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sábado, 18 de dezembro de 2021

Lua Cheia - Eixo Gémeos/Sagitário: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Cheia: Eixo Gémeos – Sagitário


Lisboa, 04h35min, 19/12/2021

 

Lua

Decanato: Sol

Termos: Saturno

Monomoiria: Vénus   

 

Sol

Decanato: Saturno

Termos: Marte

Monomoiria: Saturno

 

            A última Lua do Cheia de 2021 coloca a Lua no seu próprio Segmento de Luz (αἵρεσις), acima do horizonte, sendo ela a luz mais alta, embora fixada no Lugar da Morte (VIII), no signo de Gémeos e com a Caput Draconis, no decanato do Sol, nos termos de Saturno e na monomoiria de Vénus. Já o Sol encontra-se em Sagitário, fora do Segmento de Luz, abaixo do horizonte, no Lugar do Viver (II), no decanato de Saturno, termos de Marte e monomoiria de Saturno. Com o Sol, mas para além dos seus raios encontra-se Marte e a Cauda Draconis. Ora este encontro, sem a qualidade abrasiva de que Marte poderia beneficiar, intensifica a força do elemento de passagem e do espírito de viagem, de travessia do rio da realidade, que é própria do eixo Sagitário-Gémeos. Porém e dado o eixo de lugares em que os luminares se firmam, a intensidade não possui um valor próprio e, neste caso, ou se eleva ou se afunda. A transformação nesta qualidade axial tem portanto um potencial de transformação que não é em si mesmo valorativo.

            Os luminares, entre o modo de vida (II) e a qualidade da morte (VIII), concedem a luz que permite encontrar o sentido do real. A união do Sol e da Lua com o corpo do Dragão da Lua, aquele que a 18 de Janeiro de 2022 deixará o eixo Sagitário-Gémeos, faculta a possibilidade de se enraizar o limite e o limiar da mensagem proposta. Essa passagem da Sabedoria à Palavra deixará de ser a luz que guia para voltar a ser mistério. O Dragão da Lua coloca sobre a vida o peso da Necessidade, é um agente do Destino e da Providência, daí que Vétio Valente diga, por exemplo, que o ponto quadrangular à Caput tem uma força anairética (Antologia, III, 9), ou seja, a criação e a destruição ou a acção e a retribuição são expressões do Dragão da Lua. Ora, neste plenilúnio, sobretudo pela proximidade dos luminares ao corpo do Dragão, existe uma dificuldade de efectivação na sua proposta de sentido. O caminho da Sabedoria à Palavra é renegado, é visto por uns e percorrido por poucos, e agora quando a sua proclamação está a terminar, a via da Morte ao Viver já surge no horizonte. Desta forma, será preciso fixar o valor nessa senda e encontrar o sentido da morte para transformar o modo de vida, o que já surge com clareza pelo facto do eixo do horizonte se estender de Escorpião a Touro.    

            O ponto proposto anteriormente por Valente encontra-se no mesmo signo onde está Neptuno e, embora já distante, contamina esse lugar com o elemento destruidor, e também devido à observância quadrangular dos luminares e de Marte, ou seja, a visão de totalidade que é o Amor de Deus (Neptuno em Peixes) não alimenta nem a Sabedoria, nem a Palavra, não é acolhida como a luz que guia, a grande iluminadora. Porém, Neptuno está na V, no Lugar da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), mostrando como tanto a compaixão como a imaginação continuam a dar novos mundos ao mundo. E, no final do ano, quando Júpiter se juntar Neptuno, essa mensagem ganhará um novo fôlego, revelando-se, novamente, o poder da solidariedade.  

            Por outro lado, se Marte coloca a força e a tensão sobre os luminares e o Dragão da Lua, então Júpiter e Saturno estruturam a sua acção, concedendo-lhes tanto a matéria e a forma como a consciência íntima do espaço e do tempo, da justiça e da necessidade. O sextil de Júpiter e Saturno ao Sol, a Marte e à Cauda e o trígono à Lua e à Caput conduzem o humano e a humanidade à sua proposta de sentido, ou seja, a partir do Lugar sob Terra (IV) e junto ao Ponto Subterrâneo (IC), Júpiter e Saturno permitem a refundação das bases da realidade quer ao nível individual, quer na dimensão colectiva ou social. As lições do passado tornar-se-ão mais vivas, assinalando que se a história não se repete, repete-se o humano.  

           Contudo, por estarem fora do segmento dominante, a luz dos senhores do espaço e do tempo está diminuída, o que enfraquece a qualidade a benéfica de Júpiter e exacerba a qualidade maléfica de Saturno. Nestes tempos que vivemos, o bem e a justiça que a humanidade poderia criar e seguir desagregam-se e dispersam-se, esvaziando-se na espuma dos dias, e, de um outro modo, a retribuição, a consequência de uma ὕβρις, torna-se mais evidente e activa. Neste plenilúnio, a acção humana estará sobre um olhar atento e vigilante das Meras e a Roda da Necessidade há-de impor a sua gravidade, pois só assim poderá existir transformação.

        Um outro encontro que marca de forma indelével este plenilúnio é o de Mercúrio, Vénus e Plutão em Capricórnio, no Lugar da Deusa (III). No signo do poder e da culminação, a Palavra, o Amor e a Morte unem-se num único sentido, concentrando o potencial do futuro. Entre outras significações, esta é uma co-presença que pode dar origem a um novo movimento artístico, literário ou filosófico. Encontramos aqui as bases de um movimento assente num novo realismo que contraria as interpretações líquidas, dispersas e disformes que dominam o olhar actual sobre o mundo e sobre o humano. Capricórnio irá conceder o rigor que falta e a exigência que se rejeita, dar-lhe-á a precisão de uma finalidade.

        Face ao segmento de luz dominante, Vénus apresenta-se como o grande benéfico e, se pensarmos que Vénus está no Lugar da Deusa e a Lua é a luz mais alta, então concluímos, uma vez mais, que o Eterno Feminino marca o fim deste ano de 2021. Ora Vénus, com Mercúrio e Plutão, agrega-se numa simbiose de bênção e dádiva a Úrano em Touro (trígono) e a Neptuno em Peixes (sextil). A Revolução da Terra (Úrano em Touro) e o Amor de Deus (Neptuno em Peixes) fundem-se com o Poder da Palavra, do Amor e da Morte (Mercúrio, Vénus e Plutão em Capricórnio), concedendo ao mundo e ao humano um intenso potencial de transformação. Note-se que também aqui o feminino traz consigo a sua dádiva, pois estes aspectos têm a sua raiz em signos de Terra e de Água. Algo que é igualmente visível no trígono de Úrano a Plutão e nos sextis de Úrano a Neptuno e de Neptuno a Plutão. A Grande Mãe estende as suas mãos a quem luta pelo planeta e pela humanidade, desvelando o quanto ela se insurge e se revolta. Gaia é o ventre e o túmulo, a mãe, mas também o vulcão e o sismo.    

        Quando se fala de mudança, de transformação, ou até mesmo de revolução, existe sempre um movimento contrário, uma resistência que só é natural, porque a sombra continua a pesar sobre o humano. A sombra da personalidade e a penumbra que se estende sobre as relações sociais assenta numa teia de vaidade, de ilusão e de superficialidade. O lago de Narciso continua a colher o olhar e, numa Lua Cheia, onde os luminares se contemplam de frente, unindo-se e opondo-se, é fácil confundir a luz com o fogo-fátuo.

            Desta forma, a quadratura de Júpiter e Saturno a Úrano, unindo-se a partir do Lugar Sob a Terra (IV) com o Poente (VII), assinala que também as fundações da realidade encontram o seu fim, renovando-se e recriando-se, fazendo do velho o novo e do novo o velho. Os pilares do templo podem ruir para depois se erguerem num dolce stil novo, como diria Dante no Purgatório (XXIV, 57). Com esta quadratura, podemos ser os barqueiros das profundezas da realidade, sombrias e cristalizadas, ou os timoneiros da luz prometida e anunciada. Sob o brilho da Lua, de uma Lua Cheia, alta no céu, a Senhora da Luz, illuminata et iluminatrix, consagra a Nova Era, o Novo Humano.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Eclipse Solar Anular - Lua Nova em Gémeos: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológica

Eclipse Solar


Eclipse Solar Anular

Lua Nova em Gémeos

Lisboa, 11h52min37s, 10/06/2021

 

Sol-Lua

Decanato: Marte

Termos: Marte

Monomoiria: Sol

 

            O Eclipse Solar Anular do dia 10 de Junho é o último eclipse do actual Eixo Nodal Gémeos-Sagitário que ocorre em Gémeos. Note-se que, neste segmento zodiacal do ciclo draconígena de cerca 19 anos, dos seis eclipses só dois se fixaram em Gémeos, existindo aqui uma predominância da Sabedoria (Sagitário) sobre a Palavra (Gémeos) na significação axial. Porém, este eclipse pelas suas características encerra um sentido profundo. Os eclipses solares anulares ou anelares, uma vez que a Lua está a uma distância maior da Terra e o seu tamanho aparente não é suficiente para cobrir a totalidade da projecção solar, apresentam-se como um anel de luz em torno da sombra lunar. Existe portanto, neste halo fulgente, uma representação luminosa que cinge a escuridão uterina original. É como diz Virgílio per amica silentia lunae, é como estar no meio do amistoso silêncio da Lua (Eneida II, 255). Em Gémeos, este anel de fogo indica o silêncio que é a mãe da palavra, a deusa Sige dos gnósticos, ou seja, a sabedoria antecede a palavra. Neste eclipse, a relação entre a luz e a sombra vem reforçar a ideia de que a viagem para a luz é também um regresso à escuridão, ou seja, a luz tem de integrar a sombra.

            O eclipse do dia 10 pertence à série Saros 147. Ora, utilizando o mesmo princípio de espacialidade electiva e tornando o lugar onde nasce o olhar o umbigo do mundo (ὁμφαλός), observar-se-á esta série a partir de Lisboa. O primeiro eclipse da série Saros foi a 12 de Outubro de 1624. Este eclipse solar parcial deu-se em Balança com o Ascendente em Escorpião, estando a sizígia em conjunção a Marte, Neptuno e Vénus e o Ascendente em conjunção a Mercúrio. Uns dias antes, a 3 de Outubro, ao largo da ilha de San Pietro (Sardenha), quinze galés do reino de Nápoles, do Grão-Ducado da Toscana e dos Estados Papais enfrentaram um esquadrão de navios argelianos de corsários da Barbária. Os europeus saíram vitoriosos e capturaram o comandante otomano. No mesmo ano, uns meses antes (13/08/1624), o Cardeal Richelieu tornou-se Primeiro-Ministro e consolidou, nos meses seguintes, um poder que se estenderá até 1642, e também em 1624, próximo do eclipse, a Companhia Holandesa das Índias Orientais invadiu a colónia portuguesa da Baía. O eclipse em Balança fixa-se na XII revelando que, no poder e na história, a tendência não é criar equilíbrios ou harmonia, mas sim gerir desequilíbrios, lutando pelo prato dominante.  

            A série Saros 147 é marcada pelo elemento Ar, visto que se inicia em Balança, com um eclipse parcial, e tem o seu primeiro eclipse anular em Gémeos. Este é o eclipse anterior ao de 10 de Junho e que ocorreu a 31 de Maio de 2003. Com a sizígia em Gémeos conjunta a Saturno, na III, e com Úrano em Peixes na XII, o Ascendente marca a hora em Carneiro. O regente da sizígia, Mercúrio, encontra-se na II em Touro e o regente do Ascendente, Marte, na XI em Aquário. Ora no dia 31 de Maio de 2003, Eric Rudolf, do Army of God, responsável pelo atentado bombista que matou uma pessoa e feriu onze no fim dos Jogos Olímpicos de Atlanta, foi capturado na Carolina do Norte. No dia 1 de Junho, Aung San Suu Suu Kyi (Sol natal em Gémeos), que vencera as eleições de 1988 em Myanmar, foi levada sob custódia pelos militares e, no dia 3, Morgan Tsvangirai, líder do movimento de oposição no Zimbabué, é detido por forças policiais.

            Existe na dicotomia geminiana, sobretudo sob a influência do binómio luz-sombra de um eclipse solar, uma relação com o poder político que pode provocar um acentuar e demarcar de posições antagónicas. Esse conflito, que nasce de um discurso, de um interpretação da realidade, não é por essência valorativo, veja-se o caso de Aung San Suu Suu Kyi que, por um lado, vence o Nobel da Paz e, por outro, participa ou promove o genocídio dos roingas. Agora, nos dias próximos ao eclipse do dia 10, vemos, por exemplo, o caso da Bielorrússia e da prisão do jornalista Roman Protasevich. 

            Ptolomeu diz-nos que Gémeos rege a Hircânia (Irão e Turquemenistão), a Arménia (antiga), a Mantineia (Arcádia, Grécia), a Cirenaica (Líbia), a Mamarica (região na fronteira entre a Líbia e o Egipto) e o Egipto. Já para Vétio Valente rege a Índia, a Céltica, a Cilícia (Turquia), a Galácia (Turquia), a Trácia (Grécia, Bulgária e Turquia), o Beócia (Grécia), o Egipto, a Líbia, Roma, a Arábia e a Síria. Manílio afirma que a Índia, a Trácia e o Euxino (Turquia, Mar Negro) estão sob a influência de Gémeos. Quando o eclipse inicia a sua fase central (10h55min), o Ascendente encontra-se nos últimos graus do segundo decanato de Leão, mas, no momento da sizígia, indicado pelo tema que se apresenta, o Ascendente já se encontra em Virgem. Ora Virgem, segundo Valente, rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dórida (Grécia), Sicília e Pérsis ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a influência.

            A fixação do Ascendente em Virgem, para além de uma maior coerência nas regências astrológicas geográficas, permite que se apreenda o elemento de passagem do eclipse anterior, o eclipse lunar total de 26 de Maio, cujo Ascendente se fixava em Leão, e o actual que se encontra Virgem, pois se no anterior o elemento fogo sobressaía (Leão e Sagitário), no de dia 10, para além da elemento Ar da série Saros, é Mercúrio Retrógrado que exerce o seu domínio. O pensamento e a palavra obrigam à interiorização da realidade e do eu em si mesmo.       

            Os antigos egípcios fizerem de Aker a divindade que rege o horizonte e que é representada por dois leões de costas voltadas - o “ontem” (Duaj) e o “amanhã” (Sefer), o oriente e o ocidente - e entre os quais está colocado o disco solar. Ora o tema deste eclipse, com a sizígia na X, embora o MC recaia na IX (sistema de casa-signo ou signo inteiro), o que também encerra o seu sentido profundo (a Revolução da Terra, Úrano em Touro, lança os seus raios a partir da Casa de Deus, IX), lembra a divindade egípcia. Com Mercúrio Retrógrado junto ao Sol e à Lua na X, o seu significado, tanto como regente do Eclipse como do Horóscopo, sai reforçado. A Palavra voltada para Si como agente criador, como Logos da criação, exalta o seu significado, anunciando o próximo Eixo Nodal do ciclo do Dragão da Lua, pois Touro indica o valor (o viver ou o modo de vida, II) e Escorpião a morte (a sua acção e qualidade, VIII). No entanto, a Palavra faz ainda persistir a sua mensagem: a viagem que eleva a Sabedoria (Cauda Draconis em Sagitário) até à Palavra (Caput Draconis em Gémeos).

            Essa é uma via que exige uma maior consciência do poder do tempo e como ele impõe ao humano os seus ciclos (Saturno em Aquário). A partir da VI, o senhor do semear e colher, do observar, esperar e agir, unirá os seus raios benéficos com o Sol, a Lua, Mercúrio e a Caput Draconis (trígono) e com a Cauda Draconis (sextil). A luz e a sombra, a palavra e a sabedoria unem-se à consciência do tempo, à compreensão de que existe um tempo maior que transcende a efémera realidade da finitude humana. Somos a poeira de um grão areia na clepsidra do tempo universal. Naturalmente, e por Saturno estar na VI, essa consciência afectará a compreensão da pandemia, dos ciclos de vida e de que tudo é transitório.

   Por outro lado, o Sol, a Lua e Mercúrio Retrógrado em Gémeos (X) colidem rectilineamente (quadratura) com Júpiter e Neptuno em Peixes (VII). A Palavra como Revelação, sob o véu da luz e da sombra, oculta-se e, tal como a sabedoria, caminha entre nós e não é vista, o que impede a sua expansão (Júpiter) e comunhão (Neptuno). O discurso não vê o outro, não o inclui no processo comunicativo, e a palavra fecha-se em si própria, nas suas idiossincrasias, na ignorância das suas certezas. A comunicação sem o outro é a génese da intolerância. Porém, por Júpiter - e Neptuno - estar numa posição particularmente benéfica, esta não é uma tensão disruptiva, pelo contrário, surge como aviso, como marco no caminho e, não sendo exclusiva, alguns vão mostrar que a empatia e compaixão podem gerar um discurso de tolerância que une em vez de separar.

            A dádiva da excepção é observável pelas bênçãos que resultam da união venturosa dos benéficos (Vénus em Caranguejo, na XI, em trígono a Júpiter em Peixes, na VII). Esta união, se seguirmos a lição do Thema Mundi, une o sentido de origem à comunhão com o divino, pois nessa representação Caranguejo ocupa o Horóscopo (Asc.) e Peixes o Lugar de Deus (IX). Ora com a presença de Vénus em Caranguejo e de Júpiter em Peixes essa ligação natural é intensificada pelos conceitos de Amor e Expansão. Os raios dos benéficos estendem ainda as suas dádivas para além da sua união, visto que Vénus (XI) se une em trígono a Neptuno (VII) – o Amor e a Compaixão revelam que só a empatia nos salvará – e em sextil a Úrano (IX) – o Amor alimenta a Revolução da Terra –, já Júpiter (VII) une-se em sextil a Plutão em Capricórnio (V) e a Úrano em Touro (IX) – existe uma Comunhão do Poder da Morte e uma Expansão da Revolução da Terra. A dádiva surge como luz no caminho, indicando qual será a via da bem-aventurança.

            Na análise deste eclipse, deve-se dar também uma especial atenção ao posicionamento de Vénus e Marte em Caranguejo. Se acerca de Marte já antes se fez notar que indica o herói que desce ao ventre da terra, ao lugar de Perséfone (oposição a Plutão em Capricórnio), com Vénus, sobretudo por estar em Caranguejo e por ser Estrela da Manhã (posição anterior ao Sol e para além dos seus raios) encontramos a deusa protectora, a senhora da guerra. Com a união de Vénus e Marte em Caranguejo, o herói é agora guardião do feminino, da deusa armada. Este é o mito de Palas, a filha de Tritão que combateu na Gigantomaquia e que, quando lutava com Atena e estava prestes a desferir-lhe um golpe, foi morta pela deusa, porque Zeus interveio e protegeu a filha com a Égide, uma protecção invencível feita com a pele da cabra Aix (cf. com a mitologia de Capricórnio). Atena, por lamentar a morte injusta de Palas, criou o Paládio, uma estátua de madeira em sua homenagem (v. Ps.Apolodoro, Biblioteca, 3.12.3).

            Ora existe aqui a ideia de que a vontade ou a força (Marte) do amor (Vénus) pode acerca-se da morte (Plutão) e juntos caminharem. É como o soneto de Antero de Quental “Mors-Amor”. Se um é o cavalo, o outro é o cavaleiro. O facto da sizígia se encontrar no decanato e nos termos de Marte intensifica essa mensagem. A ligação de Marte em Caranguejo com Júpiter e Neptuno em Peixes (trígono) e com Úrano em Touro (sextil) faz do Deus da Guerra um dos principais elementos de análise neste eclipse. Existe assim uma forte vontade de transformação ambiental, social e espiritual e resultará em acções concretas sejam elas partidárias e legislativas ou sindicais e populares (Úrano em sextil a Neptuno e em trígono a Plutão; Neptuno em sextil a Plutão). Poderão até existir manifestações mais expressivas que resultarão em cargas policiais (Saturno em quadratura a Úrano). Marte e Plutão, unidos em eixo, levará a um extremar de posições e note-se que basta que um lado vá para além da democracia, ou permaneça no limiar, para se extremarem as posições. Os democratas terão de cerrar as fileiras e defender a democracia, pois, uma vez perdida, é difícil de recuperar.

            O eclipse solar anular do dia 10 de Junho, sob o véu da luz e da sombra, do anel de fogo, dar-nos-á a capacidade de integrar no nosso caminho a escuridão e o silêncio. Existe um poder imenso na possibilidade da palavra, no não-dito que é o gérmen da criação. A sombra e a ocultação devem lembrar-nos que a sabedoria caminha entre nós, mas não é vista, é insultada e agredida e nós aceitamos. A luz é a revelação e o Eterno Feminino é a luz no caminho.   

terça-feira, 25 de maio de 2021

Eclipse Lunar Total - Eixo Sagitário-Gémeos: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológica

Eclipse Lunar



Eclipse Lunar Total

Eixo Sagitário-Gémeos

(Lua Cheia)


Lua
Decanato: Mercúrio
Termos: Júpiter
Monomoiria: Lua

Sol
Decanato: Júpiter
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Lua


O primeiro eclipse de 2021 é um Eclipse Lunar Total, o último eclipse lunar do eixo nodal Gémeos-Sagitário e o último eclipse total da série Saros 121. Este é quiçá o primeiro aspecto que se deve ter em consideração na análise deste eclipse. As séries Saros, a par dos ciclos metónicos, representando estes uma continuidade dos primeiros, são os dois maiores contributos da Antiguidade para a análise cíclica dos eclipses. As séries Saros têm origem babilónica e apresentam cada uma cerca de 70 eclipses que ocorrem a cada 18 anos, começando por serem parciais e à medida que se aproximam do Equador passam a totais, para voltarem depois a parciais. Ora a série Saros 121 iniciou-se a 6 de Outubro de 1047. Três dias depois morreu o Papa Clemente II e Bento IX, que já havia sido papa em dois momentos anteriores, reassume o poder. Este foi o papa que excomungou o Patriarca de Constantinopla que, por sua vez, excomungou Bento IX, tendo-se criado assim as condições para o Grande Cisma.

Se elaborarmos o tema deste eclipse, que ocorreu em Carneiro, e Ptolomeu diz-nos que este rege a Germânia, ora Clemente II era germânico e tinha relações estreitas e preferenciais com o Sacro-Império, compreendemos então que quer a morte e a mudança do poder papal, quer os indícios do Cisma são astrologicamente evidentes (e.g. o regente do Asc. poente e em conjugação com Marte; e Plutão em conjugação com MC). Naturalmente, o tema deverá ser colocado em Roma. A localização nos temas astrológicos mundanos - sejam lunações, eclipses ou outros - tem, por um lado, um valor de ὁμφαλός, de umbigo do mundo, de lugar electivo, e, por outro, do potencial indicado pela expressão urbi et orbi, ou seja, o valor que se encontra, por exemplo, em Lisboa estende-se, enquanto lugar electivo, ao resto do mundo. A parte infere o todo e o tempo e o espaço fixam assim o sentido.

Embora a tradição nos diga que o primeiro eclipse de uma série Saros nos dá alguns indicadores de toda a série, o primeiro eclipse total tende a reforçar e aumentar esses indicadores. Na série Saros 121, o primeiro eclipse total foi a 13 de Julho de 1516. Ora a 24 de Agosto de 1516, dá-se a Batalha de Marj Dabiq, na qual os Otomanos, chefiados pelo Selim I, derrotam os Mamelucos e ganham o controlo do Egipto, da Arábia e do Levante. Se fizermos o tema do eclipse para Alepo, dado que Dabiq ficava próximo, compreendemos a importância do eclipse e da série Saros em que se insere para um conjunto de mudanças políticas e civilizacionais que ainda hoje se sentem. O eclipse ocorre em Capricórnio que, segundo Heféstion de Tebas, rege, entre outros, parte do Egipto, a Síria e a Cária. Por exemplo, o Horóscopo (Asc.) em Carneiro, conjunto a Marte, é um forte indicador de uma guerra iminente e, já no primeiro grau de Leão, a conjunção do Sol a Júpiter sugere também uma nova ordem, um novo poder.

No Eclipse de 26 de Maio, que ocorre em Sagitário, o Horóscopo recai em Leão, isto para Lisboa, o lugar a partir do qual se está a olhar o mundo. Entre outros, Sagitário rege, segundo Ptolomeu, a Espanha e a Arabia Felix (Iémen e Omã), já segundo Hiparco, também a Sicília e, segundo Odapso, ainda a Mesopotâmia (Médio Oriente), o Mar Vermelho, a Síria, o Egipto e Cartago (Norte de África). Por seu lado, Leão rege, segundo Vétio Valente, a Gália (França), o Proponto (Turquia, Mar de Mármara), a Galácia (Turquia, Ancara), a Trácia (Grécia, Macedónia, Bulgária e Turquia Europeia), a Fenícia (Palestina, Israel e Líbano), a Líbia, a Frígia (Turquia), a Síria e Pessino (Turquia). Como é facilmente compreensível pelos lugares enunciados, estas são regiões de conflitos e tensões nos nossos dias, sejam pela guerra como no caso da Síria, da Palestina e de Israel e do Iémen, sejam pela crise dos migrantes e dos direitos humanos como nos casos da Síria, da Turquia, da Grécia, do Norte de África, de Itália, de França e agora de Espanha (Ceuta). A Humanidade para subsistir terá de olhar para o Humano, não com um conjunto de lugares comuns pseudo-espirituais, reproduzidos vezes conta, mas sim com um pensamento estruturado e um intelecto agente que dê um sentido profundo à vontade e à acção. Enquanto persistir a ideia de que existem humanos de primeira e humanos de segunda e que existe um direito natural de uns a uma determinada terra ou lugar, a Humanidade como princípio e realidade agregadora está condenada.

A tradição astrológica diz-nos que os eclipses têm uma maior intensidade quando ocorrem acima do horizonte, excepto o caso de se darem no Lugar do Sob a Terra (IV), o que não é o caso do nosso eclipse de 26 de Maio. Porém, fixa-se na V, na Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), o que lhe confere um poder criativo potencial, mas não ainda efectivo. Esse princípio é confirmado pelo facto do seu regente, Júpiter, se encontrar no Lugar da Morte, na VIII, todavia, está em Peixes. A partilha de Sagitário e Peixes da regência de Júpiter aponta aqui para um caminho. Se Sagitário indica a Sabedoria e Peixes a Fé, podemos construir como ponte para futuro, essa proposta humana de conciliar a Sabedoria e a Fé. A Deusa Pistis-Sophia (Fé-Sabedoria) expande, de acordo com o poder de Júpiter, o seu potencial criador e renovador. Note-se, por exemplo, que a Lua está nos termos de Júpiter e o Sol no decanato de Júpiter. Deve-se também ter em consideração o facto do último eclipse da série Saros 121 ocorrer em Peixes, a 18 de Março de 2508. Existe aqui uma anunciação das forças benéficas e expansivas (Júpiter) da Deusa Pistis-Sophia (Peixes-Sagitário). Esta é proclamação da Idade do Espírito Santo, do regresso do Eterno Feminino.

O Dragão da Lua continua a marcar, até ao fim do actual ciclo no eixo Gémeos-Sagitário, uma mensagem que está em harmonia com a anunciação da Deusa Pistis-Sophia. A sabedoria da palavra (Sagitário-Gémeos) e a palavra da sabedoria (Gémeos-Sagitário) cingem o caminho de revelação que culminará no Eclipse Solar Total de 4 de Dezembro deste ano, ou seja, a partir da sabedoria a palavra transformará o humano. Esta ideia é também particularmente expressiva neste Eclipse Lunar de 26 Maio. A luz concentra a sua emanação na XI, no Lugar do Bom Espírito (ἁγαθόν δαίμων). Em Gémeos, o Sol, a Caput Draconis, Vénus e Mercúrio brilham em conjunto. Note-se que Vénus e Mercúrio estão para além dos raios fulgentes do Sol (+15º), fugindo da combustão e brilhando como Estrelas da Manhã, candeias da palavra, do intelecto e do amor à sabedoria. Porém, a necessidade de uma palavra que transforme colide aqui com Júpiter em Peixes (quadratura), ou seja, a palavra deixa-se corromper pela ilusão e pela intolerância e torna-se uma via para o racismo, para a xenofobia, para a misoginia, para o negacionismo, para populismo e para o totalitarismo. A palavra (Gémeos) rejeita a dádiva e a fé (Júpiter em Peixes) e também a compaixão e o amor universal (Neptuno em Peixes) e, por outro lado, não acolhe a sabedoria como finalidade (Sagitário), nem eleva a alma até à consciência de si (Lua). A quadratura de Júpiter - e de Neptuno- aos luminares não representa aqui uma tensão ou conflito, mas sim uma dúvida quanto a efectivação de uma possibilidade.

Se Júpiter e Neptuno mostram que a luz da palavra e da sabedoria pode, por rejeição, afastar-se da fé e da dádiva, da compaixão e do amor universal, Saturno Retrógrado, a partir do Poente (VII), partilha tanto a necessidade de reestruturação social, trazendo a igualdade onde existe desigualdade e injustiça, e de pensamento crítico como a lição do tempo, do eterno retorno (trígono ao Sol, Mercúrio e Vénus, sextil à Lua). Por estar junto ao Poente, já abaixo da linha do horizonte, o Velho Cronos fala-nos do fim de uma era, de um tempo que se eclipsa e, por estar em Aquário, de um humano que terá de morrer para inauguralmente renascer. O novo humano, como o antigo herói, terá de descer ao submundo para emergir renovado. Essa descida aos infernos é expressa também pelo medo do feminino. Marte em Caranguejo, na XII, no Mau Espírito (κακός δαίμων), em oposição a Plutão na VI, na Má Fortuna (κάκη τύχη), colocam o humano no abismo da sua sombra em frente de Perséfone, a Senhora do Submundo. Devemos lembrar-nos que a maioria das representações astrológicas estão exageradamente masculinizadas, assim quando, por exemplo, olhamos para Plutão devemos ver tanto Hades como Perséfone. O medo do feminino, expresso por Marte em Caranguejo, tem como contraponto a relação benéfica com Júpiter e Neptuno em Peixes (trígono) e com Úrano (sextil). Este é o Rei Pescador, o homem ferido, que guarda o Graal, representado pela vesica piscis. Desta forma, vencido o medo e chegados ao castelo do Graal, a deusa tenebrosa torna-se benevolente.

Por outro lado, Úrano em Touro surge na X, junto à Culminação (MC), trazendo uma vez mais a mensagem da revolução da terra. As manifestações climáticas serão mais frequentes - e também necessariamente mais radicais (sextil a Plutão em Capricórnio) - e uma parte dos jovens vão mostrar cada mais como a passividade das gerações anteriores, com o seu aburguesamento consumista, supérfluo e politicamente engajado, condenou o planeta. A utopia, que, nos últimos anos, muitos teimaram em condenar, renascerá com um propósito simples, mas determinado: salvar o planeta terra (sextil de Úrano a Júpiter e a Neptuno). Naturalmente, como noutros tempos, as ideias terão de cerrar fileiras e, se uns se colocam do lado da igualdade, promovendo uma sociedade mais justa, outros vão vender a divisão como garantia de um destino providencial (Saturno em quadratura com Úrano). De uma forma ou de outra, o desejo de mudança colide com a cristalização das estruturas de poder e o futuro ou trará uma sociedade melhor, ou a aurora dos novos totalitarismos. E a pandemia pode tornar-se uma lição e ser uma luz no caminho, avaliando-se o que está mal e quebrando as teias da desigualdade, ou a vontade de voltar a esse normal perdido pode imperar, agudizando-se assim as assimetrias sociais. Um tempo de crise profunda pode, porém, renovar a fé na humanidade e trazer, pelo menos a alguns, um processo de transformação (Plutão em sextil a Júpiter e Neptuno).

Este Eclipse Lunar vai tornar evidente a realidade última da interpretação astrológica é que, na verdade, tudo é luz e sombra. Ler o céu é simplesmente colher a luz certa, fitando a sua própria sombra.