Reflexões Astrológicas
Eclipse Solar Parcial
(Lua Nova em Touro)
Lisboa, 21h41min, 30/04/2022
Sol-Lua
Decanato: Lua
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Saturno
O Eclipse Solar Parcial de dia 30 de
Abril ocorre no signo de Touro, com Escorpião a marcar a hora, no Segmento de
Luz (αἵρεσις) da Lua, com os luminares
abaixo do horizonte e cerca de uma hora após o ocaso (hora de Lisboa), no
decanato da Lua, nos termos de Mercúrio e na monomoiria da Saturno. Aquando do eclipse, na hora de Lisboa,
Mercúrio é a única luz acima do horizonte, mas no Lugar da Morte. Ora, estando
Mercúrio no seu domicílio diurno, como Estrela da Tarde, e avançando para o
Poente, reforça-se a mensagem de que a dicotomia radical não se firma entre a
palavra e o silêncio, mas sim entre a verdade e a mentira. A bipolaridade
geminiana vai agudizar a sujeição de Mercúrio aos perigos do pensamento único,
lembrando-nos que comunicar sem ter a sabedoria (Sagitário) como finalidade ou
é vaidade ou é manipulação.
É, no entanto, em Touro que se dá o
Eclipse Solar Parcial de dia 30 e é no eixo Touro-Escorpião que se estenderá o
corpo do Dragão da Lua, marcando um conjunto de eclipses que irá até 28 de
Outubro de 2023 e cuja influência se alastrará pelos próximos anos, variando
consoante a magnitude de cada eclipse ou de acordo com as suas horas
equatoriais como diziam os antigos. Uma vez mais e à semelhança de alguns dos
eclipses que se manifestaram no ano anterior, o espectro penumbral incidirá
sobre o hemisfério sul, em especial, nas áreas polares, com especial destaque para
a Antárctida, a América do Sul e a Oceânia, mais para a Austrália do que para a
Nova Zelândia. As alterações climáticas e os desastres naturais que são a sua
consequência têm sido particularmente nefastos nestas zonas do planeta e essa
será uma tendência natural que se manterá e alastrará.
Por outro lado, o eclipse solar no
signo de Touro vai reger, segundo as lições de Vétio Valente (Antologia I, 2), as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o
Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão,
mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia,
Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso,
da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, uma província
do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. A Cítia e a região
das tribos da Samártia correspondem hoje, entre outros países, ao que é agora a
Ucrânia, tornando assim actual a lição de Valente. Assim, de um ponto de vista astrológico,
estas áreas geográficas vão merecer uma maior atenção.
Este eclipse solar insere-se, por
outro lado, na série Saros 119 que é uma série antiga e cujo fim se aproxima,
tornando os seus efeitos mais expressivos e a sua assinatura
histórico-astrológica mais evidente. A série Saros 119 teve o seu início a 15
de Maio de 850 EC com um eclipse solar parcial, também
ele no signo de Touro. Esta data marca a expansão da ofensiva viking nas Ilhas
Britânicas, na Islândia e nos Países Baixos. Nestes últimos, a data assinala a
conquista de Dorestad e Utreque pelo rei viking Rorico da Dinamarca. O valor da
materialidade, expresso por Touro, relaciona-se aqui com o tipo de ofensiva
viking, assente maioritariamente em saques e pilhagens ou na criação de
colónias que compensem as dificuldades da produção agrícola escandinava e a
austeridade do clima.
Os dois eclipses totais, mais um
eclipse híbrido (total e anular), determinam o centro da série Saros. Os dois
eclipses totais ocorrem no signo de Leão. O primeiro, que se deu a 9 de Agosto
de 994, continua a acentuar a expansão viking, mas é também identificado por
uma forte tempestade solar (993-994 EC), evidente
nas datações por carbono 14. O segundo, a 20 de Agosto de 1012, é marcado pela
rebelião beduína anti-Fatímida, em que Abu’l-Futuh al-Hasan ibn Já’far, que se
tornara xarife de Meca em 994 (ano do eclipse total anterior), é aclamado
anti-Califa.
O eclipse híbrido (solar e anular)
de 31 de Agosto de 1030 dá-se no signo de Virgem e é assinalado pelo facto do
imperador Romano III Argiro decidir retaliar as ofensivas muçulmanos e liderar
uma força de 20 000 homens. O emir Mirdasid Shihl al-Dawla Nasr de Alepo
procura a paz, mas o imperador bizantino recusou-se a negociar. As forças
beduínas cercam então o exército de Romano, cortando-lhe o acesso a água e mantimentos.
O imperador é obrigado a recuar até Constantinopla. No entanto, os seus
generais continuam as ofensivas, acabando por forçar o emir Nasr de Alepo a
prestar vassalagem e tributo a Bizâncio.
O primeiro eclipse anular ocorre a
Antes de se avançar para os eclipses
mais próximos do actual, é preciso salientar-se o eclipse de 1 de Setembro de
1625, pois é o mais longo da série, com 7 minutos e 37 segundos. Este eclipse é
marcado por vários conflitos militares com as tropas holandeses. A expedição
militar portuguesa e espanhola recupera Salvador da Baía aos holandeses. É
celebrado também, a 8 de Setembro, o tratado de Southampton que consagra a
aliança entre a Inglaterra e a República da Holanda. E, a 15 de Setembro, a
segunda rebelião huguenote encontra o seu fim, quando o duque de Montmorency
derrota a frota de La Rochelelle, comandada por Jean Guiton e por Benjamin de
Rohan, duque de Soubise. O signo de Virgem assinala neste eclipse uma maior
propensão para a estabilização territorial e para celebração de acordos
políticos.
No século XX, dois eclipses registam
o fim da fase anular e o começo da fase parcial, aquela que se estenderá até ao
fim da série, a 24 de Junho de 2112 EC
(signo de Caranguejo), uma série de 1262,11 anos e com 71 eclipses. O último
eclipse anular dá-se a 18 de Março de 1950 (signo de Peixes). Ora no próprio
dia cai o governa belga, em consequência de um referendo que vota
favoravelmente o retorno do rei Leopoldo III do exílio. Este fora acusado de
ter colaborado com os nazis e ter entregado a Bélgica ao regime de Hitler. Uns
meses depois, a 25 de Junho, inicia-se a Guerra da Coreia. Em Peixes, aquilo em
que se acredita e aquilo que se segue ganha aqui uma dimensão política e
militar, mesmo que seja um erro ou uma ilusão.
O primeiro eclipse da última fase
ocorre a 28 de Março de 1968. Este eclipse tem um significado particular para o
Brasil. Neste dia, o estudante Edson Luís de Lima Souto é assassinado pela
polícia num protesto no restaurante Calabouço. A morte de Edson Luís dá início
a um ano de forte contestação à ditadura militar. E note-se que Edson Luís
nasceu a 24 de Fevereiro de 1950, a menos de um mês do eclipse anterior.
Existem, infelizmente, mortes que marcam o curso da história. A de Edson Luís é
muito semelhante à de José Ribeiro Santos em Portugal. A oposição aos regimes
totalitários fez destas mortes símbolos da luta pela liberdade e pela
democracia. A passagem de um eclipse em Peixes para um Carneiro transporta essa
matriz de sentido em que uma ideia em que se acredita move uma determinada acção.
O eclipse solar de dia 30 introduz igualmente
uma mensagem axial, já iniciada no ano passado, que coloca o sentido e o valor
entre a vida e a morte. A realidade continua a pedir que se encontre o valor
entre ruínas, entre a poeira levantada pelas asas do anjo da história. O
progresso começa sempre com um vendaval. A sizígia dos luminares em Touro,
abraçados sob o horizonte pelo Dragão da Lua, apresenta, porém, uma força
contrária. O touro branco que rapta Europa pede estrutura, exige estabilidade.
No entanto, em seu redor, com Escorpião a ascender e com a cauda do Dragão da
Lunar enraizada no Destino e na Necessidade (e conjunta a Alpha Serpentis ou Unukalhai),
tudo o que vê é morte e encontrar o equilíbrio e a segurança, a permanência e a
solidez, parece algo impossível.
A presença de Úrano vai trazer também
o espírito da revolução, do vendaval, à constância do viver. O valor e a
tradição podem tremer, senão mesmo ruir. As falácias do liberalismo, com a
inflação e as taxas de juros a subir e os salários e o poder de compra a
descer, vão ameaçar o estilo de vida e o acesso aos bens essenciais. As cripto-moedas
alimentam a especulação e o branqueamento de capitais, de dinheiro sujo. O
capitalismo selvagem e a forma abusiva de gerir os recursos do planeta, ignorando
a sua sustentabilidade, conduzirão a uma mudança forçada do modo de viver.
Se observarmos o tema do eclipse,
concluímos com facilidade que existe uma concertação de planetas nos signos
Touro e Peixes, seguidos, de forma dissonante, por Mercúrio em Gémeos e Saturno
em Aquário. Plutão em Capricórnio, na dianteira do relógio solar e no Lugar da
Deusa (III), surge sozinho, mas concedendo alguma concórdia ao sentido profundo
que Touro e Peixes pretendem afirmar. O Poder da Morte, proposto pelo senhor do
submundo, une-se ao valor do viver e à contemplação da totalidade proclamados
por Touro (trígono) e Peixes (sextil).
Os luminares, Úrano e a Caput
Draconis unem-se hexagonalmente a Marte, Neptuno, Vénus e Júpiter. No Lugar da
Boa Fortuna (V), junto ao Ponto Subterrâneo (IC), tornando-se assim a fundação
da realidade. Estes planetas agraciam-nos assim com a dádiva e a harmonia dos
contrários. A conjunção dos benéficos (Vénus e Júpiter), no signo de exaltação
de Vénus, no seu Segmento de Luz, com Neptuno, a oitava de Vénus, no seu
domicílio, confere-nos as bênçãos do céu e da terra. Contudo, a Glória e a
Graça de um Feminino exaltado, pois é Vénus quem está mais favorecida, é um
sinal de possibilidade, de luz no caminho, e não uma garantia de sucesso e
triunfo. O signo de Peixes pede sempre uma forma de desapego ou abnegação, o
que não é fácil para um eclipse solar em Touro.
Marte em Peixes, com Neptuno, Vénus
e Júpiter, simboliza aqui o herói que se sacrifica, que se entrega, mas também
o falso herói e o perigo do homem (ou mulher) providencial. Não são estes os
tempos em que os media e as redes sociais criam novos heróis e novos cultos da
personalidade? A quadratura dos planetas em Peixes, sobretudo Marte, a Mercúrio
em Gémeos alerta-nos para este perigo. Por outro lado, este Marte em Peixes
representa também as palavras de Jesus, quando nos diz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a
dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14, 27). Nestes tempos de guerra, a paz tende
a não a ser aquela que o mundo nos dá e a segurança pode não se alicerçar nas
ilusões do nosso quotidiano, do nosso modo de viver. Este é também Touro sob a
luz e a sua ausência numa noite de eclipse, perdendo a segurança.
Saturno em Aquário, no Lugar sob a
Terra (IV), traz para as raízes profundas da nossa realidade a relação entre a
Necessidade saturnina e a Humanidade aquariana. No primeiro nível de análise,
encontrar-se-á aqui a velha dicotomia entre o destino e a liberdade ou o livre-arbítrio,
mas, depois de se passar o pórtico dos mistérios, sabe-se que conhecendo o
caminho, compreende-se que só existe o caminho, ou seja, a liberdade é o
próprio destino. Desta forma, uns dirão que o peso da Necessidade conduz-nos ao
determinismo, outros que, fitando a grande roda, a união a do macrocosmos ao
microcosmos torna tudo um e o mesmo.
Ora Saturno está em conjunção com as estrelas
Deneb Algedi e Sadalsuud concedendo um certa gravidade do bem, mas também uma
dualidade na fortuna. Por outro lado, Saturno une-se quadrangularmente aos
luminares e a Úrano, que, por seu lado, está em conjunção com as estrelas
Almach e Menkar, trazendo a sombra da ruína, mas também o potencial da resiliência
e da criatividade. A quadratura de Saturno ao lugar do eclipse vai acentuar esse
peso providencial da Necessidade sobre a Humanidade.
Já o trígono de Saturno em Aquário a
Mercúrio em Gémeos, estando este conjunto à estrela Alcyone, infunde nesta
tensão entre a Necessidade e a Humanidade o espírito da viagem, mas também da
fuga e da ocultação. A palavra pode revelar ou ocultar esse espírito de
passagem que está também de acordo com a união do Lugar sob a Terra com o Lugar
da Morte. Mercúrio prepara-se para se afundar no horizonte e tornar-se o
Psicopompo, o guia das almas, anunciando a sua retrogradação.
Este
eclipse solar parcial no signo de Touro terá no mínimo uma influência directa de
seis meses que se pode estender até todo o ano de 2023 e, colocando a sua
expressão de luz e sombra sobre o valor da vida e do modo de viver, transporta,
como uma abelha, as sementes do futuro. Ora Vénus exaltada é essa abelha. A senhora
do tema, a luz do Eterno Feminino que surge após a penumbra do eclipse, será
uma luz no caminho, uma verdadeira revelação.
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