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Eclipse Solar Anular - Lua Nova em Gémeos: Reflexões Astrológicas
Reflexões Astrológica
Eclipse Solar
Lua Nova em Gémeos
Lisboa, 11h52min37s, 10/06/2021
Sol-Lua
Decanato:
Marte
Termos:
Marte
Monomoiria:
Sol
O Eclipse Solar Anular do dia 10 de Junho é o último
eclipse do actual Eixo Nodal Gémeos-Sagitário que ocorre em Gémeos. Note-se
que, neste segmento zodiacal do ciclo draconígena de cerca 19 anos, dos seis
eclipses só dois se fixaram em Gémeos, existindo aqui uma predominância da
Sabedoria (Sagitário) sobre a Palavra (Gémeos) na significação axial. Porém,
este eclipse pelas suas características encerra um sentido profundo. Os
eclipses solares anulares ou anelares, uma vez que a Lua está a uma distância
maior da Terra e o seu tamanho aparente não é suficiente para cobrir a
totalidade da projecção solar, apresentam-se como um anel de luz em torno da
sombra lunar. Existe portanto, neste halo fulgente, uma representação luminosa
que cinge a escuridão uterina original. É como diz Virgílio per amica silentia lunae, é como estar
no meio do amistoso silêncio da Lua (Eneida
II, 255). Em Gémeos, este anel de fogo indica o silêncio que é a mãe da
palavra, a deusa Sige dos gnósticos, ou seja, a sabedoria antecede a palavra. Neste
eclipse, a relação entre a luz e a sombra vem reforçar a ideia de que a viagem
para a luz é também um regresso à escuridão, ou seja, a luz tem de integrar a
sombra.
O eclipse do dia 10 pertence à série Saros 147. Ora,
utilizando o mesmo princípio de espacialidade electiva e tornando o lugar onde
nasce o olhar o umbigo do mundo (ὁμφαλός), observar-se-á
esta série a partir de Lisboa. O primeiro eclipse da série Saros foi a 12 de
Outubro de 1624. Este eclipse solar parcial deu-se em Balança com o Ascendente
em Escorpião, estando a sizígia em conjunção a Marte, Neptuno e Vénus e o
Ascendente em conjunção a Mercúrio. Uns dias antes, a 3 de Outubro, ao largo da
ilha de San Pietro (Sardenha), quinze galés do reino de Nápoles, do Grão-Ducado
da Toscana e dos Estados Papais enfrentaram um esquadrão de navios argelianos
de corsários da Barbária. Os europeus saíram vitoriosos e capturaram o
comandante otomano. No mesmo ano, uns meses antes (13/08/1624), o Cardeal
Richelieu tornou-se Primeiro-Ministro e consolidou, nos meses seguintes, um
poder que se estenderá até 1642, e também em 1624, próximo do eclipse, a
Companhia Holandesa das Índias Orientais invadiu a colónia portuguesa da Baía.
O eclipse em Balança fixa-se na XII revelando que, no poder e na história, a
tendência não é criar equilíbrios ou harmonia, mas sim gerir desequilíbrios,
lutando pelo prato dominante.
A série Saros 147 é marcada pelo elemento Ar, visto que
se inicia em Balança, com um eclipse parcial, e tem o seu primeiro eclipse
anular em Gémeos. Este é o eclipse anterior ao de 10 de Junho e que ocorreu a
31 de Maio de 2003. Com a sizígia em Gémeos conjunta a Saturno, na III, e com
Úrano em Peixes na XII, o Ascendente marca a hora em Carneiro. O regente da
sizígia, Mercúrio, encontra-se na II em Touro e o regente do Ascendente, Marte,
na XI em Aquário. Ora no dia 31 de Maio de 2003, Eric Rudolf, do Army of God,
responsável pelo atentado bombista que matou uma pessoa e feriu onze no fim dos
Jogos Olímpicos de Atlanta, foi capturado na Carolina do Norte. No dia 1 de
Junho, Aung San Suu Suu Kyi (Sol natal em Gémeos), que vencera as eleições de
1988 em Myanmar, foi levada sob custódia pelos militares e, no dia 3, Morgan
Tsvangirai, líder do movimento de oposição no Zimbabué, é detido por forças
policiais.
Existe na dicotomia geminiana, sobretudo sob a influência
do binómio luz-sombra de um eclipse solar, uma relação com o poder político que
pode provocar um acentuar e demarcar de posições antagónicas. Esse conflito,
que nasce de um discurso, de um interpretação da realidade, não é por essência
valorativo, veja-se o caso de Aung San Suu Suu Kyi que, por um lado, vence o
Nobel da Paz e, por outro, participa ou promove o genocídio dos roingas. Agora,
nos dias próximos ao eclipse do dia 10, vemos, por exemplo, o caso da
Bielorrússia e da prisão do jornalista Roman
Protasevich.
Ptolomeu diz-nos que Gémeos rege a Hircânia (Irão e
Turquemenistão), a Arménia (antiga), a Mantineia (Arcádia, Grécia), a Cirenaica
(Líbia), a Mamarica (região na fronteira entre a Líbia e o Egipto) e o Egipto.
Já para Vétio Valente rege a Índia, a Céltica, a Cilícia (Turquia), a Galácia
(Turquia), a Trácia (Grécia, Bulgária e Turquia), o Beócia (Grécia), o Egipto,
a Líbia, Roma, a Arábia e a Síria. Manílio afirma que a Índia, a Trácia e o Euxino
(Turquia, Mar Negro) estão sob a influência de Gémeos. Quando o eclipse inicia
a sua fase central (10h55min), o Ascendente encontra-se nos últimos graus do
segundo decanato de Leão, mas, no momento da sizígia, indicado pelo tema que se
apresenta, o Ascendente já se encontra em Virgem. Ora Virgem, segundo Valente,
rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades
(Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dórida (Grécia), Sicília e
Pérsis ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a
Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a influência.
A fixação do Ascendente em Virgem, para além de uma maior
coerência nas regências astrológicas geográficas, permite que se apreenda o
elemento de passagem do eclipse anterior, o eclipse lunar total de 26 de Maio,
cujo Ascendente se fixava em Leão, e o actual que se encontra Virgem, pois se
no anterior o elemento fogo sobressaía (Leão e Sagitário), no de dia 10, para
além da elemento Ar da série Saros, é Mercúrio Retrógrado que exerce o seu
domínio. O pensamento e a palavra obrigam à interiorização da realidade e do eu
em si mesmo.
Os antigos egípcios fizerem de Aker a divindade que rege o
horizonte e que é representada por dois leões de costas voltadas - o “ontem” (Duaj) e o “amanhã” (Sefer), o oriente e o ocidente - e entre os quais está colocado o
disco solar. Ora o tema deste eclipse, com a sizígia na X, embora o MC recaia
na IX (sistema de casa-signo ou signo inteiro), o que também encerra o seu
sentido profundo (a Revolução da Terra, Úrano em Touro, lança os seus raios a
partir da Casa de Deus, IX), lembra a divindade egípcia. Com Mercúrio Retrógrado
junto ao Sol e à Lua na X, o seu significado, tanto como regente do Eclipse
como do Horóscopo, sai reforçado. A Palavra voltada para Si como agente
criador, como Logos da criação, exalta o seu significado, anunciando o próximo
Eixo Nodal do ciclo do Dragão da Lua, pois Touro indica o valor (o viver ou o
modo de vida, II) e Escorpião a morte (a sua acção e qualidade, VIII). No
entanto, a Palavra faz ainda persistir a sua mensagem: a viagem que eleva a
Sabedoria (Cauda Draconis em
Sagitário) até à Palavra (Caput Draconis
em Gémeos).
Essa é uma via que exige uma maior consciência do poder
do tempo e como ele impõe ao humano os seus ciclos (Saturno em Aquário). A
partir da VI, o senhor do semear e colher, do observar, esperar e agir, unirá
os seus raios benéficos com o Sol, a Lua, Mercúrio e a Caput Draconis (trígono) e com a Cauda Draconis (sextil). A luz e a sombra, a palavra e a sabedoria
unem-se à consciência do tempo, à compreensão de que existe um tempo maior que
transcende a efémera realidade da finitude humana. Somos a poeira de um grão
areia na clepsidra do tempo universal. Naturalmente, e por Saturno estar na VI,
essa consciência afectará a compreensão da pandemia, dos ciclos de vida e de
que tudo é transitório.
Por outro lado, o Sol, a Lua e Mercúrio
Retrógrado em Gémeos (X) colidem rectilineamente (quadratura) com Júpiter e
Neptuno em Peixes (VII). A Palavra como Revelação, sob o véu da luz e da
sombra, oculta-se e, tal como a sabedoria, caminha entre nós e não é vista, o que
impede a sua expansão (Júpiter) e comunhão (Neptuno). O discurso não vê o
outro, não o inclui no processo comunicativo, e a palavra fecha-se em si
própria, nas suas idiossincrasias, na ignorância das suas certezas. A
comunicação sem o outro é a génese da intolerância. Porém, por Júpiter - e
Neptuno - estar numa posição particularmente benéfica, esta não é uma tensão
disruptiva, pelo contrário, surge como aviso, como marco no caminho e, não
sendo exclusiva, alguns vão mostrar que a empatia e compaixão podem gerar um
discurso de tolerância que une em vez de separar.
A dádiva da excepção é observável pelas bênçãos que
resultam da união venturosa dos benéficos (Vénus em Caranguejo, na XI, em
trígono a Júpiter em Peixes, na VII). Esta união, se seguirmos a lição do Thema Mundi, une o sentido de origem à
comunhão com o divino, pois nessa representação Caranguejo ocupa o Horóscopo
(Asc.) e Peixes o Lugar de Deus (IX). Ora com a presença de Vénus em Caranguejo
e de Júpiter em Peixes essa ligação natural é intensificada pelos conceitos de
Amor e Expansão. Os raios dos benéficos estendem ainda as suas dádivas para
além da sua união, visto que Vénus (XI) se une em trígono a Neptuno (VII) – o
Amor e a Compaixão revelam que só a empatia nos salvará – e em sextil a Úrano (IX)
– o Amor alimenta a Revolução da Terra –, já Júpiter (VII) une-se em sextil a
Plutão em Capricórnio (V) e a Úrano em Touro (IX) – existe uma Comunhão do
Poder da Morte e uma Expansão da Revolução da Terra. A dádiva surge como luz no
caminho, indicando qual será a via da bem-aventurança.
Na análise deste eclipse, deve-se dar também uma especial
atenção ao posicionamento de Vénus e Marte em Caranguejo. Se acerca de Marte já
antes se fez notar que indica o herói que desce ao ventre da terra, ao lugar de
Perséfone (oposição a Plutão em Capricórnio), com Vénus, sobretudo por estar em
Caranguejo e por ser Estrela da Manhã (posição anterior ao Sol e para além dos
seus raios) encontramos a deusa protectora, a senhora da guerra. Com a união de
Vénus e Marte em Caranguejo, o herói é agora guardião do feminino, da deusa
armada. Este é o mito de Palas, a filha de Tritão que combateu na Gigantomaquia
e que, quando lutava com Atena e estava prestes a desferir-lhe um golpe, foi
morta pela deusa, porque Zeus interveio e protegeu a filha com a Égide, uma
protecção invencível feita com a pele da cabra Aix (cf. com a mitologia de
Capricórnio). Atena, por lamentar a morte injusta de Palas, criou o Paládio, uma
estátua de madeira em sua homenagem (v. Ps.Apolodoro, Biblioteca, 3.12.3).
Ora existe aqui a ideia de que a vontade ou a força
(Marte) do amor (Vénus) pode acerca-se da morte (Plutão) e juntos caminharem. É
como o soneto de Antero de Quental “Mors-Amor”. Se um é o cavalo, o outro é o
cavaleiro. O facto da sizígia se encontrar no decanato e nos termos de Marte
intensifica essa mensagem. A ligação de Marte em Caranguejo com Júpiter e
Neptuno em Peixes (trígono) e com Úrano em Touro (sextil) faz do Deus da Guerra
um dos principais elementos de análise neste eclipse. Existe assim uma forte
vontade de transformação ambiental, social e espiritual e resultará em acções
concretas sejam elas partidárias e legislativas ou sindicais e populares (Úrano
em sextil a Neptuno e em trígono a Plutão; Neptuno em sextil a Plutão). Poderão
até existir manifestações mais expressivas que resultarão em cargas policiais (Saturno
em quadratura a Úrano). Marte e Plutão, unidos em eixo, levará a um extremar de
posições e note-se que basta que um lado vá para além da democracia, ou permaneça
no limiar, para se extremarem as posições. Os democratas terão de cerrar as fileiras
e defender a democracia, pois, uma vez perdida, é difícil de recuperar.
O eclipse solar anular do dia 10 de Junho, sob o véu da luz
e da sombra, do anel de fogo, dar-nos-á a capacidade de integrar no nosso caminho
a escuridão e o silêncio. Existe um poder imenso na possibilidade da palavra, no
não-dito que é o gérmen da criação. A sombra e a ocultação devem lembrar-nos que
a sabedoria caminha entre nós, mas não é vista, é insultada e agredida e nós aceitamos.
A luz é a revelação e o Eterno Feminino é a luz no caminho.