Reflexões Astrológica
Lisboa, 19h48min,
28/03/2021
Lua
Decanato: Lua
Termos: Mercúrio
Monomoiria:
Mercúrio
Sol
Decanato: Marte
Termos: Vénus
Monomoiria: Sol
O eixo do plenilúnio envolve, neste de mês de
Março, o horizonte, firmando-se a Lua sob o Horóscopo (I) e o Sol sobre o
Poente (VII). Existe neste posicionamento uma relação evidente com o nascimento
e a morte ou com a ascensão e o declínio. A Lua está a nascer no sétimo signo
zodiacal (Balança), o lugar do outro, e o Sol está a pôr-se, a morrer, no
primeiro signo (Carneiro), o lugar do eu. Torna-se portanto evidente o sentido
da inversão axial. A consciência do outro é a aurora do dia futuro, do tempo
que se constrói. Por outro lado, as teias de vaidades que cingem o eu morrem
com o pôr-do-sol, afundando-se na noite, nas águas profundas do inconsciente,
não para morrer, mas para alimentar o abismo da nossa existência ou então para renascer
num novo dia, refeitas no lago de Narciso.
Os termos egípcios em
que se encontram os luminares apontam também para essa condição de passagem, de
nascer e morrer. A Lua está nos termos e na monomoiria
de Mercúrio, bem como no seu próprio decanato, ou seja, o carácter demiúrgico
de Mercúrio, de Psicopompo, traz da noite, do submundo, a sua Senhora. O
primeiro lugar é o sítio onde a vida, enquanto princípio biológico, se cria, é a
criança que emerge do útero, é a Grande-Mãe, criada e criadora, que surge
sozinha das águas primordiais. Já o Sol encontra-se nos termos de Vénus, na sua
própria monomoiria e no decanato de
Marte, com quem se une em sextil. Ora o Sol cadente lança os seus raios para o
Senhor da Guerra na Casa de Deus (IX), revelando como o desaparecimento do eu
coincide com a imersão em Deus. O eu, quando soma de todas as vaidades, separa
a consciência de si da totalidade divina e da unidade que se oculta. A
sabedoria da Casa de Deus tende a esperar e a sussurrar, mas com Marte clama,
exorta, gritando, as bênçãos das suas dádivas. O regresso a casa é uma profunda
luta interna. Essa é também a lição de Vénus ao se encontrar no Coração do Sol,
mostrando como o Amor-Próprio encontra a luz poente para renascer num novo dia,
no Amor de Deus. O Divino Feminino conduz o eu à sua morte e, no seu ventre,
fá-lo-á renascer como a luz da consciência de si.
O corpo do Dragão da Lua persiste na sua
mensagem, no seu caminho, que transporta a sabedoria (Cauda Draconis em Sagitário) para a palavra (Caput Draconis em Gémeos). Essa é uma passagem, entre as margens do
rio da realidade, que nos leva da Casa da Deusa (III) à Casa de Deus (IX). No
entanto, a palavra é agora uma arma que tanto guarda como fere e esse é o
prenúncio nefasto dos nossos tempos. Marte em Gémeos na Casa de Deus (IX) pode
ameaçar o Feminino com discursos paternalistas ou com uma misoginia crescente.
A Era do Espírito Santo, que é o tempo universal do Divino Feminino, traz antes
de si momentos de guerra e as armas serão também as palavras e as ideias. A
objectificação da mulher e do feminino e a persistência dos valores patriarcais
afrontam a luz do tempo futuro.
Existe também um outro lado da comunicação,
pois a união de Mercúrio com Neptuno, na Casa da Má Fortuna (VI), traz consigo
a ilusão do negacionismo. Neste lugar, Peixes não consegue tornar-se a síntese
do Amor de Deus, pelo contrário, dispersa-se como um oceano, levando a uns
sabedoria e fé e a outros ilusão e engano. Aqui, no lugar da saúde, vamos
encontrar o discurso daqueles que negam máscaras e vacinas e que negam
sobretudo a empatia pelo outro, por aquele que sofre. Com este posicionamento,
o maior perigo é estar fechado nos próprios conceitos, tornando a certeza uma
névoa de ignorância. Mercúrio e Neptuno unem-se, em sextil, com Plutão que se
encontra no Lugar Sob a Terra (IV). Hades encontra-se no Tártaro profundo,
trazendo consigo o poder e a autoridade (Capricórnio) do memento mori. A lembrança da nossa mortalidade e o conhecimento da
morte enfrentarão o negacionismo e a ameaça da ausência de compaixão. A
consciência da morte dispersa as certezas e as palavras vãs. É preferível estar
na sombra com a sabedoria do que no meio da multidão com a ignorância. Não
existe reconhecimento no efémero.
Júpiter e Saturno na Casa da Boa Fortuna (V) trazem consigo o dom de criar. Do corno de Amalteia, da cornucópia da abundância que é o Lugar da Boa Fortuna, os senhores do Olimpo, do espaço e do tempo, trazem consigo as bênçãos da arte, da filosofia, da literatura, de toda a criação que concede humanidade ao humano. A presença de Júpiter e Saturno no signo de Aquário e agora na Casa V vão mostrar como os tempos extraordinários são também tempos de criação. O Senhor do Tempo une-se, de forma quadrangular, com Úrano que, por seu lado, se une em sextil com o Meio do Céu, no uterino lugar da Caranguejo. Úrano encontra-se na VIII, no Lugar da Morte, mostrando que criar é também morrer. O Deus Castrado é enfrentado pelo Deus da Foice, ou seja, o tempo impõe o seu magistério sobre o céu, revelando o finíssimo véu que une inacção, acção e reacção, a potência e a impotência do acto, e cingindo a obra da natureza ao ditame da necessidade.
Nesta Lua Cheia, a primeira do ano astrológico, iniciado no Equinócio da Primavera, a mensagem que surge como síntese diz-nos que só o Amor de Deus, aquele que une todas coisas, sem vínculo a credo ou religião, sem forma ou género, permite que se acolha, no eu, o outro. Esse estranho, pela força da empatia e da compaixão, torna-se a consciência de si. De igual forma, a Sabedoria do Divino Feminino será a luz da madrugada, da hora esperada.
Sem comentários:
Enviar um comentário