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Liz Greene: Do Ano Platónico ao Aion de Aquário: Exemplo Textual
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sexta-feira, 12 de março de 2021
Lua Nova em Peixes: Reflexões Astrológicas
Reflexões Astrológicas
Lunações
10h21min, 13/03/2021
Decanato: Marte
Termos: Marte
Monomoiria: Sol
Esta é a primeira Lua Nova de 2021 que se
fixa acima do horizonte. Uma mudança que começou a ser sentida, embora com
menor intensidade, na Lua Cheia de Fevereiro. O Sol está no seu próprio
segmento de luz (αἵρεσις), distribuindo, desde modo, a sua
luz com Júpiter e Saturno, ambos no seu segmento. Existe, neste novilúnio,
devido à posição que ocupa, um sentido profundo que o coloca entre a síntese de
Peixes e a culminação partilhada de Aquário e Peixes. Esta é uma significação
mediada pelo facto dos luminares (23º03’) se encontrarem já muito perto do lugar
exacto da exaltação de Vénus (27º), para onde esta também se encaminha. Esse é o
Amor que, como diria Dante, “move o Sol e
as outras estrelas”.
O tema deste novilúnio apresenta dois
elementos que evidenciam a escolha do sistema de divisão casas. O sistema de
casa-signo ou de signo inteiro é o modelo mais antigo de divisão de casas,
utilizado com alguma certeza a partir do século I AEC. Neste sistema, o signo
em que recai o Horóscopo (Asc.) marca toda a primeira casa e, partir deste, a
cada casa corresponde um signo. Por consequência, o Meio do Céu pode coincidir,
ou não, com a Casa X. Este sistema possui uma simplicidade natural, firmada no
valor do Horóscopo. No caso da Lua Nova de Março, o primeiro elemento concerne
à posição de Marte. Noutro sistema de casas, Marte recairia na XII. No entanto,
Marte é a “estrela” que está a ascender. Ptolomeu tentou conciliar o facto do
eixo horizontal marcar a ascensão e o declínio das estrelas com o sistema
anti-horário de casas ao iniciar a primeira casa cinco graus antes do
Horóscopo. Ora esse critério tão discutido por historiadores e astrólogos
acentua um dos benefícios do sistema casa-signo. O outro elemento é o facto do
Meio do Céu cair na IX, a Casa de Deus como diriam os antigos. Esta posição
contribui para a análise dos astros que se encerram entre Plutão em Capricórnio
(26º19’) e a sizígia do Sol e a Lua em Peixes (23º03’), ou seja, em cerca de 60
graus encontramos todo um espaço de culminação.
A X e o Meio do Céu representam, no sistema
antigo, a Práxis, aquilo que se faz,
a efectivação da potencialidade. Ora a união dos luminares com Neptuno e Vénus
na X consubstanciam a prática do Amor Universal e a necessidade de cultivar e
expandir a compaixão e a empatia. A Vénus em Peixes tem sido associada à
sereia, porém, a origem desta significação vai para além da figura mítica da
tentadora de marinheiros. Pausânias, na sua Descrição
da Grécia (VIII, 41, 1-6), diz-nos que Eurínome, a deusa-mãe dos pelasgos,
aquela que governou o Olimpo com Ofíon, a grande serpente, antes de Cronos e Reia
e Zeus e Hera, era adorada num santuário perto de onde os rios Neda e Límax
confluem. Na Figália, na agreste Arcádia, o lugar exacto do santuário é
desconhecido, mas sabe-se que, uma vez por ano, uma imagem de madeira, presa por
correntes de ouro, de uma figura metade mulher, mulher peixe era exibida. Vénus
em Peixes representa Eurínome, uma deusa da origem, a senhora que emergiu das
águas primordiais e criou o mundo e os humanos.
Por outro lado, junto ao Meio do Céu, a
cinco graus, à esquerda e à direita, estão Saturno e Júpiter. O tempo e o
espaço unem-se ao eixo de culminação, na Casa de Deus, no signo de Aquário,
para apresentar a proposta de um novo mundo, um mundo unido ao Amor que com
eles também culmina. Por fim, na Casa da Morte, a VIII, a caminhar lentamente
para o fim da sua viagem por Capricórnio, está Plutão. O Rei do Hades, senhor
de pestes e vulcões, traz consigo, gravado no pórtico da vida, o Et in Arcadia Ego, a lembrança
permanente de que a morte também vive na Arcádia. A finitude deve ser para a
humanidade um sentido de finalidade. A proposta de todo este espaço de
culminação anuncia assim, cantando ao som de Hermes e Pã, a chegada da Idade do
Espírito do Santo, aquela que une o Amor de Deus ao Amor da Humanidade, e
iluminando, a partir do cume do céu, está a Senhora do Mundo, a Mãe da
Humanidade.
Do Horóscopo em Gémeos, firmando uma
mensagem que se tem acentuado desde o início do ano, nasce a viagem da palavra
à sabedoria e da sabedoria à palavra. O corpo do Dragão da Lua, enrolado no
eixo horizontal, potencia a necessidade dessa viagem circular. Porém, a
presença de Marte faz da palavra, como da cantiga, uma arma que vence os
opressores, aqueles que impedem a viagem, ou que se torna opressão. Devemos nos
lembrar, porém, que a sabedoria difere do conhecimento por causa da sua visão
de totalidade e a sabedoria não pode imperar no mundo se nele existir injustiça
e desigualdade, daí que a Cauda do Dragão (termos de Vénus, decanato da Lua) e
o Ocaso (Desc.) se unam, em sextil, à Casa de Deus e àqueles que nela habitam.
A sabedoria só culmina se integrar toda a humanidade. Essa é a visão de
totalidade da Mãe do Mundo. Por outro lado, Úrano na XII, na Casa do Mau Espírito,
do lugar que se oculta, assombra a Mansão de Deus. Esta quadratura coloca em
tensão aquilo que une e desune a humanidade no seu próprio tempo, mas também a
sua apreensão do tempo passado e a projecção no tempo futuro. Para servir um
humano em remissão, nega-se o tempo e a história, validando ditadores e
totalitarismos e tornando criminosos em heróis.
Os laços de aspecto que se constroem entre o
Horóscopo e a X e o Horóscopo e a IX obrigam a relembrar um fragmento (F38) de Petosíris
(150-50 AEC), aquele sacerdote que, depois de Hermes e junto de Nechepso, ajudou
a criar a astrologia tal como a conhecemos. Este antigo astrólogo diz-nos que
as quadraturas não são necessariamente más, podendo existir nelas uma grande
força activa (μεγίστην ἐνέργειαν) que indica um carácter operativo
e actual, ou seja, pode existir nelas um poder de efectivação que as torna
benéficos. Ora isto existe em particular nas quadraturas que se fixam junto aos
κέντρα
(pontos cardeais ou angulares). Neste novilúnio, existe uma unidade que, mesmo
com aspectos de suposta tensão, torna activa toda uma proposta de transformação
do mundo e do humano. O Eterno Feminino eleva-se assim sobre o mar.