presença. A verdadeira transformação espiritual
não eclodirá sem que exista uma verdadeira transformação social. Na pobreza e
em grilhões, o espírito definha. A aurora sibilina do tempo da Grande-Mãe, do
Império do Espírito Santo, não nasce de uma espiritualidade burguesa que afasta
o seu olhar da realidade, ela terá sim de surgir de um Amor Universal que
guarda o planeta e os que nele habitam.
Marte, na Casa da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), une os seus raios,
de forma benigna, com a Lua (trígono) e com o Sol, Úrano, Vénus e Mercúrio (sextil),
mas também com o Horóscopo e Neptuno (trígono). Já com Plutão estabelece
oposição, embora estejam ambos em lugares benéficos. Esta posição de Marte e
por estar em Caranguejo traz consigo um potencial que cinge ora a força da
origem, ora a tensão da origem. Essa pulsão umbilical promove o poder da
criação, mas obriga, por vezes, também à protecção daquilo que se julga ser a
fundação da nossa realidade, mas que, com frequência, é uma poeira de vaidades.
De forma igualmente benéfica, o corpo do Dragão da Lua estende-se junto ao eixo
de culminação (IV a X), continuando a afirmar a passagem, a viagem, da
sabedoria à palavra. A Deusa Sophia desce desde o cume do mundo e,
estendendo-se no espaço e no tempo (Júpiter e Saturno, trígono à Caput e sextil à Cauda Draconis), leva a sua palavra à humanidade. Em suma, nesta
Lua Cheia, o Divino Feminino será fonte e passagem.
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