quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Lua Cheia - Eixo Leão/Aquário: Reflexões Astrológicas

Reflexões Astrológicas

Lua Cheia


Lua Cheia – Eixo Aquário-Leão


Lisboa, 19h16min, 28/01/2021

 

Lua

Decanato: Saturno

Termos: Vénus

Monomoiria: Mercúrio

 

Sol

Decanato: Vénus

Termos: Vénus

Monomoiria: Marte

 

   
   A Lua Cheia coincide com a subida da Lua sobre o horizonte e a descida do Sol sob a terra, ou seja, o segmento de luz regente é o da Lua, estando portanto o Sol enfraquecido pela sua viagem nocturna. Na barca solar, Ré terá de lutar com Apófis, o monstro do submundo, o senhor do caos. Neste plenilúnio, o conceito antigo de haíresis, de segmento de luz, torna-se particularmente importante, dado que Marte, perto do Meio do Céu e junto de Úrano, serve de fiel da balança da luz. Por estar no seu próprio segmento, Marte concede à Lua o que retira ao Sol e, sabendo-se pelos escritos antigos que é o único que não arde com os raios solares, estabelece com este um intenso fogo poente, um céu raiado de chama. A luz diurna do Sol é assim consumida e com ela a consciência do outro. A luz reflectida da identidade serve de candeia, fragilizada pelo perigo do egotismo, da vontade desenfreada de aparecer, de opinar, enquanto o mundo se encerra nas suas pequenas bolhas, ignorando sempre aqueles que mais sofrem. Se um pé se quer apoiar na Era de Aquário, o outro perde o apoio na Era Peixes, e nem um se torna transformação, nem o outro conserva a compaixão.
 
   Na astrologia antiga, regressando-se até aos misteriosos escritos de Nechepso e Petosíris (séculos I-II AEC), uma quadratura não tinha por si só um valor negativo, nem representava necessariamente uma tensão, sobretudo se ela se verificasse sobre os pontos cardeais, os kentra. Ora esse é o caso que aqui se verifica. No entanto, tem de se fazer uma distinção, pois, por estar no seu próprio segmento, Marte estabelece com a Lua e o Horóscopo uma relação que não é tão tensa quanto aquela que se estabelece com a VII e com os planetas nela contidos. A ligação de Marte e Úrano em Touro, na X, com a Lua e o Horóscopo em Leão intensifica a materialização daquilo que se faz no que à vida e ao sopro vital concerne, privilegiando-se aqui a importância da vida enquanto dom individual e não como uma abstracção colectiva, concebida por uma autoridade material distante.
 
   A estrutura angular recta e a predominância de elementos astrológicos poentes leva naturalmente a que VII seja observada como lugar de condicionamento e morte. Se a VIII é, segundo as tradições antigas, a casa da morte, a VII não deixa de conter também elementos significativos desse valor, pois este é o lugar em que a luz desaparece e, em certa medida, a vida se perde. Depois dela, entra-se no submundo, no reino sob a terra. Ora partindo da VIII, onde encontramos Neptuno em Peixes, construímos uma interpretação dual do lugar da morte. A ilusão daquilo se julga ser o conhecimento da vida e da morte contrasta com a necessidade de compaixão na vida e na morte. Nesta posição, encontramos necessariamente a exaltação do amor universal na humanidade e a sabedoria que une, em mistério, a fé e o amor.
 
   A conjunção de planetas na VII, depois do Sol se pôr, vem consubstanciar a dificuldade de integração do outro na consciência colectiva e na realidade social. Se excluirmos Mercúrio, que está em conjunção quase exacta com o Ponto Poente ou Descendente, revelando a dificuldade de passar a palavra do individual ao social, então, numa margem de cerca de 15 graus, entre os últimos cinco de Capricórnio e os primeiros dez de Aquário, encontramos Plutão, Vénus, Saturno, o Sol e Júpiter: todos sob o horizonte e sob os raios nocturnos do Sol. Deve-se, porém, salientar a condição diferente de Júpiter que está no Coração do Sol, integrando um espaço que se autodefine, cingindo a raridade da bênção. Não será, deste modo, tudo isto um sinal de confinamento, de se guardar no silêncio a luz de uma madrugada futura? Não teremos nós de compreender que a transformação implica sempre um sacrifício das vaidades e uma anulação e esvaziamento do eu, pois é na terra despida que flui o rio da consciência de si?
 
   O corpo do Dragão da Lua, estendido entre a sabedoria e a palavra, fixa-se agora entre a Boa Fortuna, a V, e o Bom Espírito, a XI, tornando assim a sabedoria dádiva e a palavra sopro. Contrariamente ao que se desejaria, a criação individual, a originalidade humana continuará a ser a fundação do futuro, a construção do amanhã. A agregação colectiva e desapegada em torno da sabedoria permanece uma excepção, pois o caminho da Deusa Sophia tem de ser uma visão de totalidade. Não se alcançará a transformação da alma, o erguer da humanidade sobre si mesma com uma expressão de desigualdade, de distinção e separação. O pobre não será livre e não sendo livre, não ascenderá. Esta Lua Cheia acentua, desta forma, a sua própria natureza axial e promove a percepção antiga que via a oposição como diâmetro, como um olhar de frente. Temos pois de acolher a luz do outro e irradiar.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Karl Popper e o Paradoxo da Tolerância


 Popper, Karl, 2013 (1994), The Open Society and Its Enemies, New One-Volume, volume I, Notes to Seven, note 4 (p. 581).


Less well known is the paradox of tolerance: unlimited tolerance must lead to the disappearance of tolerance. If we extend unlimited tolerance even to those who are intolerant, if we are not prepared to defend a tolerant society against the onslaught of the intolerant, then the tolerant will be destroyed, and tolerance with them.—In this formulation, I do not imply, for instance, that we should always suppress the utterance of intolerant philosophies; as long as we can counter them by rational argument and keep them in check by public opinion, suppression would certainly be most unwise. But we should claim the right to suppress them if necessary even by force; for it may easily turn out that they are not prepared to meet us on the level of rational argument, but begin by denouncing all argument; they may forbid their followers to listen to rational argument, because it is deceptive, and teach them to answer arguments by the use of their fi sts or pistols. We should therefore claim, in the name of tolerance, the right not to tolerate the intolerant. We should claim that any movement preaching intolerance places itself outside the law, and we should consider incitement to intolerance and persecution as criminal, in the same way as we should consider incitement to murder, or to kidnapping, or to the revival of the slave trade, as criminal.



Popper, Karl, 2013 (1994), The Open Society and Its Enemies, New One-Volume, ed. E. H. Gombrich & A. Ryan (Princeton Oxford, PUP)