segunda-feira, 9 de outubro de 2023
quinta-feira, 14 de setembro de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Lua Nova em Virgem
Reflexões Astrológicas
Lisboa, 02h39min, 15/09/2023
Sol-Lua
Decanato: Mercúrio
Termos: Marte
Monomoiria: Mercúrio
A
Lua Nova de Setembro ocorre no signo de Virgem, estando Caranguejo a marcar a hora
para o tema de Lisboa e, deste modo, na III, no lugar da Deusa, no decanato de Mercúrio,
nos termos de Marte e na monomoiria de
Mercúrio. A sizígia dá-se pois abaixo do horizonte e a cerca de quatro horas e
meia do pôr-do-sol. Os luminares, estando a Lua no seu próprio segmento, embora
submersa, encontram-se num caminho de ascensão, rumo ao lugar de origem. Esse
efeito matriz é expresso pelo facto da distribuição tópica de lugares ou casas
ser a mesma do Thema Mundi, ou seja,
com Caranguejo a marcar a hora. A disposição torna-se particularmente
significativa se tivermos em consideração que a luz da sizígia emana de um
lugar que lhe natural.
Segundo
o Thema Mundi, o Eterno Feminino expressa,
no eixo de Virgem-Peixes, o seu valor de númen primordial de transformação, mas
de também de revolução. Este eixo, porque na ordem Vernal indica o meio e o fim
e na ordem do Thema Mundi o lugar da
Deusa e do Deus, vai apresentar o sentido profundo da parte e do todo. Esse é
um mistério iniciático que permite a revelação ou a interiorização dos
desígnios da Necessidade, da Fortuna. A compreensão da parte, ou seja, do lote
ou do quinhão do destino, do pequeno fio que cinge o caminho na urdidura da
Grande Tecedeira, é algo que podemos encontrar no signo de Virgem.
Toda
a parte passa, em Virgem, por um processo de distinção que só será estabilizado
em Peixes, com a integração no todo. Ora é neste lugar que Mercúrio encontra o
seu domicílio e exaltação, pedindo portanto esse esforço de análise ou
compreensão. Da lição de Hermes Trismegisto, isto é, do lugar da Deusa, o de
Virgem, podemos elevar-nos até ao lugar do Deus, onde os benéficos, Júpiter e
Vénus, expressam a sua luz. Em Peixes, a visão do todo vai permitir o regresso
da Deusa Mãe e a harmonia dos opostos. Esta é a sibila do tempo, cantando a
madrugada futura. A luz de uma sizígia em Virgem, no lugar da Deusa, escreve
esse potencial, guardando a candeia que se erguerá. No entanto, o esforço de
compreensão da parte não é fácil. Cada lote emanado pelas Meras representa um
desafio. Ele surge pois como um enigma, uma suspensão da realidade, do todo, de
modo a tornar possível a sua distinção face aos demais.
Plutarco, no
livro A Fortuna ou a Virtude de Alexandre
Magno, fala-nos desta dificuldade, quando diz que “Devemos dizer, então, que a Fortuna faz os
homens pequenos, medrosos e mesquinhos? Mas não é justo ligar o vício à má
sorte, nem a coragem e a sabedoria à boa sorte. Muito, ao invés, teve a Fortuna
a ganhar no reinado de Alexandre, porque então ela foi prestigiosa, invencível,
magnânima, moderada e humana; pois, mal que ele morreu, logo Leóstenes disse
que as suas forças, nas suas errâncias até à exaustão, se assemelhavam ao
Ciclope que, depois de ter ficado cego, estendia suas mãos para tudo sem
nenhuma meta: do mesmo modo o grande império agitava-se no vazio e desabava por
causa da anarquia.” (336E-F, ed. R. Marques Liparotti, 90. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017). A
distinção do sentido de cada lote conduz-nos necessariamente a este esforço de
compreensão, daí que, por exemplo, os lotes astrológicos tenham uma importância
vital em todo o sistema helenístico. São a mimésis
deste sentido primordial
O filósofo platónico continua essa
ideia, afirmando que “Assim
como os artistas inábeis, colocando grandes bases sob pequenas estátuas
votivas, lhes expõem a insignificância, também a Fortuna, de cada vez que eleva
um ânimo medíocre por actos de peso e notoriedade, o que faz é desnudá-lo e
desonrá-lo mais explicitamente, por causa dos erros e da vacilação gerados pela
sua leviandade. A grandeza consiste, portanto, não na posse, mas no uso dos
bens, já que até as crianças herdam reinos e poderes paternos, como Carilau,
que Licurgo levou de fraldas a um convívio público e proclamou, em sua vez, rei
de Esparta.” (337 C-D, ed. R. Marques Liparotti, 92). Se,
de acordo com os dons de Hermes, se compreender, separando e distinguindo, os
fios que o destino teceu, então a Vénus Celestial, exaltada em Peixes, poderá
surgir como revelação. Essa é, de certa forma, a mensagem do Livro XI de O Burro de Ouro de Apuleio, quando a
deusa Ísis surge como a salvadora de Lúcio, metamorfoseado em burro e sujeito
às vicissitudes da Fortuna. Compreendida a parte, o todo ilumina-se.
A sizígia de Setembro insere-se,
primeiramente, num caminho ascendente de luz que se estende do próprio encontro
dos luminares até Mercúrio retrógrado, o único planeta nesta condição abaixo do
horizonte. Este caminho indica, porém, uma certa dificuldade de passar a
mensagem de Virgem, de compreender, distinguindo, cada lote do destino.
Paralelamente, este caminho insere-se numa via mais extensa que vai de Marte em
Balança, junto ao Ponto Subterrâneo até à Vénus em Leão. Nesta senda, a
harmonia dos opostos vê reforçada o seu imperativo escatológico de via
salvífica de união entre o Deus e a Deusa, entre o Sol e a Lua. A retrogradação
de Mercúrio apresenta, deste modo, uma certa resistência em interiorizar-se a
mensagem do Eterno Feminino. Esta não é, todavia, uma novidade. Nas últimas
décadas, quando se assistiu a uma expressão dinâmica da mensagem de um Divino
Feminino, independentemente da sua forma, existiu sempre um qualquer tipo de
resistência, ora mais académico, ora menos. Marte, no seu exílio em Balança,
evidencia essa permanência, essa acção disruptiva, que suspende ou enfraquece a
força transformativa da Mãe Divina.
Já com uma outra manifestação, agora
acima do horizonte, todos os planetas estão retrógrados (Úrano, Júpiter,
Neptuno, Saturno e Plutão) e, num caminho de escalada pela montanha do céu,
qual Monte Ida, ou seja, do Ascendente à Culminação, Júpiter é o astro mais
alto. A mensagem do grande benéfico é aquela que já abordámos na reflexão
acerca da sua actual retrogradação. No entanto, no tema do novilúnio de Virgem,
Júpiter retrógrado em Touro firma-se no lugar do Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων),
corroborando aqui o sentido profundo da compreensão de um lote ou parte do
destino, pois o termo δαίμων é
tanto o espírito como o destino, como ainda a divindade. A terminologia astrológica
antiga é fértil e revela a especificidade do sistema helenístico,
justificando-se assim a sua continuidade e o seu estudo.
Esta extensão espacial de planetas
retrógrados acima do horizonte encerra ainda uma significação suplementar.
Estes alongam-se triangularmente pelo céu, desde Úrano e Júpiter em Touro até
Plutão em Capricórnio, junto ao Poente. Existe aqui uma senda da vida à morte,
consolidando-se assim o bem da vida e o poder da morte, o modo de vida e a
finalidade. Este trígono forma com a sizígia e Mercúrio em Virgem um Grande Triângulo
de Terra, um que pede, pela força da retrogradação, uma reformulação das
estruturas de valor. Dada a proximidade astro-mitológica de Virgem, e não
Balança, à deusa da Justiça (cf. Figueiredo, R. M.
de, 2021, Fragmentos Astrológicos,
143-6),
esta renovação axiológica exige que se faça dos bens uma virtude, ou seja, em
si mesmos, os bens do mundo não valem nada, servem apenas de meio para a
natureza humana se expressar e para a humanidade ter uma vida melhor. A
necessidade conduz-nos, seja por lição ou retribuição, a essa mudança de
paradigma.
A
relação do Grande Triângulo de Terra com o elemento Água é igualmente
significativa, pois temos, por um lado, a oposição de Saturno e Neptuno em
Peixes à sizígia e a Mercúrio em Virgem e, por outro, os dois sextis dos primeiros
tanto a Júpiter e a Úrano em Touro como a Plutão em Capricórnio. Esta é a seta
do destino que refunda a força da Necessidade na possibilidade de se criar uma
liberdade de ser. Estes aspectos, conjuntamente ao sentido profundo do eixo
Virgem-Peixes, vão colocar diante da percepção humana a compreensão daquilo que
se julga ser a dicotomia entre determinismo e livre-arbítrio. Segundo o
espírito da astrologia helenística, influenciada pelo estoicismo, pelo platonismo
e pelo pitagorismo, os fios da Meras tecem os acontecimentos, mas não o nosso
modo de ser e estar. Nesse sentido, a astrologia antiga, ou a sua herança para
uma prática contemporâneo, não pode dizer que indica tendências ou
possibilidades. O destino não muda, o que muda é a percepção de nós mesmos e do
mundo. É um tema complicado, mas Saturno em Peixes vem colocar a Necessidade
num sentido renovado de totalidade. No entanto, para que isso aconteça, e essa
é a mensagem da oposição, é necessário a compreensão de cada lote ou quinhão do
destino, ou seja, seguindo a máximo de Santo Agostinho é preciso crer para
compreender e compreender para crer.
O Dragão da Lua vem fortalecer o sentido profundo da Necessidade. Sobre o eixo Carneiro-Balança, a identidade, criando um elemento significativo de passagem entre a dualidade (Balança) e a unidade (Carneiro), terá de sair renascida, não por via da ilusão da alteridade, mas porque o peso do destino firma a consciência num ensimesmamento esclarecido. Na Cauda Draconis em Balança, a sombra do destino testará o humano e, na Caput Draconis em Carneiro, a luz da providência renovará a sua acção. Esta é uma mensagem importante sobretudo se tivermos em conta que se aproxima a segunda época de eclipses de 2023 (Eclipse Solar a 14 de Outubro e Eclipse Lunar a 28 de Outubro). O peso da sombra do destino está agora mais denso pelo facto de Marte está co-presente à Cauda Draconis em Balança. A debilidade de Marte em Balança e a gravidade da cauda do Dragão da Lua vão trazer consigo a inevitabilidade dos acontecimentos e se considerarmos, por exemplo, a quadratura destes a Plutão em Capricórnio, o sismo de Marrocos e a erupção do Kilauea encontrarão um sentido astrológico.
Já a Vénus em Leão continua, agora no seu movimento directo, o significado que já explorámos anteriormente, dando a nobreza da alma ao desejo e às ligações. A sua união ao Dragão da Lua, por trígono à Caput e sextil à Cauda, vai fazer com que, rumo a um bem maior, o destino consuma a vaidade. Na verdade, a quadratura entre os benéficos fortalece esse imperativo: a universalidade do bem como tensão criadora. Já o sextil de Vénus em Leão a Marte em Balança recupera aquilo que já dissemos acerca do caminho ascendente de luz onde se insere o actual novilúnio. A Lua Nova de Virgem pede, em suma, esse esforço de compreensão dos desígnios da Fortuna, inserindo na razão de um todo cada parte do destino.
quarta-feira, 23 de agosto de 2023
sexta-feira, 28 de julho de 2023
segunda-feira, 10 de julho de 2023
domingo, 2 de outubro de 2022
sexta-feira, 23 de setembro de 2022
Mercúrio em Virgem: De 23 de Setembro a 11 de Outubro de 2022 (2º Ingresso)
segunda-feira, 5 de setembro de 2022
sexta-feira, 26 de agosto de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Virgem
Reflexões Astrológicas
Lua Nova em Virgem
Lisboa, 09h16min, 27/08/2022
Sol-Lua
Decanato: Sol
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Marte
A Lua Nova de Setembro ocorre no signo de
Virgem, com Balança a marcar a hora para o tema de Lisboa, e assim na XII, no Lugar
do Mau Espírito (κακός δαίμων), no decanato de Sol, termos de
Mercúrio e na monomoiria de Marte. A
sizígia dá-se, desta forma, acima do horizonte e cerca de duas horas após o
nascer-do-sol. O Sol encontra-se favorecido por estar no seu próprio segmento
de luz (αἵρεσις) e
no seu decanato, embora num lugar cadente, já a Lua colhe as bênçãos de estar
num signo feminino.
Este
é o novilúnio que marca o fim da primeira metade do ano astrológico e que coloca
a Deusa como a égide reinante do tempo passado e do tempo futuro, do tempo em
que se semeia e do tempo em que se colhe. É a Roda da Necessidade. A sizígia
dos luminares em Virgem indica, deste modo, a luz da abundância, o fruto que
alimentará no Inverno (Hemisfério Norte) ou a semente que amadurecerá no Verão
(Hemisfério Sul). Esta a Deusa cuja cornucópia encontraremos em Capricórnio,
traçando um caminho que une os signos de Terra, um caminho que une a Natureza,
a Deusa e a Abundância.
Na
Tábua de Esmeralda, diz-se que “Todas as coisas nasceram de uma. O seu pai é
o Sol e a sua mãe é a Lua.” (traduzido a partir da versão de Jabir
ibn Hayyan). Esse é o sentido
profundo da sizígia dos luminares numa lua nova, ou seja, o Sol e a Lua
representam os elementos criadores primordiais, a luz que cria o mundo,
tornando o divino, por este meio, pai e mãe. E essa luz representa o que nasce
na Câmara Nupcial e que se oculta nos seus mistérios. É a génese da realidade.
Numa
Lua Nova em Virgem, este valor radical assume, por um outro lado, um carácter
de justa-medida, de proporção, mas também, por outro lado, de processo, de
racionalidade do caminho. Manílio, na Astronomica,
atribui a Virgem a deusa Ceres (II, 442: spicifera est Virgo Cereris).
Ora Ceres, ou a Deméter grega, representam os frutos da terra, aqueles que só
podem ser oferecidos se Perséfone regressar do submundo, do abraço de Hades.
A
associação a Deméter (Ceres) está intimamente relacionada com a atribuição de Astreia
ou Dikê (Justiça) a esta constelação.
Esta é uma atribuição que pode causar estranheza ao leitor ou ao astrólogo
contemporâneo que desconheça a história antiga das constelações zodiacais (cf. Fragmentos
Astrológicos, 2021: 143-6).
Balança é o mais recente dos signos e que originalmente era designado de Garras/Piças de Escorpião (χηλαί), pertencendo pois ao Grande Escorpião (Balança + Escorpião),
aquele envenenou Órion. Gémino, matemático e astrónomo do século I AEC, terá sido o primeiro a usar a
designação ζυγός,
que chegará a nós como a Balança. Podemos, no entanto, encontrar também esta
mudança na astrologia babilónica, embora sempre em textos posteriores à criação
do Zodíaco por volta do século V AEC.
Ora este facto está na génese da atribuição do princípio da Justiça a Virgem e
da sua busca a Balança, o que é facilmente perceptível tanto pelas regências
domiciliares (Mercúrio indica o razão da justiça e Vénus o desejo de justiça)
como pelas suas exaltações (Mercúrio indica o intelecto que permeia o mundo e
Saturno o tempo da justiça e da necessidade).
Astreia
ou Dikê – e, na verdade, também
Deméter – trazem consigo, na riqueza dos seus mitos, um certo elemento de
negação, de ausência. Hesíodo, em Os
Trabalhos e os Dias, conta-nos o seguinte: “E ela segue-os, chorando pela cidade e pelas moradas dos povos, / vestida
da névoa, trazendo desventura aos homens que a baniram e a não distribuem com
rectidão” (222-4
/ trad. A. Elias Pinheiro & J. Ribeiro Ferreira. 2005: 100. Lisboa: INCM). Esta é a mesma negação que
encontramos também em Sophia, a
Sabedoria (cf.
com a Lição IV do meu romance A Casa da
Torre Velha. 2022: 203-8),
e que pode ser lida, por exemplo, no texto gnóstico O Trovão: Intelecto Perfeito, quando afirma: “Eu sou a que foi odiada e amada em todas as partes. Sou aquela a que
chamam Vida e chamaste Morte, a que chamam Lei e chamaste falta de Lei, a que
haveis perseguido e haveis capturado, a que haveis dispersado e haveis reunido”
(16.10-20,
ed. Piñero, Torrents & Bazán, Biblioteca
de Nag Hammadi I, 459. 2005: Ésquilo).
Este
interlúdio explica, para o tema de lisboa, mas também para todos os locais e
pessoas, como o agrilhoamento da Justiça, da sua luz, agora no lugar do Mau
Espírito, revela o mal-estar da humanidade. Balança a marcar a hora revela
também esse desejo, essa pulsão, de justiça, de harmonia, mas também a sua dificuldade,
a sua inacessibilidade. Os luminares ocultam-se nessa pós-ascensão de névoa
cingida, conduzindo para as brumas a Deusa, o Divino Feminino. Esse é um
caminho de rejeição que avançará até ao termo do círculo zodiacal em Peixes e que
aí contemplará o seu retorno ou se dispersará.
No
novilúnio, a quadratura dos luminares a Marte, bem como a oposição a Neptuno,
embora com menor intensidade, uma vez que Marte, face ao Segmento de Luz, é o
grande maléfico, mostra a dificuldade desta mensagem ser compreendida. A Deusa
Astreia continua a ser rejeitada e os seus dons são preteridos, pois a poeira
inebriante das vaidades e da ignorância permanece como a grande companheira da
humanidade. A quadratura natural entre Virgem e Gémeos (os domicílios nocturno
e diurno de Mercúrio) é reforçada por este aspecto. O grande maléfico, durante
a sua longa estadia em Gémeos (20/08/20022 a 25/03/2023), será particularmente
nocivo para à ordem mundial, sobretudo para a paz, para a justiça e para a
solidariedade. A actual quadratura deste aos luminares em Virgem e a Neptuno em
Peixes alerta para este facto.
Por
outro lado, o trígono da sizígia a Plutão em Capricórnio e a Úrano e à Caput Draconis em Touro assume uma
matriz estruturante e um governo da Necessidade na transformação do planeta e
das criações humanas. Esse aspecto está intimamente relacionado com Marte e com
a sua relação com Saturno, o outro maléfico. Não se pense que a passagem de uma
quadratura para um trígono amenizará as tensões mundiais, pois entre os maléficos
os aspectos são sempre disruptivos. Petosíris, já no século I-II AEC, alertava-nos para este facto.
No
caso do trígono, o destino firmará de forma inevitável os seus ditames. Em
Hiroshima e Nagasaki, Marte uniu-se a Úrano em Gémeos, onde as bombas atómicas
foram efectivamente lançadas. Na Crise dos Mísseis em Cuba, Marte em Leão opôs-se
a Saturno em Aquário, com o poder e o seu abuso a exercer a sua força. Este não
é anúncio alarmista, mas o nuclear não saiu da agenda, e as tensões e a guerra,
não só na Ucrânia, pois existe mais mundo, continuarão a exercer uma pressão
imensa sobre a humanidade.
De
uma outra forma, Marte em Gémeos une-se em sextil a Júpiter em Carneiro, que,
por sua vez, se une também em sextil a Saturno em Aquário. O Senhor Espaço, do
Bem e da Justiça, como fogo sempre vivo, está colocado entre os braços de Ar
dos maléficos. A liberdade exige sempre uma escolha e essa é acima de tudo
entre o bem e o mal, entre a sabedoria e a ignorância. O ar pode alimentar, se
contido, nomeadamente pela terra e pela água, o fogo de Héstia ou sozinho pode
tornar o fogo num incêndio e conflagrar o mundo.
No
novilúnio de Virgem, é necessário prestar sempre atenção àquele que nela
encontra o seu domicílio e exaltação. Ora é a partir de Mercúrio em Balança que
se estabelece um caminho ascendente que se estende de um Hermes Psicopompo
(Estrela da Tarde, posição posterior ao Sol) até ao Ponto de Culminação (MC) em
Caranguejo, tendo como timoneiro uma Venus
Lucifera (Estrela da Manhã), uma Vénus em Leão e que também é, na verdade,
um sextil entre Mercúrio e Vénus. Desta via eleita, extrai-se um sentido
profundo que indica o modo como a razão reconhece a singularidade da vida e de
como a harmonia é a razão que permeia o mundo. O divino feminino é aqui, nesta
senda de sentido, a rainha do céu.
O
trígono de Mercúrio ora a Marte, ora a Saturno, coloca a razão e a palavra numa
posição semelhante à de Júpiter, com o qual está em oposição. O pensamento e o
discurso estão sobre uma enorme pressão que tanto pode produzir esforços
negociais, como no caso da ONU e do seu secretário-geral, ou pode acentuar as
posições nacionais, com frequência propagandistas e nacionalistas. A quadratura
de Mercúrio a Plutão traduz também a forma como a palavra pode produzir a morte
ou de como o irracional pode ser a fonte da transformação, mesmo que de forma
destrutiva.
Vénus
em Leão representa um binómio que indica a nobreza como bela e a beleza como
nobre. Este é o desejo régio de ser e criar, de fazer do espanto um entusiamo
criador. Porém, é também a apoteose da vaidade. Neste novilúnio, o trígono de
Vénus a Júpiter, o grande benéfico, irá expandir a dádiva do fogo, da acção que
cria e da nobreza que eleva. Júpiter, porém, está junto ao Poente, anunciando
uma certa ocultação da dádiva e, por outro lado, o sextil de Vénus a Marte, bem
como a oposição a Saturno, revelam também uma tensão sobre essa mesma dádiva e
sobre tudo aquilo eleva a alma e o espírito.
A
relação de Vénus e de Saturno será particularmente expressiva neste novilúnio,
uma vez que se unem quadrangularmente tanto a Úrano como ao corpo do Dragão da
Lua. Esta é uma associação ancestral, pois estes são os deuses pré-olímpicos,
anteriores à ascensão de Júpiter e à hegemonia do masculino, de Júpiter e
Atena. No entanto, existe nessa associação um carácter disruptivo, uma crise de
valor e a mesma negação da Justiça primordial atribuída ao signo de Virgem. A
humanidade, no seu abismo, cisma em não olhar para cima.
Em
suma, a Lua Nova em Virgem leva a luz aos frutos da terra, tornando a natureza
criadora, mas acentua também o intelecto que permeia o universo e o governo discreto
da Justiça e da Harmonia.