Reflexões Astrológicas
Eclipses
Lisboa, 19h12min, 07/09/2025
Lua
Decanato: Júpiter
Termos: Júpiter
Monomoiria: Lua
Sol
Decanato: Vénus
Termos: Vénus
Monomoiria: Marte
O Eclipse Lunar Total de dia 7 de Setembro
ocorre com a Lua no signo de Peixes e com o Sol no de Virgem, com Aquário a
marcar a hora e a cerca de uma hora e meia do pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo
no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do
horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já a Lua está abaixo do horizonte,
na II, no lugar do Viver (δύσις). A Lua encontra-se pois no decanato e
nos termos de Júpiter e na sua monomoiria,
enquanto o Sol encontra-se no decanato e nos termos de Vénus e na monomoiria de Marte.
No caso das dignidades, afirma-se o
facto de os luminares serem regidos, tanto no decanato como nos termos, pelo
benéfico que rege o segmento de luz contrário, ou seja, Vénus para o Sol e Júpiter
para a Lua. Daqui que se depreende um certo reforço benéfico da qualidade dos
lugares onde se encontra o eixo umbral. No entanto, convém salientar-se que,
devido a troca de regências, essa valoração do bem só ocorre se o feminino
integrar o masculino e o masculino, o feminino. Esta inversão de regentes serve
pois um sentido profundo.
Os eixos umbral e nodal encontram-se
no eixo de sentido da integração, existindo assim uma união significativa entre
a sombra do eclipse e a integração do todo (Peixes) na parte (Virgem), uma vez
que a Lua se encontra em Peixes. No δωδεκατόπος (doze lugares), a Lua encontra-se no
lugar do Viver, βίος (II). Paulo de Alexandria designa este
lugar de Porta do Hades, Ἅιδου πύλη (Introdução, cap. 24), devido à sua posição junto ao
Ascendente e abaixo do horizonte. Encontramos o valor do modo de vida e da
morte neste eixo (II-VIII), pois como diria Trasilo, a II é um “indicador de esperanças”, ἐλπίδων σημαντικήν (CCAG VIII/3: 101.20),
já a VIII é nas palavras de Paulo de Alexandria indicadora da “realização da morte”, θανάτου τελευτήν (Introdução, cap. 24). Consequentemente, os sentidos cruzados
de todos estes eixos ganham uma unidade significativa.
É necessário também considerar-se a
ponte de sentido no eixo Peixes-Virgem que se estabelece entre o actual eclipse
lunar e o eclipse solar de dia 21 de Setembro. Em certa medida, neste ano de
2025, o sentido já havia sido iniciado pelo eclipse lunar de 14 de Março,
todavia, é neste período de 7 a 21 de Setembro que a proposta significativa da
sombra sobre o eixo de integração se torna mais intensa. Com a sombra a cair
sobre a totalidade ou sobre a integração do sentido de totalidade (Lua em
Peixes no eclipse lunar), quando o manto umbral cobrir os luminares, a parte
poderá sentir uma maior dificuldade de integração tanto da sua própria natureza
e condição como do seu lugar no todo. Desta forma, e à semelhança do que se
afirmara aquando do eclipse lunar de 14 de Março, o obscurecimento dracôntico
recai sobre o sentido da parte e o valor da totalidade. No entanto, no actual
eclipse, é o valor da totalidade que se encontra sob uma maior tensão umbral.
A integração da totalidade obriga a uma consciência do
todo, daquilo que engloba a alma humana na Alma do Mundo. Ora para que isso
aconteça o indivíduo deverá primeiramente reconhecer a liberdade da sua própria
alma face a tudo aquilo que não lhe diz respeito. Epicteto diz-nos o seguinte:
“Ao vires alguém preferido em
honras, ou muito poderoso, ou mais estimado, presta atenção para que jamais
creias – arrebatado pela representação – que ele seja feliz. Pois se a essência
do bem está nas coisas que são encargos nossos, não haverá espaço nem para a
inveja, nem para o ciúme. Tu mesmo não irás querer ser nem general, nem prítane
ou cônsul, mas homem livre. E o único caminho para isso é desprezar o que não é
encargo nosso.” (Encheiridion 19b, trad. A. Dinucci & A. Julien, 2014: 46-7. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra). A sombra na totalidade pisciana é um alerta para a dificuldade
de ver esta liberdade e de encontrar a felicidade apenas naquilo que é encargo
nosso. Sê feliz porque amas e grato porque és amado. Existe aqui uma diferença
substancial entre o amor que damos que depende de nós, e que por isso resulta
em felicidade, do amor recebido que depende do outro, e logo deverá gerar
gratidão.
A integração da parte no todo e do todo na parte está,
como podemos observar nesta máxima de Epicteto, intimamente relacionada com a liberdade
que é fixarmos a nossa existência apenas naquilo nos compete, mas com um outro
aspecto enunciado por Séneca. O filósofo diz-nos o seguinte: “Frequentemente dá-se o caso de um exército
temer o inimigo sem motivo e de o itinerário que lhe parecera mais perigoso ser
afinal o mais seguro. A ignorância, essa, está sempre em sobressalto; os
perigos assaltam-na quer de cima quer de baixo; à direita e à esquerda há
razões de pânico; os perigos quer a atacam pelas costas quer se lhe levantam na
frente; qualquer situação a enche de medo, a encontra impreparada, a tal ponto
que o próprio socorro a apavora! O sábio, porém, sempre alerta, sempre pronto a
responder a qualquer assalto, não recuará um passo mesmo que sobre ele caiam a
pobreza, a desgraça, a ignomínia ou a dor; impertérrito, o sábio afrontará
estes males, passará pelo meio deles.” (Ep.59.8; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A.
Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian).
O comportamento do sábio, oposto ao daquele que se move
por ignorância, é essencialmente uma integração da parte no todo e uma
consciência da totalidade. Ao observarmos a acção do sábio, vemos que este
cruza uma visão holística com o olhar da montanha, daí que não se deixe
perturbar. A premeditação do mal serve o sábio que, contemplando o mal
possível, se preparara para todas as suas vicissitudes. Ora, num eclipse como o
actual, as duas propostas, a de Epicteto e de Séneca, estão ameaçadas. A sombra
invade o carácter humano e impede esta integração. A parte segue a parte em vez
de entrar no mar da totalidade.
O derradeiro ingresso de Saturno em Peixes que só daqui a
quase três décadas voltará a este signo veio adensar o peso da necessidade
sobre o manto umbral. As estruturas conservadoras, por um lado, e a dificuldade
de integração dos valores piscianos, por outro lado, confirmam o peso de um
mundo em decadência. Assistimos no conforto dos lares dos países mais
desenvolvidos a um genocídio, no qual a fome se tornou arma de guerra, levado a
cabo por um estado intocável. A alegada dívida histórica está a ser cobrada com
a vida de inocentes, sobretudo crianças, e nós permitimos. É a total anulação
do humanismo e dos valores essenciais e primitivos do cristianismo. O actual
eclipse que, para o tema de Lisboa, faz justamente a Lua cair no lugar do Viver
(II), do valor da vida, e devia servir de alerta, neste caso aos portugueses,
para a cumplicidade desumana da sua inacção.
A influência geográfica do eclipse de dia 7 tem o seu
centro no Oceano Índico, ao largo do Sri Lanka e à entrada da Baía de Bengala.
O manto umbral e penumbral alastrar-se-á pela Ásia, pela África, pela Europa e
pela Austrália. Segundo as regências geográficas antigas, Vétio Valente (Antologia I, 2) diz-nos que Peixes exerce influência
sobre o Eufrates e o Tigre, a Síria, o Mar Vermelho e o Mar Arábico, a Índia, a
Média-Pérsia e as regiões circundantes, o rio Borístenes ou Boristene
(Dniepre), a Trácia, a Ásia e a Sardenha. Manílio, por seu lado, concede a
Peixes o Eufrates, o Tigre e o Mar Vermelho, as terras da Pártia, a Báctria, a
Etiópia, a Babilónia, Susa e Nínive (Astronomica IV, 800-6). Já Virgem rege a Mesopotâmia, a
Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso,
Arcádia, Cirene (Líbia), Dória (Grécia), Sicília e Pérsia ou Parsa (Irão).
Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e
a Grécia estão sob a sua influência (Astronomica IV, 763-8).
A influência temporal será, devido à duração do período
total, de cerca de um mês e meio. No entanto, dada à duração do período umbral,
poderá estender-se até cerca de três meses e meio e de uma forma já ténue,
sustentada no período penumbral, poderia ir até ao limite de cinco meses e
meio, o que estaria em concordância com o cálculo baseado nas declinações dos
luminares. Devemos numa análise da influência temporal voltar a reforçar que,
no período até ao eclipse solar de dia 21 de Setembro, o sentido profundo deste
eclipse terá uma maior intensidade que progressivamente irá diminuindo.
É necessário frisar, uma vez mais, a ligação que existe
entre os eclipses lunares e as dinâmicas do planeta Terra, nomeadamente o que
designamos por desastres naturais. Dada a natureza deste eclipse, podemos
observar, por exemplo, como o tufão Kajiki no Vietname foi um prenúncio da sua
sombra. Os sismos e tempestades com origem no mar estão potenciadas, podendo
originar tsunamis e tufões. A lua em Peixes, com a regência moderna de Neptuno,
agora em Carneiro com uma força mais destrutiva, e com o Júpiter, regente
antigo ou tradicional, em Caranguejo, outro signo de água e com o qual forma um
trígono, potencia estes fenómenos. A co-presença da Lua e Saturno também firma
uma vibração mais tensa. Lembremo-nos que Cronos/Saturno foi preso no lugar
mais profundo do submundo, após ter sido derrotado por Zeus/Júpiter. No
Tártaro, lutava contra as correntes que os sustinham, ou seja, fazia vibrar as
profundezas da Terra.
O eclipse lunar total de 7 de Setembro
pertence à série Saros 128, sendo o 41º eclipse de um total de 71. É o 11º
eclipse dos 15 eclipses totais da série, o que transmite um certo
desenvolvimento da sua proposta significativa. O eclipse inicial, como sabemos,
serve de matriz de sentido para toda a série. Ora o primeiro eclipse desta
série ocorreu a 18 de Junho de 1304 (Calendário Juliano). A Lua estava em Capricórnio
e o Sol em Caranguejo e o Dragão da Lua estendia-se no eixo Sagitário-Gémeos.
Mercúrio e Marte estavam em Gémeos, Vénus em Touro, Júpiter em Leão e Saturno
em Balança. Nos transaturninos, Úrano estava em Balança, Neptuno em Escorpião e
Plutão em Aquário. Nesta data e na hora de Lisboa, Virgem marcava a hora e Touro
culminava. A série Saros 128 terminará a 2 de Agosto de 2566, com um eclipse no
eixo Leão-Aquário, ou seja, com a Lua em Carneiro e o Sol em Balança.
A análise comparada dos dois temas,
face ao seu ciclo planetário, faria logo sobressair o facto de Plutão se
encontrar em Aquário no eclipse-matriz tal como hoje se encontra. Naturalmente,
isto adensa esta ligação entre o signo da humanidade e o planeta da morte. Em
tempos sombrios como os que vivemos, resgatar a semente da morte, o memento mori, da consciência do humano
recupera esse sentido primário e matricial que encontramos em toda a série
Saros. Por outro lado, temos Neptuno em Escorpião e agora em Carneiro, os dois
domicílios de Marte recebem o planeta da imaginação. A força de Marte tende,
por um lado, a intensificar a imaginação criativa, se for recebida como dom,
ou, por outro lado, pode com uma força bélica e disruptiva trazer uma ilusão
massificada. Os populismos e os avanços da extrema-direita traduzem essa
realidade. A ideologia vai-se tornar progressivamente violência.
Úrano e Saturno em Balança, estando
este último na sua exaltação, favorecem a criação e estruturação de modelos de
pensamento. Algo que será transmitido pelos raios triangulares ao actual Úrano
em Gémeos. A comunicação pede um sentido renovado que tanto pode dar origem a
novas formas de conhecimento como de desinformação. Do ponto vista histórico, aquando do eclipse-matriz, é de
se assinalar o início do conclave papal, após a morte de Bento XI a 7 de Julho
de 1304, que só terminará no ano seguinte, a 5 de Junho de 1305, com eleição de
Clemente V e que marcará o início de período conhecido como o Papado ou o
Cativeiro de Avinhão (1309-1377). É também de assinalar a primeira guerra pela
independência da Escócia.
O eclipse-matriz revela para um eclipse lunar uma forte influência
política e militar. De facto, se pensarmos bem o início do século XIV, marca um
período de intensas mudanças tanto políticas como filosóficas e espirituais. A
conjunção de Mercúrio, Marte e a Cauda
Draconis vai assinalar o carácter disruptivo de muitas dessas
transformações. As heresias ou heterodoxias cristãs ou o crescimento do poder
do Santo Ofício da Inquisição são dois elementos de destaque, bem como as
profundas alterações políticas. O sextil Júpiter em Leão a Saturno e Úrano em
Balança é também revelador dessas transições. Um eclipse lunar com a Lua exilada
em Capricórnio traz consigo uma forte dinâmica saturnina que lhe confere uma
influência semelhante à de um eclipse solar e, sendo um eclipse-matriz, essa
significação vai estender-se a toda a série.
Convém, no entanto, salientar-se que, por neste eclipse a
Lua estar em Peixes, vamos encontrar um certo sentido de destruturação desse
sentido-matriz. A imersão no todo que o Peixes tende a apresentar com candura
vai agora tomar outras formas. A sombra vai apresentar rudemente a
despersonalização como inevitável e a ilusão da realidade tornará tudo mais
confuso. Lembremo-nos que a sombra vai incidir sobre o signo de Virgem que a guardará
até ao eclipse solar. Com Sol e Mercúrio exaltado em Virgem, e com a quadratura
a Úrano em Gémeos, tudo o que é representado pela razão, pelo pensamento, pela
palavra, pela organização das estruturas comunicacionais está sob pressão. A
sombra dracôntica quer levar tudo o que está estabelecido até ao grande oceano
e mostrar que aquilo que a mente humana produz não chega a ser um grau de areia
na totalidade que é a Alma do Mundo e o seu Intelecto.
Se de Peixes vem uma totalidade assombrada, Júpiter em
Caranguejo com o trígono à Lua, a Saturno e à Caput Draconis e o sextil ao Sol, a Mercúrio e à Cauda Draconis vem contribuir com a
expansão do sentido da origem. Na verdade, a totalidade e a origem são duas
expressões ou conceitos para a mesma realidade inefável que não cabe em nenhum
conceito. Esta é, porém, a via para conhecimento de si. O Eu perde-se na
totalidade do oceano da origem e surge renovado como o Si. A dificuldade para o
humano é o medo de entrar no oceano e perder-se. Está tão agarrado ao que julga
ser importante que não vê que ao perder-se encontra-se. Terá pois de olhar para
o fundo do mar e encarar as sombras que se movem na escuridão.
Marte em Balança, exilado, ameaça as estruturas
relacionais, contudo, o sextil a Vénus em Leão e a quadratura a Júpiter em
Caranguejo trazem alguma moderação ou progressividade a disrupção interpessoal.
O trígono entre Vénus em Leão e Neptuno em Carneiro contribui também com certa elevação
do fogo do amor, se for vivido dessa forma. Vénus em Leão pode elevar o amor na
beleza de alma nobre ou pode afundá-la num narcisismo patológico. Algo que pode
ser potenciado, para o bem e para o mal, pela oposição a Plutão em Aquário. Os
trígonos de Úrano em Gémeos e Plutão em Aquário a Marte em Balança trazem, sob
a égide do destino, uma força transformadora à forma que como lemos e pensamos
a realidade. Essa força não é, porém, voluntária, pois traz consigo os ditames
da providência e necessidade.
Se considerarmos a sistema antigo de leitura de aspectos,
ou seja, pelos conceitos de aplicação e separação, temos de destacar três deles
pela força da aplicação. Primeiramente, o trígono entre Júpiter exaltado em
Caranguejo e Saturno em Peixes que traz consigo a dádiva da Água. Depois, a
quadratura de Saturno em Peixes a Úrano em Gémeos e o trígono entre Úrano e
Plutão em Aquário são, na verdade, duas faces da mesma moeda. O primeiro traz,
com alguma tensão, a criação de novas estruturas e a necessidade de romper com
certas formas de estar e pensar, já o segundo que se estenderá ao longo de
vários anos marcará esse ponte de sentido entre revolução e transformação,
entre progresso e morte. Se pensarmos que nestes dois aspectos Úrano está
presente, este é o vendaval do Anjo da História.
O eclipse lunar total de 7 de Setembro encerra assim um
sentido intermédio entre o eclipse de lunar de 14 de Março e o eclipse solar de
21 de Setembro. Em 2025, a sombra alongar-se-á no eixo Virgem-Peixes, no eixo
de integração da parte no todo, e com um foco particular no signo de Virgem. Não
devemos portanto perder esta oportunidade enquanto humanidade de colher as suas
lições. Se esquecermos a solidariedade, o melhor do humano, viveremos sempre na
escuridão.
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