terça-feira, 15 de junho de 2021

O Micro-Zodíaco e a Interculturalidade da Tradição Astrológica Antiga: Exemplo Textual


Monroe, M. Willis, 2016, "The Micro-Zodiac in Babylon and Uruk: Seleucid Zodiacal Astrology" in The Circulation of Astronomical knowledge in the Ancient World121.

Looking at the various fragments of the micro-zodiac both from Uruk and Babylon one can begin to see how such a descriptive text was compiled and used. An analysis of texts over time and space allows for the creation of a model of textual transmission specific to the extant texts but applicable to a wider tradition. Martin Worthington in his book on Akkadian textual criticism has noted that the study of variants in texts can inform us of the “geography of textual transmission in antiquity.” While Worthington is primarily concerned with “reconstructing the original wording of a composition” (what he terms textual or lower criticism), many of his methods still apply when working with larger aspects of text, revealing historical and geographical traces of transmission. Collecting these divergent patterns or traditions reveal patterns in the way texts were worked with and recopied in new contexts. In the case of the micro-zodiac the evidence is sparse at best, but two distinct geographical locations allow for some recognition of textual traditions. In this case, the difference between texts from Babylon and those from Uruk. At the same time the different formats of the micro-zodiac including a tabular layout, as well as other unique formats give hints at the production and conception of the text in its scholarly context. The unknown question with all of this late material in Mesopotamia is to what degree Hellenistic theoretical thought influenced the work of Babylonian scholars. Certainly many of the ideas that the scribes working with the micro-zodiac used quickly found currency in Greek astrology: the zodiac, triplicities, and hypsomata among other concepts. In regards to the new texts written during this period and their associated novel concepts and formats, Koch attributes some of this creativity to the development of mathematical astronomy during this period. Certainly, more accurate predicative methods allowed for the creation of horoscopes and other texts.

 

Monroe, M. Willis, 2016, "The Micro-Zodiac in Babylon and Uruk: Seleucid Zodiacal Astrology" in The Circulation of Astronomical knowledge in the Ancient World, ed. J. M. Steele, . Leiden/ Boston: Brill.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Eclipse Solar Anular - Lua Nova em Gémeos: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológica

Eclipse Solar


Eclipse Solar Anular

Lua Nova em Gémeos

Lisboa, 11h52min37s, 10/06/2021

 

Sol-Lua

Decanato: Marte

Termos: Marte

Monomoiria: Sol

 

            O Eclipse Solar Anular do dia 10 de Junho é o último eclipse do actual Eixo Nodal Gémeos-Sagitário que ocorre em Gémeos. Note-se que, neste segmento zodiacal do ciclo draconígena de cerca 19 anos, dos seis eclipses só dois se fixaram em Gémeos, existindo aqui uma predominância da Sabedoria (Sagitário) sobre a Palavra (Gémeos) na significação axial. Porém, este eclipse pelas suas características encerra um sentido profundo. Os eclipses solares anulares ou anelares, uma vez que a Lua está a uma distância maior da Terra e o seu tamanho aparente não é suficiente para cobrir a totalidade da projecção solar, apresentam-se como um anel de luz em torno da sombra lunar. Existe portanto, neste halo fulgente, uma representação luminosa que cinge a escuridão uterina original. É como diz Virgílio per amica silentia lunae, é como estar no meio do amistoso silêncio da Lua (Eneida II, 255). Em Gémeos, este anel de fogo indica o silêncio que é a mãe da palavra, a deusa Sige dos gnósticos, ou seja, a sabedoria antecede a palavra. Neste eclipse, a relação entre a luz e a sombra vem reforçar a ideia de que a viagem para a luz é também um regresso à escuridão, ou seja, a luz tem de integrar a sombra.

            O eclipse do dia 10 pertence à série Saros 147. Ora, utilizando o mesmo princípio de espacialidade electiva e tornando o lugar onde nasce o olhar o umbigo do mundo (ὁμφαλός), observar-se-á esta série a partir de Lisboa. O primeiro eclipse da série Saros foi a 12 de Outubro de 1624. Este eclipse solar parcial deu-se em Balança com o Ascendente em Escorpião, estando a sizígia em conjunção a Marte, Neptuno e Vénus e o Ascendente em conjunção a Mercúrio. Uns dias antes, a 3 de Outubro, ao largo da ilha de San Pietro (Sardenha), quinze galés do reino de Nápoles, do Grão-Ducado da Toscana e dos Estados Papais enfrentaram um esquadrão de navios argelianos de corsários da Barbária. Os europeus saíram vitoriosos e capturaram o comandante otomano. No mesmo ano, uns meses antes (13/08/1624), o Cardeal Richelieu tornou-se Primeiro-Ministro e consolidou, nos meses seguintes, um poder que se estenderá até 1642, e também em 1624, próximo do eclipse, a Companhia Holandesa das Índias Orientais invadiu a colónia portuguesa da Baía. O eclipse em Balança fixa-se na XII revelando que, no poder e na história, a tendência não é criar equilíbrios ou harmonia, mas sim gerir desequilíbrios, lutando pelo prato dominante.  

            A série Saros 147 é marcada pelo elemento Ar, visto que se inicia em Balança, com um eclipse parcial, e tem o seu primeiro eclipse anular em Gémeos. Este é o eclipse anterior ao de 10 de Junho e que ocorreu a 31 de Maio de 2003. Com a sizígia em Gémeos conjunta a Saturno, na III, e com Úrano em Peixes na XII, o Ascendente marca a hora em Carneiro. O regente da sizígia, Mercúrio, encontra-se na II em Touro e o regente do Ascendente, Marte, na XI em Aquário. Ora no dia 31 de Maio de 2003, Eric Rudolf, do Army of God, responsável pelo atentado bombista que matou uma pessoa e feriu onze no fim dos Jogos Olímpicos de Atlanta, foi capturado na Carolina do Norte. No dia 1 de Junho, Aung San Suu Suu Kyi (Sol natal em Gémeos), que vencera as eleições de 1988 em Myanmar, foi levada sob custódia pelos militares e, no dia 3, Morgan Tsvangirai, líder do movimento de oposição no Zimbabué, é detido por forças policiais.

            Existe na dicotomia geminiana, sobretudo sob a influência do binómio luz-sombra de um eclipse solar, uma relação com o poder político que pode provocar um acentuar e demarcar de posições antagónicas. Esse conflito, que nasce de um discurso, de um interpretação da realidade, não é por essência valorativo, veja-se o caso de Aung San Suu Suu Kyi que, por um lado, vence o Nobel da Paz e, por outro, participa ou promove o genocídio dos roingas. Agora, nos dias próximos ao eclipse do dia 10, vemos, por exemplo, o caso da Bielorrússia e da prisão do jornalista Roman Protasevich. 

            Ptolomeu diz-nos que Gémeos rege a Hircânia (Irão e Turquemenistão), a Arménia (antiga), a Mantineia (Arcádia, Grécia), a Cirenaica (Líbia), a Mamarica (região na fronteira entre a Líbia e o Egipto) e o Egipto. Já para Vétio Valente rege a Índia, a Céltica, a Cilícia (Turquia), a Galácia (Turquia), a Trácia (Grécia, Bulgária e Turquia), o Beócia (Grécia), o Egipto, a Líbia, Roma, a Arábia e a Síria. Manílio afirma que a Índia, a Trácia e o Euxino (Turquia, Mar Negro) estão sob a influência de Gémeos. Quando o eclipse inicia a sua fase central (10h55min), o Ascendente encontra-se nos últimos graus do segundo decanato de Leão, mas, no momento da sizígia, indicado pelo tema que se apresenta, o Ascendente já se encontra em Virgem. Ora Virgem, segundo Valente, rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dórida (Grécia), Sicília e Pérsis ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a influência.

            A fixação do Ascendente em Virgem, para além de uma maior coerência nas regências astrológicas geográficas, permite que se apreenda o elemento de passagem do eclipse anterior, o eclipse lunar total de 26 de Maio, cujo Ascendente se fixava em Leão, e o actual que se encontra Virgem, pois se no anterior o elemento fogo sobressaía (Leão e Sagitário), no de dia 10, para além da elemento Ar da série Saros, é Mercúrio Retrógrado que exerce o seu domínio. O pensamento e a palavra obrigam à interiorização da realidade e do eu em si mesmo.       

            Os antigos egípcios fizerem de Aker a divindade que rege o horizonte e que é representada por dois leões de costas voltadas - o “ontem” (Duaj) e o “amanhã” (Sefer), o oriente e o ocidente - e entre os quais está colocado o disco solar. Ora o tema deste eclipse, com a sizígia na X, embora o MC recaia na IX (sistema de casa-signo ou signo inteiro), o que também encerra o seu sentido profundo (a Revolução da Terra, Úrano em Touro, lança os seus raios a partir da Casa de Deus, IX), lembra a divindade egípcia. Com Mercúrio Retrógrado junto ao Sol e à Lua na X, o seu significado, tanto como regente do Eclipse como do Horóscopo, sai reforçado. A Palavra voltada para Si como agente criador, como Logos da criação, exalta o seu significado, anunciando o próximo Eixo Nodal do ciclo do Dragão da Lua, pois Touro indica o valor (o viver ou o modo de vida, II) e Escorpião a morte (a sua acção e qualidade, VIII). No entanto, a Palavra faz ainda persistir a sua mensagem: a viagem que eleva a Sabedoria (Cauda Draconis em Sagitário) até à Palavra (Caput Draconis em Gémeos).

            Essa é uma via que exige uma maior consciência do poder do tempo e como ele impõe ao humano os seus ciclos (Saturno em Aquário). A partir da VI, o senhor do semear e colher, do observar, esperar e agir, unirá os seus raios benéficos com o Sol, a Lua, Mercúrio e a Caput Draconis (trígono) e com a Cauda Draconis (sextil). A luz e a sombra, a palavra e a sabedoria unem-se à consciência do tempo, à compreensão de que existe um tempo maior que transcende a efémera realidade da finitude humana. Somos a poeira de um grão areia na clepsidra do tempo universal. Naturalmente, e por Saturno estar na VI, essa consciência afectará a compreensão da pandemia, dos ciclos de vida e de que tudo é transitório.

   Por outro lado, o Sol, a Lua e Mercúrio Retrógrado em Gémeos (X) colidem rectilineamente (quadratura) com Júpiter e Neptuno em Peixes (VII). A Palavra como Revelação, sob o véu da luz e da sombra, oculta-se e, tal como a sabedoria, caminha entre nós e não é vista, o que impede a sua expansão (Júpiter) e comunhão (Neptuno). O discurso não vê o outro, não o inclui no processo comunicativo, e a palavra fecha-se em si própria, nas suas idiossincrasias, na ignorância das suas certezas. A comunicação sem o outro é a génese da intolerância. Porém, por Júpiter - e Neptuno - estar numa posição particularmente benéfica, esta não é uma tensão disruptiva, pelo contrário, surge como aviso, como marco no caminho e, não sendo exclusiva, alguns vão mostrar que a empatia e compaixão podem gerar um discurso de tolerância que une em vez de separar.

            A dádiva da excepção é observável pelas bênçãos que resultam da união venturosa dos benéficos (Vénus em Caranguejo, na XI, em trígono a Júpiter em Peixes, na VII). Esta união, se seguirmos a lição do Thema Mundi, une o sentido de origem à comunhão com o divino, pois nessa representação Caranguejo ocupa o Horóscopo (Asc.) e Peixes o Lugar de Deus (IX). Ora com a presença de Vénus em Caranguejo e de Júpiter em Peixes essa ligação natural é intensificada pelos conceitos de Amor e Expansão. Os raios dos benéficos estendem ainda as suas dádivas para além da sua união, visto que Vénus (XI) se une em trígono a Neptuno (VII) – o Amor e a Compaixão revelam que só a empatia nos salvará – e em sextil a Úrano (IX) – o Amor alimenta a Revolução da Terra –, já Júpiter (VII) une-se em sextil a Plutão em Capricórnio (V) e a Úrano em Touro (IX) – existe uma Comunhão do Poder da Morte e uma Expansão da Revolução da Terra. A dádiva surge como luz no caminho, indicando qual será a via da bem-aventurança.

            Na análise deste eclipse, deve-se dar também uma especial atenção ao posicionamento de Vénus e Marte em Caranguejo. Se acerca de Marte já antes se fez notar que indica o herói que desce ao ventre da terra, ao lugar de Perséfone (oposição a Plutão em Capricórnio), com Vénus, sobretudo por estar em Caranguejo e por ser Estrela da Manhã (posição anterior ao Sol e para além dos seus raios) encontramos a deusa protectora, a senhora da guerra. Com a união de Vénus e Marte em Caranguejo, o herói é agora guardião do feminino, da deusa armada. Este é o mito de Palas, a filha de Tritão que combateu na Gigantomaquia e que, quando lutava com Atena e estava prestes a desferir-lhe um golpe, foi morta pela deusa, porque Zeus interveio e protegeu a filha com a Égide, uma protecção invencível feita com a pele da cabra Aix (cf. com a mitologia de Capricórnio). Atena, por lamentar a morte injusta de Palas, criou o Paládio, uma estátua de madeira em sua homenagem (v. Ps.Apolodoro, Biblioteca, 3.12.3).

            Ora existe aqui a ideia de que a vontade ou a força (Marte) do amor (Vénus) pode acerca-se da morte (Plutão) e juntos caminharem. É como o soneto de Antero de Quental “Mors-Amor”. Se um é o cavalo, o outro é o cavaleiro. O facto da sizígia se encontrar no decanato e nos termos de Marte intensifica essa mensagem. A ligação de Marte em Caranguejo com Júpiter e Neptuno em Peixes (trígono) e com Úrano em Touro (sextil) faz do Deus da Guerra um dos principais elementos de análise neste eclipse. Existe assim uma forte vontade de transformação ambiental, social e espiritual e resultará em acções concretas sejam elas partidárias e legislativas ou sindicais e populares (Úrano em sextil a Neptuno e em trígono a Plutão; Neptuno em sextil a Plutão). Poderão até existir manifestações mais expressivas que resultarão em cargas policiais (Saturno em quadratura a Úrano). Marte e Plutão, unidos em eixo, levará a um extremar de posições e note-se que basta que um lado vá para além da democracia, ou permaneça no limiar, para se extremarem as posições. Os democratas terão de cerrar as fileiras e defender a democracia, pois, uma vez perdida, é difícil de recuperar.

            O eclipse solar anular do dia 10 de Junho, sob o véu da luz e da sombra, do anel de fogo, dar-nos-á a capacidade de integrar no nosso caminho a escuridão e o silêncio. Existe um poder imenso na possibilidade da palavra, no não-dito que é o gérmen da criação. A sombra e a ocultação devem lembrar-nos que a sabedoria caminha entre nós, mas não é vista, é insultada e agredida e nós aceitamos. A luz é a revelação e o Eterno Feminino é a luz no caminho.