segunda-feira, 16 de maio de 2022
Livro de Astrologia: Fragmentos Astrológicos
domingo, 15 de maio de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Eclipse Lunar Total - Lua Cheia Escorpião-Touro
Reflexões Astrológicas
Eclipse Lunar Total
(Lua Cheia:
Escorpião-Touro)
Lisboa, 05h11min, 16/05/2022
Lua
Decanato: Vénus
Termos: Saturno
Monomoiria: Lua
Sol
Decanato: Saturno
Termos: Saturno
Monomoiria: Júpiter
O Eclipse Lunar Total de dia 16 de
Maio ocorre com a Lua no signo de Escorpião e o Sol no de Touro, com Carneiro a
marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις)
da Lua. Por seu lado, a Lua encontra-se no decanato da Vénus, nos termos de
Saturno e na monomoiria da Lua, já o
Sol encontra-se no decanato e nos termos de Saturno e monomoiria de Júpiter. Na hora de Lisboa, o eclipse ocorre a cerca
de uma hora e quinze minutos do ocaso do Lua e do nascimento do Sol. Assim
sendo, a lua está acima do horizonte, no seu próprio Segmento de Luz, mas no
Lugar da Morte (VII), preparando-se para a sua queda. Pelo contrário, o Sol
está no Lugar do Viver, na Porta do Hades (Ἅιδου πύλη) como diria Paulo
de Alexandria (Introdução, cap. 24).
Este eclipse lunar é visível na
América do Norte, América Central e América do Sul, na Antárctida, no Atlântico
Norte e no Pacífico. Depois de forma menos intensa, ou seja, com menor tempo de
visibilidade, em África, na Europa, no Médio Oriente e no início ocidental da
Ásia. No caso de Portugal, convém salientar-se que as ilhas do grupo ocidental
do Arquipélago dos Açores (Flores e Corvo) estão ainda na fase penumbral, já as
restantes ilhas estão na fase parcial, logo as primeiras têm uma duração de
visibilidade total maior. Note-se também que o manto do eclipse estende-se até
fronteira europeia com a Rússia, cobrindo ainda, já no seu limite, a Ucrânia. A
luz e a sua ausência são símbolo e sentido.
Por outro lado, observando-se depois
as lições da astrologia antiga sabemos, segundo Valente (Antologia I,2)
que Escorpião - posição lunar - rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia,
Creta, as ilhas Cíclades, o Peloponeso, a Arcádia, Cirene, a Dória, a Sicília, a
Pérsia, Metagonitis ou a Numídia
(Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África,
Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália,
Cartago, a Líbia, Amom (Jordânia),
Espanha e Roma.
Já Manílio diz-nos que Escorpião
rege Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82). Se considerarmos as regentes
indicadas para o signo de Touro e referidas no eclipse de 30 de Abril,
percebemos facilmente que o actual Eclipse Lunar Total, embora com influência
menor que o Eclipse de Touro, recentra no Mediterrâneo a mensagem do Dragão da
Lua, o corpo de mistério da serpente primordial que se estende entre a Luz e a
Sombra.
O eclipse de dia 16 de Maio insere-se
na série Saros 131, uma série de 72 eclipses que teve o seu início a 10 de Maio
de 1427 e terminará a 7 de Julho de 2707. É uma série bem mais recente que a do
eclipse solar de 30 de Abril (Saros 119), todavia, quer uma, quer outra,
começam com eclipses (solar e lunar) com o Sol em Touro e terminam com outros
com o Sol em Caranguejo. Existe um elemento de passagem, que viaja pela
história, e coloca a humanidade entre a vida (Touro) e a origem (Caranguejo)
ou, numa outra dimensão, a da Lua, entre a morte (Escorpião) e o fim
(Capricórnio). São portanto a síntese do valor e do sentido.
O eclipse de 1427, o primeiro da
série, firma-se nas Guerras Hussitas. De um lado, encontramos as forças
católicas, liderados pelo imperador Sigismundo do Sacro-Império Romano-Germânico
e apoiadas pelo papado e pelas monarquias católicas europeias, do outro, estão
as várias facções hussitas. Ora estes, que são primeiramente dissidentes
heterodoxos do cristianismo católico-romano, vou tornar-se, cerca de cem anos
antes, os porta-estandartes da Reforma, de Lutero e da 95 Teses.
O movimento hussita sustentou-se nas
ideias de João Hus que, por sua vez, fora influenciado por Wyclif e pelos
seguidores de Pedro Valdo. Hus era um forte crítico do poder eclesiástico e
defendia o sacerdócio universal dos crentes, ou seja, quem crê não precisa de
mediação no seu diálogo de fé com Deus, algo muito próximo daquilo que vemos
nos gnósticos ou nos cátaros e que podemos ler no Evangelho de Tomé: “Jesus disse: Eu sou a luz. A que está acima
de todos. Eu sou o Todo. O Todo proveio de mim e o Todo chegou a mim. Trazei-me
um madeiro. Eu estou ali. Levantai a pedra ali me encontrareis.” (logion 77). Ora ideias de Hus foram condenadas
no Concílio de Constança (1414-1418) e o próprio foi queimado na fogueira, a 6
de Julho de 1415.
Este eclipse estende, por exemplo, a
sua influência até à Batalha de Tachov, a 4 de Agosto de 1927, em que os
hussitas vencem e terminam assim a quarta cruzada que se ergueu contra eles. A
questão religiosa marca esta série Saros, pois o último eclipse penumbral, a 14
de Julho de 1535, é assinalado pelo fim da Rebelião de Münster (24 de Junho), a
mesma que é descrita por José Saramago no seu livro In Nomine Dei (1993). A
tentativa dos anabaptistas radicais de estabelecerem um governo próprio,
independente do Principado-Bispado de Münster, um estado do Sacro-Império,
termina com a ofensiva das forças sitiantes e com a captura dos seus líderes,
os quais serão mais tarde torturados e executados, com os seus corpos expostos
publicamente em gaiolas.
Sob
o mesmo eclipse, a 6 de Julho, é executado Sir Thomas More, o autor da Utopia, por não reconhecer Henrique VIII
como líder da igreja britânica e, a 4 de Outubro, é publicada a primeira bíblia
em língua inglesa, com as traduções de William Tyndale e Myles Coverdale. Ora o
primeiro eclipse parcial, a 25 de Julho de 1553, segue a mesma tendência, pois
a 19 de Julho Maria Tudor é proclamada como legítima rainha, promovendo assim o
regresso ao catolicismo romano.
O último eclipse parcial ocorreu a
12 de Março de 1914. Dois dias antes, a sufragista Mary Richardson danifica, em
protesto, a Vénus ao Espelho de
Velásquez com um cutelo na National Gallery. A 28 de Junho é assassinado o
arquiduque Francisco Fernando da Áustria por um membro da Mão Morta, uma
organização nacionalista sérvia, marcando o início da Primeira Guerra Mundial.
Já o primeiro eclipse total deu-se a 2 de Abril de 1950, cruzando-se aqui com a
Série Saros 119, a do Eclipse Solar Parcial do passado dia 30, e com o Eclipse
Solar Anular de 18 de Março de 1950.
Às questões levantadas nesse
eclipse, nomeadamente a Guerra da Coreia e o referendo acerca do regresso do
rei Leopoldo III e da queda do governo belga, acrescenta-se a abdicação de
Leopoldo, a 15 de Abril, a favor do seu filho Balduíno, o adensar da Guerra
Fria, com o NSC 68, o reconhecimento da Grã-Bretanha do estado de Israel (27 de
Abril) e a aprovação da segregação racial do Apartheid pelo parlamento
sul-africano (também a 27 de Abril). Uns meses mais tarde, a 17 de Novembro, o
14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso assume os seus poderes temporais, dado que a
cerimónia de entronização ocorrera em Lassa, a 22 de Fevereiro de 1940.
Os eclipses do eixo nodal, ou
dragontino, Touro-Escorpião, que se estendem até 28 de Outubro de 2022, firmam
o sentido, o seu significado radical, no conceito de valor. Ora, dado que o
eixo diametral é traçado a partir de signos femininos, o valor do feminino, da
terra-mãe e do corpo da mulher reafirma-se e ressurge como um modelo de
transformação. O Sagrado Feminino aparece no horizonte como uma luz redentora.
Entre a vida e a morte, a Senhora do Mundo concede a sua dádiva.
A presença de Úrano na solidez
conceptual do signo de Touro promove nesse valor a necessidade de revolução e
progresso, todavia quando afligido, por exemplo, pela quadratura de Saturno ou
até pela actual oposição da Lua em Escorpião no Lugar da Morte, esse valor é
ameaçado. Veja-se o caso norte-americano com o perigo do Supremo Tribunal
reverter o direito federal à interrupção da gravidez. Uma misoginia estrutural
e uma defesa de conceitos machistas apresentam-se assim como uma coerção
civilizacional à transformação desse valor do feminino.
A colocação do eixo Touro-Escorpião
sobre o eixo do δωδεκατόπος
(doze lugares) do Viver, βίος
(II), e da Morte, θάνατος
(VIII), reforça o sentido primordial do próprio eixo zodiacal. O valor surge assim
entre o modo de viver, tornando o lugar, como diria Trasilo, um “indicador de esperanças”, ἐλπίδων σημαντικήν (CCAG VIII/3: 101.20),
e a própria morte, nas palavras de Paulo de Alexandria como a “realização da morte”, θανάτου τελευτήν (Introdução, cap. 24). Deve ser encontrado aqui um sentido entre
aquilo que se espera e se constrói e aquilo que se realiza e se destrói. E, por
fim, a presença do Dragão da Lua, senhor ancestral dos eclipses, da luz e da
sombra, faz com que os três eixos convirjam numa única unidade de sentido: o
valor da luz entre a vida e a morte, entre a criação e a destruição.
Saturno em Aquário, trazendo o peso
da Necessidade sobre a Humanidade, olha quadrangularmente para os luminares, para
Úrano, para o Dragão da Lua, e assim para o eclipse. O destino do humano
torna-se a sua própria sombra e aquilo que se oculta assume-se como a gravidade
de uma destruição. Saturno, por este estar fora do Segmento de Luz, é o mais
danoso dos maléficos, todavia, está no seu domicílio e no Lugar do Bom Espírito
(XI). O sextil entre Saturno e os benéficos serve para atenuar essa natureza
maléfica, trazendo a acção do bem ao destino da humanidade. Existe, deste modo,
na própria Necessidade uma lição que acolhe tanto a pedagogia de uma
providência universal como a retribuição de uma desmedida. E isso é algo que,
por vezes, é difícil de aceitar e que leva a maldizer os raios saturninos.
Por outro lado, Vénus e Júpiter, a
união das dádivas, unem-se ao Leme da Vida em Carneiro. A conjunção dos
benéficos ocorre, porém, neste eclipse, sem tocar os luminares ou o Dragão da
Lua (aspectos antigos). É como se a pulsão do acto e a acção do bem não
encontrassem o seu caminho. Vénus está em exílio, errando fora do templo do
amor e tornando mais egoístas os desejos superficiais. No entanto, os benéficos
numa condição pós-ascendente concedem a sua dádiva. Em Portugal, dado que o
tema do eclipse é elaborado para Lisboa, essa acção pode ter também um efeito
de conflito, de posições extremadas. Lembremo-nos que os benéficos estiveram em
Peixes no 25 de Abril de 1974, na Revolução dos Cravos, e em Carneiro no atribulado
ano de 75.
Plutão é o astro mais alto e, como
regente moderno de Escorpião, é também o deste eclipse lunar. O senhor do
submundo lança até 24 de Março de 2023 os seus raios a partir de Capricórnio,
projectando a transformação enquanto Poder da Morte e unindo a finalidade à
destruição. Depois, em Aquário, não se pense, como existe uma certa tendência
quando um planeta ingressa em Aquário, que tudo será arco-íris e unicórnios.
Nessa altura, a Morte será lançada a partir da Humanidade, a partir das suas próprias
estruturas. As mudanças nascem sempre de uma qualquer forma de destruição. A
Revolução Americana no fim de Plutão em Capricórnio (Declaração da
Independência: 4 de Julho de 1776) e a Revolução Francesa (Tomada da Bastilha:
14 de Julho de 1789) já com Plutão em Aquário não foram um encontro de amigos,
foram formas de luta e morte.
Ora Marte, o regente clássico de
Escorpião, agora em Peixes, concedendo-nos a imagem do herói sacrificado e da
ilusão da guerra, terá, num futuro próximo, uma acção que hoje nos deve servir
de alerta. Aquando da assinatura da Declaração da Independência e da Tomada da
Bastilha, Marte estava em Gémeos e, na Segunda Guerra Mundial, quando Plutão
estava em Leão, signo oposto a Aquário, e aquando do lançamento das bombas atómicas
em Hiroshima (6 de Agosto de 1945) e em Nagasaki (9 de Agosto de 1945), Marte
também estava em Gémeos. O senhor da guerra estará nesta constelação a partir
de 21 de Agosto e lá permanecerá até 26 de Março de 2023. De Peixes a Gémeos, o
deus Ares fará um caminho quadrangular que, na verdade, determinará o futuro
próximo da humanidade e que se cruzará com a entrada de Plutão em Aquário.
A relação Marte e Plutão com os
luminares e o Dragão da Lua (sextil e trígonos), ou com Úrano (sextil e trígono),
mas também de Neptuno que partilha o mesmo signo que Marte (Peixes) são aqui
uma chave de sentido, mas também uma promessa do futuro. Poderá o Rei Pescador,
herói sacrificado, entregar o Graal ao humano, determinando assim o valor da
luz entre vida e a morte, ou, seguindo um falso herói, a guerra, a ilusão e a
morte vencerão o humano, comprometendo a humanidade? A Acção do Bem colide,
porém, com o Poder da Morte (quadratura de Vénus e Júpiter em Carneiro com
Plutão em Capricórnio), tornando mais difícil a demanda da dádiva e a fortuna
do bem.
Por fim, no Lugar da Deusa (III),
Mercúrio Retrógrado em Gémeos, lutando contra a sua própria natureza, serve a
deusa Sige – o Silêncio primordial, o ventre da Sabedoria e a origem da Palavra
– e luta contra a mentira, contra o discurso enganoso e a propaganda, contra a
ignorância. Este silêncio que antecede a palavra justa une-se à dádiva do bem,
aos benéficos (sextil a Vénus e Júpiter em Carneiro), e concede o dom da
compreensão ao peso, à gravidade do destino sobre a humanidade (trígono a
Saturno em Aquário). No entanto, este Mercúrio Retrógrado em Gémeos enfrenta
quadrangularmente Marte e Neptuno em Peixes, ou seja, aquilo que pensamos que
nos salva, aquilo pelo qual lutamos pode também ser aquilo que nos engana,
ludibriando, neste eclipse, o valor que colocamos nas coisas e nos acontecimentos.
Em suma, o actual eclipse lunar de
dia 16 de Maio lança, entre a luz e a sua ocultação, um conjunto de raios de sentido
que encontrarão a sua culminação no eclipse lunar total de 8 de Novembro.