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sexta-feira, 27 de maio de 2022
segunda-feira, 23 de maio de 2022
Mercúrio em Touro: De 23 de Maio a 13 de Junho de 2022 (2º Ingresso)
domingo, 15 de maio de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Eclipse Lunar Total - Lua Cheia Escorpião-Touro
Reflexões Astrológicas
Eclipse Lunar Total
(Lua Cheia:
Escorpião-Touro)
Lisboa, 05h11min, 16/05/2022
Lua
Decanato: Vénus
Termos: Saturno
Monomoiria: Lua
Sol
Decanato: Saturno
Termos: Saturno
Monomoiria: Júpiter
O Eclipse Lunar Total de dia 16 de
Maio ocorre com a Lua no signo de Escorpião e o Sol no de Touro, com Carneiro a
marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις)
da Lua. Por seu lado, a Lua encontra-se no decanato da Vénus, nos termos de
Saturno e na monomoiria da Lua, já o
Sol encontra-se no decanato e nos termos de Saturno e monomoiria de Júpiter. Na hora de Lisboa, o eclipse ocorre a cerca
de uma hora e quinze minutos do ocaso do Lua e do nascimento do Sol. Assim
sendo, a lua está acima do horizonte, no seu próprio Segmento de Luz, mas no
Lugar da Morte (VII), preparando-se para a sua queda. Pelo contrário, o Sol
está no Lugar do Viver, na Porta do Hades (Ἅιδου πύλη) como diria Paulo
de Alexandria (Introdução, cap. 24).
Este eclipse lunar é visível na
América do Norte, América Central e América do Sul, na Antárctida, no Atlântico
Norte e no Pacífico. Depois de forma menos intensa, ou seja, com menor tempo de
visibilidade, em África, na Europa, no Médio Oriente e no início ocidental da
Ásia. No caso de Portugal, convém salientar-se que as ilhas do grupo ocidental
do Arquipélago dos Açores (Flores e Corvo) estão ainda na fase penumbral, já as
restantes ilhas estão na fase parcial, logo as primeiras têm uma duração de
visibilidade total maior. Note-se também que o manto do eclipse estende-se até
fronteira europeia com a Rússia, cobrindo ainda, já no seu limite, a Ucrânia. A
luz e a sua ausência são símbolo e sentido.
Por outro lado, observando-se depois
as lições da astrologia antiga sabemos, segundo Valente (Antologia I,2)
que Escorpião - posição lunar - rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia,
Creta, as ilhas Cíclades, o Peloponeso, a Arcádia, Cirene, a Dória, a Sicília, a
Pérsia, Metagonitis ou a Numídia
(Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África,
Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália,
Cartago, a Líbia, Amom (Jordânia),
Espanha e Roma.
Já Manílio diz-nos que Escorpião
rege Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82). Se considerarmos as regentes
indicadas para o signo de Touro e referidas no eclipse de 30 de Abril,
percebemos facilmente que o actual Eclipse Lunar Total, embora com influência
menor que o Eclipse de Touro, recentra no Mediterrâneo a mensagem do Dragão da
Lua, o corpo de mistério da serpente primordial que se estende entre a Luz e a
Sombra.
O eclipse de dia 16 de Maio insere-se
na série Saros 131, uma série de 72 eclipses que teve o seu início a 10 de Maio
de 1427 e terminará a 7 de Julho de 2707. É uma série bem mais recente que a do
eclipse solar de 30 de Abril (Saros 119), todavia, quer uma, quer outra,
começam com eclipses (solar e lunar) com o Sol em Touro e terminam com outros
com o Sol em Caranguejo. Existe um elemento de passagem, que viaja pela
história, e coloca a humanidade entre a vida (Touro) e a origem (Caranguejo)
ou, numa outra dimensão, a da Lua, entre a morte (Escorpião) e o fim
(Capricórnio). São portanto a síntese do valor e do sentido.
O eclipse de 1427, o primeiro da
série, firma-se nas Guerras Hussitas. De um lado, encontramos as forças
católicas, liderados pelo imperador Sigismundo do Sacro-Império Romano-Germânico
e apoiadas pelo papado e pelas monarquias católicas europeias, do outro, estão
as várias facções hussitas. Ora estes, que são primeiramente dissidentes
heterodoxos do cristianismo católico-romano, vou tornar-se, cerca de cem anos
antes, os porta-estandartes da Reforma, de Lutero e da 95 Teses.
O movimento hussita sustentou-se nas
ideias de João Hus que, por sua vez, fora influenciado por Wyclif e pelos
seguidores de Pedro Valdo. Hus era um forte crítico do poder eclesiástico e
defendia o sacerdócio universal dos crentes, ou seja, quem crê não precisa de
mediação no seu diálogo de fé com Deus, algo muito próximo daquilo que vemos
nos gnósticos ou nos cátaros e que podemos ler no Evangelho de Tomé: “Jesus disse: Eu sou a luz. A que está acima
de todos. Eu sou o Todo. O Todo proveio de mim e o Todo chegou a mim. Trazei-me
um madeiro. Eu estou ali. Levantai a pedra ali me encontrareis.” (logion 77). Ora ideias de Hus foram condenadas
no Concílio de Constança (1414-1418) e o próprio foi queimado na fogueira, a 6
de Julho de 1415.
Este eclipse estende, por exemplo, a
sua influência até à Batalha de Tachov, a 4 de Agosto de 1927, em que os
hussitas vencem e terminam assim a quarta cruzada que se ergueu contra eles. A
questão religiosa marca esta série Saros, pois o último eclipse penumbral, a 14
de Julho de 1535, é assinalado pelo fim da Rebelião de Münster (24 de Junho), a
mesma que é descrita por José Saramago no seu livro In Nomine Dei (1993). A
tentativa dos anabaptistas radicais de estabelecerem um governo próprio,
independente do Principado-Bispado de Münster, um estado do Sacro-Império,
termina com a ofensiva das forças sitiantes e com a captura dos seus líderes,
os quais serão mais tarde torturados e executados, com os seus corpos expostos
publicamente em gaiolas.
Sob
o mesmo eclipse, a 6 de Julho, é executado Sir Thomas More, o autor da Utopia, por não reconhecer Henrique VIII
como líder da igreja britânica e, a 4 de Outubro, é publicada a primeira bíblia
em língua inglesa, com as traduções de William Tyndale e Myles Coverdale. Ora o
primeiro eclipse parcial, a 25 de Julho de 1553, segue a mesma tendência, pois
a 19 de Julho Maria Tudor é proclamada como legítima rainha, promovendo assim o
regresso ao catolicismo romano.
O último eclipse parcial ocorreu a
12 de Março de 1914. Dois dias antes, a sufragista Mary Richardson danifica, em
protesto, a Vénus ao Espelho de
Velásquez com um cutelo na National Gallery. A 28 de Junho é assassinado o
arquiduque Francisco Fernando da Áustria por um membro da Mão Morta, uma
organização nacionalista sérvia, marcando o início da Primeira Guerra Mundial.
Já o primeiro eclipse total deu-se a 2 de Abril de 1950, cruzando-se aqui com a
Série Saros 119, a do Eclipse Solar Parcial do passado dia 30, e com o Eclipse
Solar Anular de 18 de Março de 1950.
Às questões levantadas nesse
eclipse, nomeadamente a Guerra da Coreia e o referendo acerca do regresso do
rei Leopoldo III e da queda do governo belga, acrescenta-se a abdicação de
Leopoldo, a 15 de Abril, a favor do seu filho Balduíno, o adensar da Guerra
Fria, com o NSC 68, o reconhecimento da Grã-Bretanha do estado de Israel (27 de
Abril) e a aprovação da segregação racial do Apartheid pelo parlamento
sul-africano (também a 27 de Abril). Uns meses mais tarde, a 17 de Novembro, o
14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso assume os seus poderes temporais, dado que a
cerimónia de entronização ocorrera em Lassa, a 22 de Fevereiro de 1940.
Os eclipses do eixo nodal, ou
dragontino, Touro-Escorpião, que se estendem até 28 de Outubro de 2022, firmam
o sentido, o seu significado radical, no conceito de valor. Ora, dado que o
eixo diametral é traçado a partir de signos femininos, o valor do feminino, da
terra-mãe e do corpo da mulher reafirma-se e ressurge como um modelo de
transformação. O Sagrado Feminino aparece no horizonte como uma luz redentora.
Entre a vida e a morte, a Senhora do Mundo concede a sua dádiva.
A presença de Úrano na solidez
conceptual do signo de Touro promove nesse valor a necessidade de revolução e
progresso, todavia quando afligido, por exemplo, pela quadratura de Saturno ou
até pela actual oposição da Lua em Escorpião no Lugar da Morte, esse valor é
ameaçado. Veja-se o caso norte-americano com o perigo do Supremo Tribunal
reverter o direito federal à interrupção da gravidez. Uma misoginia estrutural
e uma defesa de conceitos machistas apresentam-se assim como uma coerção
civilizacional à transformação desse valor do feminino.
A colocação do eixo Touro-Escorpião
sobre o eixo do δωδεκατόπος
(doze lugares) do Viver, βίος
(II), e da Morte, θάνατος
(VIII), reforça o sentido primordial do próprio eixo zodiacal. O valor surge assim
entre o modo de viver, tornando o lugar, como diria Trasilo, um “indicador de esperanças”, ἐλπίδων σημαντικήν (CCAG VIII/3: 101.20),
e a própria morte, nas palavras de Paulo de Alexandria como a “realização da morte”, θανάτου τελευτήν (Introdução, cap. 24). Deve ser encontrado aqui um sentido entre
aquilo que se espera e se constrói e aquilo que se realiza e se destrói. E, por
fim, a presença do Dragão da Lua, senhor ancestral dos eclipses, da luz e da
sombra, faz com que os três eixos convirjam numa única unidade de sentido: o
valor da luz entre a vida e a morte, entre a criação e a destruição.
Saturno em Aquário, trazendo o peso
da Necessidade sobre a Humanidade, olha quadrangularmente para os luminares, para
Úrano, para o Dragão da Lua, e assim para o eclipse. O destino do humano
torna-se a sua própria sombra e aquilo que se oculta assume-se como a gravidade
de uma destruição. Saturno, por este estar fora do Segmento de Luz, é o mais
danoso dos maléficos, todavia, está no seu domicílio e no Lugar do Bom Espírito
(XI). O sextil entre Saturno e os benéficos serve para atenuar essa natureza
maléfica, trazendo a acção do bem ao destino da humanidade. Existe, deste modo,
na própria Necessidade uma lição que acolhe tanto a pedagogia de uma
providência universal como a retribuição de uma desmedida. E isso é algo que,
por vezes, é difícil de aceitar e que leva a maldizer os raios saturninos.
Por outro lado, Vénus e Júpiter, a
união das dádivas, unem-se ao Leme da Vida em Carneiro. A conjunção dos
benéficos ocorre, porém, neste eclipse, sem tocar os luminares ou o Dragão da
Lua (aspectos antigos). É como se a pulsão do acto e a acção do bem não
encontrassem o seu caminho. Vénus está em exílio, errando fora do templo do
amor e tornando mais egoístas os desejos superficiais. No entanto, os benéficos
numa condição pós-ascendente concedem a sua dádiva. Em Portugal, dado que o
tema do eclipse é elaborado para Lisboa, essa acção pode ter também um efeito
de conflito, de posições extremadas. Lembremo-nos que os benéficos estiveram em
Peixes no 25 de Abril de 1974, na Revolução dos Cravos, e em Carneiro no atribulado
ano de 75.
Plutão é o astro mais alto e, como
regente moderno de Escorpião, é também o deste eclipse lunar. O senhor do
submundo lança até 24 de Março de 2023 os seus raios a partir de Capricórnio,
projectando a transformação enquanto Poder da Morte e unindo a finalidade à
destruição. Depois, em Aquário, não se pense, como existe uma certa tendência
quando um planeta ingressa em Aquário, que tudo será arco-íris e unicórnios.
Nessa altura, a Morte será lançada a partir da Humanidade, a partir das suas próprias
estruturas. As mudanças nascem sempre de uma qualquer forma de destruição. A
Revolução Americana no fim de Plutão em Capricórnio (Declaração da
Independência: 4 de Julho de 1776) e a Revolução Francesa (Tomada da Bastilha:
14 de Julho de 1789) já com Plutão em Aquário não foram um encontro de amigos,
foram formas de luta e morte.
Ora Marte, o regente clássico de
Escorpião, agora em Peixes, concedendo-nos a imagem do herói sacrificado e da
ilusão da guerra, terá, num futuro próximo, uma acção que hoje nos deve servir
de alerta. Aquando da assinatura da Declaração da Independência e da Tomada da
Bastilha, Marte estava em Gémeos e, na Segunda Guerra Mundial, quando Plutão
estava em Leão, signo oposto a Aquário, e aquando do lançamento das bombas atómicas
em Hiroshima (6 de Agosto de 1945) e em Nagasaki (9 de Agosto de 1945), Marte
também estava em Gémeos. O senhor da guerra estará nesta constelação a partir
de 21 de Agosto e lá permanecerá até 26 de Março de 2023. De Peixes a Gémeos, o
deus Ares fará um caminho quadrangular que, na verdade, determinará o futuro
próximo da humanidade e que se cruzará com a entrada de Plutão em Aquário.
A relação Marte e Plutão com os
luminares e o Dragão da Lua (sextil e trígonos), ou com Úrano (sextil e trígono),
mas também de Neptuno que partilha o mesmo signo que Marte (Peixes) são aqui
uma chave de sentido, mas também uma promessa do futuro. Poderá o Rei Pescador,
herói sacrificado, entregar o Graal ao humano, determinando assim o valor da
luz entre vida e a morte, ou, seguindo um falso herói, a guerra, a ilusão e a
morte vencerão o humano, comprometendo a humanidade? A Acção do Bem colide,
porém, com o Poder da Morte (quadratura de Vénus e Júpiter em Carneiro com
Plutão em Capricórnio), tornando mais difícil a demanda da dádiva e a fortuna
do bem.
Por fim, no Lugar da Deusa (III),
Mercúrio Retrógrado em Gémeos, lutando contra a sua própria natureza, serve a
deusa Sige – o Silêncio primordial, o ventre da Sabedoria e a origem da Palavra
– e luta contra a mentira, contra o discurso enganoso e a propaganda, contra a
ignorância. Este silêncio que antecede a palavra justa une-se à dádiva do bem,
aos benéficos (sextil a Vénus e Júpiter em Carneiro), e concede o dom da
compreensão ao peso, à gravidade do destino sobre a humanidade (trígono a
Saturno em Aquário). No entanto, este Mercúrio Retrógrado em Gémeos enfrenta
quadrangularmente Marte e Neptuno em Peixes, ou seja, aquilo que pensamos que
nos salva, aquilo pelo qual lutamos pode também ser aquilo que nos engana,
ludibriando, neste eclipse, o valor que colocamos nas coisas e nos acontecimentos.
Em suma, o actual eclipse lunar de
dia 16 de Maio lança, entre a luz e a sua ocultação, um conjunto de raios de sentido
que encontrarão a sua culminação no eclipse lunar total de 8 de Novembro.
sábado, 30 de abril de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Eclipse Solar Parcial - Lua Nova em Touro
Reflexões Astrológicas
Eclipse Solar Parcial
(Lua Nova em Touro)
Lisboa, 21h41min, 30/04/2022
Sol-Lua
Decanato: Lua
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Saturno
O Eclipse Solar Parcial de dia 30 de
Abril ocorre no signo de Touro, com Escorpião a marcar a hora, no Segmento de
Luz (αἵρεσις) da Lua, com os luminares
abaixo do horizonte e cerca de uma hora após o ocaso (hora de Lisboa), no
decanato da Lua, nos termos de Mercúrio e na monomoiria da Saturno. Aquando do eclipse, na hora de Lisboa,
Mercúrio é a única luz acima do horizonte, mas no Lugar da Morte. Ora, estando
Mercúrio no seu domicílio diurno, como Estrela da Tarde, e avançando para o
Poente, reforça-se a mensagem de que a dicotomia radical não se firma entre a
palavra e o silêncio, mas sim entre a verdade e a mentira. A bipolaridade
geminiana vai agudizar a sujeição de Mercúrio aos perigos do pensamento único,
lembrando-nos que comunicar sem ter a sabedoria (Sagitário) como finalidade ou
é vaidade ou é manipulação.
É, no entanto, em Touro que se dá o
Eclipse Solar Parcial de dia 30 e é no eixo Touro-Escorpião que se estenderá o
corpo do Dragão da Lua, marcando um conjunto de eclipses que irá até 28 de
Outubro de 2023 e cuja influência se alastrará pelos próximos anos, variando
consoante a magnitude de cada eclipse ou de acordo com as suas horas
equatoriais como diziam os antigos. Uma vez mais e à semelhança de alguns dos
eclipses que se manifestaram no ano anterior, o espectro penumbral incidirá
sobre o hemisfério sul, em especial, nas áreas polares, com especial destaque para
a Antárctida, a América do Sul e a Oceânia, mais para a Austrália do que para a
Nova Zelândia. As alterações climáticas e os desastres naturais que são a sua
consequência têm sido particularmente nefastos nestas zonas do planeta e essa
será uma tendência natural que se manterá e alastrará.
Por outro lado, o eclipse solar no
signo de Touro vai reger, segundo as lições de Vétio Valente (Antologia I, 2), as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o
Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão,
mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia,
Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso,
da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, uma província
do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. A Cítia e a região
das tribos da Samártia correspondem hoje, entre outros países, ao que é agora a
Ucrânia, tornando assim actual a lição de Valente. Assim, de um ponto de vista astrológico,
estas áreas geográficas vão merecer uma maior atenção.
Este eclipse solar insere-se, por
outro lado, na série Saros 119 que é uma série antiga e cujo fim se aproxima,
tornando os seus efeitos mais expressivos e a sua assinatura
histórico-astrológica mais evidente. A série Saros 119 teve o seu início a 15
de Maio de 850 EC com um eclipse solar parcial, também
ele no signo de Touro. Esta data marca a expansão da ofensiva viking nas Ilhas
Britânicas, na Islândia e nos Países Baixos. Nestes últimos, a data assinala a
conquista de Dorestad e Utreque pelo rei viking Rorico da Dinamarca. O valor da
materialidade, expresso por Touro, relaciona-se aqui com o tipo de ofensiva
viking, assente maioritariamente em saques e pilhagens ou na criação de
colónias que compensem as dificuldades da produção agrícola escandinava e a
austeridade do clima.
Os dois eclipses totais, mais um
eclipse híbrido (total e anular), determinam o centro da série Saros. Os dois
eclipses totais ocorrem no signo de Leão. O primeiro, que se deu a 9 de Agosto
de 994, continua a acentuar a expansão viking, mas é também identificado por
uma forte tempestade solar (993-994 EC), evidente
nas datações por carbono 14. O segundo, a 20 de Agosto de 1012, é marcado pela
rebelião beduína anti-Fatímida, em que Abu’l-Futuh al-Hasan ibn Já’far, que se
tornara xarife de Meca em 994 (ano do eclipse total anterior), é aclamado
anti-Califa.
O eclipse híbrido (solar e anular)
de 31 de Agosto de 1030 dá-se no signo de Virgem e é assinalado pelo facto do
imperador Romano III Argiro decidir retaliar as ofensivas muçulmanos e liderar
uma força de 20 000 homens. O emir Mirdasid Shihl al-Dawla Nasr de Alepo
procura a paz, mas o imperador bizantino recusou-se a negociar. As forças
beduínas cercam então o exército de Romano, cortando-lhe o acesso a água e mantimentos.
O imperador é obrigado a recuar até Constantinopla. No entanto, os seus
generais continuam as ofensivas, acabando por forçar o emir Nasr de Alepo a
prestar vassalagem e tributo a Bizâncio.
O primeiro eclipse anular ocorre a
Antes de se avançar para os eclipses
mais próximos do actual, é preciso salientar-se o eclipse de 1 de Setembro de
1625, pois é o mais longo da série, com 7 minutos e 37 segundos. Este eclipse é
marcado por vários conflitos militares com as tropas holandeses. A expedição
militar portuguesa e espanhola recupera Salvador da Baía aos holandeses. É
celebrado também, a 8 de Setembro, o tratado de Southampton que consagra a
aliança entre a Inglaterra e a República da Holanda. E, a 15 de Setembro, a
segunda rebelião huguenote encontra o seu fim, quando o duque de Montmorency
derrota a frota de La Rochelelle, comandada por Jean Guiton e por Benjamin de
Rohan, duque de Soubise. O signo de Virgem assinala neste eclipse uma maior
propensão para a estabilização territorial e para celebração de acordos
políticos.
No século XX, dois eclipses registam
o fim da fase anular e o começo da fase parcial, aquela que se estenderá até ao
fim da série, a 24 de Junho de 2112 EC
(signo de Caranguejo), uma série de 1262,11 anos e com 71 eclipses. O último
eclipse anular dá-se a 18 de Março de 1950 (signo de Peixes). Ora no próprio
dia cai o governa belga, em consequência de um referendo que vota
favoravelmente o retorno do rei Leopoldo III do exílio. Este fora acusado de
ter colaborado com os nazis e ter entregado a Bélgica ao regime de Hitler. Uns
meses depois, a 25 de Junho, inicia-se a Guerra da Coreia. Em Peixes, aquilo em
que se acredita e aquilo que se segue ganha aqui uma dimensão política e
militar, mesmo que seja um erro ou uma ilusão.
O primeiro eclipse da última fase
ocorre a 28 de Março de 1968. Este eclipse tem um significado particular para o
Brasil. Neste dia, o estudante Edson Luís de Lima Souto é assassinado pela
polícia num protesto no restaurante Calabouço. A morte de Edson Luís dá início
a um ano de forte contestação à ditadura militar. E note-se que Edson Luís
nasceu a 24 de Fevereiro de 1950, a menos de um mês do eclipse anterior.
Existem, infelizmente, mortes que marcam o curso da história. A de Edson Luís é
muito semelhante à de José Ribeiro Santos em Portugal. A oposição aos regimes
totalitários fez destas mortes símbolos da luta pela liberdade e pela
democracia. A passagem de um eclipse em Peixes para um Carneiro transporta essa
matriz de sentido em que uma ideia em que se acredita move uma determinada acção.
O eclipse solar de dia 30 introduz igualmente
uma mensagem axial, já iniciada no ano passado, que coloca o sentido e o valor
entre a vida e a morte. A realidade continua a pedir que se encontre o valor
entre ruínas, entre a poeira levantada pelas asas do anjo da história. O
progresso começa sempre com um vendaval. A sizígia dos luminares em Touro,
abraçados sob o horizonte pelo Dragão da Lua, apresenta, porém, uma força
contrária. O touro branco que rapta Europa pede estrutura, exige estabilidade.
No entanto, em seu redor, com Escorpião a ascender e com a cauda do Dragão da
Lunar enraizada no Destino e na Necessidade (e conjunta a Alpha Serpentis ou Unukalhai),
tudo o que vê é morte e encontrar o equilíbrio e a segurança, a permanência e a
solidez, parece algo impossível.
A presença de Úrano vai trazer também
o espírito da revolução, do vendaval, à constância do viver. O valor e a
tradição podem tremer, senão mesmo ruir. As falácias do liberalismo, com a
inflação e as taxas de juros a subir e os salários e o poder de compra a
descer, vão ameaçar o estilo de vida e o acesso aos bens essenciais. As cripto-moedas
alimentam a especulação e o branqueamento de capitais, de dinheiro sujo. O
capitalismo selvagem e a forma abusiva de gerir os recursos do planeta, ignorando
a sua sustentabilidade, conduzirão a uma mudança forçada do modo de viver.
Se observarmos o tema do eclipse,
concluímos com facilidade que existe uma concertação de planetas nos signos
Touro e Peixes, seguidos, de forma dissonante, por Mercúrio em Gémeos e Saturno
em Aquário. Plutão em Capricórnio, na dianteira do relógio solar e no Lugar da
Deusa (III), surge sozinho, mas concedendo alguma concórdia ao sentido profundo
que Touro e Peixes pretendem afirmar. O Poder da Morte, proposto pelo senhor do
submundo, une-se ao valor do viver e à contemplação da totalidade proclamados
por Touro (trígono) e Peixes (sextil).
Os luminares, Úrano e a Caput
Draconis unem-se hexagonalmente a Marte, Neptuno, Vénus e Júpiter. No Lugar da
Boa Fortuna (V), junto ao Ponto Subterrâneo (IC), tornando-se assim a fundação
da realidade. Estes planetas agraciam-nos assim com a dádiva e a harmonia dos
contrários. A conjunção dos benéficos (Vénus e Júpiter), no signo de exaltação
de Vénus, no seu Segmento de Luz, com Neptuno, a oitava de Vénus, no seu
domicílio, confere-nos as bênçãos do céu e da terra. Contudo, a Glória e a
Graça de um Feminino exaltado, pois é Vénus quem está mais favorecida, é um
sinal de possibilidade, de luz no caminho, e não uma garantia de sucesso e
triunfo. O signo de Peixes pede sempre uma forma de desapego ou abnegação, o
que não é fácil para um eclipse solar em Touro.
Marte em Peixes, com Neptuno, Vénus
e Júpiter, simboliza aqui o herói que se sacrifica, que se entrega, mas também
o falso herói e o perigo do homem (ou mulher) providencial. Não são estes os
tempos em que os media e as redes sociais criam novos heróis e novos cultos da
personalidade? A quadratura dos planetas em Peixes, sobretudo Marte, a Mercúrio
em Gémeos alerta-nos para este perigo. Por outro lado, este Marte em Peixes
representa também as palavras de Jesus, quando nos diz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a
dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14, 27). Nestes tempos de guerra, a paz tende
a não a ser aquela que o mundo nos dá e a segurança pode não se alicerçar nas
ilusões do nosso quotidiano, do nosso modo de viver. Este é também Touro sob a
luz e a sua ausência numa noite de eclipse, perdendo a segurança.
Saturno em Aquário, no Lugar sob a
Terra (IV), traz para as raízes profundas da nossa realidade a relação entre a
Necessidade saturnina e a Humanidade aquariana. No primeiro nível de análise,
encontrar-se-á aqui a velha dicotomia entre o destino e a liberdade ou o livre-arbítrio,
mas, depois de se passar o pórtico dos mistérios, sabe-se que conhecendo o
caminho, compreende-se que só existe o caminho, ou seja, a liberdade é o
próprio destino. Desta forma, uns dirão que o peso da Necessidade conduz-nos ao
determinismo, outros que, fitando a grande roda, a união a do macrocosmos ao
microcosmos torna tudo um e o mesmo.
Ora Saturno está em conjunção com as estrelas
Deneb Algedi e Sadalsuud concedendo um certa gravidade do bem, mas também uma
dualidade na fortuna. Por outro lado, Saturno une-se quadrangularmente aos
luminares e a Úrano, que, por seu lado, está em conjunção com as estrelas
Almach e Menkar, trazendo a sombra da ruína, mas também o potencial da resiliência
e da criatividade. A quadratura de Saturno ao lugar do eclipse vai acentuar esse
peso providencial da Necessidade sobre a Humanidade.
Já o trígono de Saturno em Aquário a
Mercúrio em Gémeos, estando este conjunto à estrela Alcyone, infunde nesta
tensão entre a Necessidade e a Humanidade o espírito da viagem, mas também da
fuga e da ocultação. A palavra pode revelar ou ocultar esse espírito de
passagem que está também de acordo com a união do Lugar sob a Terra com o Lugar
da Morte. Mercúrio prepara-se para se afundar no horizonte e tornar-se o
Psicopompo, o guia das almas, anunciando a sua retrogradação.
Este
eclipse solar parcial no signo de Touro terá no mínimo uma influência directa de
seis meses que se pode estender até todo o ano de 2023 e, colocando a sua
expressão de luz e sombra sobre o valor da vida e do modo de viver, transporta,
como uma abelha, as sementes do futuro. Ora Vénus exaltada é essa abelha. A senhora
do tema, a luz do Eterno Feminino que surge após a penumbra do eclipse, será
uma luz no caminho, uma verdadeira revelação.