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Lua Cheia - Eixo Peixes/Virgem: Reflexões Astrológicas
Reflexões Astrológicas
Lua Cheia: Eixo Peixes – Virgem
Lisboa, 00h55min, 21/09/2021
Lua
Decanato:
Marte
Termos:
Saturno
Monomoiria:
Júpiter
Sol
Decanato:
Mercúrio
Termos:
Saturno
Monomoiria:
Mercúrio
O eixo da Lua Cheia de Setembro
coloca a Lua em Peixes acima do horizonte, no seu Segmento de Luz, no Lugar de
Deus (IX), no decanato de Marte, termos de Saturno e monomoiria de Júpiter. Por seu lado, o Sol em Virgem surge no Lugar
da Deusa (III), abaixo do horizonte, fora do seu Segmento de Luz, no decanato
de Mercúrio, termos de Saturno e
monomoiria de Mercúrio. Quem quer que tenha observado o tema da Lua Nova de
Setembro, concluirá que existe uma grande semelhança com o da Lua Cheia,
firmando-se assim o sentido profundo proposto no novilúnio. À excepção da
natural mudança da Lua, mudam de signo e de lugar somente Vénus (da IV para a
V, de Balança para Escorpião) e Marte (de III para IV, de Virgem para Balança).
Propõe-se, desta forma, uma releitura da reflexão anterior,
visto que a maioria das posições e aspectos é igual.
A regência da deusa Deméter (Virgem)
estende-se portanto da Lua Nova até à Lua Cheia, porém, pela natureza axial de
um plenilúnio essa regência é partilhada. Poseídon (Peixes) assume o seu lugar
no eixo. Porém, pelo facto de tanto o Sol como a Lua se encontrarem nos termos
de Saturno e por este ser o maléfico que se encontra fora de seu segmento, o
mito que melhor descreve esta relação é o da Deméter Negra.
Pausânias, na sua Descrição da Grécia (VIII, 42, 1-13),
conta-nos que no Monte Elaios, perto da Figália, na Arcádia, existia uma
caverna sagrada, dedicada a Deméter Melaina
(μέλαινα), a Negra. Segundo os locais, depois de Poseídon se
ter unido a Deméter, ambos sob a forma de cavalos, pois o deus dos mares
perseguira a deusa da agricultura quando esta procurava a filha, Cora ou
Perséfone, raptada por Hades, e, para se esconder, a deusa transformara-se em
égua e escondera-se no meio de uma manada, mas o deus, sob a forma de um
garanhão, encontrou-a, da união nasceu um filha e não um cavalo. Essa é pelo
menos a tradição local, pois segundo outros nasceu uma filha e um cavalo
divino, Árion. O nome da filha está todavia reservado aos iniciados, sendo
apenas conhecida por Despoina (δέσποινα), a Senhora.
Ora Deméter, furiosa com Poseídon e
pesarosa pela violação da filha Perséfone, refugia-se na referida caverna. Sem
a sua presença, os frutos da terra pereceram e a espécie humana morria de fome.
O deus Pã, ao visitar a Arcádia, encontrou a deusa na caverna e espiou-o,
vendo-a vestida de negro, de um profundo luto. Avisou então Zeus que enviou as
Moiras. As deusas do tempo e do destino - expressões femininas de Saturno -
convenceram a deusa a moderar o seu lamento e a acalmar a sua ira. E assim a
terra tornou-se, de novo, fértil e na caverna foi colocada uma imagem de
madeira da deusa negra com cabeça de égua.
Este mito representa na perfeição a
mensagem da Lua Cheia de Setembro, a mesma que se estende desde a Lua Nova. A
luz oculta do Divino Feminino terá de brilhar de novo. A fertilidade da terra,
do corpo e do espírito é a bênção da sua presença. No entanto, o mito também
nos avisa dos perigos da sua ausência. Na caverna escura, o feminino agrilhoado
desequilibra o mundo. Não existe harmonia se a Mãe Divina não ocupar o seu
lugar. Se a Sabedoria continuar a passar por entre nós e não for reconhecida,
se a insultarem e dela abusarem, as trevas cairão sobre a terra e sobre todos
nós. Essa é a mensagem de Júpiter e Saturno retrógrados no Lugar da Morte
(VIII) e de Plutão poente (VII), bem como das relações que estes tecem
(aspectos).
O eixo Peixes-Virgem neste
plenilúnio entrega-nos, como uma dádiva no caminho, o serviço como via de
salvação. “A solidariedade não é
facultativa”, deixou-nos escrito o Presidente Jorge Sampaio pouco antes da
sua partida. A empatia e a compaixão são uma visão de totalidade (Lua em Peixes
conjunta a Neptuno em Peixes no Lugar de Deus, IX) e saber colher as suas
dádivas é um esforço que transforma o mundo. O serviço alicerçado na
solidariedade (Virgem) e na compaixão (Peixes) tem um enorme poder de mudança.
Este último eixo zodiacal colhe a dádiva do fim e da finalidade e integra a
unidade do humano na totalidade da humanidade e do divino. A necessidade coloca,
para a hora de Lisboa, os dois eventos lunares (Lua Nova e Lua Cheia) no mesmo
signo Ascendente. Caranguejo marca a hora. O signo da origem traz consigo o
cuidado maternal, a Grande Mãe. E, culminando, com a luz da Lua e de Neptuno,
Peixes colhe o olhar do cume que fita tanto o horizonte como o abismo.
Face ao tema do novilúnio e agora ao
tema do plenilúnio e à posição dos luminares, notamos primeiramente que o
grande benéfico, que é uma vez mais Vénus, surge agora com ligações favoráveis
ao Sol (sextil) e à Lua (trígono). A luz do feminino, embora ainda sob o véu de
Ísis, torna-se mais forte. Por outro lado, Mercúrio, que antes colhia as
bênçãos de Vénus, afirma-se agora com a força de Marte. A palavra não cria
harmonia e as ideias antagónicas tornam-se uma fonte de hostilidade. A união de
Mercúrio e Marte em Balança cria um elemento de passagem entre a harmonia e o
conflito, entre a paz e a discórdia. Esse elemento é a força da palavra, o
impulso radical do conhecimento, que pela informação eleva e pela desinformação
destrói. No entanto, Mercúrio surge como Estrela da Tarde, para além dos raios
solares, e anunciando a sua retrogradação, ou seja, a palavra torna-se
pensamento e introspecção, sentimento e intuição.
Marte, embora esteja num signo
diferente, está sob os raios do sol. Porém, como é sabido, segundo a tradição
antiga, Marte é o único que não se deixa afectar pelos raios fulgentes,
abrasivos, do Sol. Ora, estando o Sol junto ao Ponto Subterrâneo (IC) e Marte
no Lugar sob a Terra (IV), existe um carácter visceral e abissal nesta ligação.
No útero da terra, a força da luz (Sol e Marte) surge como passagem, como
proposta de sentido, entre o serviço e a harmonia. Contudo, esta é um elemento
contido no interior da terra, no abismo da realidade. Esse carácter de luz
oculta, de potencialidade não efectivada, pois Marte está em exílio, firma-se
também, por um lado, na relação benéfica com o Dragão da Lua (trígono à Caput na XII e sextil à Cauda na VI), embora este esteja em
lugares nocivos, e, por outro lado, nos trígonos a Júpiter e Saturno e na
quadratura a Plutão.
No que concerne a Júpiter e Saturno
deve seguir-se a regra de Nechepso e Petosíris (F38 Riess), que diz nem todas
as quadraturas são más, contrariamente, nem todos os trígonos são bons. No entanto,
estes conservam o potencial do bem, dizendo-nos aqui que a força da luz (Marte
e Sol) encontra a morte no espaço e no tempo, na justiça e na necessidade
(Júpiter e Saturno na VIII), ou seja, o humano morre perante a afirmação do
limite, do limiar e da limitação, e só na luz poderá renascer. Face à finitude,
a vaidade torna-se serviço e a harmonia surge da integração do humano na
humanidade.
Vénus, a dádiva do bem e a bênção do
feminino, surge aqui na sua queda, escalando o abismo. O amor entra assim no templo
e conhece o mistério da morte. E, vencido o medo, agora em Escorpião e no Lugar
da Boa Fortuna, (ἀγαθή τύχη), verte o néctar da Cornucópia da
Abundância, não sobre o comum, mas sobre o eleito. Nesta posição, e apesar do
ser o benéfico mais favorecido, por estar no seu Segmento de Luz, Vénus está em
exílio, sob o horizonte, ou seja, a partir da noite escura, da origem da
criação, o amor propõe uma via iniciática.